segunda-feira, 4 de julho de 2011

A VIDA NO UNIVERSO

(imagem cedida por Carlos Oliveira)

Numa altura que a capacidade da Humanidade, em observar o Universo longínquo, tem permitido encontrar planetas com características análogas às do nosso planeta, efectuei uma entrevista a Carlos Oliveira, astrónomo e comunicador de ciência português que lecciona um curso inovador de Astrobiologia na Universidade do Texas (Estados Unidos da América).

Entrevista publicada no Diário de Coimbra.

António Piedade - De que é trata a astrobiologia?
Carlos Oliveira- É o estudo da vida no Universo. Por todo o Universo, incluindo na Terra, e por todo o tempo (passado, presente e futuro). Donde vimos? Para onde vamos? Estaremos sozinhos? Que condições deverão existir para a vida tal como a conhecemos? Que tipo de vida pode existir sob certas condições? São estas algumas das perguntas que a astrobiologia faz.

António Piedade - Quem é que utilizou pela 1ª vez o termo astrobiologia?
Carlos Oliveira - A astrobiologia é uma ciência que funciona como um "guarda-chuva" de ciências. Pode-se argumentar que desde sempre as pessoas imaginaram vida pelo Universo... a que chamaram deuses. Pode-se pensar que Anaxagoras, há 2500 anos atrás, falou na panspermia - de que a vida na Terra veio do espaço. No entanto, ao longo dos séculos, a argumentação a sustentar a astrobiologia era religiosa. No Renascimento, a ideia de vida pelo Universo recebeu novo impulso, com a injecção de novas ideias por Giordano Bruno e outros. No entanto, continuou tudo muito religioso e somente baseado em opiniões.
Em 1860, Kirchhoff e Bunsen, com a espectroscopia, deram um dos primeiros passos científicos para o estudo da astrobiologia. Mesmo assim, continuou tudo a funcionar muito por analogia, e não porque se detectava alguma coisa.
Em 1941, L. J. Lafleur usou pela 1ª vez o termo astrobiologia num artigo científico, mas isto em nada desenvolveu a astrobiologia. É somente nomenclatura.
Em 1995 foram oficialmente detectados os primeiros planetas extrasolares, dando um novo impulso à astrobiologia.
Em 1998, foi criado o NAI - NASA Astrobiology Institute - que trabalha com muitos cientistas espalhados pelo mundo, sob o "guarda-chuva" da astrobiologia. Este também foi um passo extraordinário para não só tornar a astrobiologia numa ciência, mas sobretudo para a desenvolver enormemente já que todos trabalham com esse fim.

António Piedade - Quais são, na tua opinião, as principais descobertas na astrobiologia com impacto sobre o conhecimento que temos de como a vida surgiu e evoluiu?
Carlos Oliveira - Actualmente são, sem dúvida, as constantes descobertas de planetas extrasolares, as descobertas de extremófilos na Terra, e as descobertas de material orgânico nos meteoritos.

António Piedade - Quais são os principais “desafios fronteira” da astrobiologia actual?
Carlos Oliveira - Penso que serão as áreas que respondi na pergunta anterior.
Planetas extra-solares e microbiologia são duas das áreas mais fortes da astrobiologia actualmente, e que têm mais hipótese de ter grandes repercussões no futuro. Por exemplo, descobrir vida num outro local do Universo levará a uma revolução do pensamento humano. Claro que essa descoberta será muito provavelmente de vida simples, mas mesmo assim já trará enormes consequências para o nosso conhecimento. E novas perguntas começarão a surgir: será vida como a nossa? Será que teve a mesma origem? Serão saborosos? Terão deuses? Que tipo de inteligência terão? Só funcionam por instinto? Poderemos vender-lhes micro-ondas? E muitas outras perguntas do mesmo género. (algumas perguntas são meio a brincar e meio a sério: na Terra, comemos muita da vida que existe, por isso o mesmo se deverá passar no exterior; na Terra comparamos a inteligência dos outros à nossa; na Terra, regemo-nos pelo capitalismo e pelo comércio; na Terra, tentamos converter os outros aos nossos deuses; na Terra, temos a mesma origem para a vida - o antepassado comum; na Terra encontramos vida tal como a conhecemos; etc.)

António Piedade - Que satélites, sondas, telescópios estão dedicados à astrobiologia?
Carlos Oliveira - Existem vários. Fora os satélites de radioastronomia do SETI, temos claro os telescópios que podem detectar e até visualizar planetas. E nesse caso, existem vários telescópios/missões que nos ajudam: Hubble, CoRoT, Espresso, HATnet, OGLE, Super-WASP, XO, etc., e claro a fabulosa missão Kepler. Estes todos estão "virados para fora", mas há telescópios, sobretudo da NASA, virados "para dentro", ou seja, apontados à Terra, e que estudam a dinâmica de ecossistemas terrestres. E o ambiente terrestre é importante, já que é essencial para a vida na Terra (vida na Terra também é vida no Universo, logo, estudar a vida na Terra é uma das funções da astrobiologia).

8 comentários:

Ana disse...

Ena ena, dois Grandes juntos!! :))))) Muito bom! ;)

Anónimo disse...

Que haja vida no universo,
não me aquenta ou arrefenta,
desde que seja diverso
o focinho que apresenta!

JCN

Anónimo disse...

O que podia ferir
minha sensibilidade
era poder existir
qualquer outra humnidade!

JCN

Francisco Domingues disse...

Estudar o Universo e os seus mistérios deveria ser a paixão de toda gente. É que, só projectando-nos nele, vemos a nossa imensa pequenez de seres no tempo, apenas - apenas?!!! - grandes por sermos capazes de pensar que o Universo existe com os seus mistérios!
Se toda a gente olhasse as estrelas e não o seu umbigo, o mundo seria bem diferente! Teríamos outra humanidade bem mais humana do que esta que não resiste ao instinto canibal de "comer" o seu vizinho, aniquilando-o ou enganando-o! O Homem a ser sempre lobo do outro Homem (Homo homini lupus!)
Mas quando o Homem se convencer que, faça o que fizer, vive apenas os seus 80/90 anos e depois se transforma em NADA, voltando ao NADA de onde veio..., talvez pense em aproveitar ao máximo esta vida, a vida que, por acaso, teve o privilégio de ter, vida que só tem pleno sentido se, a seu lado, não deixar o seu "irmão" a morrer de fome...

Anónimo disse...

Precisamente porque vemos a nossa imensa pequenez é que muita gente não olha para as estrelas, porque isso de sermos nada e de ao nada voltarmos assusta demasiado, particularmente quem de pequenino foi habituado a apoiar-se na muleta do dogma.

Anónimo disse...

Tudo quanto envolve a Terra
não vale um só miligrama
do meu cérebro que encerra
do pensamento... uma chama!

Anónimo disse...

Por distracção, não assinei a quadra anterior. JCN

Anónimo disse...

Que exasperante é buscar
as origens da existência
com a prévia consciência
de nunca lá se chegar!

JCN

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