Quando li o artigo de Hardin fiquei espantado como podia ser usado para defender a ideologia norte-americana, pois tudo o que o artigo faz é pressupor que as pessoas são muito egoístas e portanto que é preciso um sistema que não deixe o egoísmo das pessoas levar a situações graves. No artigo não se argumenta 1) que as pessoas são realmente assim tão egoístas (apesar de ser óbvio que essa é a ideologia norte-americana) nem 2) que a única maneira de controlar o egoísmo deletério das pessoas é através dos mercados.
O artigo de Angus é parcialmente convincente, mas enferma do mesmo tipo de ultra-simplificação ao pressupor que as pessoas são anjinhos comunitários. O argumento histórico usado por Angus não funciona, pois as comunidades auto-reguladas e sustentáveis são-no as mais das vezes à custa de uma interferência inaceitável na vida das pessoas, um controlo apertado das mentalidades e das opções, e uma ditadura tradicionalista generalizada.
A realidade não cabe nas ideologias, mas os ideólogos nunca irão reconhecer tal coisa; se o fizessem, não seriam ideólogos.
2 comentários:
Falta saber o que é «a» «ideologia norte-americana»...
Velho
Li o artigo de Angus e em lado algum consegui perceber o pressuposto de que as pessoas são "anjinhos comunitários". O que me parece que sustenta é que o pressuposto de Hardin de que as pessoas são "naturalmente" egoístas não é indiscutível. O que é algo de diferente.
Parece-me a mim que o erro em que recorrentemente cai quem usualmente se confronta nestas discussões é crer em teses "puristas" quando estamos a lidar com a "natureza" humana. O ser humano é contraditório, é volúvel e capaz por isso de agir de forma egoísta num contexto e de forma cooperativa num outro... e não é imutável! Penso que é o reconhecimento desta complexidade da natureza humana que deita por terra quaisquer teorias "totalitárias" - sejam elas ditadas pela sacralização de um egoísmo individualista, sejam elas ditadas pela supressão do indivíduo em favor de uma fé num colectivo abstracto...
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