segunda-feira, 25 de julho de 2011

NA FINLÂNDIA HÁ EXAMES E RETENÇÕES, ESTÚPIDA!



Com a amável autorização do autor, deixamos artigo de opinião de Guilherme Valente saído ontem no Público obre a educação na Finlândia e em Portugal:

"A soberania do conhecimento é a única que nos resta"
J. Veiga Simão

1. Quando a ignorância, a leviandade e a audiência se combinam, a mistura é explosiva. Um exemplo: «na Finlândia não há exames nem retenções». Da AR ao comentário loiro numa televisão, a asneira tornou-se moda e arrogância.

Na Finlândia há retenções e exames. Não é por não haver a possibilidade de retenções que a escola na Finlândia é boa. É por a escola ser boa que as retenções são ali residuais. E a que se deve essa qualidade?

Em cenário de fundo, o respeito pela educação e o prestigio da escola. Os pais, em geral com instrução elevada, acompanham com exigência o trabalho escolar dos filhos.

Depois, a arquitectura do ensino, a cultura de exigência, a qualidade da formação dos professores, programas e currículos assentes nos saberes que contam (libertos das tretas, que impedem o trabalho e a concentração no essencial. Responsabilidade e responsabilização dos directores, que respondem perante o ministério e as «autarquias». Directores que não são eleitos pelos pares.

Quando, há anos, apontei para a necessidade, da figura do director, acusaram-me de defender a escola «de antigamente». Escola de antigamente, alas, com que o Prof. Veiga Simão, com a sua Grande Reforma aliás, já acabara - a seguir - como escreveu, tão lucidamente, Sottomaior Cardia, foi só destruir esse projecto iluminado e corajosíssimo, que teria conduzido ao desenvolvimento do País.

(Hoje há directores nas escolas, embora a legislação que os instituiu limite a sua eficácia… ideologia oblige.)

2. Na Finlândia a educação é descentralizada, cabendo às autarquias uma grande responsabilidade na sua organização, que assenta numa autonomia estruturante das escolas.

Professores qualificados e respeitados. Numa escola hierarquizada, sob a orientação de um director, a quem cabe, em ligação com as autoridades locais, a contratação dos docentes. Mecanismos de apoio multidisciplinar para os alunos com dificuldades. Combate eficaz à retenção e ao abandono precoce. Ensino responsabilizante desde muito cedo. Uma aposta na qualidade e não tanto na quantidade (9 anos no ensino básico, sem horas excessivas na escola). Todos têm que contribuir para a qualidade do ensino: ministério, professores, alunos e pais. Uma rede de escolas «primárias», pequenas, muito ampla.

3. Com o CNE o ME estabelece a arquitectura nacional da educação, designadamente, os currículos nacionais, cabendo a cada escola complementá-los.

Escolaridade obrigatória até ao 9.º Depois, duas vias: científica (54% dos alunos), três anos, que termina com um exame nacional, base para a continuidade dos estudos; um ramo profissionalizante, de três anos, escolhido pela generalidade dos que não optaram pela via científica. Os que obtiverem uma qualificação profissionalizante adicional podem prosseguir estudos em escolas politécnicas ou em outras instituições de ensino superior. A escola, através da orientação permanente aos alunos e em contacto com os pais, encaminha-os para a via mais indicada para cada um.

(Durante anos, insistimos no facto da percentagem aberrante de abandono escolar em Portugal ser devida à inexistência de uma via profissionalizante. Uma escola igualitária -- facilitista, ignorante, iletrada e boçal -- gera, como entre nós se verifica, maior desigualdade social. O primeiro-ministro José Sócrates, parecendo perceber o problema, terá levado o ME a anunciar a possibilidade da criação de cursos técnicos profissionais nas escolas… nas escolas que tomassem a iniciativa de os propor. De facto o ME não disponibilizou os meios materiais e humanos que seriam necessários, devendo-se os cursos criados graças apenas à «carolice» de alguns directores e professores. Mas mesmo assim o abandono escolar diminuiu significativamente nas escolas que passaram a oferecer esses cursos. Na ocasião pensei tratar-se de sabotagem do que julguei ser um lúcido propósito do primeiro-ministro (até cheguei a manifestar-lhe apoio!), mas recentemente explicaram-me que a criação desses cursos não terá passado de um expediente para obter fundos da União.)

3. Na educação finlandesa não existe uma avaliação nacional de professores. A avaliação é feita nas escolas, presentes as características de cada uma, através dos resultados alcançados e do acompanhamento do trabalho dos docentes, que passa pelo director e pelo organismo de educação constituído no âmbito da «autarquia». Nada que lembre o modelo de avaliação imbecil, injusto, impraticável e desmotivador inesperadamente ainda em vigor entre nós.

