Transcrevem-se excertos de uma notícia do PÚBLICO que dá conta não só da intenção do grupo parlamentar do PCP de ouvir a secretária de Estado da Ciência Leonor Parreira, como de várias vozes decontentes com o processo de avaliação das unidades de investigação.
O grupo parlamentar do Partido Comunista Português (PCP) requereu no Parlamento, esta quinta-feira, uma audição à secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira, sobre o processo de avaliação às unidades de investigação realizada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tutelada por Leonor Parreira e pelo ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato.
Os deputados comunistas declaram terem-lhes chegado, “da parte de toda a comunidade científica, profundas preocupações quanto ao processo de avaliação e quanto às consequências que daqui decorrem – a redução drástica do financiamento, quer por via do impedimento de passagem à fase seguinte de avaliação quer por via da classificação”.
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Também o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) considerou esta quinta-feira, em comunicado, que os resultados da avaliação às unidades de investigação “colocam em causa o futuro dos centros”, que defende ser indispensáveis para o trabalho científico, o ensino superior e o “desenvolvimento das regiões”.
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Também a reitora da Universidade de Évora, Ana Maria Costa Freitas, apontou “bastantes discrepâncias na avaliação”, dando como exemplo “painéis com critérios nitidamente diferentes” e “resultados díspares e afirmações que, em alguns casos, são quase ofensivas para a ciência em Portugal”. Seis centros de investigação ligados a esta universidade (entre os dez que lá existem que foram avaliados) não passaram à segunda fase da avaliação, o que, para a reitora, significa “perda de financiamento plurianual”.
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E o coordenador do Centro de Linguística da Universidade do Porto, João Veloso, admitiu, em declarações à Lusa, que esta unidade corre o risco de encerrar por falta de financiamento, ao perder, a partir de Janeiro, os 50.000 euros anuais que recebia. É o único centro exclusivo do tema no Norte.
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João Veloso considera a avaliação atribuída “muito injusta, muito drástica e sobretudo muitíssimo mal fundamentada”, salientando que houve dois linguistas num painel de 16 elementos para avaliação da área de Humanidades.
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Centros de investigação da Universidade de Coimbra manifestaram, igualmente, o receio do seu fim, com Constância Providência, coordenadora de uma das entidades lesadas, o Centro de Física, a evocar “argumentos errados” na avaliação.
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A Sociedade Portuguesa de Química (SPQ) foi outra das vozes a pronunciarem-se: “É com profunda preocupação que a SPQ observa o resultado da primeira fase do processo de avaliação efectuado pela FCT aos centros de investigação de química do país. Em particular, assinala o facto de vários centros de química, de Norte a Sul de Portugal, não terem passado à segunda fase do processo de avaliação, o que na prática condena à sua provável extinção. Se considerarmos o conjunto dos centros de investigação cuja área dominante é a química, estes representam 50% do total dos centros desta área científica em Portugal.”
11 comentários:
Tendo em conta que os piores receios previstos pelo Conselho dos Laboratórios Associados no seu comunicado emitido em março se tornaram realidade, esperar-se-ia uma reacção da sua parte.
E, já agora, o que pensam as Sociedades de Física e Matemática?
Já alguém pensou numa PROVIDÊNCIA CAUTELAR? Pelo(s) Sr(s) Reitor(es), por exemplo.
Penso em qual seria a atitude de David Marçal, ou outro qualquer destes conceituados cientistas que estão muito indignados, caso lhe fosse atribuída a decisão de reduzir despesas neste sector, tal como se está a proceder noutros com estatutos inferiores. Se as ordens dadas fossem de separar trigo do joio, ou escolher a crema, em detrimento dos trabalhos menos cremosos, qual seria a sua atitude?
Será que não aceitava o encargo e assim se livrava de críticas? De onde se deduz que a posição de juiz nem sempre deve ser agradável. É muito melhor gritar desde as bancadas.
Caro anónimo das 00.59 . A sociedade portuguesa de matemática (spm) é uma coutada do crato. O m. abreu é um seguidor do trabalho do crato enquanto presidente da referida associação. Está sempre tudo bem. Basta ver os comentários da spm acerca do exames nacionais (e comparar com a apm). Curiosamente andava por aqui assim um tal de oliveira que tb pertencia ao gangue do crato dos tempos da spm e que entretanto desapareceu .....
Caro Albert V. Em teoria a sua observação é pertinente. Na prática, o que se passa/tem passado é outra coisa. Não há qq tipo de separação do trigo do joio. Há sim saneamentos políticos sumários (explique-me lá como o IT é joio). É claro que há que estabelecer prioridades. E eu tb sou de opinião que entre financiar centros de investigação e bancos a escolha deve recair nestes últimos (que são os únicos com capacidades mágicas de inventar números em computadores, vulgo, dinheiro).
