quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Ciência e pseudociência
Um dos problemas da filosofia da ciência é a demarcação entre ciência e pseudociência. A SEP acaba de publicar um novo artigo sobre o tema, de Sven Oven Hansson. Aqui.
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2 comentários:
Desidério, aprecio a sua coragem para querer entender esta questão da ciência e da pseudo-ciência. Realmente é algo que deve ser abordado com insistência e cuidado dado que é assunto que está sempre presente nas nossas vidas.
Eu quero falar-lhe do meu irmão. Não o conhece, mas ele estudou Engenharia do Ambiente. Começou a estudar Engenharia Mecânica, mas logo no segundo ano, quis mudar para Engenharia do Ambiente. Terminou os estudos e conseguiu o diploma. Ele tinha todas as condições para poder desempenhar uma função ligada a esta área, que também muito de científico, muito embora cada vez mais se veja toda uma série de correntes alternativas que se dizem ambientalistas, e que no entanto, são ecologístas e que foi para onde ele derivou. Ainda antes de terminar a faculdade, ele já andava a frequentar grupos ecologístas (num dos principais em Portugal, o GAIA). Rapidamente, o fascinou todo este movimento e quando acabou o curso, não quis trabalhar na área, muito embora o esteja de alguma maneira. Frequentou outros cursos, Reiki, agricultura sustentável, permacultura e por aí... ou seja, entrou no campo pseudo-científico. Mas quando é que entrou neste campo? Onde fica a demarcação? É importante realmente verificar essa demarcação, mas onde é que ela está. Alguns grupos, tipo Quercus talvez não vão tão longe que o meu irmão foi, mas não estão muito longe. Rapidamente poderão estar a adoptar algumas das ideias que ele usa. Eu digo mesmo, muito rapidamente irão, se já não estiverem. Onde está a demarcação?
Numa sociedade focada em resultados, as demarcações passam para segundo plano. Os resultados são o que interessam, e é possivel ver resultados nas actividades em que o meu irmão se interessa. E por causa disso, é muito provável que possas encontrar cada vez mais pessoas a sair das actividades ditas convencionais (a desempenhar funções em que possam usar de métodos cientificos convencionais) para ir buscar novos entendimentos alternativos que vão obter mais ou melhores resultados.
Eu próprio testemunhei isso no pouco tempo que estudei sobre vinho. Sabemos bem que a produção de vinho se desenvolveu muito nos últimos tempos. Cada vez mais se produz melhor qualidade de vinho com métodos de laboratório cada vez mais avançados. No entanto, cada vez mais se vêem quintas a produzir vinho com métodos artesanais e a buscar métodos ancestrais com uso de técnicas biológicas e biodinâmicas. Se fores investigar sobre a agricultura biodinâmica, esta tem tudo para ser considerada pseudo-ciência. No entanto, produz vinhos com grande qualidade de sabor, e que custam muito dinheiro. E são cada vez mais as quintas de topo a buscar estes entendimentos ancestrais.
Agora, pergunta-me: o que é que isto tem a ver com o tema? Pois, eu andei às voltas com esta questão durante muito tempo... porque razão as pessoas começam de uma forma e acabam noutra...? Ou seja, tem entendimentos cientificos para realizar certas actividades e depois acabam a procurar outros entendimentos pseudo-cientificos. Quando uma pessoa procura somente resultados, poderá ser assim que as coisas acabam. A ciência sendo somente materialista, não olhando para mais nada que formas eficientes de produzir coisas, ou investigação no sentido de melhorar/tornar mais eficiente produtos, não está a conseguir ver mais que isto mesmo. Como diz no topo do artigo que colocaste, "In conclusion, it is emphasized that there is much more agreement in particular issues of demarcation than on the general criteria that such judgments should be based upon."
Os critérios sobre os quais os juízos são feitos não estão lá. Podemos apontar certas áreas em que pode ser realizado pseudo-ciência, mas se não houver critérios sobre os quais apontar essas áreas, podemos estar a incorrer em erro. E o mais certo é que o façamos, pois só conhecemos um lado da questão.
Mais uma vez enfatizo que é importante observar esta questão da demarcação, mas mais importante é verificar que se ficarmo-nos só por aí, podemos continuar a andar em círculos e não vamos obter respostas mais concretas. Afinal de contas, estamos sempre a bater na mesma parede.
A publicação diz que há de facto ainda muito trabalho filosófico a ser desenvolvido no sentido da demarcação entre ciência e pseudociência. Na pseudiciência pode-se também incluir a religião, digo eu não Sven Oven Hansson que remete em referência bibliográfica apenas para o criacionismo e a reeencarnação. Ora, é precisamente na Universidade de Stanford onde crescem os departamentos e os grupos de investigação que tentam aproximar a ciência à religião. John Astin, do Stanford University Center for Research in Disease Prevention, actua na área da psicologia da saúde. Astin fez uma revisão sistemática da cura à distância para todo o tipo de tratamento médico. Em 57% dos ensaios clínicos, encontrou efeitos positivos.
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