sábado, 10 de novembro de 2007

Química e co-incineração: resíduos hospitalares

O último artigo do Carlos no Público, «O juiz decide», com o qual concordo plenamente, produziu as reacções habituais que este tema provoca nos menos quimicamente informados e assim facilmente manipulados por razões políticas ou outras. De facto, a incineração ou a tão badalada (e suposta) formação de poluentes durante a incineração, são reacções químicas como outras quaisquer pelo que, em minha opinião, convém abordar a química envolvida, o que passarei a fazer depois de recordar algo que já na altura me fez confusão ter sido convenientemente «abafado».

Corria o ano de 2000 e, em plena «crise» da co-incineração, assistimos a manifestações acirradas por interesses políticos sortidos em que massas ululantes de populares gritavam «palavras de ordem» semelhantes ao protesto de uma das nossas leitoras. Na altura dos mais acesos protestos, a 17 de Junho de 2000, foi fechada a incineradora dos Hospitais da Universidade de Coimbra, HUC. Os resíduos hospitalares de Coimbra passaram a ser transportados para Lisboa para aí serem tratados, algo que, como referiu o Carlos, é para mim completamente pacífico, já que «A questão do tratamento de resíduos perigosos é nacional e não local».

De acordo com o Dec.-Lei nº 178/2006, resíduos hospitalares são resíduos resultantes «de actividades médicas desenvolvidas em unidades de prestação de cuidados de saúde, em actividades de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e investigação, relacionada com seres humanos ou animais, em farmácias, em actividades médico-legais, de ensino e em quaisquer outras que envolvam procedimentos invasivos, tais como acupunctura, piercings e tatuagens».

Os resíduos hospitalares dos HUC considerados de risco biológico começaram assim a ser enviados para Lisboa a partir de 2000. Os resíduos de nível 3 passaram a ser transportados para as instalações da AmbiMed na zona industrial do Barreiro, em contentores refrigerados e isotérmicos, onde seriam descontaminados (autoclavados) para posterior depósito em aterros. Os resíduos de nível 4, considerados perigosos, passaram a ser queimados na incineradora do Hospital Júlio de Matos em Lisboa.

De facto, actualmente contamos somente com esta unidade de incineração de resíduos hospitalares, que queimava diariamente em 2005 mais de seis toneladas de resíduos (há um erro na notícia dos Verdes, não penso que de 2005 para 2007 tenha aumentado mil vezes a produção de lixo tipo 4). A unidade foi várias vezes fechada, devido a problemas como a explosão de caldeiras e elevados níveis de dioxinas emitidos, o que implicou a exportação dos resíduos para queima noutros países, como a Espanha ou Bélgica, com todos os (elevados) custos inerentes. Prevê-se assim que seja transferida em 2009 para a Unidade de Tratamento do Eco Parque do Relvão, na Chamusca.

Para se ter uma ideia da quantidade de lixo hospitalar do nível 3 envolvido, nos primeiros quatro meses de 2003, apenas a AmbiMed - uma das operadoras nas zonas Norte e Centro do país -, recolheu e armazenou na Estação de Transferência em Estarreja mais de 62 000 contentores de lixo hospitalar que seriam depois transportados para o Barreiro. Por sua vez, durante o ano de 2006, a Tratospital tratou cerca 5 600 toneladas de resíduos hospitalares pertencentes ao grupo 3.

A incineração é o destino obrigatório de todos os resíduos classificados como nível 4. Para além dos materiais óbvios, «Os produtos químicos e fármacos rejeitados, quando não sujeitos a legislação específica», vindos das unidades de saúde são classificados como resíduos hospitalares perigosos (nível 4), tendo de ser obrigatoriamente incinerados. Os restantes podem ser depositados em aterros, com todos os problemas de contaminação de solos que tal acarreta, embora parte seja recolhida pela Prolixo, que recolhia em 2003 cerca de 1300 toneladas de resíduos, cujo destino era e é a exportação para incineração.

Como se pode ler na notícia que anuncia a entrada em funcionamento da unidade no Parque Industrial da Quimiparque no Barreiro, «Os resíduos recolhidos pela Prolixo são provenientes maioritariamente dos produtores de produtos farmacêuticos, bem como de laboratórios distribuidores de medicamentos e farmácias. Os medicamentos são separados manualmente em blisters, pós, bisnagas, ampolas e líquidos, sendo-lhes retirada a embalagem de cartão que é enviada para reciclagem após trituração. De seguida voltam a ser reembalados tendo em vista a para sua exportação para incineração».

