sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nuno Crato e o Exame de Acesso à Docência

“Perdemos com a revolução e a contra-revolução. Perdemos também com três décadas de facilidade e demagogia” (António Barreto, sociólogo e professor universitário).

Depois de ter publicado vários artigos de opinião em vários jornais e em cerca de uma dezena de posts neste blogue em defesa de uma Prova de Acesso à Carreira Docente (o primeiro datado de 15.Fev.2008), era minha intenção não perder mais tempo com os seus detractores. Mas faço-o por serem alguns deles verdadeiros demagogos que continuam a defender a continuação do ingresso na carreira docente através de concursos que tenham como condição única a nota do diploma de licenciatura (agora mestrado), quer seja outorgado por universidades públicas ou privadas, escolas superiores de educação públicas ou privadas, tratando de igual forma quem muito se esforçou em estudo sério ou quem nada ou pouco se avigorou na obtenção de um curso de duvidosa qualidade.

Aliás esta posição de descarado e injusto facilitismo tem sido, também, fortemente apoiada por um certo movimento sindical. Assim, a Fenprof, através de um seu comunicado (31/10/2009), “exigiu a extinção da espúria prova de ingresso na profissão docente e respeito pelas qualificações dos docentes e pela autonomia das escolas na verificação das condições para o exercício da profissão”. Ou seja e em síntese, verificada pela simples e discutível classificação do diploma de curso.

Como prova da falta desta prova de acesso, anos atrás, passou um programa da RTP, “O Elo mais Fraco”, com a participação de nove jovens professoras, que me mereceu o seguinte artigo de opinião, de que transcrevo um excerto (Público, 03/02/2003):

“Com dificuldade, concebo que um programa em que a tensão nervosa possa faz das suas possa justificar, por si só, aquilo que na gíria académica se dá o nome de ‘brancas’, como o esquecimento, como aconteceu, do conhecidíssimo ‘Teorema de Pitágoras’. Todavia, já não concebo certas respostas erradas, não dadas ou hesitadas, ante perguntas triviais do âmbito da disciplina que se ministra! E isto porque, ainda que a contragosto, possa admitir que os professores demonstrem um certo défice de cultura geral desde que contabilizem para si conhecimentos sólidos sobre a matéria que é suposto estarem habilitados a ensinarem. Só na conjugação de pouca cultura geral e escassos conhecimentos científicos pode ser encontrada justificação para o facto de, em uma das rondas de perguntas, essas concorrentes terem obtido a pontuação de zero pontos, e serem penalizadas no fim do concurso com a mais fraca prestação, relativamente a participantes que as precederem e com as mais diversas profissões tidas como muito menos exigentes no que tange a diplomas escolares”.

Não sei, nem isso vem muito ao caso, se as referidas professoras eram formadas pelo politécnico ou pela universidade. Mas o que eu me atrevo a apostar, dobrado contra singelo, é que sob o ponto de vista de conhecimentos da Língua Portuguesa, grande parte de professoras diplomadas pelas antigas Escolas do Magistério Primário teriam tido um melhor desempenho. E isto já para não falar das professoras licenciadas do antigo liceu (nome excomungado pelo 25 de Abril), muitas delas ainda exercendo o magistério nas agora escolas secundárias com a competência cientifica de profundas conhecedoras da matéria que leccionam.

Numa espécie de prova de fogo, com a nomeação de Nuno Crato para ministro da Educação, dono de uma personalidade forte, cuja voz se tem manifestado, sem tibiezas e desde sempre, com muita determinação pela criação de um prova de acesso à docência, fica-nos a certeza de que esta prova será uma das primeiras prioridades do seu mandato. Mais se consubstancia esta certeza pela nomeação de João Casanova Ferreira para secretário de Estado com a difícil incumbência do “espinhoso ‘dossiê, da avaliação docente e pelos processos de recrutamento, selecção, carreiras e formação de professores” (Público, 07/07/2011).

