domingo, 19 de abril de 2009

Jornalismo de qualidade e palermices

Escreveu Fernando Pessoa:
Concordo e cedo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador.
Sebastião Barros responde aqui amavelmente ao meu artigo “Realidades Desagradáveis”, e tem razão em muito do que diz. Mas não tem razão num aspecto fundamental.

Tem razão em apontar para a necessidade de uma boa formação por parte dos jornalistas. Tem razão em apontar para diferentes modelos de informação — modelos que privilegiam a objectividade e o rigor ou, alternativamente, a tomada de posição e a opinião à balda.

Mas não tem razão ao citar muitos exemplos de informação de qualidade pensando que isso refuta a minha ideia principal: que é a palermice que sustenta a informação de qualidade. Basta folhear um bom jornal ou revista, como o Times: a informação de qualidade constitui, na melhor das hipóteses, menos de metade do jornal (talvez apenas uns 30%): o resto são secções com notícias e opiniões frívolas. Evidentemente, pessoas como o Sebastião Barros nem se apercebem disso porque vão direitinhos à parte de qualidade do jornal, e ignoram as outras. Mas as outras estão lá por alguma razão; e a razão, desagradável, é que se não estivessem lá o jornal não seria economicamente viável.

Não podemos ter a veleidade de pensar que a generalidade da humanidade é como nós. Isso revela uma grande falta de observação e sensibilidade. A verdade, desagradável, é que a maior parte da humanidade prefere gastar dinheiro em palermices e não em informação ou cultura de qualidade. Quando damos valor à informação de qualidade -- ou à ciência, filosofia ou literatura -- o primeiro problema que temos de enfrentar é que a generalidade das pessoas não está minimamente interessada nisso, ainda que gostem de pregar a mentira de que gostam muito dessas coisas. O segundo problema que temos de enfrentar é a ideia cada vez mais comum de que a cultura, a ciência, a informação de qualidade não devem ser pagas, mas sim gratuitas. Os dois problemas juntos têm efeitos desastrosos. Se as poucas pessoas que realmente consomem produtos culturais (por terem realmente interesse neles, ao invés de apenas pregarem a mentira que têm interesse neles) tiverem ao mesmo tempo a noção de que não devem pagar por esses bens ou serviços, torna-se cada vez menos viável economicamente a produção de cultura ou informação de qualidade.

Assim, o primeiro passo para garantir a continuidade da informação de qualidade, assim como da cultura em geral ou da ciência, é divulgar a ideia de que essas coisas custam muito dinheiro — e por isso é preciso o apoio financeiro de quem realmente as valoriza.

60 comentários:

Rolando Almeida disse...

Bem e ainda há um outro aspecto que consiste em pensar que não vale a pena investir em cultura porque a cultura não gera dinheiro nem dinamiza a economia, quando a ideia correcta é precisamente a contrária a esta.

JKL disse...

E custam. Se um Ferrari custa muito mais do que um Fiat Punto, porque tem padrões de fabrico incomparavelmente melhores e tolerâncias mais apertadas, porque é que com a informação deveria ser diferente?

Osame Kinouchi disse...

Oi Desidério, talvez isto tem a ver com seu artigo:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=531FDS001

Anónimo disse...

"é a ideia cada vez mais comum de que a cultura, a ciência, a informação de qualidade não devem ser pagas, mas sim gratuitas."

Com isto concordo. Mas também não vi aqui ninguém defender o contrário, apenas foi dito, parece-me, que há projectos que disponibilizam de forma gratuita acesso a cultura, tecnologia e informação de qualidade.

Anónimo disse...

Rolando, tens razão no que dizes.

Vitor Guerreiro disse...

É preciso não nos perdermos, nesta discussão, como nos perdemos na questão dos direitos de autor, no estatuto ontológico do produto cultural. A questão não é saber se o músico compõe num sistema musical que o preexiste, ou se tudo são relações de relações de relações (até à quinta casa). A questão é a viabilidade económica dessas actividades e a sustentabilidade da vida de quem a elas se dedica, que têm esse direito, tal como o electricista, o engenheiro e o taberneiro têm esse direito, sem que exijamos aos engenheiros que vão trabalhar para a taberna em part-time para comprar livros, limitando-se a ganhar para a renda da casa com a engenharia, ao mesmo tempo que publica gratuitamente os seus projectos online.

A questão aqui, portanto, não é a imoralidade intrínseca de oferecer ou emprestar ou de qualquer transacção em que os custos não são directamente suportados por quem usufrui o produto. Essa é a insistência algo palerma de alguns comentários a posts anteriores. O que está em causa é a aplicação da gratuitidade à produção cultural e o que isso implica para as vidas dos produtores. Seria óptimo que tivéssemos um mundo comunitário, angélico, sem a nojice das transacções comerciais, onde todos são porreiros e todos se entreajudam. Mas NAO temos um mundo assim, porque as pessoas que mais batem no peito a defender essas ideias são aquelas que mais tendem a se aproveitar do suor alheio, justificando ideologicamente esses actos que já sabem imorais. É por isso que muitas destas ideologias começam logo por transformar a moralidade num mero epifenómeno, tudo reduzindo à táctica e à luta pelo poder e à cantiga do "não fazer isto nem pensar naquilo para não dar armas ao inimigo."

Sei bem o que é ter de contar tostões para ter acesso às coisas de que gostamos, para poder estudar as coisas de que gostamos. Não defendo privilégios classistas. Mas as pessoas que defendem o borlismo defendem, sem se aperceberem, este tipo de privilégios. E tornam-se impermeáveis à crítica por causa de alguns traumas ideológicos que afectam tipicamente as pessoas que lêem mais alguma coisa além de jornais desportivos: o sentimento aristocrata que sempre nos foi inculcado através do sistema educativo, com os seus atavismos centralistas e o privilégio da erudição gramofónica sobre a argumentação.

Anónimo disse...

Olhe lá, ó Vitor Guerreiro, como quer ter uma discussão apenas economica se logo a seguir se mete com adjectivações do que é moral e correcto e etc? Seja coerente homem! E deixe-se lá dos direitos que são coisas que mudam na história e cai outra vez na especulação dos valores.

Ou é mais inteligente termos acesso a determinadas coisas a um custo menor porque globalmente aumentamos a nossa qualidade de vida (através do acesso direito como pelo aumento da facilidade de geração e produção de produtos) ou chegar à conclusão que isso é nocivo porque se asfixiam os produtores dos produtos que esperavamos que tivessem sido criados por essa facilidade de acesso.

Anónimo disse...

Porque, caro Vitor Guerreiro, o engenheiro e o taberneiro não tem direito a ganhar a vida unicamente com a sua actividade. Felizmente acontece que o contexto que os rodeia permite que assim aconteça.

Vitor Guerreiro disse...

Mas então o que é melhor também muda com as circunstâncias históricas, logo o melhor é não discutir acerca de coisa alguma, porque até a porcaria do alfabeto muda.

Ficamos a repetir como papagaios a "historicidade do real" e as "mediações relacionais" e toda essa fancaria que consiste em reiterar até à nausea a ideia de "relação" como se a partir daí a montanha parisse o rato que vai salvar a nação... como faz todo o pós-modernismo com vagos pigmentos marxistas ou sociológicos.