Isto é, a incineração é a forma mais segura e recomendada para tratar uma série de resíduos perigosos, nomeadamente alguns resíduos hospitalares, e continua a ser o método de excelência para descartar estes resíduos principalmente na Europa, EUA e Japão. A co-incineração em particular é especialmente segura pelas razões que veremos num próximo post.

Por muita retórica que se construa à volta do tema, não há como fugir à realidade: a sociedade actual produz uma quantidade crescente de lixo que é preciso dar destino. Quem leia alguns grupos mais radicais, que protestam simultaneamente contra co-incineração e aterros, pensaria que todo o lixo seria reciclável e só não é reciclado por «má-vontade» política. Na realidade, a reciclagem, embora desejável, por si só não é capaz de solucionar o problema de tratamento e destino final de todos os resíduos que a sociedade actual produz.

27 comentários:

Unknown disse...

Quer dizer, andamos nós em Lisboa a queimar o lixo de Coimbra sem condições há sete anos e eles que têm condições é que fazem barulho!

Sempre quero ver se a Adelaide Chichorro também vai protestar contra este "egoísmo das regiões produtoras de lixo tóxico despejarem-no para cima de outras que têm mais dificuldade em defender-se."

Unknown disse...

Excelente post, para não variar. Acho que era preciso alguém explicar com todos os detalhes o que está envolvido.

Com o ruído de fundo produzido por histéricos ambientalistas e por razões eleitorais é preciso perceber o que está em causa.

Não se percebe porque se há-de mandar toneladas e toneladas de resíduos para co-incineração nas cimenteiras espanholas.

Porque é que se há-de pagar fortunas se se pode fazer o mesmo cá?

Anónimo disse...

Apenas uma pequena correcção, o Dec.-Lei nº239/97 foi revogado pelo Dec.Lei nº 178/2006.

A definição de residuo hospitalar actualmente é a seguinte: o resíduo resultante de actividades
médicas desenvolvidas em unidades de prestação de cuidados de saúde, em actividades de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e investigação,
relacionada com seres humanos ou animais, em farmácias, em actividades médico-legais, de ensino e em quaisquer outras que envolvam procedimentos invasivos, tais como acupunctura, piercings e tatuagens;

Palmira F. da Silva disse...

Muito obrigado MC, vou já alterar :)

Anónimo disse...

Bom artigo.

Estas posições anti co-incineração derivam em parte de uma deficiência informativa que leva os visados (que vivam nas imediações dos projectos de/co-inceneradoras) a atitudes que decorrem principalmente de medo de ver a sua saúde afectada (se bem que há sempre aquela questão de se ter tendência a querer mandar para cima dos outros os problemas, quando possível).

Co-inceneração, aterros sanitários e reciclagem, etar´s, entre outros, são todos, meios fundamentais para manter o país livre de lixos/resíduos decorrentes da actividade humana.

Pode-se sempre descartar algum lixo/resíduos como se tem feito nos útltimos anos, com a recurso à exportação para que outros resolvam o problema... Mas, como foi referido no artigo, há custos elevados inerentes. Não queremos todos nós um sistema de saúde com bons meios humanos e técnicos (entre outros aspectos)? Deve-se então pensar nos meios económicos que estão a ser desperdiçados neste tipo de processamento.

Com o belo do fumo do tabaco, com todos os malefícios que acarreta para a saúde, e que nos entra para o corpo em quase todos os locais públicos onde vamos, a preocupação não levou a manifestações, tão focadas pela comunicação social como tem acontecido com questão da co-inceneração e respectivo desagrado de muitos há uns anos para cá.

Anónimo disse...