Eça, figura incontornável da literatura portuguesa, cítico impiedoso dos costumes da época, escreveu: “Para ensinar há uma condição a satisfazer: saber”. Ora, é na demonstração de um saber maior comparativamente com outros saberes menores que a prova de acesso à docência mais do que justifica a sua plena existência. Exige-a mesmo!

8 comentários:

Anónimo disse...

De facto parece que o facilitismo continua bem vivo. Ou o sindicalismo de líderes demagogos que procuram a qualquer custo elevar os direitos de uma classe acima de todo e qualquer valor. Acabam por apenas prejudicar a classe que supostamente defendem.

Rui Baptista disse...

Caro Anónimo (8 Julho; 16:29):

Mas pior do que isso são os dirigentes sindicais que se eternizam nos lugares passando, como isso, um atestado de menoridade aos respectivos associados como se fossem uns iluminados cuja saída deixasse na maior escuridão os interesses de uma classe que dizem representar e que, a maior parte das vezes, se confunde com os seus interesses meramente pessoais. Se cai em rifa um medíocre ocupar as cadeira do poder será oiro sobre azul na defesa dos seus pares medíocres.

Nazaré Oliveira disse...

Sr. Professor Rui Baptista:

É verdade, sim, o que respondeu ao ANÓNIMO.

Bem ao estilo do centralismo democrático, têm-se desenrascado na carreira! Pena é que o seu imobilismo político-sindical tenha causado tanto dano à dinâmica reivindicativa da classe docente.

"Se cai"? Têm caído e caídos ficam!

Um abraço a todos os autores deste fantástico blogue e, mais uma vez, obrigada pelas suas palavras.

Rui Baptista disse...

Prezada Colega Dr.ª Nazaré Oliveira:
Mentiria se não dissesse que me calou fundo as palavras que me dirigiu pessoalmente e a justiça prestada a todos autores deste blogue de que sou um simples e fraco exemplo. Mas não é este o motivo principal que me traz à vossa presença.

Através do vosso comentário, tomei conhecimento do blogue “Suricatina” (de cuja leitura me tornarei assíduo), escrito com a humanidade de quem se dedica a defesas de causas nobres. Nele tive a oportunidade de me deparar com o artigo da dr.ª Maria José Nogueira Pinto (“Nada me faltará”, Diário de Notícias), de que já muito ouvira falar, mas que só agora pude ler com a emoção que me despertou e julgo que em todas as pessoas, de diversos quadrantes políticos, que lhe quiseram prestar justa e emocionada homenagem aquando do seu infausto falecimento.

Neste mundo de materialismo e de trânsfugas muita falta faz uma Mulher que se dedicou ao serviço de Deus e da Pátria, como ela própria escreveu, mas a que eu acrescentaria, e da Família. Que Deus lhe dê o descanso eterno que uma vida de vicissitudes lhe negou ( ainda que correndo o risco de frases feitas ) neste vale de lágrimas.

Ruben David Azevedo disse...

Gostaria de dizer o seguinte: se está em causa a credibilidades das universidades, públicas ou privadas, a solução não é realizar um exame a posteriori. A solução é, por um lado, reforçar a fiscalização das universidades públicas e privadas, e por outro, realizar uma filtragem a priori, ou seja, no acesso ao mestrado profissionalizante. Faz mais sentido realizar uma prova de acesso ao mestrado mais exigente do que as que existem hoje. A prova que tive de realizar para entrar no mestrado em ensino da fil era anedótica, sem qualquer eficácia em termos de filtragem. Ora, parece-me que a razão é simples: o estado prefere que as pessoas se profissionalizem para depois lhes impedir o acesso à carreira, aumentando o números de desemprego. As universidades, por outro lado, preferem deixar entrar toda a gente, visto que o encaixe financeiro fala mais alto. Ora, se o crivo fosse realizado logo no acesso ao mestrado, evitar-se-ia que as pessoas investissem tempo e dinheiro para depois darem com o nariz na porta. Ao mesmo tempo, evitar-se-ia aumentar os números do desemprego, formando gente que depois, reprovando numa prova a posteriori, não poderia aceder à carreira. Parece sinceramente a melhor solução. Cumprimentos

Anónimo disse...

