Texto de Carlos de Sousa Reis muito oportuno tendo em conta o que se pode ver em muitos canais de televisão: concursos, programas para entreter, noticiários centrados no que é do foro privado e intímo.
"A mediatização que atravessa as nossas sociedades apresenta, como é natural, uma duplicidade de oportunidades e ameaças. Todas as coisas que alteram as nossas vidas comportam esta duplicidade e temos de viver com ela. Como assinalava Aldous Huxley, “toda a descoberta científica pode ser subversiva em potência”. A questão está em saber viver com a duplicidade de riscos e vantagens que traz cada nova criação humana.
Comecemos por considerar uma forma de invasão da vida privada para a qual estamos um pouco adormecidos, ao ponto de por vezes nem a reconhecermos. Todos podemos verificar que a televisão entra de forma muito natural no nosso lar. Disse-se que era uma janela aberta para o mundo, porém resta dizer que também é uma porta para entrar dentro de cada casa. Temos de perguntar-nos o que traz, o que faz entrar e o que altera.
Traz muita coisa que, se fizéssemos uma análise séria, não quereríamos deixar entrar e altera o nosso quotidiano de um modo que, se o considerássemos criticamente, também não estaríamos dispostos a aceitá-lo.
De facto, a televisão penetra sistematicamente as relações familiares, promovendo de modo espontâneo – através do aproveitamento do clima de íntima afectividade – estilos de vida duvidosos, o consumismo, a passividade e a ingenuidade crítica.
Aliás, uma vez que não existe uma resposta reflectida e estruturada das famílias perante a exposição à televisão, é com facilidade que ajusta ao seu horário às refeições familiares, propõe certas actividades em detrimento de outras e reúne os membros da família a seu bel-prazer, embora usurpando-lhes o relacionamento, a comunicação e a vida afectiva (Quintas, 2000). Por causa dela não se dialoga, nem se compartem projectos e problemas.
Como bem notaram Popper & Condry (1995), a televisão exerce a sua influência por meio de dois factores: o tempo e o conteúdo. Rouba o primeiro e trafica o segundo. A televisão aparece-nos hoje como um poder incontrolado, que instila valores duvidosos e rouba tempo, que se poderia e deveria dedicar a coisas mais importantes.
Ora, como assinalou Lazar (1980), mais do que culpar a televisão devemos questionar-nos se não teremos outras alternativas mais produtivas de ócio. Devemos questionar-nos por que se aceita que a televisão esteja a absorver a nossa privacidade no seu regime. O que perdemos com isso e que podemos fazer para o alterar."
Referências bibliográficas:
- Lazar, J. (1980?). Escola, comunicação, televisão. Porto: Rés Editora.
- Quintas, S. F. (2000). Los medios de comunicación y la familia (en torno a la televisión). Pedagogía Social, 5, 111-125.
- Popper, K. & Condry, J. (1995). Televisão: Um perigo para a democracia. Lisboa: Gradiva
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5 comentários:
A televisão mudou bastante desde 1995 e muito mais desde as referências anteriores. Para melhor e para pior.
Para melhor no sentido de que há hoje imensos conteúdos para além do entretenimento que ensinam e inspiram à acção.
Literalmente, farto-me de aprender coisas na TV que aplico na prática. Saúde, culinária, bricolage, ciência, são apenas alguns exemplos.
Com o enorme número e diversidade de canais, hoje a escolha está do lado de quem vê, já não estamos sujeitos à programação. A pergunta já não é "o que dá hoje na tv?", mas sim "o que não dá na tv hoje em dia?".
Cada criatura tem,
desde a altura em que nasceu,
um território só seu,
ou seja, de mais ninguém!
JCN
SONHAR ATÉ MAIS NÃO!
Sonhar, sonhar, sonhar sempre mais alto,
mais alto ainda do que a torre Eifel,
viver em alvoroço e sobressalto,
passando os sonhos todos ao papel!
Deles fazer o corpo dos poemas
que inspirados nos saem das entranhas,
rivais das mais acrisoladas gemas
que se ocultam no seio das montanhas!
Sonhar até mais não! até que a morte
nos feche os olhos, nos apague a mente,
e para lá dos astros nos transporte!
E mesmo ali continuar sonhando
aos pés de Deus ininterruptamente
e não de longe em longe ou quando em quando!
JOÃO DE CASTRO NUNES
A ninguém Deus concedeu
o direito de intervir
no território que é meu
até deixar de existir!
JCN
Por lapso, este meu soneto saiu deslocado do respectivo "post" subordinado ao título "NUNCA DEIXE DE SONHAR!". As minhas escusas. JCN
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