Em todo o mundo as pessoas protestam contra a incineração de resíduos tóxicos, e estão enganados aqueles que, durante este tempo todo, não protestaram contra as incineradoras de Lisboa ou do Porto. Nunca percebi isso. Aqui em Coimbra protestámos e a incineradora hospitalar daqui encerrou, o que me permitiu viver estes anos todos sem as alergias que tinha. Quanto à reciclagem: existem maneiras de reciclar esse lixo. E também há maneiras de não sermos, como sociedade, sistematicamente obrigados a produzir tanto desse lixo: prevenção não é necessariamente mais e mais medicalização. Eis também uma grande falácia que se ouve em Portugal, por todo o lado. E chamar à incineração de lixo «tratamento de excelência», Palmira, não me parece ser outra coisa que não uma grandessíssima manipulação. Se é esse tipo de excelência que se busca em ciência, aqui deixo muito claramente a minha opinião: não. Essa ciência não deve ser promovida. As pessoas afectadas só não protestam quando ficam demasiado doentes e frágeis para o fazer, ou quando as suas ideias são censuradas em todo o lado pelos media e os muitos negócios envolvidos na incineração (sempre incluí a palavra co-incineração dentro deste conceito mais vasto). As pessoas só não protestam quando, a este respeito, são enganadas pelos inúmeros cantos de sereia que ULULANTEMENTE se ouviram, nos media, a propósito deste tema, anos a fio.
Mesmo estando em desacordo com a Palmira quanto à «milagroisa» solução da incineração, agradeço que se tenha dado ao trabalho de explicar, detalhadamente, para onde estão a ir os resíduos. Há uma coisa que me traz a este blogue: o facto de as pessoas não se contentarem com pouco, em termos informativos. Dizerem-me baixinho que os resíduos estão a ser queimados em Lisboa, e que portanto devo mas é ficar caladinha e portar-me bem, não é um placebo, para mim. Aquela trampa cheira mal que se farta, e FAZ MAL À SAÚDE se queimada. Deve, portanto, ser reciclada ou aterrada convenientemente. E temos que organizar a nossa sociedade de forma a que não haja tanto dinheiro a poder ser ganho com este tipo de negociatas. A Palmira vê a questão pelo lado da química, o que é legítimo. Mas não menos legítimo é encarar o problema pelo prisma de quem conhece o cheiro daquelas coisas de gingeira. Mas há mais: enquanto andarem por aí os químicos todos a vender a banha da cobra da incineração não se resolve o problema das emissões, e o CO2 também conta. E também não se resolve o mproblema da imagem pública da química. Quanto mais se disser bem da incineração mais estamos a contribuir indirectamente, legitimando este tipo de tecnologias, para a produção de emissões, e isso é mau, é negativo, é errado, e felizmente que a ciência (e não só) tem muitas maneiras de nos permitir dizer isto.
Adelaide Chichorro Ferreira

Unknown disse...

Cá temos um exemplar perfeito dum histérico ambientalista que nem consegue explicar num raciocínio coerente porque é tão mau a incineração ou porque são tão bons os aterros.

Esta gente acha que se dermos uma de avestruz os problemas, neste caso os lixos, desaparecem.

Eu sou completamente contra aterros! Poluir os nossos solos e os nossos cursos de água só porque meia dúzia de histéricos ignorantes acharam que era chique e bem protestar contra a co-incineração é completamente imoral!

É preciso tomar medidas sérias para evitar o que se vê em qualquer canto do país: lixeiras, legais e ilegais, em tudo quanto é lado, despejos de resíduos pela calada da noite, lixo por todos os lados.

Devia-se queimar todo o lixo que não se pode reciclar.E há muito lixo que não se pode reciclar!

Anónimo disse...

Pedro
Como é fácil chamar a outra pessoa histérica, não é ?
O facto de ser contra aterros não poderá ser considerado uma forma de histeria?
Quanto aos lixos, no geral... se constituem um problema premente, é necessário atacar-se a produção dos lixos e não, apenas, eliminá-los.

Unknown disse...

Jorge Figueiredo:

Fácil é dizer coisas como:"Quanto aos lixos, no geral... se constituem um problema premente, é necessário atacar-se a produção dos lixos e não, apenas, eliminá-los."

Os lixos são um problema premente da humanidade desde sempre. Nos últimos anos é preciso estar-se muito desatento para não se perceber a gravidade do problema.

O problema não se resolve com histerias. Histéricos como a Adelaide fazem com lixo que podia ser tratado sem problemas nenhuns seja enviado com custos que o país não pode suportar para ser queimado noutros países que agradecem a histeria.

Ou pior, são guardados em condições que essas sim são um atentado à saúde de todos nós à espera que se resolva o impasse criado pelos histéricos, oportunistas políticos e os que lucram fortunas com o negócio.

