quarta-feira, 3 de setembro de 2008

VACUIDADES: COMO FUNCIONA E PARA QUE SERVE O MAGALHÃES

Inauguro aqui uma nova secção do blogue a que dou o nome de "Vacuidades" que pode ser lida como uma junção de "vácuo" e de "vaidades". Começo com uma citação do artigo intitulado "Magalhães: Como funciona e para que serve?" (o título prometia) de Vieira de Carvalho no "Público" de ontem:

"A distribuição de computadores às crianças dos seis aos 11 anos, como instrumentos de escolaridade, constitui uma mudança de paradigma na aprendizagem. As potencialidades que oferece para o desenvolvimento cognitivo da população escolar são evidentes. Mas, para serem exploradas ao máximo, importa não subestimar um elemento de valor acrescentado (entre outros já considerados): software pensado de raiz. O que pressupõe a produção de conhecimento novo a partir do cruzamento de problemáticas distintas. As competências a mobilizar, no âmbito de projectos de investigação interdisciplinares, viriam, respectivamente: das áreas das Tecnologias da Informação, Engenharia de Sistemas ou Inteligência Artificial; das áreas da Psicologia, Pedagogia, ou da Educação em geral; e das áreas dos "conteúdos" (língua, cultura, artes ou expressões literárias e artísticas, Matemática, Ciências da Natureza, Saúde, Ambiente, etc.). "

Agora que, por obra e graça da propaganda do governo, vai haver computadores "Magalhães" para todas as crianças da primária, parece que não se vai resolver nenhum dos seus problemas de aprendizagem, mas sim criar novos problemas: é preciso "software criado de raiz". Mas para isso é preciso "conhecimento novo", o que exige o "cruzamento de problemáticas distintas" (se fossem iguais como é que se iriam cruzar?), o que, por sua vez, exige "mobilizar competências" (palavra que em "eduquês" deve, como no caso presente, para não significar nada, ser associada a "interdisciplinares" e a "conteúdos"). Pobres crianças: bem podem esperar!

13 comentários:

Fernando Martins disse...

É pena é que sejam raros os locais em que se desmonte esta retórica bacoca e mentirosa deste governo de aldrabões no que diz respeito ao "magallanes": só para falar do caso do senhor que se diz engenheiro e primeiro ministro, este disse que o portátil era um projecto português, inovador, com vendas asseguradas de 4 milhões de unidades e dando origem a mais de mil emprego, o que é, para ser simpático, uma resma de inverdades...

Armando Quintas disse...

Vacuidades, belo titulo!

Este projecto tem 1 atraso de uma década, era em 1998 que deveria ter sido lançado, ai fazia não toda mas alguma diferença, agora nem por isso.

A primeira premissa é que o governo distribui pcs mais baratos para todos terem acesso às TIC.
Esta premissa está errada, actualmente os preços dos pcs, nomeadamente portáteis, são irrisórios, já se compram por 500 euros ou menos e certamente mais potentes que estes magalhães que são adaptados as crianças e tal, depois aqueles que ainda n têm possibilidades de comprar sempre podem usar os das escolas que certamente já estão bem apretechadas, na sua maioria.

A 2ª questão é distinguir o uso da informática da aprendizagem, até que ponto o simples fornecer ou oferecer pcs portáteis vai melhorar o ensino?
Ora meter crinças a saber mexer em computadores n muda isso, deve-se apostar na pedagogia e não na tecnologia, é de facto uma medida populista que escamoteia a realidade.

3ª Questão, os magalhães serem adaptados às crianças, a nivel de design nada a opor, mais resistentes por causa das quedas, mais pequenos por causa das mochilas, etc, a nivel de software é que a porca torçe o rabo, se tiver programas adaptados isso quer dizer que se está a infantilizar as crianças e não a prepara-las para a realidade, quando forem adolescentes vão ver-se obrigadas a mudar de pc ou programas.
Ainda há + 1 questão em relação ao software que se dá pouca inportancia mas que é fundamental, que sistema operativo vêm instalado? Presumo que o windows vista ou algo do género da microsoft, se assim for, alêm de perpectuar o lobby da multinacional, cerceia à partida a capacidade de evolução tecnologia, o windows tem 0% de possibilidades de evolução, é 1 sistema defeituoso e arcaico, seja qual for a versão.

