Texto de Regina Rocha na continuação de dois anteriores, aqui e aqui publicados.
PORQUÊ TAIS RESULTADOS (final)?
(3) O ensino
Os resultados desta prova revelam falta de objectividade e de rigor no ensino: muitos examinandos não sabem objectivamente o que significam os verbos de foco da pergunta (identifique, caracterize, relacione, etc.) e o que se espera como resposta correcta perante esses «comandos»; muitos não sabem fazer deduções, de modo a compreender a essência do texto; muitos não sabem mobilizar informação sobre as obras, pois não sabem seleccionar o essencial em relação a cada tópico; muitos examinandos não são capazes de estruturar convenientemente uma resposta, desconhecendo que há regras de estruturação que devem ser seguidas (quantos professores procedem a um ensino formal de como se estrutura uma resposta?); muitos examinandos não sabem formular um argumento e seleccionar provas que o sustentem (quantos professores procedem a um ensino formal de construção de argumentos?); muitos examinandos apresentam uma expressão escrita com gravíssimas incorrecções linguísticas, reveladoras de insuficiência de trabalho da escola nesse âmbito.
Ora, os professores tentam cumprir os programas, mas o programa de Português do 12.º Ano é muito extenso, nomeadamente os conteúdos da Leitura[1], e o tempo atribuído à disciplina insuficiente para se trabalhar, com a profundidade que se exige, tudo o que deve ser tratado (apenas dois blocos de 90 minutos por semana – isto é, 60 blocos por ano lectivo –, enquanto todas as outras disciplinas do Ensino Secundário com exame no 12.º Ano têm três blocos de 90 minutos por semana).
Assim, a preocupação dominante dos professores assenta no ensino e aprendizagem de conteúdos no domínio da Leitura (obras de escritores e respectivos aspectos indicados no programa) bem como na revisão e aprendizagem de conteúdos gramaticais, ficando subvalorizado na aula o ensino da Escrita, que exige muito tempo de preparação, de realização por parte dos alunos e de correcção. Sem tempo, ficam as indicações, o ensino genérico, mas muito pouca prática.
(4) A falta de estudo dos alunos
A disciplina de Português tem sido, ao longo do tempo, sujeita a uma desvalorização no que implica de estudo e de reflexão. Na generalidade, os alunos não atribuem valor à disciplina de Português, não dão valor ao estudo, não estudam: pensam, erradamente, que o Português não se estuda. Tal situação é transversal às diversas classes sociais. Os pais com possibilidades económicas têm a preocupação de fornecer aos seus educandos diversas actividades extra-escolares para o seu enriquecimento pessoal e cultural, mas muitas vezes não se apercebem de que alunos cansados de uma série de actividades ficam sem tempo ou capacidade física para o estudo organizado e eficaz, para a leitura e reflexão sobre a mesma, para a escrita e correcção dos textos.
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[1] É obrigatória a leitura e análise de obras e textos de grande riqueza, muito exigentes: Os Lusíadas, de Luís de Camões; Mensagem, de Fernando Pessoa; poesia ortónima de Fernando Pessoa; poesia dos heterónimos de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos); Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro; Memorial do Convento, de José Saramago.
Este texto tem continuação.
Maria Regina Rocha
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1 comentário:
Falta, na verdade, tempo para o ensino e a aprendizagem da escrita.
É imprescindível mais um bloco semanal. As turmas do Secundário são enormes (28 a 30 alunos). Se considerarmos que as duas aulas semanais perfazem 180 minutos, que, distribuídos por todos os alunos, dão uma média de 6 a 7 minutos por semana para trabalhar todos os conteúdos da disciplina, verificamos que este tempo é manifestamente insuficiente.
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