Como neste blogue gostamos de polémica, publicamos um texto recebido de Guilherme Valente, editor da Gradiva, sobre a próxima entrada em funcionamento do LHC no CERN, em Genebra, na Suíça, assunto que já foi aqui abordado:
Dois físicos com credibilidade referiram a possibilidade de as experiências de colisão de partículas previstas no CERN para terem início no próximo dia 10 de Setembro poderem culminar num buraco negro de que resultaria um acontecimento cósmico inominável. Várias tentativas judiciais efectuadas não conseguiram que a experiência fosse suspensa. Apesar dos efeitos menos especulativos (menos ficção cientifica), os quais não foi garantido que a experiência não terá, pelo menos para o espaço geográfico e o meio humano em que o CERN se situa.
Aos argumentos apresentados cientistas do CERN terão respondido que a probabilidade de se verificar um acontecimento inominável seria muito pequena, mas que poderiam ocorrer de facto buracos negros... pequeníssimos. Pior a emenda do que o soneto. Probabilidade muito pequena?! Se quando ligo a luz do meu quarto houver uma probabilidade muito pequena de o prédio ir pelos ares devo, ou poderá ser-me permitido, ligá-la?
O que nesta história parece tão claro quanto, a muitos títulos, inquietante e inaceitável, é a realização de algo sobre cujos efeitos indesejáveis, digamos, não há certezas. (A experiência foi, aliás, sendo adiada por peripécias que aumentam a preocupação quanto ao rigor da sua concepção, à fiabilidade dos seus instrumentos e às condições da sua execução.)
O que preocupa nisto tudo é o facto da experiência prestes a ter lugar não se adequar ao conceito de experiência como etapa e condição necessária do método científico e do avanço da ciência: operação controlada de falsificação de uma teoria. Neste caso, pelo contrário, parece estarmos mais no domínio da ficção ou da BD: "cientistas loucos " a misturarem coisas sem cuidarem do resultado explosivo da mistura. Se assim for, não é ciência.
De qualquer modo, se acrescentarmos a estas perplexidades e à falta de explicações autorizadas e compreensíveis, aos cidadãos da Suíça e do mundo, o mau gosto de o CERN ter adoptado uma imitação de "rap" para promover a experiência - uma inadequação que até pode parecer provocatória -- e tivermos presente a figura caricata das cientistas a «dançarem» o "rap", não podemos deixar de ficar com uma ideia pouco animadora sobre os que determinaram, comandam e realizam a experiência em causa.
Seja como for, é oportuno lembrar Carl Sagan para referir e proclamar que a inteligência e o trabalho dos cientistas têm de ser iluminados por um respeito absoluto pela Natureza -- pelo Cosmos de onde viemos e onde vivemos. Respeito absoluto, ou sagrado, como diria Einstein, e eu subscrevo.
Guilherme Valente
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
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25 comentários:
gostam de polémica independentemente do rigor científico?... vejamos, diz o "especialista" citado que:
tem medo da "probabilidade muito pequena"? probabilidade de 10^{-1} ou 10^{-10} ou 10^{-100} são todas muito pequenas, mas também muito diferentes. vejam lá se morrem de medo que o ar das vossas salas se concentre todo num cantinho e que assim morram asfixiados?...
quanto ao comentário "experiência foi, aliás, sendo adiada por peripécias que aumentam a preocupação quanto ao rigor da sua concepção, à fiabilidade dos seus instrumentos e às condições da sua execução" só mostra uma coisa: ignorância. aconselho a ir visitar o site para se ter conta da dimensão da coisa... e depois questionar se podem ou não haver atrasos. para os menos informados, alguns magnetos tinham que ter dimensões certas ao milimetro para passar no túnel. um pequeno defeito, mais um atraso, mas nenhuma preocupação tola...
mas a ignorância não se fica por aqui, o "especialista" continua a afogar-se na sua diarreia verbal "procurar justificar as verbas monstruosas que tem recebido, sem que se veja grande benefício desses investimentos". só tenho três letras para comentar: W W W.