"importa não subestimar um elemento de valor acrescentado (entre outros já considerados): software pensado de raiz"

Para esta questão resultar, tem que ser usado software livre, nomeadamente linux, seja qual for a versão, porque é o sistema operativo que permite um elevado grau de aprendizagem e evolução.

" As competências a mobilizar, no âmbito de projectos de investigação interdisciplinares, viriam, respectivamente: das áreas das Tecnologias da Informação, Engenharia de Sistemas ou Inteligência Artificial; das áreas da Psicologia, Pedagogia, ou da Educação em geral; e das áreas dos "conteúdos" (língua, cultura, artes ou expressões literárias e artísticas, Matemática, Ciências da Natureza, Saúde, Ambiente, etc.). "

As unicas competencias que vão comseguir mobilizar e implantar no cerebro do aluno vão ser as de informatica, tudo o resto é treta, seria verdade se fosse ensino superio, já entrario a engenharia e outras.
Acham mesmo que todas as areas mencionadas e docentes das mesmas vão fazer algo de novo no 1º ciclo, quando os há por causa de um computador?

É tudo mt populista, mt facil, mt simples, vamos dar 1 pc aos meninos e agora eles vão ser barras em matematica, em lingua portuguesa, em historia, em ciencias, em informatica, em tudo, porque o computador vai operar um milagre na cabecinhad das crianças!
Claro que de certeza vão ter mais crinças a violarem dereitos de autor com os downloads ilegais da net e a jogarem mais no pc, para alem disso, nada mais.

António disse...

Vão ter Messenger?
Então porreiro, pá!

Mil disse...

Segundo ouvi dizer, o Magalhães corre com a Caixa Mágica (Linux português). A ser verdade, é um dado muito positivo!
Na minha opinião não faz nada mal às criancinhas terem um computador, antes pelo contrário. Mesmo que sejam softwares diferentes, a base de funcionamento é com certeza idêntica. A transição para softwares de "adultos" é mais fácil, quando comparada com o "começar do zero".
Os jogos e os "downloads ilegais" são também uma maneira de exercitar as capacidades de pesquisa e desenrascanço. Podem ter também uma função educativa nesse aspecto :p

Anónimo disse...

Gostava que o Prof. Carlos Fiolhais explicasse a razão pela qual considera a palavra competência um exemplo de um termo derivado do "eduquês que nada significa e que, neste caso em concreto, surge associado aos termos "interdisciplinares" e "conteúdos" para disfarçar a sua ausência de sentido.

Unknown disse...

O Magalhães vai ser usado como?

Um cenário perfeito:

Uma turma de 20 alunos transporta diariamente na sua mochila mais 1.5kg de Magalhães para trabalhar na aula em actividades educativas com supervisão do professor, durante cerca de 3 horas da autonomia da bateria, o que corresponde a metade da permanência diária na escola. É muito peso, mas são circunstâncias de trabalho interessantes, que podem ser muito produtivas se o professor estiver bem preparado e houver software adequado. É esta a imagem que formamos quando vemos as fotografias promocionais.

Algumas coisas podem correr mal:

1. As baterias não foram carregadas e o computador não funciona;
2. Só uma parte dos alunos adquiriu o equipamento;
3. Os pais acham que é peso a mais para carregar diariamente para a escola;
4. O professor não têm preparação para orientar trabalho no computador;
5. Não há software educativo adequado;
6. Os alunos preferem fugir para os jogos e não cumprem as tarefas.

O meu cenário realista:

Os alunos vão levar o computador para a escola nos primeiros dias, depois vão perceber como é pesado e como é pouco usado. Ao fim do primeiro período já só o levam para a aula se o professor mandar mesmo. Metade serão chico-espertos e querem só mostrar os jogos e não cumprem as orientações do professor, outra metade chegará com a bateria descarregada, o que vai gerar uma confusão para carregar na escola, ou porque não há carregadores, ou porque não há tomadas, ou porque é perigoso ter fios espalhados pela sala de aula. O professor, perante tanta barafunda na sua aula vai evitar por todos os meios a presença daqueles equipamentos demoníacos e ficam remetidos para o uso em casa.

Resultado:

Os computadores assim entregues aos alunos serão usados sobretudo fora da escola, muitas vezes sem supervisão de um adulto e, como tal, não servirão para nada em termos educativos. Se apenas metade dos equipamentos a serem distribuídos fosse colocado nas escolas, para serem usados nas escolas; se houvesse formação específica dos professores; se fosse distribuído sofware educativo às escolas, acredito que teria impacto positivo na formação das crianças. Assim não.

