O que critica nos procedimentos do IPCC?
Sempre considerei de grande qualidade científica o relatório fundamental do IPCC “WGI-The Physical Science Basis”, apesar de algumas demonstradas incorrecções factuais e científicas. Sobre o tema já me pronunciei o suficiente (ver p.ex. os textos sobre Alterações Climáticas para aprofundamento e justificação de todas as minhas respostas) pelo que me limito a alguns aspectos fundamentais.
O relatório é muito extenso (996 páginas) e sobretudo muito complexo e especializado mesmo para a generalidade das formações científicas. Por isso, um grupo muito restrito do IPCC elabora um “Resumo para Decisores Políticos (Summary for Policy Makers) que é votado linha a linha pelos representantes dos governos e instituições oficiais. Como se sabe, as verdades científicas nunca foram estabelecidas por votação. Acresce, neste caso, que foi votado o resumo de um relatório que ainda nem sequer existia. A votação foi em Fevereiro de 2007 mas o Relatório só foi divulgado em Novembro!
Os argumentos dos que invocam as “verdades científicas” garantidas pelo IPCC mostram, na sua esmagadora maioria, que só leram o Summary .Muitos nem sequer passaram dos press releases correspondentes. A grande comunicação social portuguesa, mesmo a que se considera de referência, não ultrapassou este nível.
O modo com se tem passado do relatório fundamental, ao Summary /press releases é eminentemente politico e visa transformar dúvidas, incertezas e palpites subjectivos em verdades indiscutíveis.
Qual seria a maneira correcta e eficaz de fazer chegar o conhecimento científico sobre alterações climáticas aos decisores políticos?
Os decisores políticos que temos estão sobretudo interessados nas sondagens de opinião e actuam como se mudassem a realidade mudando as percepções dos eleitores. No Iraque legitimou-se a intervenção invocando “provas” da existência de armas de destruição massiva. Agora invocam-se “certezas científicas” para nos convencer da eminência de catástrofes climáticas provocadas pelas emissões de CO2 e GEE. Criam-se assim grandes oportunidades de negócio e desviam-se as atenções do que é verdadeiramente importante, como sejam o uso perdulário da energia, a poluição do ar, da água e dos solos, e a destruição do ambiente e do equilíbrio social e económico.
Qual a validade e utilidade das projecções/cenários climáticos e correspondentes consequências?
Muitas projecções e cenários são apenas exercícios dispendiosos porque as hipóteses de partida não têm solidez na sua fundamentação científica sobretudo quando se trata de projecções regionais como é reconhecido pelos peritos mais qualificados do próprio IPCC e da Organização Meteorológica Mundial. O mais representativo exemplo em Portugal é o bem conhecido Projecto SIAM em que os cenários para as alterações climáticas em Portugal não passam de extrapolações subjectivas de incertezas sem fundamento sólido. Por isso, seria insensato basear medidas politicas nas suas conclusões devido aos custos económicos e sociais que implicariam. É muito mais sensato, pragmático e realista elaborar cenários e politicas quanto à energia, ao ordenamento do território e à poluição tendo seriamente em conta o que já há muito sabemos acerca da variabilidade climática e das suas consequências. A redução das emissões de GEE seria uma consequência automática dessas políticas e não o seu principal objectivo. Seja como for, haverá sempre um aumento no custo da energia e dos combustíveis para implementar estas politicas, seja de modo transparente, seja exacerbando ameaças para que se aceitem os sobrecustos a que a fixação nos GEE inevitavelmente conduz. Sem estes sobrecustos não existirão os miríficos mercados do carbono e a especulação bolsista associada que tanto parecem seduzir a alta finança e os grandes escritórios de advogados.
Desde o início deste século tem havido uma evolução na qualidade das projecções?
A qualidade das projecções depende inteiramente da qualidade dos modelos climáticos que lhe servem de suporte. Comparando os sucessivos relatórios fundamentais do IPCC (e não os resumos, ou o que muitos dizem que eles afirmam) pode constatar-se que a qualidade dos modelos não aumentou significativamente, embora a complexidade e os recursos envolvidos tenham crescido imenso. Enquanto aspectos físicos cruciais não forem devidamente compreendidos e modelados, os progressos não serão grandes.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Delgado Domingos sobre o aquecimento global - II
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6 comentários:
Abstraindo da questão do IPCC ha uma coisa que me custa entender nesse tipo de critica. Os politicos, como todos nos, têm necessariamente que se apoiar no que os cientistas afirmam reunir consenso. Ninguém vai verificar. Ninguém tem tempo de verificar.
Isto é inevitavel e não me parece honesta a critica que diz "mas eles não sabem, não foram ver, não fizeram eles mesmo a analise". Todos nos temos necessariamente, pelo menos numa certa medida, que nos repousar em conhecimentos adquiridos por outros. Os proprios cientistas estão na mesma situação.
Por exemplo : acreditamos que a tomada de Ceuta ocorreu em 1415. Isto é aceite com base no consenso existente entre os historiadores. A esmagadora maioria de entre nos não foi ver os documentos que provam que foi em 1415. Mesmo entre os historiadores, a maioria nunca teve nas mãos as fontes directas, escritas ou outras, que permitem sustentar que a tomada de Ceuta occorreu nesse ano.