Ao Anónimo Anterior
Por favor, não tentemos confundir tudo. Como pode imaginar eu não sou apologista, muito pelo contrário, de financiar bancos com a penúria dos cidadãos. Considero até uma abuso vergonhoso, só decidido por aqueles ELEITOS que se beneficiam das suas decisões.
Mas tampouco acredito que todas os projectos de investigação tenham o mesmo valor e interesse nacional. Deve haver melhores e menos melhores, para não os qualificar de piores. Se for imperioso estender os sacrifícios ao sector dos sábios, paciência, acontece até aos mais formosos.
Opinar que a rejeição caiu, exclusivamente, sobre aqueles que não eram da cor política considerada favorável é, humanamente, rejeitável, quase que inacreditável. Voltávamos aos tempos mais negros da ditadura. Não consigo acreditar. E que conste que não morro de amores pela situação partidária, em nenhum dos dois partidos maioritários.
Voltámos a tempos mais negros! Na ditadura toda a gente conhecia as regras, agora não!
O que está em causa, neste processo, não é o não financiamento de unidades cujo desempenho anterior pode não justificar o financiamento proposto. O que está em causa é o modo como o processo foi conduzido: i) avaliação que não foi feita por pares; ii) avaliação não presencial, isto é, as unidades, mesmo as maiores, foram avaliadas (na 1ª fase) sem uma visita prévia dos avaliadores ou peritos aos laboratórios; iii) há grandes discrepâncias entre os relatórios dos peritos individuais e os relatórios de consenso, que em muitos casos se vê ser para eliminar intencionalemente a unidade em causa; iv) alguns dos relatórios individuais têm comentários hilariantes e insultuosos, como, por exemplo, referências a uma mentalidade colonialista, a contagem inadequada do número de investigadores para calcular médias, a análise incompleta da informação disponível para a avaliação expressa no relatório de consenso; etc., etc. E o facto de SE SABER que foram dadas instruções aos painéis para limitar passagens à segunda fase, que membros dos painéis contestaram, mas acabaram por aceitar mediante a posição intransigente da FCT.
Caro Albert V.
obrigado pelo seu comentário. Estamos genericamente de acordo. Em particular sou a favor de uma selecção criteriosa de centros de investigação.
Dito isto, queria-lhe também dizer que por ter passado pelo processo (pertenço a um centro que inclusivé passou à segunda fase) este ano foi particularmente caótico. E neste concurso houve de tudo. No processo de candidatura por ex., foram pedidos elementos e fixados critérios já muito próximo do final do prazo (ex. o registo Orcid e a mudança para a Scopus). Por outro lado muitas instituições ordenaram que todos os seus docentes tinham que integrar os centros das respectivas instituições desvirtuando e destruindo muitos grupos de trabalho com vários anos de existência.
De qq modo a questão fundamental é: Qual a razão para tanta trapalhada ? Não concorda que as regras devem ser claras, estáveis e conhecidas atempadamente ? Pq fazer tudo em cima do joelho ?
Será incompetência ? E dados os resultados, como distingue incompetência de agendas pessoais, interesses políticos, etc ?
Cumprimentos
De acordo com o Presidente da FCT o financiamento não diminuiu. Os problemas aqui são de outra ordem. Estou de acordo que há propostas mais relevantes que outras e que deve haver uma diferenciação. Diferenciação essa que, diga-se de passagem, já havia. Aquilo em que não estou de acordo é o seguinte:
1. penso que esta avaliação não é capaz de fazer essa separação; as avaliações anteriores foram, de facto, feitas por pares de forma abrangente, o que não é o caso desta.
2. uma política em que há uma quantidade muito significativa de unidades que ficam sem nada (ou praticamente nada, que é equivalente) já é extremamente arriscada quando os painéis sabem o que estão a fazer; quando, como acredito ser o caso aqui, não só não são constituídos apenas por pares mas por cima está-se a fazer cortes em que unidades que são pelo menos do mesmo nível ficam de fora, pode ter consequências catastróficas.
Resposta um pouco tardia, mas que já é uma segunda via, tendo-se perdido a primeira.
Dizia, no texto perdido, entre outras coisas, que concordando consigo quanto a ser indispensável ter regras claras, estáveis e conhecidas atempadamente, lhe dizia que esta forma de proceder, correctamente, não é tradicional neste cantinho. Inclusive as leis dos códigos estão redigidas com textos labirintos e propícios a muitas interpretações, favoráveis para uns e punitivos par outros.
Historicamente sempre se mantiveram duas leis fundamentais: A lei da rolha e A lei do funil. Pensar em alterar esta maneira de andar pelo mundo não me parece fácil. Só se algum centro que ainda não foi eliminado se dedicar a mudar os hábitos vigentes.
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