sem se cansar, continua "nos Estados Unidos, onde, de um modo geral, continuam a surgir grandes avanços científicos, o interesse e a utilidade científica dos grandes aceleradores, na justa consideração custo/benefício, começaram a ser vistos com algum cepticismo", pois é... por isso é que os grandes resultados experimentais na área, provenientes dos estados unidos, têm origem no... RHIC... que é... um acelerador... hummmmm...
o parágrafo seguinte é tão ridículo que merece tanta resposta como um criacionista louco...
e, finalmente, mais um disparate "mau gosto de o CERN ter adoptado uma imitação de "rap" para promover a experiência". ir ao youtube ver o video em questão pode ajudar a perceber que não é oficial, mas antes uma brincadeira de alguns summer students.
num blog que se diz de ciência é incrível a quantidade de disparate que se consegue encontrar num simples texto.
o senhor valente é colega de carteira do senhor machado?
"First beam is scheduled for 10th of September (with media, so they will for sure do the real test before)"
Neste momento já vários testes foram efectuados com sucesso!
Isto foi há +/- 3 semanas! Não vai acontecer nada. Apenas ciência em movimento! Avante!
Correcção: alguns "magnetos" foram alinhados na casa das décimas de milímetro (por mim e pelos meus colegas :-D)
E muitos dos atrasos deveram-se a problemas de financiamanto, a quadros que deixaram o instituto e cujos substitutos necessitaram de tempo adicional para continuar o trabalho onde o anterior o tinha deixado, etc. Enfim, coisas normais do dia a dia!
Os aceleradores continuam a interessar e muito os EUA; basta ver o interesse com que "lóbiam" o futuro acelerador linear...
Desejo uma vida longa ao CERN que tãi importante foi para a minha formação. Belos 4 anos!
Engenheiro ex-CERN!
Resposta recebida de Guilherme Valente:
Prezado Senhor Ricardo Carvalho:
1. Agradeço as informações que o seu comentário contém, informações e correcções que, para meu benefício, irei, evidentemente, considerar.
2. Pessoalmente não estou preocupado. Mas há muita gente que manifestou preocupação. E a verdade é que os cientistas, pelas várias razões que seguramente conhece e subscreve, devem ter a preocupação de informar e esclarecer os cidadãos sobre o trabalho em que estão empenhados. Mais ainda quando esse trabalho suscita dúvidas ou algum receio.
3. Finalmente:esperava que pudessem não concordar comigo, esperava correcções e informação -- o melhor do encontro com o outro é o olhar crítico que voltamos para nós depois de iluminados pela visão do outro.
O que não esperava era ser insultado por manifestar o meu ponto de vista.
GV
Pessoalmente, não tenho receio de que as experiências a realizar no CERN tenham a possibilidade de dar origem a qualquer mini buraco negro de consequências catastróficas. Até pela prosaica razão de que os rapazes que por lá trabalham não estariam interessados em prosseguir as experiências, se tal possibilidade estivesse no horizonte.
Mas penso que, mais do que insultar quem levanta a dúvida, seria bem mais importante explicar de forma compreensível que a perspectiva de formação de um buraco negro pode ser muito estimulante como ponto de partida para o enredo de um filme, mas na realidade do CERN não faz sentido. Ou faz?
"O que não esperava era ser insultado por manifestar o meu ponto de vista."
bom, não me parece que o meu tom irónico o tenha insultado (e até tenho muito respeito pelo trabalho que tem vindo a desenvolver na gradiva). agora, isso não impede que ache que o que escreveu é um conjunto de disparates, onde nem se quer se deu ao trabalho de verificar o que quer que seja. além do mais, quando as pessoas falam de ciência devem apresentar factos e não manifestar pontos de vista... senão, como indiquei antes, lá caminhamos para o estilo criacionista...
"a perspectiva de formação de um buraco negro pode ser muito estimulante como ponto de partida para o enredo de um filme, mas na realidade do CERN não faz sentido"
penso que a energia de operação do LHC será demasiado baixa para produzir buracos negros. o que é pena, pois seria uma janela fascinate de estudo de gravitação quântica.