Para mim, também era melhor ter um televisor de plasma sem custos, indo à loja e roubá-lo. Mas o facto de ser melhor para mim não significa que seja bom ou que seja melhor em geral.

Uma pequena achega sobre a moralidade: a estupidez de pensar que a moralidade não é senão um epifenómeno é uma das mais toscas heranças do marxismo - a moralidade é apenas a "espuma na crista da onda" que são as relações de produção. Não há portanto qualquer discussão relevante acerca do dever-ser, esse fantasma. Certo? Não. Estúpido. Porque a única razão que poderia haver (havendo alguma) para aderir às ideias marxistas, isto é, para aderir à causa proletária, seria um argumento moral. Se a própria moral não tem substância e decorre mecanicamente das relações de produção, então só haveria razões para defender o estado vigente de coisas e procurar prosperar nele.

Razões morais são as únicas razões que podemos ter para melhorar um dado estado de coisas. sei que a sonoridade da palavra não cai muito no goto das chanfanadas pseudo-filosóficas da moda mas... isso não me interessa.

João Silva disse...

Saudações

Este último argumento do Desidério dissipou-me algumas dúvidas sobre o que ele queria dizer. Até agora vejo que o não tinha entendido bem, não sei se por deficiência minha ou dele.

O argumento é o seguinte: (podiam deixar as coisas sob a forma de argumentos pois assim a comunicação era mais fácil):

A actividade borlista não é na verdade gratuita: o pagamento é indirecto através da publicidade.
A actividade suportada pela publicidade tem que chegar a um grande número de gente para ser viável economicamente.
A maioria das pessoas não gosta de cultura boa.
Logo, "o mercado da cultura boa" não é viável economicamente num sistema borlista.
Logo, para "o mercado da boa cultura" sobreviver teremos de pagar por ela.


Neste sentido, quando quisermos ter acesso a boa cultura, teremos de pagar por ela - a não ser que alguém a produza voluntariamente.


Daqui não se infere que a Wikipedia e o projecto Gutenberg sejam maus.
Se me derem cultura boa de graça, não há mal nenhum nisso.
Se o serviço for mau, eu procuro qualidade noutro lado (possivelmente pago).
Para as pessoas que não valorizam a cultura boa, se a Wikipedia e o Gutenberg não existissem, elas não iriam buscar o serviço noutro lado.
Logo, quer prestem um serviço de boa ou má qualidade, o projecto Gutenberg e a wikipedia não são maus.



Agora que percebo o argumento global vejo que ele não é radical. Apenas implica que quando as pessoas quiserem cultura boa em princípio vão ter que a pagar - como era dantes.

A única diferença do sistema borlista para o antigo parece ser a seguinte: enquanto que dantes o povão não recebia cultura nenhuma, agora recebe-a de graça mas de má qualidade; as pessoas que valorizam a cultura continuarão a pagá-la normalmente.

Acho que não estou a dizer nada de absurdo!

Aqui a desilusão é a de que a net iria trazer cultura boa e de graça e que toda a gente a quereria. Paciência!

Cumprimentos!

P.S.: assumi que a maioria das pessoas prefere cultura má; apesar de isto não ser pacífico, não me parece implausível.

Anónimo disse...

Caro Vitor

está a brincar comigo? :) deve estar. Eu sou uma pessoa simples e cartesiana (ou talvez não). Se quero sair dessas questões de "moral" é porque cada um tem a sua. Qualquer sistema de valores que saia da cabeça de um humano é tão válido como qualquer outro. Ou assume o conhecimento absoluto?! Há valores absolutos? Se acha que há é outra discussão. Eu não acredito nisso e continuo à espera que me convencam do contrário. Essa sim, é uma psicofoda das grandes.

Também não escrevi que se deviam roubar TVs de plasma ou o que quer que seja. Sabe porquê? Porque acho que é estúpido. Porque penso que o meu ganho local instantâneo promove a desconfiança e a insegurança entre as pessoas à minha volta e não acho que isso seja um ambiente produtivo e pacifico. E eu prezo a minha paz pessoal e um ambiente tranquilo à minha volta. Portanto eu não roubo é porque sou egoista e nada mais do que isso. Se isso lhe confunde as ideias eu tento esmiuçar mais.

Falemos em coisas que se podem medir que essas é que se podem discutir. Não me leia na diagonal e respire fundo que se calhar eu não estou a dizer o que pensa que está a ouvir (ou o que quer ouvir porque lhe dá jeito).

Anónimo disse...

A história, João Pedro, é que muitas actividades "borlistas" são independentes da publicidade porque há pessoas que voluntariamente as sustentam (quer pelo seu trabalho ou através de contribuições monetárias). E agora, onde é que ficamos?

João Silva disse...

Kyriu

Não percebo a relevância do que disse.
Quanto ao subjectivismo moral ele parece-me indefensável. Mas a discussão não é essa. Como o Kyriu diz e bem, nestas questões económicas temos que assumir que as pessoas são egoístas, pois se entramos na moralidade vale-tudo (as pessoas devem ser generosas umas com as outras, etc)

Assim, ao contrário do que pensa o Vitor Guerreiro, as pessoas que gostam de cultura não vão financiar os produtores por isso ser moralmente correcto. Vão fazê-lo como forma de pagamento pela cultura produzida, pois como argumento o Desidério, sem surpresas o regime borlista não é amigo da cultura boa.

Vitor Guerreiro disse...

Se quaisquer teoria que saem da cabeça de um ser humano sao igualmente válidas, acabou a discussão. Por que está então a defender a sua? É autoderrotante!

Anónimo disse...

No seu resumo:

"A actividade borlista não é na verdade gratuita: o pagamento é indirecto através da publicidade."

se há actividades independentes da publicidade o que se segue fica inquinado, não?

eu ainda gostava de saber se no fim não acabamos por discutir duas coisas diferentes, ou duas atitudes diferentes: os free riders, que defendem que deve ser tudo à borla porque são consumidores puros e aquela dos produtores voluntários que geram produtos sem exigirem o costumário honorário. Aquilo que parece ser argumentado é que os segundos deviam parar de produzir porque estão a alimentar os primeiros e assim os primeiros não vão pagar os terceiros (que são os produtores que para produzirem precisam de ser pagos). E também parece subentendido que são os terceiros que, maioritariamente, produzem a dita "cultura de qualidade" algo que não posso subscrever.

Vitor Guerreiro disse...

Pedro: a moralidade não me impoe ser generoso com os outros, apenas que não os trate como ferramentas. Usar sem pagar aquilo que alguém se esforçou para produzir é transformar essa pessoa numa ferramenta, logo é imoral.

Vitor Guerreiro disse...

Não é claro que o egoísmo seja imoral. Qualquer posição que tomemos relativamente aos outros, e que sintamos necessidade de a justificar, por pensarmos que é a atitude mais justificável, é uma posição moral. Podemos estar enganados, claro, e a nossa posição ser moralmente falsa. Mas não estamos fora do domínio da moralidade. A moralidade não é um dado código moral. É a justificação das nossas acções quando estas envolvem os interesses e a pessoa dos outros.

Desidério Murcho disse...

Não é verdade que usar sem pagar o que alguém se esforçou por produzir seja sempre imoral. Depende das circunstâncias. É imoral quando 1) colocamos em risco a viabilidade económica de uma vida dedicada a produzir isso que consumimos ou 2) somos free-riders, isto é, só podemos consumir de borla porque outros pagaram.