Pior ainda, muitas vezes são despejados directamente em rios, no mar e um pouco por todo o lado.

Sou contra os aterros e lixeiras primeiro porque não são solução de nada, só adiam a resolução dos problemas para as gerações futuras que se vão ver a braços com milhões e milhões de toneladas de lixos enterrados.

Anónimo disse...

Como é que eliminamos a produção de resíduos hospitalares, em caso de necessidade deixamos de ir ao hospital para não fazermos lixo??

guida martins

RJ disse...

Os aterros sanitários vieram substituir as lixeiras, efectuando-se a deposição dos lixos seguida de compactação e cobertura imediata com solos, evitando-se maus cheiros e a consequente atracção de animais "indesejáveis", como ratos e aves.
Um aterro é realizado de forma a ser impermeável. E essa impermeabilização é efectuada em toda área em que se situa, funcionando como uma menbrana externa, com recurso a solos argilosos e geotêxteis. Os lixos são depositados em células, envoltas por um sistema de calhas que recolhe os lixiviados (produto do contacto das águas que se infiltram com os lixos) e os concentra num compartimento. Assim evita-se a contaminação de aquíferos.
Torna-se possível ainda a recolha de gases, nomeadamente em aterros de resíduos orgânicos.
Quer se queira quer não é a forma mais correcta de deposição de lixos. Até é possível a instalação das mais variadas infra-estruturas em cima (edifícios e estruturas "pesadas" não) como um parque,por exemplo.

Um aterro sanitário é como uma lixeira que respeita o ambiente.

Unknown disse...

Bora transformar todo o país num aterro! É uma excelente ideia! Com as toneladas de lixo que se produzem diariamente não são precisos muitos anos.

Há um problemita se algum dia houver um terramoto tipo o de 1755 e esses aterros maravilha derramam as toneladas de lixo que se escondem dos histéricos... Mas isso com sorte só acontece daqui a muitos anos e já não é nada connosco...

Unknown disse...

Depois há o problemita dos resíduos perigosos que a CE não deixa aterrar...Mas como somos um país rico podemos "exportar" lixo para os outros tratarem sem problemas.

Ou então exportá-lo para países do 3º mundo, como se faz com muito lixo tóxico...

Anónimo disse...

Excelente post, Palmira, como sempre :). Os fundamentalismos do ambiente, e as manipulações do ambientalistas (já agora, quem faz os estudos ambientais?), acabam por denegrir o respeito pelo ambiente. E vamos lá construir mais passagens superiores nas autoestradas para os lobos a poderem atravessar, e, já agora, contratar um ambientalista para os ensinar a passar...

Roberto disse...

Depois de ler o seu excelente artigo e a acalorada troca de galhardetes que se desenrola nos comentários, parece-me que é necessário ultimar rapidamente essoutro artigo sobre os processos químicos envolvidos na queima de resíduos, perigosos ou não, para que as massas ignaras (onde me incluo)possam aclarar as ideias.
Pessoalmente, parece-me que a inceneração e a co-inceneração não são os papões que pregam alguns políticos e ambientalistas de circunstância, mas não sendo conhecedor da matéria aguardo o seu bem-vindo esclarecimento.

Unknown disse...

O Básico sobre Aterros

Um aterro controlado é uma depressão bem formada no solo (ou construído à superfície, semelhante a um estádio de futebol) onde os resíduos são metidos. O objectivo é evitar qualquer contacto hidráulico entre os resíduos e o ambiente envolvente, particularmente água subterrânea. Basicamente, um aterro é uma banheira no chão; um aterro com revestimento duplo é uma banheira dentro de outra. As banheiras vertem de duas maneiras: pelo fundo ou pelo topo.

Existem quatro elementos críticos num aterro controlado: um revestimento interno no fundo, um sistema de recolha de lixiviados, uma cobertura, e o cenário hidrogeológico natural. O cenário hidrogeológico pode ser escolhido para minimizar a possibilidade dos resíduos escaparem para lençóis freáticos que estão por baixo do aterro. Os três outros elementos necessitam de ser construídos. Cada um destes elementos é essencial para que haja sucesso.

Unknown disse...