(convém realçar que quaisquer buracos negros produzidos no LHC se evaporariam em menos de nada e apenas seriam visíveis através dos seus "rastos" nos resultados experimentais)
Comentário recebido de Guilherme Valente:
Senhor Ricardo Carvalho:
O senhor sabe quem eu sou, eu não sei quem o meu amigo é. Não podendo, por isso, retribuir a amabilidade que me dirigiu, tenho de me limitar a agradecer-lha, sinceramente.
Começando com uma palavra sua, «bom», permito-me pedir a sua (agora paciente, suponho) atenção para o seguinte.
1. Não falei de ciência (no sentido de quem faz ciência ou domina esse conhecimento), não sou cientista. Coloquei uma questão, digamos, ética ou, muito simplesmente, cívica, ou até mesmo apenas humana, e nestes aspectos tenho de me considerar habilitado para o fazer, sem precisar de evocar para isso evidentemente, qualquer formação académica. Valendo o que valerem os meus argumentos e estando preparado, claro, para ser corrigido e esclarecido.
Cmo bem sabe, a objectividade (que é uma condição «sine qua non» da investigação científica), não é um exclusivo dos cientistas, mas antes deve ser praticada por todos. Não ser cientista não me impede, portanto, de poder ser objectivo, e julgo tê-lo sido no que escrevi.
2. Não tenho nada, de um modo geral, contra o CERN, pelo contrário. Mas confesso que me «irritou» o modo como a experiência com o acelerador foi apresentada e continuou a ser promovida.
(Afinal quem levantou e continuou a usar a história do «buraco negro». Foi o CERN, suponho.)
Como julgo compreenderá e concordará, penso que poderiam e deveriam ter aproveitado a realização da experiência de um modo modo absolutamente diferente, designadamente para uma acção de divulgação científica e de valorização da ciência que, pelo carácter inédito e repercussão mundial do acontecimento, teria seguramente excelentes resultados, particularmente junto dos jovens do mundo (as ciências e particularmente a física bem estão a precisar de acções dessas).
3. Cientistas do CERN ou «summer students» (usando a expressão que utilizou), se tiveram tempo para conceberem, realizarem e «cantarem» um «rap», não poderiam, em vez disso, ter elaborado e divulgado como fizeram com a cantiga a explicação que se justificava, nos termos adequados? (Confesso-lhe que esta peripécia foi a gota de água que me levou a escrever). E ninguém no CERN pensou nisto?
Como concordará, o CERN, os seus responsáveis, e entre eles estão, seguramente, cientistas com enorme mérito, não são Deus. E nós, e eu, simples cidadão, podemos e devemos mesmo- é legítimo, por várias razões fazê-lo -- estar atentos, comentar e criticar os seus actos. E neste caso, insisto, continuo a pensar que o modo como agiram é criticável.
Um abraço,
GV
Bom, eu não tenho procuração de Guilherme Valente, que nem sequer conheço, mas não me parece que, para falar de Ciência, seja obrigatório apresentar factos. Que factos? Neste caso, equações matemáticas? O receio de que exista um risco numa determinada experiência a levar a cabo por cientistas não é suficiente para falar do assunto?
Quem tem obrigação de apresentar factos são os cientistas que propõem a experiência. E de uma forma preferencialmente polida. Porque, o tempo em que os cientistas gastavam o dinheiro do seu próprio bolso já lá vai. Agora gastam o dinheiro dos impostos de muita gente. Por isso, devem sempre lembrar-se do velho ditado árabe : quem paga o jantar é que encomenda a música !