Não é imoral, por exemplo, que as pessoas leiam os meus artigos deste blog sem pagar, porque eu nunca pedi dinheiro por eles, e nem dependo desse dinheiro para poder continuar a escrevê-los (em grande parte porque sou pago pelo Público para os escrever e porque tenho emprego numa universidade).

Seria imoral ler os meus artigos sem me pagarem se 1) eu pedisse dinheiro pelos meus artigos ou 2) a possibilidade de eu os escrever dependesse de outros pagarem.

Anónimo disse...

Expliquem-me lá, decidir se algo é "moral" ou "imoral" é fazer uma avaliação contra um determinado código de valores. Qual o código é indiferente. É impensável falar em moralidade sem o dito código. Como há biliões de individuos, há biliões de códigos, com fortes tendências para determinadas semelhanças mas diferentes. A partir do momento em que os valores são um produto intelectual qual a validade de dizer que um sistema é melhor que outro e, a partir daí, afirmar-se que é moral(correcto) ou imoral(incorrecto)? Parem mas é de fugir com o rabo à seringa se fazem favor.

Vitor Guerreiro disse...

Dito isto, o egoísmo é moralmente insustentável por ser a crença de que ocupamos um lugar especial na ordem das coisas, pelo mero facto de sermos nós. Isto é tudo o que precisamos para transformar os outros em ferramentas.

A minha ideia no último comentário era esclarecer que a moralidade não é a mera afirmação dos "valores" da moda. É a reflexão cuidada na justificação das nossas acções.

Vitor Guerreiro disse...

Mas qual código qual carapuça! Para tu de fugir e pensa nas coisas um pouco. Sabes como vês o que é imoral fazeres? Simples: pergunta se estás disposto a aceitar para ti uma coisa que imponhas aos outros. Nem um relativista cultural numa sociedade escravista estaria disposto a aceitar para si a condição de escravo... excepto na religião nova era digital, para usar o termo do desidério.

Anónimo disse...

Vitor, tu estás a usar um código de valores para fazer esse juízo. Ou isso cai do céu?

Pergunta geral:
"pergunta se estás disposto a aceitar para ti uma coisa que imponhas aos outros"

Resposta geral: depende. Há coisas que sim, há coisas que não.

Pergunta particular:
"estaria disposto a aceitar para si a condição de escravo"

Resposta particular: ainda não me deu para esse fetiche mas se calhar foi por falta de oportunidade/contexto.

e o contexto, meu caro, definido pelas circustância e os participantes, é que conta. Como diz o povo, "há gostos para tudo". E quer a prova? Se for daqueles que defendem que a pena de morte é "imoral" arranjo-lhe logo quem defenda o contrário e vice-versa. E depois, dou razão a quem? Ou uma mesma coisa pode ser moral e imoral ao mesmo tempo? ahahahah

Anónimo disse...

ps: o meu egoismo é indiferente ao seu juizo de valor. Ele É e basta-se. Se eu der um tiro na cabeça deixo de existir e tudo, em relação ao referencial que sou, deixa de ter significado. E passa-se o mesmo com toda a gente. Enfim, já descarrilamos a conversa toda :)

Anónimo disse...

Aquilo que eu sei é que muitas vezes interesso-me por livros que custam entre 80 a 300 dólares, e que se não fossem as bibliotecas e a pirataria, eu nunca os poderia ler.
E como já uma vez disse aqui, há meros artigos, umas duas folhas, de revistas, a custarem 40 dólares.
Eu gostava de saber o que é que o senhor Desidério pensa se eu (em vez de comprar os 20 livros que me fazem falta, e que cada um custa 300 euros, ou seja, uns 6000 euros) fizer o seu download nos torrents e ajudar a surripiar alguns de bibliotecas para pôr também nos torrents.
Porque é que um cd que saia da fábrica, já com capas e tudo, tem um custo de 50 cêntimos e depois é vendido por 15 euros?
Porque é que um grupo como os U2 se dá ao luxo de vender bilhetes a 100 euros? Não estão mesmo a pedir que um gajo lhe ponha a discografia nos torrents?
Nunca hei-de pagar livros a 300 euros, esses irei piratealos nos torrents, nos emules, e onde puder!
E ainda vem aqui o senhor Desidério que eles são uns coitadinhos que precisam de mais apoio!
E é para não falar de livros que custam 8000 (oito mil dólares), para não falar em 40.000:
http://www.squidoo.com/expensivebooks

luis

Anónimo disse...

Luis, esse raciocinio do "posso tirar à vontade porque não tenho dinheiro mas quero" tem que se lhe diga. Gostas de fazer justiça com as próprias mãos, eihn?

:)

Quanto à diferença de preço, quantas pessoas tem de por a comida no prato sobre esse delta? Não me parece que isso seja tão linear assim...

Interessantemente acho que livros a 8K nada sofrem com a partilha digital porque quem os compra não será pelo conteudo (seria como dizer que as cópias da Mona Lisa lhe afectam o valor de mercado)

Anónimo disse...

Um exemplo concreto de modelo de negócio apenas possibilitado pelo trabalho voluntário/dinâmica digital:

http://www.librarything.com

João Vasco disse...

Desidério:

«Não é verdade que usar sem pagar o que alguém se esforçou por produzir seja sempre imoral. Depende das circunstâncias. É imoral quando 1) colocamos em risco a viabilidade económica de uma vida dedicada a produzir isso que consumimos ou 2) somos free-riders, isto é, só podemos consumir de borla porque outros pagaram.»

Essa distinção parece-me algo arbitrária. Se numa sociedade as pessoas mais fortes tendem a ajudar as outras a transportar as malas - por exemplo - não existe nada de imoral em aceitar esse favor, mesmo que isso implique a inviabilidade económica da actividade "transportador de malas".

Não vejo nada de intrinsecamente imoral em aceitar favores; tal como não vejo nada de instrinsecamente imoral em colocar em causa uma actividade económica (não é imoral não comprar o jornal "a Bola", mesmo que isso coloque em causa a actividade de "jornalista desportivo). Assim, não vejo justificação para assumir que existe algo de imoral na conjunção das duas situações. Se todas as pessoas preferissem o Karaoke aos concertos profissionais, não haveria cantores profissionais - mas nesse caso nada de mal haveria nisso pois seria essa a preferência das pessoas.

Assim, concordo (novamente) com as objecções válidas que o João Pedro colocou às tuas afirmações.
Sim, se as pessoas querem informação de qualidade sem publicidade ou treta à mistura, paguem por ela. Se não se importam com a publicidade a treta à mistura, tudo bem.

E a wikipedia (em inglês) é algo de bom. Aquilo que os seus voluntários fazem é moralmente correcto. Não vejo como é possível sustentar o contrário.
Acho que seria curioso responderes aos argumentos do João Pedro, que desde o início tem refutado as tuas afirmações em relação a este assunto.

João Vasco disse...

Kyriu:

É verdade que existem vários códigos morais diferentes. Mas eu argumentaria que existem uns melhores do que outros.
Quem se lançou contra as torres gémeas pode ter acreditado fazer algo de bom (até estavam a sacrificar as suas vidas por aquilo que consideravam correcto - quanto altruismo!) mas eu defendo que estavam a fazer algo errado, em parte porque o seu código moral era mau.

