Comprei recentemente um livrinho brasileiro delicioso, que mostra a "ciência a brincar" na Alta Idade Média:
- Luiz Jean Lauand, Educação, Teatro e Matemática Medievais, Trad. dos originais latinos, Notas e Estudos Introdutóríos de L. Jean Lauand. Prefácio: Ruy Nunes, editora Perspectiva, S. Paulo, 1990.
Destaco o "Diálogo entre Pepino e Alcuíno", discussão entre o mestre Alcuíno (735-804) e o jovem Pepino (781-810), segundo filho de Carlos Magno, então com cerca de doze anos de idade. É um autêntico digest de sabedoria medieval. Agora percebo por que é que de "pequenino se torce o pepino!"...
Reproduzo, com a devida vénia, a parte do diálogo que incide sobre astronomia e geografia:
"P.: O que é o céu?
A.: Uma esfera que roda sobre si mesma, um imenso teto.
P.: O que é a luz?
A.: A face de todas as coisas.
P.: O que é o dia?
A.: Estímulo ao trabalho.
P.: O que é o sol?
A.: O esplendor da terra, a beleza do céu, graça da natureza, a glória do dia, o distribuidor das horas.
P.: O que é a lua?
A.: O olho da noite, doadora de orvalho, aquela que anuncia as tempestades.
P.: O que são as estrelas?
A.: A pintura que adorna o céu, o piloto dos navegantes, o encanto da noite.
P.: O que é a chuva?
A.: A fecundação da terra, a mãe dos frutos.
P.: O que é a neblina?
A.: A noite do dia, trabalho para os olhos.
P.: O que é o vento?
A.: Perturbação do ar, mobilidade das águas, secura da terra.
P.: O que é a terra?
A.: A mãe de tudo o que cresce, a que alimenta os viventes, o celeiro da vida, a devoradora de todos.
P.: O que é o mar?
A.: O caminho da coragem, a fronteira da terra, o que separa as regiões, o hospedeiro dos rios, a fonte das chuvas, refúgio nos perigos, encantadores prazeres.
P.: O que são os rios?
A.: Curso que não acaba, refeição do sol, irrigação da terra.
P.: O que é a água?
A.: Sustentáculo da vida, limpeza das sujeiras.
P.: O que é o fogo?
A.: Calor excessivo, aquecimento para os que nascem, sazonamento do que germina.P.: O que é o frio?
P.: Quantos dias ficam morando em cada palácio?
A.: Febricitação dos membros.
P.: O que é o gelo?
A.: A perseguição das plantas, a perdição das folhas, a prisão da terra, a fonte das águas.
P.: O que é a neve?
A.: Água seca.
P. : O que é o inverno?
A.: Um exilado do verão.
P.: O que é a primavera?
A. : A pintora da terra.
P: 0 que é o verão?
A.: O revestir da terra, o sazonamento dos germinantes.
P.: O que é o outono?
A.: O celeiro do ano.
P.: o que é o ano?
A.: A quadriga do mundo.
P.: E quem o conduz?
A.: A noite e o dia, o frio e o calor.
P.: E quem dirige as rédeas?
A.: O sol e a lua.
P.: Quantos são os teus palácios?
A.: Doze.
P: Quem são os governantes dos palácios?
A: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.
A.: O sol, 30 dias e 10 horas e meio; a lua, 2 dias, 8 horas e 2/3 de hora
P: Mestre, tenho medo de ir ao alto!
A.: Quem te trouxe para o alto?
P.: A curiosidade.
A.: Se tens medo descerei. Eu seguir-te-ei onde quer que vás.
P.. Se eu soubesse o que era um navio, prepararia um para ti para que viesses a mim.
A.: Um navio é uma casa errante, hospedaria em qualquer parte, um viajante que não deixa pegadas, um vizinho da areia."
9 comentários:
Com relação ao “de pequenino se torce o pepino”
e para o fluir de elevada Educação curiosamente
achei na Biblioteca de Coimbra (digital)
ao que possa ter de comum a Idade Média.
Pág. 23 – autor, Manoel do Sepulcro 1669
Curioso Lectori Epilogium
Há um doce (ouvir preparar) refresco da mente
Diligente trás Ambrósia por isso banquete.
O que a mente não tivesse sido esse doce néctar do céu
Fome feliz, deleite de uma fome?
Desejam fazer uma refeição e corre na mente de desejo, o som conhecido.
Se há algum menos, desde a queda de tantos doentes, limpe.
E por ventura ilustríssimo JCN
Sinta-se ao dever da correção se necessário.
muito divertido
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Cara Senhora:
Por "ilustríssimo" que seja, não tenho estofo para tanto! JCN
Ma ra vi lho so!
HR
Professor Fiolhais e restantes leitores,
este excerto é simplesmente uma delícia!
Na minha opinião, é a ciência e a literatura de mãos dadas. É outra forma de ver e escrever ciência; é sua parte poética, inspiradora, criativa e emotiva.
Os meus melhores cumprimentos!
Ensinar com poesia,
embora em versos não sendo,
eis a metodologia
que pratico e recomendo!
JCN
... ciência, literatura e filosofia!
HR
... e não só, mas também! JCN
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