Bom, O CERN está aberto a todos os que o queiram visitar. Pessoas a título individual, escolas, institutos, etc. Só é preciso requerer. E todos os anos comemoram o "dia aberto" http://lhc2008.web.cern.ch/LHC2008/OpenDaysE/openday.html . O programa Summer Student https://ert.cern.ch/browse_www/wd_pds?p_web_page_id=5836&p_no_apply=Y está aberto a qualquer estudante e proporciona a muitos finalistas a oportunidade de, durante um ano, fazer por exemplo a sua tese de Mestrado. O CERN também tem programas especiais de treino para jovens engenheiros ao qual portugueses podem concorrer sendo-lhes atribuida uma bolsa da FCT https://hr-recruit.web.cern.ch/hr-recruit/special/special.asp . O CERN também concede imensas bolsas de doutoramento cujas teses são aplicadas directamente, por exemplo, no LHC (ao contrário do que acontece com muitos doutoramentos por esse mundo fora, que jamais tiveram ou têm concretizações práticas). No caso do vídeo, como imaginam estamos a falar de jovens de 22, 23 anos que, aposto, estão completamente em desacordo com o Sr.Guilherme Valente e acharam estimulante usar a linguagem do RAP para apelar a jovens como eles. Creio que estamos perante um choque de gerações e concordar ou não com o RAP é meramente uma opinião pessoal e subjectiva (todos concordamos que o conteúdo não apresenta quaisquer problemas). Outra opinião pessoal, a minha, é que mais vale gastar milhões dos impostos em CERN's do que em armamento. Só para citar um exemplo. Caso não se saiba, a quantidade de inovações que uma máquina como o LHC contém vai ser aproveitada pelo sector privado em quase todas as áreas da engenharia. Garanto-vos!
Agora uma curiosidade engraçada: qual o meu espanto quando, um mês depois de chegar à Noruega para trabalhar no sector privado, fui convidado a fazer uma apresentação a alunos do 12o ano que se preparavam para fazer uma visita ao CERN! O convite surgiu quando um colega soube que eu tinha trabalhado no CERN. E por acaso tinha um amigo que é professor de física e estava a organizar a visita. Muitas são as escolas por esse mundo fora que o fazem.
Bom, espero não ter ofendido ninguém. O
"Porque, o tempo em que os cientistas gastavam o dinheiro do seu próprio bolso já lá vai. Agora gastam o dinheiro dos impostos de muita gente. Por isso, devem sempre lembrar-se do velho ditado árabe : quem paga o jantar é que encomenda a música !"
Também não quero ofender niguém mas este pedaço de texto parece-me um pouco disparatado. Especialmente num país em que uma grande parte da ciência é feita por bolseiros, que sim, muitas vezes têm de gastar dinheiro do seu bolso para poderem continuar a fazer ciência. Ciência essa que é aplicada a tudo e mais alguma coisa que temos à nossa volta, a começar pelos computadores que temos à nossa frente. É que há uns tempos até um senhor muito importante, responsável pelo financiamento de muitos bolseiros, disse que estes eram uns sortudos porque faziam o que gostam e ainda por cima eram pagos por isso...!
Penso que a divulgação do LHC tem sido bastante boa, pelo menos para quem procura a informação. Talvez devéssemos questionar também os nosso meios de informação. Também pagamos impostos para sermos informados e é a treta que se vê todos os dias na televisão.
E também confesso que não percebo o problema do Rap (onde está o mau gosto), apesar de não ser um dos meus estilos favoritos. Talvez se fosse um bom blues fosse aceite de outra forma, ou quem sabe um pós-rock instrumental :) Por mim gostava mais de uma malha punk-rock a abrir :)
Cumprimentos a todos
"Não ser cientista não me impede, portanto, de poder ser objectivo, e julgo tê-lo sido no que escrevi."
penso que é aqui que a porca torce o rabo: não me parece nada objectivo criticar o que quer que seja baseado em pseudo-"factos", sem se dar ao trabalho de os confirmar ou não, puramente baseados em opiniões pessoais e falta de informação. quando uma pessoa tem dúvidas, o melhor estilo literário é o da pergunta, não o das afirmações ou tendenciosas ou falsas --- isso só prejudica a divulgação científica.