Se eu defendo que há códigos morais melhores que outros, então qual é o critério de comparação?
Acredito que o melhor critério é as consequências. Um código moral que seguido por todos leve a menor sofrimento e mais felicidade é - na minha opinião - um código moral melhor do que aquele que não o faça com tanta eficácia.

Isto porque vejo a moral como uma ferramenta (para "agir em conjunto") que é útil se servir precisamente este propósito. Quando isso não acontece, é uma má ferramenta.

Anónimo disse...

João, a questão para mim é que a tua definição de critérios (para decidires se um código é melhor que outro) também é arbritária, tudo depende daquilo que valorizas e queres maximizar. É exactamente por isso que gostava que deixassemos essas questões de lado, ficarmos todos de acordo sobre exactamente o que queremos maximizar e depois ver se o caminho que cada um defende para atingir essa maximização vinga quando confrontado com o teste da realidade. penso ser a única discussão útil, pelo menos é a única que me interessa :)

Vitor Guerreiro disse...

luis,

então imagina que pões à venda um objecto teu por um preço que alguém, algures, não pode pagar. Essa pessoa diria então: "sacana, estás mesmo a pedir que te roube essa treta." E a pessoa assim fazia.

Não ouças os U2, ouve coisas bem melhores que há por aí, muito menos dispendiosas. A única razão pela qual eles vendem bilhetes caros é porque há quem os compre. Não vejo qual o mal disso. Há alguma lei moral que diga que não pode haver produtos no mercado mais caros do que a quantia que eu posso pagar por eles?

Voltamos à mesma discussão. Ninguém espera que os vendedores de carros, de jóias, de piscinas, de instalações eléctricas ou de hamburgueres sigam semelhante lei imaginária. Só esperam ver isso aplicado à cultura, porque acreditam que são seres superiores, marginalizados pelo mundo, e que têm o manifesto direito de usufruir gratuitamente dos produtos culturais. contudo, nenhum deles me apoiaria se eu fosse à loja levar um televisor à força, com o argumento de que não o posso pagar logo tenho direito a levá-lo.

A ideia de que tenho um direito intrínseco a consumir gratuitamente produtos culturais mas não objectos de outro tipo é um vício ideológico muito forte da sociedade portuguesa (e não só).

Vasco: o que os voluntários do wikipedia fazem só pode ser considerado moral ou não mediante os efeitos que produza. Trabalhar de borla em si não pode ser considerado imoral, é preciso colocar isso num contexto. É o que se está a afirmar desde o início. Os escravos do Wikipedia são simplesmente tolos, imorais são os directores do site, e a tolice dos autores vê-se bem no sentimento de superioridade aristocrático que vem de trabalharem de borla para um artigo, de se sentirem "operários da cultura" com uma missão na testa, e o ar ridículo com que anexam o "titulo" nobiliárquico, ao apresentarem-se como "directores" ou "coordenadores" disto e daquilo sempre que metem uma treta de um texto mal amanhado na net.

João Vasco disse...

Não concordo que a escolha do critério seja arbitrária.

A não arbitrariedade desta escolha alicerça-se no facto da procura da felicidade e da aversão ao sofrimento serem universais humanos extremamente importantes.

As pessoas podem discordar em muitas coisas, mas, pela nossa natureza biológica, ninguém gosta de sofrer. (Nota que o masoquista, por exemplo, pelo facto de tirar prazer da dor, não associa a dor física ao sofrimento na acepção da palavra "sofrimento" que estou a usar)

Por isso, se existe um objectivo comum que pode unir toda a humanidade é o de promover a felicidade e evitar o sofrimento.
Na verdade este objectivo é tão abrangente que até pode ser aplicado a alguns animais.


Nota: podes encarar o "bem" e o "mal" como convenções sociais. Mas também te podes perguntar o que leva as pessoas a aceitar estas convenções. Em última análise está lá sempre o facto de quererem ser felizes ou quererem evitar o sofrimento. Assim, faz sentido que sejam estes os objectivos últimos de qualquer sistema moral que cumpra os objectivos pelos quais as pessoas a eles aderem.

Mind Booster Noori disse...

"Seria imoral ler os meus artigos sem me pagarem se 1) eu pedisse dinheiro pelos meus artigos ou 2) a possibilidade de eu os escrever dependesse de outros pagarem."Caro Desidério, deixe-me relembrar as suas palavras:

"Tenho música e livros ilegais no meu computador? Sim. Não sou perfeito."Se considera os seus próprios actos imorais, se calhar era melhor corrigir-se antes de tentar dar lições de moral aos outros.

Marcos Marado

João Vasco disse...

Vitor Guerreiro:

Eu já achava algo desagradável a ingratidão para com o trabalho voluntário muito antes de conhecer a internet.
Agumas pessoas davam o seu tempo e esforço no trabalho social de ajuda aos mais desfavorecidos e havia sempre quem - a meu ver de forma mesquinha - comentava essas atitudes como sendo motivadas por uma ânsia de se "sentirem superiores aos outros".

Eu não sei quais as motivações de quem oferece o seu trabalho - podem ser as mais variadas - e nem me importa. Desde que as consequências das suas acções sejam positivas, tanto pode ser a vaidade como o altruismo que os leva a agir.
Mas acho que assumir "a priori" que quem dá só pode ter más motivações parece-me mais complexo de culpa do que outra coisa - mas posso estar enganado pois isto també não passa de um julgamento de motivações, que podem ser as mais variadas.

Por isso, deixemos as motivações de parte, e centremo-nos nas consequências.


E aqui, o João Pedro mostrou por A+B que a wikipedia não tem consequências nefastas - pelo menos aquelas que o Desidério lhe atribui - bem pelo contrário.

Eu cito:

«Daqui não se infere que a Wikipedia e o projecto Gutenberg sejam maus.
Se me derem cultura boa de graça, não há mal nenhum nisso.
Se o serviço for mau, eu procuro qualidade noutro lado (possivelmente pago).
Para as pessoas que não valorizam a cultura boa, se a Wikipedia e o Gutenberg não existissem, elas não iriam buscar o serviço noutro lado.
Logo, quer prestem um serviço de boa ou má qualidade, o projecto Gutenberg e a wikipedia não são maus.»

João Vasco disse...

«Se considera os seus próprios actos imorais, se calhar era melhor corrigir-se antes de tentar dar lições de moral aos outros.»

Se só alguém perfeito pudesse dar lições de moral, não haveria como aprender qualquer noção de ética.

Ainda bem que as pessoas não pensam dessa forma.

Anónimo disse...

João, aí é que diferimos. Porque quando o que cada um considera completar a sua felicidade diverge (olha o pedófilo!), certo? Sim pah, queremos todos ser felizes, mas como é de forma diferente, e essa diferença, inevitavelmente pisa os calos da noção de felicidade de alguém... Logo, na prática, a escolha de critério é arbitrária porque o que vais avaliar a seguir são acções concretas e reais.. Se é uma decisão humana, nalgum ponto entre a arbitrariadade. É inevitável.

João Vasco disse...

«Sim pah, queremos todos ser felizes, mas como é de forma diferente, e essa diferença, inevitavelmente pisa os calos da noção de felicidade de alguém...»