O cenário hidrogeológico:

Você precisa que a geologia realize duas coisas contraditórias para si. Para impedir que os resíduos escapem, você pretende as rochas tão densas (à prova de água) quanto possível. No entanto, se alguma infiltração ocorrer, pretende que a geologia seja tão simples quanto possível para facilmente prever onde irão ocorrer as fugas, para então poder colocar poços e captar os resíduos que escaparam bombeando-os. O leito de rocha fracturado é altamente indesejável por baixo de um aterro porque os resíduos não podem ser localizados no caso de se escaparem. Minas e pedreiras deveriam ser evitadas porque têm frequentemente contacto com águas subterrâneas.
O que é o revestimento do fundo?

Pode ser uma ou mais camadas de argila ou uma tela sintética flexível (ou a combinação de ambas); o revestimento cria efectivamente uma banheira no solo. Se o revestimento do fundo falhar, os resíduos irão migrar directamente para o meio-ambiente. Existem três tipos de revestimentos: argila; plástico; e composto.
Qual o problema da camada de argila?

Um mecanismo chamado difusão moverá químicos orgânicos como o benzeno através da camada de argila em aproximadamente cinco anos. A argila natural é frequentemente fracturada e partida. Alguns químicos podem degradar a argila.
Qual o problema da tela plástica?

As melhores telas de aterros actualmente são feitas de um plástico rígido chamado polietileno de alta densidade (HDPE). Um número de químicos de uso doméstico irão degradar o HDPE, permeando-o (passando através dele), fazendo com que perca a sua resistência, amaciando-o, ou fazendo com que fique quebradiço, partindo-o. Não apenas os químicos domésticos irão degradar o HDPE, mas coisas muito mais benignas podem levar a tela a desenvolver zonas quebradiças sob pressão, tais como, a margarina, vinagre, alcoól etílico (bebidas alcoólicas), graxa, apenas para nomear alguns.
Qual o problema do revestimento composto?

Um revestimento composto é um único revestimento feito de duas partes, revestimento plástico e solo compactado (usualmente solo argiloso). Os relatórios indicam que todos os revestimentos de plástico (FMLs) têm sempre infiltrações. É importante que se perceba que todos os materiais usados como revestimentos são pelo menos levemente permeáveis a líquidos ou gases e é de esperar uma certa quantidade de permeabilidade através das camadas. Infiltração adicional resulta de defeitos tais como rachas, buracos e linhas de junção defeituosas. Estudos mostram que um aterro de 10 acres vai ter um grau de infiltração entre 0.2 a 10 galões por dia.

Unknown disse...

O que é um Sistema de recolha de lixiviados?

Lixiviado é água que fica muito contaminada pelo contacto com resíduos. Infiltra-se para o fundo do aterro e é recolhido por um sistema de tubos. O fundo do aterro é inclinado; os tubos são colocados ao longo do fundo a fim de captar a água contaminada e outros fluidos (lixiviados) à medida que se acumulam; os lixiviados bombeados são tratados numa estação de tratamento de águas residuais (e os resíduos sólidos que resultam desta operação são devolvidos ao aterro, ou então enviados para outro aterro qualquer). Os tubos do colector de lixiviados podem entupir e o lixiviado permanecer no aterro; a pressão do líquido resultante torna-se na principal força que leva os resíduos a saírem através do fundo do aterro, quando o revestimento falha.
Quais os problemas do Sistema colector de lixiviados?

Os sistemas colectores de lixiviados podem obstruir-se em menos de uma década. Falham de várias maneiras conhecidas:

1. entopem-se com sedimentos ou lama;

2. Entopem-se por causa do crescimento de micro-organismos nos tubos;

3. Podem entupir por causa de uma reacção química que leva à precipitação de minerais nos tubos;

4. Os tubos ficam enfraquecidos por ataque químico (ácidos, solventes, agentes oxidantes ou corrosão) e podem então ser esmagados pelas toneladas de lixos empilhados sobre eles.

Unknown disse...

O que é a cobertura?

Uma cobertura é um guarda-chuva sobre o aterro para afastar a água (para prevenir a formação de lixiviados). Irá geralmente consistir em várias camadas inclinadas - argila ou tela (para evitar que a chuva entre), culminando com uma camada muito permeável de areia ou gravilha (para afastar a água), e terra em que a vegetação possa ganhar raízes (para estabilizar as camadas inferiores da cobertura). Se a cobertura não for objecto de manutenção, a chuva pode entrar no aterro, resultando no aparecimento de lixiviados a ponto da banheira transbordar para os lados e os resíduos entrarem no meio-ambiente.
Quais os problemas com as coberturas?