"penso que poderiam e deveriam ter aproveitado a realização da experiência de um modo modo absolutamente diferente, designadamente para uma acção de divulgação científica e de valorização da ciência que, pelo carácter inédito e repercussão mundial do acontecimento, teria seguramente excelentes resultados, particularmente junto dos jovens do mundo"
o estilo da desinformação mantém-se: sem sequer perguntar "isto foi feito ou não", afirma-se "não foi feito!". engaaaaano. foi. raro era o dia que, ao almoço, a cantina do CERN não estava cheia de alunos de liceu, de um qualquer país europeu, em visita guiada (mais de uma vez me lembro de ver alunos portugueses). também já foram referidas acima actividades como o "open day", os estágios para licenciados, os summer students, etc, etc. só mesmo quem não se quer dar ao trabalho de clicar na página do cern é que não sabe disto! e o pior é não se dar ao trabalho de se informar e depois vir... criticar que não se fez!!
"ter elaborado e divulgado como fizeram com a cantiga a explicação que se justificava, nos termos adequados?"
podiam. e fizeram. lá está... a tal história de verificar antes ajuda a não meter a pata na poça... existe um número imenso de clips no youtube, para todos os gostos e mais alguns, desde o rap, aos passeios de bicicleta no jura, entre ATLAS e CMS, a tudo o que quiser! e tudo isto não-oficial, feito por estudantes ou outros funcionários do cern! e se quer versões oficiais que tal experimentar.... plim! a página do cern! *espanto*!
enfim, eu não trabalho no, nem para o cern, pelo que não me compete estar a defender a instituição. só acho lamentável este género de críticas com total desconhecimento de causa. sugiro que, para a próxima, se façam as perguntas antes de começar aos tiros. o tempo dos cowboys já lá vai...
Este texto, a todos os títulos lamentável, foi o pior que eu já li em mais de um ano de De Rerum Natura.
O sr. Guilherme Valente prestou e espero que continue a prestar por muitos anos um serviço inestimável à divulgação científica em Portugal através dos excelentes livros que a Gradiva publica. Mas se me permite recomendo-lhe que escolha melhor as suas leituras. Nomeadamente leia com mais atenção, por exemplo, alguns dos livros que publica.
Caro Ricardo S. Carvalho (suponho que não é pseudónimo):
Já escrevi sobre a questão do hipotético evento catastrófico no CERN quer no "Público" quer no "Sol", em textos que estão incluídos nesse blog. Não estou minimamente preocupado com essa hipótese e acho que o dia 10 de Setembro próximo (espero que não seja adiado!) vai ser um grande dia para a ciência.
Mas o facto de não estar de acordo quanto a este ponto concreto com o meu amigo Guilherme Valente não significa que não lhe reconheça o direito inalienável de questionar o modo como se faz e se divulga ciência. É preciso que haja quem coloque questões aos cientistas, que vivem na sociedade e cada vez menos podem estar fechados no seu círculo.
Suponho que o caro leitor R. S. Carvalho não é cientista, pois se o fosse saberia que a ciência não trata de recitar "factos", mas sim de colocar dúvidas e de procurar resposta para elas. E saberia também que os cidadãos que colocam questões não podem ser insultados com uma arrogância que é absolutamente contraprudecente. Um cientista não deve achincalhar um cidadão que ajuda a sustentar a ciência (neste caso, o editor Guilherme Valente tem sido um dos grandes apoiantes da ciência em Portugal). Nem sequer deve simplesmente mandá-lo ir estudar o assunto, sem ter a mínima preocupação pedagógica. A acusação fácil de ignorância que se lança a alguém só porque não conhece tudo o que está na Internet ou não consultou todos os livros da biblioteca - em resumo só porque não conhece tecnicamente e a fundo um dado assunto - não é decerto um sinal de sapiência.
Finalmente, quanto aos programas de comunicação e de expansão de cultura científica que o CERN e outras agências promovem, estou certo que nunca farão o suficiente. Há sempre mais que se pode fazer!
Carlos Fiolhais
Se o Ricardo S. Carvalho é quem eu penso que é tem um currículo muito interessante em termos científicos.
Não tenho por hábito divulgar dados pessoais de outras pessoas em caixas de comentários de blogues, por isso sugiro ao prório Ricardo S. Carvalho que abdique da sua humildade e dê uma pequena ideia de quem é e do que faz.