Assim sucede com quase todas as nossas crenças relativas a enunciados "cientificos", seja no campo das ciências ditas "humanas", seja no campo das ciências ditas "exactas".
...haverá sempre um aumento no custo da energia e dos combustíveis para implementar estas políticas, seja de modo transparente, seja exacerbando ameaças para que se aceitem os sobrecustos a que a fixação nos GEE inevitavelmente conduz.
Verdadeiramente excelente!!!
A questão é mesmo essa, aqui e em muitos outros temas de ampla relevância social ou política e económica.
Ou seja, preferimos a verdade e transparência ou a mentira e ocultação?!
Isto está bem patente na forma como o tema das alterações climáticas continua a ser tratado, pois tal debate pretende cada vez mais condicionar escolhas e modelos quanto à utilização dos recursos energéticos.
Claro que este tipo de decisão é inteiramente justificado pela crescente escassez dos combustíveis fósseis, mas não se deveria basear na patente falsidade implícita em fantasiosas afirmações sobre o aquecimento global de origem antropogénica, centrado num aumento da concentração do CO2.
Aliás, sendo o vapor de água o principal responsável pelo benéfico efeito de estufa, é irónico que se continue a ignorar a influência contrária que as nuvens têm no combate ao aquecimento, sendo um mecanismo de contra-feedback natural que apenas reforça a inteligência patente em todos os fenómenos na sábia natureza!
Mas claro que para quem assume que o Universo é fruto de um acaso sem sentido, isto de falar em inteligência natural deve soar a puro anátema.
Ora se assim negam os doutos inteligentes a própria inteligência de onde provieram e os anima, o que é que de sensível nos podem dizer quanto a alterações do clima?!
Rien du tout... les sages fous! :)
Eu não sei quem é este senhor , nem sequer qual o seu curso mas a ignorância com que fala sobre o tema é muito esclarecedora de que não é um especialista em climatologia.
è lamentável que coloquem entrevistas de má qualidade, com erros técnicos , sem quantificações a suportar as afirmações, a verdadeira "opinião de café" para tentarem provar seja o que for.
Tem frases anedóticas como:
A votação foi em Fevereiro de 2007 mas o Relatório só foi divulgado em Novembro!
E depois ?? não se percebe : ))deve ser a conspiração
Afirmações como :
"Muitas projecções e cenários são apenas exercícios dispendiosos porque as hipóteses de partida não têm solidez na sua fundamentação científica sobretudo quando se trata de projecções regionais"
Os modelos nunca são regionais, são globais e só fazem sentido dessa forma. só mesmo por ignorância ou má fé se pode pretender ter modelos climáticos regionais ou serem estes a base do trabalho.
e tem mentiras como o arrefecimento de 40's que mais uma vez ou por ignorância ou falta de conhecimento pode ser invocado porque o aquecimento global só é provocado pelo CO2 de forma directa a partir de 60's. Antes as forçagens foram o sol e os aerossois , lembram-se deles ??
Resumindo, uma data de generalidades muito usadas pelos negacionistas mas sem valores, sem números , sem gráficos , no fundo sem nada de levemente científico, apenas opiniões...
MAis valia dizer, eu não gosto do IPCC, não gosto do consenso dos maiores especialistas, e não gosto destas coisas de peer review, é melhor dizer mal num blog.
Nota: esse senhor publicou alguma coisa recentemente a nível internacional ? tipo na Nature , Science ? era curioso analisar o seu vasto espólio na área da climatologia e os seus modelos alternativos revistos pelos pares....
suponho que não...deve ser mais aulas no técnico e opiniões avulsas. No fundo , a investigação à portuguesa.
Isto depois de relido ainda consegue ter mais parvoices:
"A estas variações dá-se o nome de variabilidade natural."
A variabilidade natural serve para tudo, desde a terra bola de gelo ( ver na net ) até "Permian-Triassic transition" onde se extinguiram 95% das formas de vida. Tudo isto foi natural , e depois ???
Este tipo de argumento é pior que mau, é enganador e de má fe´.
E vai de pior a muito mau:
"Por exemplo, nenhum dos modelos existentes consegue prever as alterações no início e fim das estações, que têm efeitos ecológicos muito importantes, nem fenómenos bem conhecidos e tão básicos como o El Niño ou a oscilação do Atlântico Norte, entre outros."
Não mas podemos medir, por sinal acaba de ler publicado um livro sobre as estações e sobre a fauna e flora , é preciso ter mesmo azar...
http://www.realclimate.org/index.php/archives/2009/04/breaking-the-silence-about-spring/langswitch_lang/in
Por isso podemos medir.
E o aquecimento global consegue-se medir neste momento em termos de temperaturas, não de modelos.
Que confusão de artigo.
Admitindo que este tipo de informação emitida pelo IPCC serve de base para a actuação de diversos agentes, de Governos a ONG's gostaria de saber que más decisões, na opinião do R.N. e do entrevistado, decorreram da alegada falta de rigor do relatório.
Também não entendi se a informação do IPCC é falsa, se é pouco rigorosa ou se está correcta mas a evolução climática que tem sido registada é inteiramente natural.
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