Mas é precisamente essas diferenças que o código moral deve ter em conta.

Não é arbitário assumir que o juíz da felicidade e do sofrimento deve ser cada indivíduo. Quando existe um acto que leve todos a sofrer sem que exista nenhum ganho, qualquer bom código de moral o considera errado.
Quando existe um acto que evita sofrimento a um, mas faz sofrer outro, as coisas já são mais delicadas.
Eu posso não saber qual é o melhor código de moral possível, pois não conheço a mente de cada ser humano que existe. Mas qualquer que ele seja, terá a propriedade de ser aquele que conduz a maior felicidade e evita mais sofrimento.

Anónimo disse...

O Diogenes fazia o que apregoava, mas ok, é preciso ter estomago não é?

E não se esqueça disso quando for votar. Lá por eles não fazerem tem a legitimidade de ditar a sua conduta :) Afinal é o "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço" (quem é que falava em atitudes "aristocráticas"?)

Mind Booster Noori disse...

"Se só alguém perfeito pudesse dar lições de moral, não haveria como aprender qualquer noção de ética."Além de confundir moral e ética, aplica apenas demagogia para tentar enfraquecer o meu ponto.

O Desidério condena outros como sendo "imorais", por fazer aquilo que ele também faz - mas ele não é "imoral", apenas "imperfeito".

Estivesse ele aberto a ouvir opiniões diferentes à sua, a imperfeição seria justificação q.b.. Assim, apenas observamos "Fingimento de bondade de ideias ou de opiniões apreciáveis": hipocrisia.

Anónimo disse...

Maior felicidade para quem? É uma média simples, uma média geometrica, uma média ponderada? Desculpa mas tudo isso são balelas. Diz-me o que se quer maximizar, algo que se possa medir com números, e depois falamos. Tudo o resto é treta. Só se pode atingir o "não sofrimento" e isso implica a obliteração total da humanidade. E repara, qualquer indicador de felicidade que arranjas há multiplos conjuntos de acções, contrárias entre si (isto é, justificadas por um código e reprovadas noutro), que alcançarão esse o mesmo valor/patamar. O que pensar então?

João Vasco disse...

«O Desidério condena outros como sendo "imorais", por fazer aquilo que ele também faz - mas ele não é "imoral", apenas "imperfeito". »

Ah!
Então trata-se de uma discussão semântica!

Se o Desidério tivesse escrito que ele próprio tinha tido atitudes imorais (como toda a gente, aliás) e que a participação na wikipedia era uma "imperfeição moral" então estava tudo bem?

Quanto ao uso das palavras "ética" e "moral" no meu texto, ele é propositado, porque a confusão foi sua.

Ao defender que alguém "imperfeito" não pode alegar que algo é certo ou errado, é o "Mind Booster Noori" que faz a confusão entre ética e moral.

Um assassino em série que ache errados os seus actos pode ter toda a razão quando diz que quem bate na esposa devia ir preso. Quem não concorda com as suas palavras deve refutar os seus argumentos e não alegar que a fraqueza moral do indivíduo o inibe de ter uma opinião no domínio da ética que não merece ser ouvida.
Isso é uma falácia.

PS- Note-se que eu acho que o Desidério não tem razão nenhuma naquilo que escreve.

João Vasco disse...

«Desculpa mas tudo isso são balelas.»

Epa! Contra esse argumento realmente não consigo dar qualquer resposta.

Gostava que imaginasses um mundo em que o código moral dominante leva a um enorme sofrimento generalizado. Por exemplo, um mundo em que o regime nazi está no poder, e a generalidade das pessoas apesar de concordar com a moralidade do regime, sofre bastante ao longo da sua vida, com medo, e ódio face a N coisas.

Imagina que isso é assim a nível mundial. E agora mantém que esse cenário não é "pior" que o cenário actual, porque toda a moralidade é arbitrária.

Para ti "bem" e "mal" tornam-se ilusões inúteis. Mas eu encontro utilidade nesses conceitos - a utilidade de poder trabalhar com diferentes seres humanos de diferentes sociedades com objectivos comuns.

Anónimo disse...

João, acho que pode haver algo mais profundo :). O Desidério, ao cometer actos "reprováveis" mostra, com o seu exemplo pessoal, da inevitabilidade dessas acções no comportamento humano e que a resposta para um sistema sustentável tem de estar noutro lado.

João Vasco disse...

«O Desidério, ao cometer actos "reprováveis" mostra, com o seu exemplo pessoal, da inevitabilidade dessas acções no comportamento humano»

Mas o facto das acções serem "inevitáveis" não quer dizer que não sejam moralmente erradas.

Um violador que não se contém pode ter toda a razão quando defende que a violação é moralmente errada.
Pode defender até medidas para aumentar a segurança e garantir que pessoas como ele não conseguem cometer esse tipo de actos.

Se defender mais anos de cadeia para violadores como ele, por exemplo, não faz sentido que alguém diga "como podes defender penas tão pesadas quando é inevitável que alguém não resista a esses impulsos? Olha o teu exemplo!"

Eu não estou a defender penas mais pesadas nem mais leves para nenhum crime, mas acho que o cadastro de alguém não é chamado para essa discussão.

Posso defender que é errado um acto que já fiz, e até que temo não resisir e voltar a fazer, e isso não me tira razão nenhuma.

Anónimo disse...

João, num mundo sob o regime nazi seriam todos felizes porque apenas nos nazis estariam vivos no fim. E para eles o sofrimento dos outros nada diria. E estariam na mesma, na tua acepção, a actuar da forma que maximizava a sua noção de felicidade. E se o teu violador disse-se que estava tudo muito bem? Porque é que o seu juizo valeria menos que o teu nesse campo da "moralidade"? De que autoridade superior foste investido para tal afirmar? O teu argumento pressupõe que os actos são investidos de uma qualidade absoluta a si inerente e imutável. Como aferir essa qualidade é do juizo de cada um segue que não pode ser imutável nem independente do observador.

Pensando que posso andar para aqui a usar um conceito de moral que está errado fui à procura de uma definição e encontrei:

"
Esta é na verdade a definição de ética: Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.

Esta é a definição de moral: Conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada.

Observe que em ambos os casos há uma relatividade em questão. Não adianta debatermos ética se não temos parâmetros. No meio de ladrões, roubar é moral e ético. No meio de prostitutas vender prazer é ético e moral."

Rick Steindorfer, http://recantodasletras.uol.com.br/audio.php?cod=1533

Não sei se esta é a definição aceite pelo canone ou não (qualquer um dos filósofos profissionais de serviço o poderá rapidamente corrigir) mas acho que ilustra o meu ponto de vista.


Se calhar estamos-nos a perder, tudo o que eu disse foi: abandonem-se todas as referências a "moral", "etica", "certo" e "errado" nesta discussão e concentremos-nos no que realmente interessa e pode ser aferido.

João Vasco disse...

Kyriu:

«Se calhar estamos-nos a perder, tudo o que eu disse foi: abandonem-se todas as referências a "moral", "etica", "certo" e "errado" nesta discussão e concentremos-nos no que realmente interessa e pode ser aferido.»

Não faz qualquer sentido abandonar essas referências, pois se tu não consideras que existe algo de "bom" e de "mau", então toda a discussão é irrelevante.