4. Para transitarem, os alunos têm de obter aprovação em todas as disciplinas. Quando entram na escola percebem logo, portanto, ao que vão... A avaliação, realizada por cada escola, resulta de exames formais (no fim dos ciclos e com notas numéricas) e avaliação permanente, com provas regularmente realizadas.

5. Se não é possível, entre nós, reproduzir aquele cenário social de fundo, é no entanto, praticável e imperativo adoptar e adaptar a arquitectura do ensino, a cultura de exigência e responsabilização, que determinam a qualidade da educação na Finlândia, e… reproduzem, promovem, os valores que distinguem a sociedade finlandesa . Sem essa mudança de cultura e de ambiente nas nossas escolas – ensino centrado nos saberes que contam , valorização do papel do professor -- servirá de muito pouco aumentar o número de aulas de Matemática e Português - apenas mais aulas… iguais, mais tempo de caos e frustração dos docentes.

Exemplo duma diferença exigida pelo estado concreto do nosso ensino: um regime correctivo intensivo de exames, instrumento de regulação incontornável, de responsabilização e incentivo de toda a vida escolar, que gerará, finalmente, os bons resultados.

É tudo isto que, com o entusiasmo dos professores e a convergência patriótica das organizações sindicais e das associações de pais, gerindo bem e economizando milhões, este Ministro e este Governo novos, legislando como e quanto for necessário, seguramente querem e têm que realizar. Nunca um Ministro teve, como Nuno Crato, uma tão larga confiança dos professores, um tão largo apoio político e social para o fazer. Já. Mesmo que seja necessário assumir um ano escolar com atrasos e perturbação. Porque não poderá ser pacífico o extirpar da serpente…

Guilherme Valente

15 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Muitas serpentes, caro Guilherme Valente, muitas serpentes.
Muito bem distribuídas pelo país, acomodadas em ninhos múltiplos e diversos, estrénuas zeladoras dos seus interesses, reproduzindo-se em ritmo exponencial, e ocupando os nichos que são especialistas em inventar.
Chamam-lhes comunmente inovação.
E, de inovação em inovação, chegámos onde estamos...
Logo agora, em que até os pobres se tinham habituado a imaginar que viviam(os) num país de abundância.

Banda in barbar disse...

a figura do director ou reitor omnipotente leva também a nepotismo vários e a uma corte de directores auxiliares que na maioria dos casos

pra pouco serve

de resto tal como nas autarquias os cargos de director tornam-se bitalícios

Anónimo disse...

Posso afirmar, com pleno conhecimento de causa, que em finlandês, um dos três idiomas europeus de estirpe caucasiana, não existe vocábulo para expressar o nosso conceito de "analfabeto". O resto... deduz-se! JCN

José Batista da Ascenção disse...

Lá acima, aquele comummente ficou-me com um "n" em vez de um "m". Rectifico.

FAÇA O SEU PRÓPRIO FLUVIÁRIO SEM FAZER MUITA FORÇA disse...

suomikielta é fino-hungárico

acho que não vieram do caucasus não

se nãi tien vocábulo

é porque não tinham linguagem escrita

até uns monges cibilizarem esses monstros
e darem um alfabeto a esses analfas
que nem sabiam queram betos

Carlos Pires disse...

Creio que o Guilherme Valente só se engana um pouco quando diz que Nuno Crato tem "uma tão larga confiança dos professores". Muitos professores têm de facto confiança, e também esperança, em Nuno Crato.
Mas também há bastantes que torcem o nariz: uns porque foram vítimas de lavagens ao cérebro feitas pelos promotores do "eduquês" e outros porque, por trágico equívoco, acham que a exigência e o rigor são incompatíveis com as suas ideias políticas de esquerda.

Anónimo disse...

"!a exigência e o rigor são incompatíveis com as suas ideias políticas de esquerda." Onde descobriu essa? Eu penava ao contrário!!

Anónimo disse...

Posso afirmar, com pleno conhecimento de causa, que numa língua falada por uma tribo da Papuásia, não existe vocábulo para expressar o nosso conceito de "analfabeto". O resto... deduz-se!

Anónimo disse...

Será que vossemecê, sr. anonimo, pertence à dita cuja tribo? Até parece, pá! JCN

Anónimo disse...

Não pertenço mas tive um muito bom e prolongado convívio com eles.

J.P. Cravino disse...