"Conheço" o Ricardo S. Carvalho das caixas de comentários de outros blogues e "chocámos" algumas vezes por causa das nossas diferenças de opinião. Posso adiantar que alguns desses "diálogos" não foram muito amigáveis mas depois percebi que por detrás de alguma agressividade escrita está uma pessoa boa que vive com enorme paixão a sua profissão.
Aprendi que o Ricardo S. Carvalho reage emocional e exacerbadamente quando alguém fala "mal" de dois temas: CERN e teoria das cordas. Se alguém o quiser ver chateado é escrever qualquer coisa do tipo "Fechen o CERN, não serve para nada" ou "a teoria das cordas é uma grande treta".
Quando li o artigo do Guilherme Valente percebi que se o Ricardo S. Carvalho o lesse iria suceder o que sucedeu.
Penso que por esta altura o Ricardo S. Carvalho já tomou consciência da forma menos educada e desabrida como comentou o artigo do Guilherme Valente.
Comentando o que está escrito no artigo, o CERN tem no seu site uma secção de perguntas e respostas sobre os buracos negros e o LHC.
Pode ser encontrado em:
http://askanexpert.web.cern.ch/AskAnExpert/en/Accelerators/LHCblackholes-en.html
http://askanexpert.web.cern.ch/AskAnExpert/en/
Accelerators/LHCblackholes-en.html
Por alguma razão que desconheço o Ricardo S. Carvalho não usa na blogosfera o nome pelo qual é conhecido profissionalmente, mas afianço que é cientista e dos bons.
Quanto às questões colocadas por Guilherme Valente, não percebo sinceramente a sua relevância, principalmente depois dos (bons) esclarecimentos que tinham anteriormente sido prestados neste blogue! Guilherme Valente deveria ter lido o muito que se escreveu sobre a segurança do LHC antes de escrever este texto. Não leu, ou não se teria baseado somente em textos que já foram há muito refutados.
Finalmente, quanto à questao do rap que tanto o escandalizou (quem me dera que houvesse mais raps assim!), Guilherme Valente deveria ler por exemplo a interessante crónica "Lavoisier e a escola", de Desidério Murcho, ou as rimas que Carlos Corrêa incluía nos seus manuais de Química!
Caro Filipe Moura
Se Ricardo S. Carvalho é afinal um pseudónimo, então não vale a pena falar com ele. Uma pessoa que insulta publicamente outra, bem identificada, a coberto do anonimato não merece consideração.
Um abraço
Carlos Fiolhais
Ora aqui está um bom exemplo de como em Portugal começa a ser difícil discutir qualquer assunto de forma civilizada. O que não quer dizer que tenha de ser com punhos de renda..
Compreende-se. Agora que temos um primeiro ministro que levou para o Parlamento o estilo da varina zaragateira, a discussão em modo agressivo está a fazer escola.
E é pena que se tenha chegado a este ponto numa questão científica tão estimulante, em que um esclarecimento sensato era desejável e possível.
Se os cientistas(?) que aqui vieram argumentar de forma indelicada, tipo adeptos do global warming, estivessem verdadeiramente dentro do assunto, saberiam explicar tudo sem necessidade de serem agressivos. Levam-nos a pensar que, provavelmente, não sabem o suficiente.
Não sabemos discutir nada, não estamos habituados a defender pontos de vista sem atacar pessoalmente. É uma tristeza. Que venha então um buraco negro que nos engula de vez, o que para além desse efeito benéfico ainda trará outros, como o de já não termos de pagar o TGV, o aeroporto de Alcochete, as obras em Alcântara, etc. etc. etc. etc. etc.. Que venha um buraco, que negro já é o nosso perfil. CERN cumpre o teu dever.
Lamentável. Afinal, agora quem insulta e fica como o "mau da fita" é Ricasdo S. Carvalho, que apenas apodou o autor de "ignorante" e apresentou argumentos convincentes e irrefutáveis a prová-lo.