Nesse caso, a wikipedia não será má, mas tentar acabar com ela também não. Sacar músicas da internet não é mau, mas mandar para a cadeia quem o faz também não, e certamente não haverá mal em achar que isso é mau.


Tu dizes que entre prostitutas não há mal em vender favores sexuais, mas eu sou da opinião que não há mal em vender favores sexauis, desde que seja uma troca legítima. Não vejo que a prostituição seja moralmente errada. Posso estar enganado, mas para discutir a moralidade da prostituição (importante porque em democracia são so cidadãos que a podem tornar legal ou ilegal) é importante ter em conta as suas consequências.

Como cidadão importa discutir com os outros cidadãos a moralidade das leis, por exemplo. Podemos ter gostos e preferências diferentes, mas existe algo comum - todos queremos ser felizes e evitar o sofrimento. Qual a melhor maneira de trabalhar em equipa para que os nossos objectivos comuns sejam atingidos?
O facto de não termos acesso a todas as respostas não significa que devemos desistir desta procura.

Acabaste por te "desviar" do exemplo que dei do nazismo, visto que eu estava a ASSUMIR no exemplo que as pessoas em geral VIVIAM em sofrimento (mesmo que acreditassem nos ideais nazis).

No exemplo da violação eu assumo, pelo conhecimento que tenho a respeito da generalidade dos seres humanos que uma sociedade em que a violação é considerada moralmente errada (e punida) é provavelmente uma em que as pessoas sofrem menos do que uma em que, sendo tudo o resto igual, a violação não é considerada moralmente errada, e não é punida.
Posso estar enganado, mas posso estar enganado a respeito seja do que for. Mas como acredito que é mais provável estar certo, vou querer que este valor se generalize.

Se não existir "bem" nem "mal" não há "mal" em impôr seja que valores for a ninguém. Mas se existir "bem" e "mal" então importa fazer o nosso melhor para descobrir o que é o "bem" e agir em conformidade.

Anónimo disse...

"Não faz qualquer sentido abandonar essas referências, pois se tu não consideras que existe algo de "bom" e de "mau", então toda a discussão é irrelevante."

O que eu digo é que a catalogação de "bom" e "mau" segundo ideias de "moralidade" depende dos valores da cada um e logo devemos por isso de lado. Daí a dizeres que eu não tenho referências que possam suster uma discussão é um passo maior que a perna. Tudo o que eu disse foi: estejamos de acordo com o que queremos medir deixando classificações de moralidade de lado [porque estas só adicionam ruído].

Posso dizer-te que eu valorizo, tu vês se valorizas o mesmo e depois ajuizamos se as acções enunciadas (o borlismo digital) trabalham para esse objectivo ou não.

"Se não existir "bem" nem "mal" não há "mal" em impôr seja que valores for a ninguém. " como tudo, depende do que pretendes. Se o teu objectivo é a convivencia pacifica facilmente percebes que essa acção é prejudicial. Se a tua opção for impôr os teus valores porque eles são superiores então força com isso. A mesma acção, duas classificações opostas e ambas válidas.

Por outras palavras, acreditas que a classificação das acções é independente do observador? Tem um valor intrinseco e independente (mesmo admitindo falhas de julgamento)?

João Vasco disse...

«Se o teu objectivo é a convivencia pacifica facilmente percebes que essa acção é prejudicial. Se a tua opção for impôr os teus valores porque eles são superiores então força com isso. A mesma acção, duas classificações opostas e ambas válidas.»

A convivência pacífica é «boa»?

Muitas vezes sim, pois evita sofrimento e facilita que as pessoas sejam felizes.

Outras vezes não. Se for a convivência pacífica numa sociedade com escravos e senhores, onde existe sofrimento generalizado - viva la revolution.

Por isso não vejo nada de instrínsecamente errado em considerar uns valores melhores que outros - isso seria uma contradição dos termos, pois isso seria considerar um valor que previligia a "convivência pacífica" superior a outros...



«O que eu digo é que a catalogação de "bom" e "mau" segundo ideias de "moralidade" depende dos valores da cada um e logo devemos por isso de lado. »

Mas se achas isso, não faz sentido criticares o Desidério. De acordo com os valores dele, a wikipedia e o projecto Gutenberg são maus, e se uns valores não são melhores nem piores que outros, então os valores de ti que discordas dele não são melhores que os dele. Se achas que não faz sentido discutir o "bem" e o "mal", não faz sentido discutires com o Desidério.

Eu sou da opinião que o Desidério está errado quando defende que o projecto Guttenberg é mau, porque acho que o código de valores dele é pior do que o meu. Posso estar enganado, mas por isso discuto, troco argumentos.
Se me mostrarem que considerar essas coisas erradas, e agir contra elas leva a um mundo mais feliz com menos sofrimento, entenderei que estava errado. Pelo contrário, se eu mostrar que é melhor não considerar essas coisas erradas (e creio que isso foi mostrado) então conclui-se que o código moral do Desidério não é o mais adequado para julgar esta situação em particular, pelo que deve ser "melhorado".

João Silva disse...

Caro Kyriu,

Recomendo-lhe a leitura deste pequeno texto que talvez o faça mudar de ideias.

http://criticanarede.com/eticaobjectividade.html

Caro João Vasco,

Como você disse não há nada de errado em destruir sectores económicos. Isso parece-me bem absurdo. Já agora proibíamos a educação, pois ela ajuda a levar mais assistentes sociais ao desemprego.

Também estou de acordo quando diz
que lá por o Desidério também pecar não significa que não possa criticar o comportamento dos outros. Essa falácia ad hominem é evidente: por esse raciocínio parvo (que já vem de Jesus) ninguém pode falar pois todos somos pecadores. As más práticas seriam indenunciáveis. Simplesmente por eu dizer uma coisa e fazer outra não se segue que o que eu digo é mau.

Também acho que já provei que a wikipedia e o projecto Gutenberg não são maus. Isto decorre das pessoas serem livres e escolherem o que lhes aptecer. Se quiserem informação de qualidade, que a comprem!

Quanto à questão da moralidade, penso que não há nada de mal em o consumidor escolher o seu produto preferido. Não vejo por que razões as coisas serão diferentes com os borlistas.

Acho sinceramente que os nossos interlocutores não estão a pensar com clareza. Sim, a aristocracia impunha erroneamente que a cultura devia ser gratuita. Eu nunca disse que isso era bom. Digo apenas que não há nada de intrinsecamente bom ou mau em consumir cultura gratuitamente (salvo em casos em que se viole a moralidade, matando ou roubando, por exemplo).

À espera de resposta,

Cumprimentos!

Anónimo disse...

"Mas se achas isso, não faz sentido criticares o Desidério. De acordo com os valores dele, a wikipedia e o projecto Gutenberg são maus, e se uns valores não são melhores nem piores que outros, então os valores de ti que discordas dele não são melhores que os dele. Se achas que não faz sentido discutir o "bem" e o "mal", não faz sentido discutires com o Desidério."

O que critico no Desidério é ele argumentar que economicamente a existência desses projectos põe em risco a criatividade, a geração de cultura e informação de qualidade devido a diminuir as oportunidades de remuneração dos geradores "clássicos" desses serviços porque apenas esses geram qualidade. Ele argumenta que apenas é sustentável, a longo prazo, gerar esse tipo de produtos com qualidade se acabarmos com os projectos que os disponibilizam neste momento de forma gratuita. Ou então eu sou uma besta e não percebi nada do que ele estava a dizer.

