sexta-feira, 12 de setembro de 2008

PROGNÓSTICOS SÓ NO FIM DAS ELEIÇÕES


Minha crónica no "Público" de hoje:

João Pinto, durante muitos anos defesa direito do Futebol Clube do Porto e da selecção nacional, ficou famoso não apenas pela sua genica em campo mas também pelas suas frases à margem dos jogos. Talvez a melhor seja a resposta que deu a um repórter que lhe pediu um prognóstico antes de uma partida importante: Prognósticos só no fim do jogo.

Desde os tempos do Oráculo de Delfos que prever tem sido uma tarefa difícil. Muitos e muitos profetas falharam, porque não adoptaram a sábia atitude preconizada por João Pinto. Em particular, prever resultados de futebol sempre foi e continua a ser complicado, porque nesse desporto “tudo pode acontecer”. Modernamente, há, porém, métodos que nos permitem prever hoje quem vai ganhar os jogos de amanhã. Podem-se fazer sondagens, podem-se fazer apostas, pode-se perguntar a especialistas, ou pode-se, ainda, combinar essas possibilidades.

E, “mutatis mutandis”, os modos de previsão que valem para o futebol poderão valer para a política. É hoje indiscutível o poder de sondagens bem feitas, que conseguem, com pequenas margens de erro, prever os resultados eleitorais. Pode-se também, se a lei o permitir, associar dinheiro a vaticínios políticos. Perguntar a quem tem experiência do assunto e conhece os últimos desenvolvimentos pode também ser uma boa ideia. Finalmente, pode-se fazer um “mix” disso tudo. Foi com uma metodologia desse tipo que os analistas (moderno nome dos profetas) Luís Aguiar-Conraria e Pedro Magalhães, respectivamente das Universidades do Minho e de Lisboa, previram recentemente que o Partido Socialista vai ganhar as eleições de 2009, embora sem a maioria absoluta (só teria 38% dos votos).

Há, contudo, uma eleição mais próxima que, para o mundo, é bem mais importante do que a nossa. A 4 de Novembro próximo o eleitorado norte-americano será chamado a escolher entre o candidato republicano, John McCain, e o candidato democrático, Barack Obama. O resultado desta eleição vai ser crucial não só para os Estados Unidos como para o mundo. “Quem vai ganhar?” não é a “one million dollar question” porque é muito mais do que um milhão a soma que está em jogo.

Hoje, dia 11 de Setembro (uma data que pesará sobremaneira na eleição), quais são os prognósticos? Existem muitas sondagens. Uma média das várias sondagens realizada pelo sítio Real Clear Politics dá 47 por cento a McCain e 45 por cento a Obama, levando já em conta o impacto dos dois recentes congressos partidários. Mas os Iowa Electronic Markets – um mercado de previsões que, embora focado na política, funciona como o mercado de futuros na Wall Street, com dinheiro real e tudo, embora apenas com objectivos académicos – dá um vaticínio algo diferente: 48 por cento para McCain contra 52 por cento para Obama, um resultado que quase coincide com o previsto pelo Intrade, um mercado semelhante com base em Dublin. Quer um quer outro têm um registo impressionante de sucessos, superiorizando-se às sondagens; veja-se, por exemplo, como o Intrade previu com precisão a vitória estreita de George W. Bush sobre John Kerry na última eleição presidencial, acertando não só a previsão à escala nacional como em todos os estados. Parece que estes mercados funcionam melhor a médio prazo do que as sondagens. Por seu lado, o Pollyvote, um sistema de previsão que combina vários métodos, um pouco como o estudo de Aguiar-Conraria e Magalhães, confirma os valores dos Iowa Markets e do Intrade.

Portanto, se tivermos mesmo de dar um prognóstico antes do jogo, poderemos dizer que Obama vai ser o 44.º Presidente dos Estados Unidos. Em 1968, pouco antes de ganhar as primárias na Califórnia e pouco antes de ser assassinado, o senador Robert Kennedy, irmão do também assassinado John F. Kennedy, previu que, nos 40 anos seguintes, um negro iria ser presidente norte-americano. Parece que vai acertar ainda que no limite do prazo. Ou talvez não... Pode haver uma trapalhada como a que houve com Al Gore. O nosso desconhecimento do futuro é precisamente o que o distingue do passado.

2 comentários:

Jorge Oliveira disse...

É preciso não entender os americanos para acreditar que Obama possa vir a ser o próximo presidente dos USA.

Mas a Mecânica Quântica pode ajudar. De facto, a actual onda de entusiasmo em Obama, no dia do voto vai colapsar para o valor McCain.

De Rerum Natura disse...

Como a situação evolui um bocadinho todos os dias, coloquei os "links" para os sítios das previsões, facilitando o acompanhamento pelos leitores.
Carlos Fiolhais

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