Fica mal, muito mal, sobretudo num espaço como este, considerar que "ignorante" é um insulto. Será uma expressão indelicada, sobretudo numa conversa pessoal (que a "net" está longe de ser), mas nunca um insulto. Ignorantes somos todos nós, nem é preciso ser cientista para o admitirmos.
Filipe Moura já disse tudo o que havia para dizer (e mesmo que seja o mesmo F. Moura do «5 dias», onde quase sempre estou nos antípodas das suas opiniões, mantenho que subscrevo plenamente os seus comentários a propósito deste assunto), mas gostaria de realçar a seguinte afirmação do autor do Artigo, Sr. Valente (que desconheço em absoluto):
«Neste caso, pelo contrário, parece estarmos mais no domínio da ficção ou da BD: "cientistas loucos" a misturarem coisas sem cuidarem do resultado explosivo da mistura. Se assim for, não é ciência.»
Ponderem a inadmissível carga insultuosa encerrada nesta frase.
Apreciem o facto de não ter sido "censurada" (nem moralmente, pelo menos) pelo responsável pelo blogue, Carlos Fiolhais (que igualmente em absoluto desconheço).
E compare-se com a reacção de "virgens ofendidas" de ambos à competente refutação destes disparates por parte da generalidade dos comentadores informados (entre os quais NÃO me incluo).
Isto sim, é a verdadeira natureza do que está em causa neste lamentável Artigo, cujos propósitos respeito, mas cuja linguagem irremediàvelmente desvaloriza.
Sinceramente não entendo esta polémica toda. Guilherme Valente (GV) escreveu um post realmente lamentável e nada informado. Ricardo S. Carvalho (RSC) aborreceu-se com o assunto e disse que demonstrava ignorância. Ora, se lermos as correcções todas, não há como discordar. Mais, o Carlos Fiolhais (CF) diz, e com toda a razão, que não se pode saber tudo nem ler tudo. É bem verdade. Mas quando se escreve sobre um assunto convém não se saber quase nada sobre o mesmo. E isto vindo de quem tem tido um trabalho tão meritório a promover a ciência no país.
O RSC escreveu de forma afressiva? É verdade, mas dificilmente alguém pode considerar a linguagem como insultuosa. Usou os termos "diarreia verbal" e "ridículo" para comentar duas passagens. Pouco elegantes, talvez, mas que não fogem, de forma nenhuma, ao que temos lido de outros autores ou comentadores neste blogue.
Para mais, RSC explicou diversas vezes e ao longo de diversos comentários que as respostas estavam todas na página do CERN. Não é necessário tirar um curso de física nem um doutoramento em física de partículas par o compreender. Uma única fonte bastaria. Nos restantes comentárrios, RSC continuou a usar um estilo cáustico, mas dificilmente ofensivo. Por alguma razão, depois do segundo comentário, GV respondeu, o que demonstra que já não se sentiria ofendido.
CF, por outro lado, parece não ter querido ligar a isso. Reincidiu na tecla do "insulto". Deu a entender que o RSC não teve nenhuma preocupação pedagógica (RSC disse várias vezes que a página do CERN tem as respostas e o Vasco deu links) e assumiu que o RSC não é cientista. Ao assumir algo caiu no mesmo que GV: não se preocupou em se informar ou sequer em perguntar. Pior, depois de se saber que RSC é cientista mas que não assina nos blogues da mesma forma que o faz de forma profissional, assumiu que é pseudónimo. A possibilidade de RSC poder ter mais que um apelido e não querer assinar com um provavelmente comum "Ricardo Carvalho" não lhe parece ter ocorrido.
Nisto tudo, parece que se assistiu ao seguinte: GV escreveu um texto desinformado e agressivamente crítico. RSC não gostou, considerou-o "ignorante" e escreveu de forma cáustica sobre o assunto. GV não gostou do comentário e apontou-o. O tom amainou, embora com RSC insistindo na acusação de ignorância e explicando porquê. CF decidiu defender o amigo (atitude meritória) e atacou RSC, acusando-o de insulto. Depois de se explicar que RSC é cientista mas com outro nome, CF considerou que não vale a pena discutir com ele.
