sexta-feira, 15 de julho de 2011

BACTÉRIAS ASSASSINAS


Minha crónica no "Sol" de hoje:

O filósofo espanhol Ortega y Gasset disse que o homem era ele e as suas circunstâncias, querendo com isso significar que o ser humano era inseparável da cultura em que está envolvido. Um biólogo bem pode dizer que o homem é ele e a sua cultura de bactérias. De facto, qualquer um de nós é o hospedeiro de biliões de microorganismos, a maior parte dos quais são bactérias. Por cada célula nossa, possuímos cerca de dez células pertencentes a vários “bichinhos”. Como são células mais pequenas e mais leves do que as nossas, todas elas juntas não pesam mais do que um quilo e meio.

Sem essas bactérias não poderíamos viver. Por exemplo, as Escherischia Coli (abreviadamente E. Coli) que habitam os nossos intestinos produzem enzimas que ajudam a transformar hidratos de carbono em energia. Mas, em raras ocasiões, algo corre mal... Dão-se mutações que criam variantes para as quais o nosso corpo não está preparado. Um caso famoso, que ocorreu em 1992 nos Estados Unidos, teve como protagonista as E. Coli O157:H7, causadoras da morte de quatro crianças que tinham comido num restaurante Jack in the Box, uma popular cadeia de fast food. Tinha havido contaminação no processamento: as bactérias entraram na carne (em parte de origem australiana) e os hamburguers não estavam a ser cozinhados a temperaturas suficientemente altas de modo a destruir todas as bactérias.

Por causa das E. Coli, podemos, como se vê, morrer. Recentemente voltaram as notícias sobre bactérias assassinas. Em Maio passado irrompeu na Alemanha uma doença grave, caracterizada por diarreia sangrenta e por insuficiência renal, que conheceu depois uma réplica em França. Já foram até à data infectadas mais de 4000 pessoas, tendo morrido cerca de meia centena. O surto está hoje, felizmente, em recessão. Os culpados? De novo houve um “ataque” das E. Coli, sendo a nova estirpe responsável denominada O104:H4. De onde vieram, desta vez, as assassinas? Os primeiros arguidos – os pepinos espanhóis – estavam afinal inocentes. O falso alarme causou prejuízos incalculáveis aos agricultores do Sul da Europa. A seguir, as culpas foram atribuídas pelos “detectives alimentares” a rebentos de soja provenientes de uma quinta biológica na Alemanha. E agora, segundo a Agência Europeia para a Segurança Alimentar, parece que a raiz comum aos casos alemães e franceses se encontra em sementes, importadas do Egipto, de feno-grego ou alforva, uma planta cujos rebentos podem ser usados em saladas. Tal como no caso dos hamburguers norte-americanos, houve contaminação. O que fazer neste mundo global, onde os alimentos circulam e são por vezes manipulados sem as devidas cautelas? Enquanto a investigação prossegue, o melhor é evitar esse tipo de rebentos. Ou comê-los bem cozinhados. Temos de matar as bactérias assassinas antes que elas nos matem a nós.

2 comentários:

Cláudia S. Tomazi disse...

Então é matar ou morrer
dobrem vossas manguinhas
e lavem bem as mãozinhas
Sejam bem vindos ao combate!

Apenas que para cada 360º de giro
a terra caminha 30m/s e ao final de cada ciclo os 365 dias 48 horas e cinco minutos, uma bela caminhada percorrida.

Apenas lembrando que estão em minutos, algumas centenas de quilometros atrasados.
Apertem vossos passos!

Como disse o ilustríssimo JCN, é obra!

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Gosto deste gesto.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...