João Silva disse...

Caro Kyriu,

Acho que tem razão no que diz.

No entanto, outros comentadores abordaram a moralidade desta questão, que eu acho que não é diferente da de outra questão económica qualquer.

Como já disse anteriormente concordo que estas questões económicas devam ser tratadas assumindo que as pessoas são egoístas. Daqui não se segue que o subjectivismo moral seja verdadeiro como o Kyriu deu a entender.

Cumprimentos!

Anónimo disse...

A minha pergunta repete-se e só precisa de um sim ou um não:

A classificação moral das acções é independente do observador?

S/N ?

Se sim, então não há subjectivismo moral. Se não, há. No entanto se sim, a análise da acção, realizada por dois observadores independentes deveria dar o mesmo resultado (partindo-se do principio que estão a ser honestos e sem falsearem os resultados). No entanto verifica-se que o "resultado" da avaliação é dependente das premissas assumidas pelos observadores e, consequentemente, a avaliação do estado de "moralidade" é dependente do observador.

Como link com link se paga...

Mind and Matters, Delmar England, http://www.acandyrose.com/delmarengland.htm

João Vasco disse...

«A classificação moral das acções é independente do observador?»

Diferentes observadores classificam-nas de maneiras diferentes.

Por exemplo, o Desidério classifica as contribuições para o projecto Gutenberg como más, e eu classifico-as como boas.

Mas acredito que a minha classificação é correcta e a dele é inconrrecta, e dou argumentos para explicar a minha posição.

Assim, se bem que diferentes pessoas possam classificar a mesma acção de forma diferente, não é dos observadores que depende a "bondade" da acção, mas sim daqueles que sofrem as consequências desta.
Se, tendo em conta todas as consequências, das mais óbvias às mais subtis, uma acção apenas vai causar sofrimento sem que ninguém se vá sentir mais feliz, então acredito que todos os observadores que a classificarem como moralmente boa estão enganados.

nuvens de fumo disse...

"Não podemos ter a veleidade de pensar que a generalidade da humanidade é como nós. Isso revela uma grande falta de observação e sensibilidade. A verdade, desagradável, é que a maior parte da humanidade prefere gastar dinheiro em palermices e não em informação ou cultura de qualidade."

Ainda bem que assim é, senão coisas como a ópera, a musica ligeira, o teatro de improviso, o Jazz, os bares, o fogo de artificio, a arte , a pintura, os papagaios de papel, os trajes festivos, o vinho e os seus excessos ; )tudo o que só posteriormente é classificado não existiria, e tudo o que não é classificável nem faria sentido .

Socorro.........o Desidério queria um mundo cheio de pessoas muito sérias, muito cordata, todas de carteira aberta para ouvir coisas que já se saberiam ser do mesmo estilo.

claro que no fim ninguém pagaria um chavelho para ouvir aquela mesma treta, pois sendo quase perfeita e feita de acordo com determinado tipo de regras seria previsivel.

Inovação, criatividade, avanço andam de mão dadas com o risco , com o limite e só se sabe o resultado no fim, passados muito anos, às vezes muitos séculos.

Por outro lado, a supremacia ocidental em todos os campos está lentamente a desaparecer.

Saibamos calmamente ver o fim de uma era, com muitos foguetes de preferência :)))

Anónimo disse...

Eu só queria dizer que o Desidério está a choramingar que as pessoas não querem pagar as coisas de qualidade, e eu disse que com livros tão caros é impossível paga-los, é só isso.
Como é que alguém tem a lata de pedir 300 euros por um livro e achar que podemos pagar.
Claro que é uma roubalheira e eu faço o que puder para os roubar.
Porque alguns destes livros que custam 300 euros são feitos por professores universitários, à custa de conhecimentos que foram obtidos em serviço, e que ainda se dão ao luxo de escrever os livros usando o computador da universidade, e que depois ganham balúrdios em direitos de autor, imaginem 15% de 10.000 livros vendidos a 300 euros, dá quase meio milhão de euros, ganhos com o computador pago pela universidade e feitos em tempo de serviço.
E depois ainda se queixam que ganham pouco e escrevem 20 artigos seguidos, a dizer isso, para o Público, mais uma vez com o pc da universidade, e ainda ganham mais uns trocos com isso.
Tem que haver terrorismo cultural, um gajo tem que os roubar e fazer-lhes frente!
luis

Anónimo disse...

Caro Desidério,
parece-me que o senhor insiste nas equações erradas.
Parece-me que o ponto inicial do seu raciocínio está errado.
Ora segundo o que podemos deduzir das suas palavras é que há o grupo das pessoas interessantes, cultas e inteligentes(ávidos consumidores da boa cultura e decerto todos seus amigos) e noutro grupo toda a restante gentalha desinteressante, inculta e acrítica que se afunda nos sofás frente ao lixo superficial que caracteriza o cheiro da má cultura.
Depois há o problema de uma certa tendência fascista na oposição nós/eles.
O amigo insiste na luz dos ângulos ultrapassados.
Como alguém disse,
"Saibamos calmamente ver o fim de uma era, com muitos foguetes de preferência :)))"

art campos

Vitor Guerreiro disse...

Vasco,

a ideia não é que o trabalho voluntário é intrinsecamente mau, mas não me parece que se possa comparar uma coisa com outra. Não se pode comparar o trabalho voluntário que se despende para ajudar pessoas que se encontram na extrema miséria económica ou moral e que de outra maneira não podem ser ajudadas, e trabalhar de borla para uns gajos que ganham dinheiro com isso, tudo para que um labrego que se queixa de não poder comprar carcaças mas fuma 3 maços por dia, vai ao futebol e ao cine paraíso, não tenha de pagar uns reles 5 euros para ler um texto clássico.

Quanto à questão das motivações, está certo. Estava a pensar particularmente em algumas experiências que tive com "operários da cultura" de espirito missionário. Não quer dizer que toda a gente o faça com as mesmas motivações.

Quanto ao argumento, não me parece bom. Se eu tiver uma loja de televisões e um gajo com dinheiro decide comprar umas dúzias e distribuí-las gratuitamente na rua mesmo à minha porta (sem garantias nem assistencia tecnica, claro), está a foder-me a vida. Podemos perder-nos em discussões metafísicas sobre o direito, mas o que está em questão é o impacto daquela actividade na sustentação económica das actividades relevantes. Posso ir distribuir cerveja de borla ao pé do taberneiro do bairro. Estarei a dar um contributo à comunidade, ou a lixar a família do taberneiro?

Claro que podes dizer que os "verdadeiros" amantes de cerveja preferem ir à taberna comprar o produto x ou y, com o sabor n ou z... mas isso é uma treta pois na prática sabemos bem o que acontece invariavelmente. O povão traz o borlismo nos genes. Depois há outra coisa. As teorias da comunidade e o raio que partam são hipocrisia. A malta só defende essas teorias e o freeware por causa da borla e não por causa das tretas comunitárias. As tretas comunitárias são apenas um meio agradável de permitir ao indivíduo uma sensação de justificação quando vai fazer exactamente aquilo que já queria fazer antes de começar a pensar nas implicações. As pessoas estão-se nas tintas para os produtores ou para a justiça nas transacções. Defendem a cópia, o freeware e a borla apenas porque sabe bem usar sem pagar. Nada mais. Se fosse pelas teorias comunitárias, em vez de teres 1% dos utilizadores a fazer donativos aos autores de programas freeware, tinhas 90%. Não tens. Porque tudo isto é uma gigantesca treta.