As coberturas são vulneráveis ao ataque de pelo menos sete origens:

1. Erosão devido à acção do tempo (chuva, granizo, neve, ciclos de gelo-degelo e vento);

2. Vegetação, tal como arbustos e árvores que continuamente competem com ervas por espaço disponível, enviando raízes que implacavelmente irão procurar penetrar na cobertura.

3. Pequenos mamíferos que habitam e fazem tocas no solo (marmotas, ratos, toupeiras, ratazanas), répteis (cobras), insectos (formigas, besouros), e vermes vão apresentar ameaças constantes à integridade da cobertura;

4. A luz solar (no caso de algum dos outros agentes naturais citados ter destapado uma parte do "guarda-chuva") irá secar a argila (permitindo que se desenvolvam rachas) ou destruir as telas através da acção da radiação ultra-violeta;

5. O desnivelamento da cobertura provocado pelo aluimento dos resíduos que estão por baixo, pode resultar em fracturas na argila ou rasgões na tela, ou criar poços na superfície que podem fazer com que a camada de argila fique sem consistência ou submeter a cobertura a pressões de gelo-degelo;

6. Pneus de borracha que pressionam para cima, comportando-se como uma mola fazendo pressão contra a cobertura;

7. Actividades humanas de variada natureza.

Dados fornecidos pelo
Environmental Research Foundation (E.U.A.)
P.O. Box 3541- Princeton, NJ 08543-3541

Manuel Rocha disse...

Pois...
A abordagem que a civilização do pretróleo faz sobre os impactos do seu processo histórico, decorre sob a égide de uma ilimitada fé na ciência e na técnica, da qual decorre, qual teorema, que para qualquer mal haverá sempre uma solução e assim sucessivamente. Daí a postura arrogante de todos os aprendizes de feiticeiros que têm a ilusão de ter sob controlo o que frequentemente não é passível de ser controlado.
Não me parece que se saia deste ciclo vicioso enquanto não emergir um novo paradigma civilizacional menos dependente de Deuses, Cientistas ou Técnicos, e mais centrado nas questões do elementar bom senso. Sabedoria não é só conhecimento, nem o conhecimento é só informação.

Anónimo disse...

Caro Pedro,
Se me contactar na universidade onde trabalho terei muito prazer em lhe enviar bibliografia recente que prova que não é preciso chamar-me histérica (um galhardete que tenho ouvido sistematicamente desde que, há quase 15 anos, me meti a estudar e a exercer o meu direito de opinião a respeito deste tema). E mais lhe digo: isso de defender tanto a incineração só pode ser fé. E obscurantismo. Basta ir a um hipermercado de hoje e ter uma vaga noção da miríade de materiais hoje em uso nos mais variados produtos para se ter a noção de que não pode dar resultado. Defender a incineração é perpetuar a política de avestruz do «tudo ao molho e fé em Deus». É também achar que o ser humano funciona optimamente como aterro de nanopartículas. Ora, eu não acho isso, nem nunca achei. E sei o que é isso, por sinal. Já provei a receita. Portanto, Pedro, tenha tento na língua e argumente como gente crescida, porque todos necessitamos disso neste país. E, sobretudo, precisamos de verdadeiras soluções para o problema.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Quanto a esses problemas dos aterros, Pedro: onde est� a perspectiva m�dica? Que � por exemplo, uma cobertura que � necess�rio substituir de tempos a tempos por ser ro�da pelos ratos, quando comparada com cancros e demais problemas de sa�de causados por produtos que se formam com a pr�pria queima de res�duos? Problemas esses que nem digo que se concentrem apenas nas imedia�es das unidades de incinera�o, pois que at� � relativamente simples retirar os filtros para serem queimados ou tratados noutro local qualquer, a fim de que as emiss�es n�o subam na zona da unidade e se possa vir a ter as tais estat�sticas impec�veis que porventura o enganam a si. Havendo solu�es melhores, porque � que se insiste nisto, a n�o ser pelo dinheiro envolvido (para alguns)? E n�o me venha c� dizer que nos outros pa�ses as pessoas gostam de ter unidades de incinera�o (�dedicadas� ou n�o) sobredimensionadas � porta. L� fora como c� ningu�m gosta, e pude constat�-lo ainda muito recentemente. Estas unidades s�o vistas como um mal que � necess�rio combater. Se as pessoas o conseguem ou n�o, se s�o ou n�o perseguidas pelo sistema (ou difamadas, como aconteceu aqui, pela pena de algu�m que nem se identificou cabalmente), j� s�o outras quest�es, bem diferentes. A incinera�o � um mal de que, com cultura, melhor organiza�o, imagina�o (enfim, ci�ncia e educa�o!) nem sequer necessitamos.
Como v�em, � preciso uma certa coragem para dizer isto. Muitos n�o est�o para serem difamados na pra�a p�blica por dizerem o que pensam, e essa � uma das raz�es (bem central, ali�s) que explicam que n�o haja mais protestos. Mas precisamente porque as regras do jogo s�o estas � que ele � demasiado sujo para poder ser aceite pelos cidad�os. Podia o Pedro at� estar a falar-me da maior maravilha do mundo, mas s� o facto de me ter chamado hist�rica me p�s de p� atr�s relativamente a si - que, pelo que descreve, � t�cnico de engenharia ambiental, ou assim. Ora, precisamente por saber isso que descreve sobre os aterros e a lixivia�o � que h� cerca de 10 anos, ou mais, que n�o envio quaisquer res�duos molhados de minha casa para aterro. Fa�o a compostagem dos mesmos, ou reaproveito-os de alguma forma, e d� um resultad�o. Mas l� est� evito comprar, na medida do poss�vel, produtos t�xicos, raz�o pela qual este assunto exige uma discuss�o cient�fica alargada a respeito do tipo de materiais que estamos a usar e, sobretudo, acerca das quantidades absurdas em que actualmente o fazemos. Ora, aceitando como um facto consumado a incinera�o essa discuss�o, e a mudan�a que � urgente encetar, nunca se far�.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