O entusiasmo, orgulho e apoio que a Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, suscita ao Sr. Ministro da Educação, Prof. Nuno Crato, é partilhado por sucessivos titulares do Ministério com a Tutela do Ensino Superior, nomeadamente, pela Sr.ª Prof.ª Maria da Graça Carvalho, titular da pasta do Ensino Superior nos XV e XVI Governos Constitucionais, como resulta da vibrante intervenção da mesma Senhora, no dia 24 de Maio de 2013, na inauguração das instalações da Escola Superior de Desporto de Rio Maior:

http://www.gracacarvalho.eu/xms/files/ACTIVIDADE_EM_PORTUGAL/OUTRAS_ACTIVIDADES/2013/5_24-05-2013_IP_Santarem/Speech_final_site.pdf

Enfim, é a FOLGOZA.

Anónimo disse...

Num ensino superior politécnico público que já anunciava doutoramentos, em parcerias com universidades, o panorama da habilitação dos seus docentes é elucidativo, pelo menos, segundo dados divulgados pela Direcção-Geral do Ensino Superior, “Análise de todos os Docentes em 2008 por Categoria”, INDEZ2008, reportados a 31 de Dezembro de 2008, num universo de 8.181 docentes, no ensino superior politécnico, 35 tinham habilitação ignorada e os demais a seguinte habilitação: - 49 décimo segundo ano ou menos; - 30 Curso de Especialização Tecnológica; - 111 Bacharelato; - 2.796 Licenciatura; - 73 Pós-Graduação; - 3.602 Mestrado; - 1.485 Doutoramento.

Segundo dados da mesma Direcção-Geral, o REBIDES, no ano lectivo 2011/12, no ensino superior politécnico público num universo de 10.284 docentes, 104 têm habilitação não especificada, e os demais a seguinte habilitação: - 66 Bacharelato; - 3. 390 Licenciatura; - 4.255 Mestrado; - 2. 496 Doutoramento.

Ou seja, mais de 75% dos docentes do ensino superior politécnico público nem sequer são doutorados.

Acresce que, de 31.12.2008 até ao ano lectivo 2011/12, o nº de docentes do ensino superior politécnico público aumentou cerca de 26%.

Não obstante, ser sabido que o n.º de alunos no ensino superior politécnico há muito que tem vindo a decrescer…

A menor qualificação académica dos docentes do ensino politécnico público - em que mais de 75% dos docentes não são doutorados – mas que auferem remunerações equivalentes às dos docentes universitários, independentemente do grau académico de que sejam titulares, ou mesmo de serem titulares de um grau académico – radica no facto de no ensino superior politécnico público não ser necessário que sejam mais qualificados academicamente para ministrarem a sua oferta educativa de Licenciaturas, Mestrados e Doutoramentos.

Ainda que alguns Mestrados – e os Doutoramentos – sejam omissos da oferta educativa divulgada no site da Direcção-Geral de Ensino Superior.

Enfim, é a FOLGOZA.

Anónimo disse...

Há muito que a Universidade PÚBLICA portuguesa também se envolveu nos Doutoramentos do ensino politécnico PÚBLICO.

Como é exemplo, o Doutoramento em Ciências do Desporto, da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, em parceria com a Universidade da Madeira, constante da oferta educativa anunciada na página 5 do Caderno de Ensino, da edição de 3.7.2008, do jornal “O Mirante”. Desta feita, nesta fonte, este Instituto Politécnico anuncia, em parceria com a Universidade de Leida, Doutoramento em Educação na Escola Superior de Educação de Santarém.

Enfim, é a FOLGOZA.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...