Se há aqui alguma lição, é que as cabeças deveriam arrefecer um bocadinho (conselho que eu próprio deveria seguir muito mais vezes). por outro lado, ao carlos Fiolhais, aconselho que se abra um bocadinho mais a críticas, que se considera aquele primeiro comentário (potencialmente os restantes também) como insultuoso, então está pouco habituado a ser contrariado.
"(...)depois de se saber que RSC é cientista (...)".
Esta agora! Estive a reler os comentários e em nenhum deles encontrei uma declaração do próprio Ricardo S. Carvalho revelando que era cientista. Aqui apenas figuram os "recados" de outros comentadores nesse sentido. Não me parece uma atitude muito científica e subscrevo o comentário de Carlos Fiolhais, de 4Setembro, às 9:10.
Tenho muita consideração pelo trabalho comercial do editor Gulherme Valente, proprietário da Gradiva, na divulgação da ciência em Portugal nos últimos 20 ou 30 anos. Trabalho que fez dele um homem rico e contribuíu para a elevação do nível cultural de Portugal. Isso não me impede de ficar preocupado com a situação um pouco ridícula, de facto (tem razão o Ricardo S. Carvalho), de ver um divulgador, ainda que comercial, da ciência admitir a hipótese de umas tantas centenas de «cientistas loucos»
poderem estar irresponsável e inconscientemente a cozinhar o melting down do planeta. Este é um episódio que apenas revela à luz do dia as fobias e temores irracionais do seu autor, inopidamente sobrepostos, nesta questão, à qualidade do seu trabalho como editor, que é indiscutível. Eu acho que GV ficaria feliz (e descansado) se um físico de Genebra lhe viesse propor a publicação de um best seller nas sua colecção Ciência Aberta. Um comerciante não pode ser fanático, a não ser do lucro.
Diz o Autor no último parágrafo do seu Artigo:
«Seja como for, é oportuno lembrar Carl Sagan para referir e proclamar que a inteligência e o trabalho dos cientistas têm de ser iluminados por um respeito absoluto pela Natureza -- pelo Cosmos de onde viemos e onde vivemos. Respeito absoluto, ou sagrado, como diria Einstein, e eu subscrevo.»
Bonita frase, sem dúvida. Sonante. De fino recorte literário...
Mas a dura realidade é que até Einstein colaborou numa experiência que, segundo as previsões dos melhores cientistas da época, não dava sequer garantias de que não pudesse originar uma reacção nuclear em cadeia que, transmitida a toda a atmosfera, pudesse inclusivé "incendiá-la" à escala planetária.
Contudo, mesmo sabendo deste risco (e não tendo sequer meios de o quantificar probabilìsticamente, ao contrário do que agora acontece com a experiência do CERN), o facto é que essa célebre experiência científica não deixou de se realizar: a primeira explosão nuclear produzida pelo Homem, em plena atmosfera, em Alamogordo.
Claro, claro, nesse caso tratava-se duma experiência científica com propósitos eminentemente humanitários: construír uma bomba gigantesca e apocalíptica... para acabar com a Guerra.
É muito interessante ler o comentário de um físico teórico do CERN, John Ellis:
"Physicists may have unwittingly helped foment panic by talking too glibly about black
holes, says CERN theorist John Ellis. "Maybe we should be more careful with our rhetoric," he says. "For example, we talk about recreating the big bang, and people think, 'Oh my God, they're going to recreate the big bang!' " Of course, he adds, physicists don't aim to literally return the universe to its fiery birth, just to mimic those conditions in fleeting particle collisions."
E, já agora, um outro comentário de outro físico, Bob Park, que tem uma notável coluna semanal na Net em defesa da ciência ("Whats New"):
"The controversy over the danger of creating a devastating black hole only served to arouse public interest in a very basic science experiment. The public has every right to raise concerns about risks of science
experiments. It was calmly and correctly dealt with by the courts, as it should have been."
Carlos Fiolhais
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