Guilherme Valente não conta a verdade toda sobre a Finlândia!
Diz Guilherme Valente: “Na Finlândia há retenções e exames.”
Bem, depende do que se entende por exames. Vou tentar fundamentar, citando as minhas fontes (que faltam no artigo de opinião).
“There are no high-stakes tests.”[1] Há exames no sentido em que há testes ou exames locais (ao nível da escola), não há exames nacionais, com peso nas notas finais (os tais high-stakes tests), ao contrário do que está implícito na argumentação de Guilherme Valente.
Depois há exames específicos no final do Verão para os alunos que não atingiram o nível mínimo (4 numa escala de 4 a 10) numa disciplina no final do período de Primavera, para mostrarem que melhoraram. Se não chegar ao 4 em várias disciplinas, o aluno pode efectivamente ter de repetir o ano, mas isso é não só raro, como (algo não mencionado por Guilherme Valente) a decisão é tomada pelos professores (plural) e pelo director/responsável da escola, depois de entrevistarem o aluno e os pais! No entanto, o que é normal é fornecer ao aluno com dificuldades ajuda adicional e tutoria.[1]
Outros factos interessantes não mencionados (poupo-me a tradução):
• Schools up to university level are almost exclusively funded and administered by municipalities of Finland (local government). There are few private schools. The founding of a new private comprehensive school requires a political decision by the Council of State. When founded, private schools are given a state grant comparable to that given to a municipal school of the same size. However, even in private schools, the use of tuition fees is strictly prohibited, and selective admission is prohibited, as well: private schools must admit all its pupils on the same basis as the corresponding municipal school. In addition, private schools are required to give their students all the social entitlements that are offered to the students of municipal schools.
• Classes are small, seldom more than twenty.[2]
• Comprehensive school students (7 to 15 years old) enjoy a number of social entitlements, such as school health care and a free lunch everyday, which covers about a third of the daily nutritional need.[3] In addition, pupils are entitled to receive free books and materials and free school trips (or even housing) in the event that they have a long or arduous trip to school.
• Finland gives teachers a notable degree of autonomy, trusting them to deliver great student outcomes. [4]
A única afirmação com a qual concordo é que o factor essencial nos resultados obtidos pelos alunos finlandeses é a elevadíssima qualidade dos professores, que começa logo no respectivo recrutamento, mas que se estende a outros aspectos (salários, horários de trabalho, benefícios sociais, condições de trabalho, etc.) [4] [5]
Fontes:
[1] http://en.wikipedia.org/wiki/Education_in_Finland
[2] http://hechingerreport.org/content/what-can-we-learn-from-finland-a-qa-with-dr-pasi-sahlberg_4851/
[3] http://www.ktl.fi/portal/english/public_health_monitoring___promotion/monitoring___interventions/nutrition_in_finland/catering_and_meal_patterns
[4] http://www.mckinsey.com/clientservice/Social_Sector/our_practices/Education/Knowledge_Highlights/~/media/Reports/SSO/Closing_the_talent_gap.ashx
[5] http://www.pearsonfoundation.org/oecd/finland.html

De Rerum Natura disse...

Comentário recebido de Guilherme Valente

Comentário ao comentário de J. P. Cravino

Muito obrigado pelo seu comentário.

Na verdade penso que não me terá lido bem.

Na Finlândia há exames e possibilidade de retenções (leia, por favor, o meu próximo artigo no Público) - é este o ponto. Tendo eu deixado claro, suponho, que as soluções de avaliação ali praticadas têm de ser consideradas no contexto da realidade da escola e da cultura finlandesas. (Como escrevi, em Portugal é agora necessário, pelo contrário, um regime correctivo, responsabilizante, regulador, intensivo de exames nacionais. Compreende, certamente, porquê.)

Um artigo de jornal não pode ultrapassar um certo número de caracteres, por isso não pude dizer mais do que me pareceu ser essencial. E essencial era mostrar a desonestidade que é evocar mentirosamente a Finlândia para se dizer que o ensino é aí de qualidade por não haver exames nem retenções, quando a inversa é que é verdadeira. Não é?

Quanto ao «ensino público/escolas privadas», é como diz: privadas há muito poucas. E sabe o meu Amigo porquê? Porque o que ameaça o insubstituível ensino público (condição de existência da sociedade civil, como tenho dito) é a sua má qualidade.

Isto é, a ideologia e as teorias pedagógicas verificadamente estúpidas, cretinizadoras e barbarizadoras do eduquês, que têm produzido na nossa escola, em todos os registos, a tragédia sempre a piorar que se sabe. Não é?

A escola permissiva, destruidora da inteligência e do carácter, da responsabilidade pessoal e cívica, do esforço de mérito e do empenho solidário, não é menos detestável do que a escola autoritária e punitiva. Esta oprime e limita a acção dos seres humanos, aquela, confirmadamente, fabrica idiotas e sub-humanos, presas fáceis de todos os desígnios…

Guilherme Valente

Anónimo disse...

Então... só o fin-ório da tribo dos papúas é que tem o privilégio de botar falatório?! u falam todos... ou não come ninguém, porra! JCN

Anónimo disse...

Como é, "não come ninguém"? Pois na minha tribo come-se sempre alguém pelo menos ma refeição nocturna.

Anónimo disse...

E vossemecê, caro anónimo papúa, nunca se engasgou?!... JCN

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