Os fluorocarbonetos, HFCs e PFCs -compostos químicos em que o carbono se liga ao flúor -, são compostos que encontram muitas utilizações especialmente depois de o protocolo de Montreal ter banido a utilização de clorofluorocarbonetos (CFCs) devido ao facto de destruirem a camada de ozono.
Para além de muito utilizados como fluidos de refrigeração em frigoríficos e unidades de ar condicionado, as propriedades químicas da ligação C-F tornam os fluorocarbonetos ideais para utilizações que exijam materiais resistentes quimica e termicamente. São ainda muito hidrofóbicos pelo que podem ser utilizados como revestimento em materiais à prova de água, não aderentes ou repelentes de sujidade, encontrando aplicações desde a óptica ao vestuário passando por utensílios de cozinha. Para além disso, a elevada solubilidade do oxigénio nestes compostos faz com que sejam um componente base do sangue artificial.
Os fluorocarbonetos são igualmente gases de efeito de estufa (GEEs) muito potentes, com o problema adicional de a sua inércia química e resistência térmica os tornarem persistentes no meio ambiente. Por exemplo o tetrafluorometano, o análogo fluorado do metano, tem um potencial de aquecimento global a 100 anos de 6 500 e persiste na atmosfera por 50 000 anos.
O que torna os FCs tão atraentes em inúmeras aplicações torna igualmente muito difícil tratar estes compostos já que a quebra da ligação C-F, sem um catalisador apropriado e até agora desconhecido, só pode ser conduzida a temperaturas muito elevadas o que limita a adopção de processos que destruam estes compostos. Assim, muitos países comprometeram-se pelo protocolo de Kyoto a diminuir significativamente as emissões de FCs em 2012.
A importância dos FCs no mundo actual por um lado e por outro os seus problemas ambientais explicam o interesse despertado por um artigo publicado por um grupo da universidade Brandeis na Science de 29 de Agosto. O grupo de Oleg Ozerov sintetizou um catalisador que parte ligações C-F à temperatura ambiente, prometendo para breve uma arma química eficaz na guerra a estes compostos.
Os produtos da reacção apresentada são hidrocarbonetos e fluorosilanos que não apresentam os problemas dos compostos de partida e os autores conseguiram neutralizar todo o material à temperatura ambiente nos três HFCs testados, num dos casos em apenas 6 horas.
Alguns especialistas da área comentaram que há alguns problemas a resolver antes de o processo poder ser utilizado em larga escala, nomeadamente em relação à síntese e produção do catalisador. Para além disso, a reactividade do catalisador tem de ser melhorada para dar conta dos FCs mais recalcitrantes quimicamente, os perfluorocarbonetos. Reyes Sierra da universidade do Arizona em Tucson realça ainda que embora a técnica descrita possa ser potencialmente útil, não pode dar conta dos FCs já dispersos no meio ambiente, nomeadamente em aquíferos. Mas como declarou Ozerov ao Enviromental Research Web,
«Em termos de relevância ambiental, é possível que esta investigação abra as portas para potenciais novas tecnologias que removam os poluentes ambientais fluorados. Eu devo frisar que a investigação tal como está neste momento não é prática, mas o artigo da Science é uma prova de princípio não é uma tentativa de demonstrar que pode ser aplicada já.»
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