Gil Teixeira disse...

Meus Amigos,

O assunto em apreço não me parece uma vacuidade, muito pelo contrário interessa a todos os maganos que integram a população lusitna. Com todo o repeito que me merece a opinião de Carlos Fiolhais, e dos restantes "oradores", e sem ter procuração de Sócrates, e de nenhum dos seus ministros, parece que as manifes produzidas pecam por um infudamentado criticismo.

Senão vejamos, os computadores são maus porque são dados, e não têm os programas adequados. Bem, e aqueles que são pagos a "pêgê"? Trazem a tralha toda? Falam de "pecicologia", "chuchiologia", tecnologias(?) da informação e demais tretas?

Tenhamos calma, meus amigos. Primeiro, a cavalo dado não se olha à cárie. Segundo, se complicamos a coisa tanto, as crianças serão bisavôs e ainda estarão à espera dos brinquedos. Terceiro, se conseguirmos introduzir o bichinho da curiosidade nos petizes, bem espremida a coisa, vale tanto como todas essas tecnologias da treta que agora faltam nas máquinas. Ademais, amanhã, sendo portadores dum canudo, apenas almejam uma coisa, um emprego no "Estado", como os grandes doutores e cientistas da actualidade, né?

Abração

Gil Teixeira

Luís Peça disse...

Eu sou capaz de imaginar como me teria sentido se tivesse recebido um magalhães aos 7 ou 8 anos.
Os argumentos para criticar a iniciativa são tão rebuscados que claramente indicam que é uma medida positiva.

Unknown disse...

Incomoda-me a propaganda e as falsidades do Sr Sócrates e também a crença que a tecnologia por si só resolve os problemas. Era muito mais útil e eficiente apostar na resolução do verdadeiro problema da educação em Portugal: a mentalidade da maioria das pessoas/famílias. Atirar computadores às crianças que não comem ou lêem em cas é como atirar areia para os olhos.
Também me incomoda o Sr Fiolhais que quando quer criticar algo e não sabe como usa a palavra mágica: "eduquês". Deixe de ser preguiçoso intelectualmente, já chateia a sua birrinha.

Unknown disse...

Algumas coisas que poucas pessaos reparam neste "Magalhães": 1- é apenas mais um "classmate" da Intel, especificamente desenvolvido para combater o OLPC, projecto esse inovador que pretendia levar computadores até às crianças dos países mais carenciados. 2- não é líquido que venha a ter o "Caixa Mágica". As poucas imagens que vi do dito portátil eram todas de um Windows XP, não de um C.M. 3- tornou-se óbvio, desde o 1º instante da apresentação deste produto "tão inovador" que a integração de "know-how" português no referido produto é... mão de obra de encaixar peças importadas e apertar parafusos também eles importados.

Unknown disse...

Não é mau dar computadores às crianças. O que é mau é não os colocar também nas escolas, sendo que as crianças passam a ter computadores em casa onde não têm a orientação pedagógica e não os têm na escola onde o professor os podia guiar.

Se há tanta fartura, porque não se equipam também as escolas de 1.º ciclo com UM computador por aluno? Será melhor entregá-los para ter em casa?

Alguém espera que 400 mil alunos passem a andar diariamente com 1.5Kg a mais na mochila para levar o computador para a escola?

Rui Baptista disse...

Caro Professor: Nunca, tanto como hoje, se falou de interdisciplinaridade. Alíás, palavra de difícil articulação. A propósito, Edgar Morin escreveu, e eu subscrevi acima, "que nunca se falou tanto de interdiciplinaridade como hoje; mas a interdisciplinaridade controla tanto as disciplinas como a ONU controla as nações!"

Por outro lado, há quem confunda interdisciplinaridade com intertemática. Fala-se do inverno? Pois bem, fala-se do inverno nas ciências da natureza, faz-se uma redacção (até já isto se não usa...) sobre o inverno, um jogo com as crianças a fugir da chuva, etc. "Et voilà", missão cumprida e...comprida e chata. Tal como o peixe espada que é chato e comprido!

João Lisboa disse...

http://lishbuna.blogspot.com/2008/09/perdoem-me-se-volto-insistir.html

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