João Vasco disse...

Vitor Guerreiro:

«Não se pode comparar o trabalho voluntário que se despende para ajudar pessoas que se encontram na extrema miséria económica ou moral e que de outra maneira não podem ser ajudadas, e trabalhar de borla para uns gajos que ganham dinheiro com isso, tudo para que um labrego que se queixa de não poder comprar carcaças mas fuma 3 maços por dia, vai ao futebol e ao cine paraíso, não tenha de pagar uns reles 5 euros para ler um texto clássico.»

Eu acho que são comparáveis.
Fazer um favor a quem precisa muito pode ser melhor do que fazer um favor a quem não precisa tanto, mas esta segunda acção não deixa de poder ser boa por causa disso.

Mais ainda, não me parece que alguém que contribua para a wikipedia ou para o projecto Guttenberg esteja apenas a ajudar os fumadores com predilecção pelo cinema Paraíso.
Eu dou algum dinheiro à wikipedia e também já escrevi alguns textos (para a wikipedia em inglês), mas em grande parte eu próprio usufruo da wikipedia, pois aprendo bastante com ela. Não quer dizer que não gaste dinheiro em livros, até gasto uma parte importante dos meus rendimentos. Mas a verdade é que existe muito a aprender com uma feramenta tão útil como a wikipedia, e eu estou grato por essa possibilidade.
Contribuo, mas acho que ganho mais do que aquilo que contribuo, e creio que isso é verdade para grande parte dos colaboradores. É um jogo de soma positiva :)



«Se eu tiver uma loja de televisões e um gajo com dinheiro decide comprar umas dúzias e distribuí-las gratuitamente na rua mesmo à minha porta (sem garantias nem assistencia tecnica, claro), está a foder-me a vida.»

Se eu convido regularmente os meus amigos para minha casa para comer, e tu tens um restaurante, a minha acção também te prejudica. Daqui não decorre que ela é moralmente errada, como o não é a acção de dar televisores.
Se tu vendes algo que as pessoas não querem, vai vender outra coisa. Não culpes a generosidade de quem dá televisões, isso não faz sentido nenhum.
Eu não cobro nada aos meus amigos se lhes empresto dinheiro, era o que faltava dizerem que isto é moralmente errado por tirar negócio aos bancos.


«Posso ir distribuir cerveja de borla ao pé do taberneiro do bairro. Estarei a dar um contributo à comunidade, ou a lixar a família do taberneiro?»

Creio que podes estar a fazer as duas coisas, mas em si a tua acção não é má. À partida parece-me uma acção generosa e boa.
Repara: o taberneiro fornece cervejas em troca de dinheiro. Ele dá C em troca de A, sendo que para ele A vale mais que C, e para os consumidores C vale mais que A.
Assim, os consumidores ganham o diferencial entre o valor que dão a C e o valor que dão a A devido à acção do taberneiro.
Já tu, ofereces C, pelo que aquilo que os consumidores recebem é todo o valor que dao a C.
O taberneiro deixa de receber A, mas as pessoas deixam de abdicar de A. Por outro lado, o taberneiro ganha tempo livre que pode utilizar para criar valor de outra maneira, pelo que o valor total criado por todos os outros em consequência da tua acção de dar cervejas é superior ao valor criado sem a tua dádiva (é igual se o tabeneiro ficar a olhar para o boneco, assumindo que a matéria prima é gratuita e não valoriza o tempo livre - nos outros casos é superior).



«As pessoas estão-se nas tintas para os produtores ou para a justiça nas transacções. Defendem a cópia, o freeware e a borla apenas porque sabe bem usar sem pagar. Nada mais.»

Não vejo mal nenhum no facto de um consumidor procurar o preço mais barato, e o preço gratuito é o mais barato. Não vejo nada de eticamente errado nisso.

Ainda menos errado me parece o facto de alguém oferecer o seu esforço aos outros.


Se alguém quer ganhar dinheiro a vender sumo de laranja a 50e, e depois vê que outros o vendem a 2e, não devia queixar-se que estes outros estão a fazer o "mal" por lhe estarem a "lixar" a vida. Devia dedicar-se a vender outra coisa.
O mesmo se passa em relação a quem quer vender sorrisos e nota que as outras pessoas sorriem gratuitamente. Ele que venda algo de mais útil, em vez de se queixar dos "sorrisos borlistas" de pior qualidade que são oferecidos a torto e a direito que as pessoas dizem valorizar mas depois não estão dispostas a pagar.
Não estão dispostas a pagar porque há muitos gratuitos, e quem os dá gratuitamente não faz mal por "lixar" quem os quer vender. Faz é bem.

O mesmo acontece com o software. Há quem queira oferecer o seu trabalho, ainda bem! Lixa quem o quer vender? Então este útilmo que venda outra coisa qualquer.
A mim ninguém me paga para escrever em blogues, e eu não estou contra os bloggers "borlistas".

Anónimo disse...

"e trabalhar de borla para uns gajos que ganham dinheiro com isso, tudo para que um labrego que se queixa de não poder comprar carcaças mas fuma 3 maços por dia, vai ao futebol e ao cine paraíso, não tenha de pagar uns reles 5 euros para ler um texto clássico."

Isto traduz uma profunda incompreensão do que se fala. As pessoas trabalham "de borla", não porque achem que devem estar a contribuir para a "grande causa" mas, como o JV mencionou, porque acham que estão a usufruir de um serviço e a participar nele.

Acho completamente irónico que diga que andar para aí a dar esmolas aos pobrezinhos é ok mas trabalhar para proveito próprio (que é o que estas pessoas fazem, é um hobby que lhes dá gozo e gera um produto de que usufruem) é mau.

Quanto ao resto... nem comento de tão absurdo que o acho. Acho que nem sei em que planeta vive.

Anónimo disse...

JV, li o texto da critica mas apenas percebo que se argumenta que em ética não há necessariamente provas mas não porque é que não há.

A páginas tantas escreve-se:

"Há matérias complicadas sobre as quais os físicos não conseguem chegar a acordo; se nos concentrássemos apenas nelas poderíamos concluir que não há provas em física."

Mas o que se sabe é que a natureza e o mecanismo dessas matérias é independente do que os fisicos pensam delas. E assim é sempre possível, se não hoje quando for tecnologicamente realizável, constrastar as diferentes interpretações da realidade contra a própria realidade. Se as premissas base são falsas deitam-se fora e arranjam-se outras.

Ora, eu não vejo nada disso quando se põe a falar em questões morais e éticas. As premissas de base são escolhidas pelo observador e são independentes da "realidade".

Enfim, acho que tenho é de voltar aos basics sobre este assunto, pode haver qualquer coisa que não esteja a ver a 100%.

Barba Rija disse...

Tudo aquilo que o Desidério tá a dizer é que 90% de tudo é treta. Mas isso já foi descoberto há décadas. E chama-se este de "filósofo"... Qualquer dia ainda descobre o imperativo de Kant...

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