(aparecem outra vez aqueles gatafunhos no texto... mando novamente:)

Quanto a esses problemas dos aterros, Pedro: onde está a perspectiva médica? Que é, por exemplo, uma cobertura que é necessário substituir de tempos a tempos por ser roída pelos ratos, quando comparada com cancros e demais problemas de saúde causados por produtos que se formam com a própria queima de resíduos? Problemas esses que nem digo que se concentrem apenas nas imediações das unidades de incineração, pois que até é relativamente simples retirar os filtros para serem queimados ou tratados noutro local qualquer, a fim de que as emissões não subam na zona da unidade e se possa vir a ter as tais estatísticas impecáveis que porventura o enganam a si. Havendo soluções melhores, porque é que se insiste nisto, a não ser pelo dinheiro envolvido (para alguns)? E não me venha cá dizer que nos outros países as pessoas gostam de ter unidades de incineração («dedicadas» ou não) sobredimensionadas à porta. Lá fora como cá ninguém gosta, e pude constatá-lo ainda muito recentemente. Estas unidades são vistas como um mal que é necessário combater. Se as pessoas o conseguem ou não, se são ou não perseguidas pelo sistema (ou difamadas, como aconteceu aqui, pela pena de alguém que nem se identificou cabalmente), já são outras questões, bem diferentes. A incineração é um mal de que, com cultura, melhor organização, imaginação nem sequer necessitamos.
Como vêem, é preciso uma certa coragem para dizer isto. Muitos não estão para serem difamados na praça pública por dizerem o que pensam, e essa é uma das razões (bem central, aliás) que explicam que não haja mais protestos. Mas precisamente porque as regras do jogo são estas é que ele é demasiado sujo para poder ser aceite pelos cidadãos. Podia o Pedro até estar a falar-me da maior maravilha do mundo, mas só o facto de me ter chamado histérica me pôs de pé atrás relativamente a si - que, pelo que descreve, é técnico de engenharia ambiental, ou assim. Ora, precisamente por saber isso que descreve sobre os aterros e a lixiviação é que há cerca de 10 anos, ou mais, que não envio quaisquer resíduos molhados de minha casa para aterro. Faço a compostagem dos mesmos, ou reaproveito-os de alguma forma, e dá um resultadão. Mas lá está: evito comprar, na medida do possível, produtos tóxicos, razão pela qual este assunto exige uma discussão científica alargada a respeito do tipo de materiais que estamos a usar e, sobretudo, acerca das quantidades absurdas em que actualmente o fazemos. Ora, aceitando como um facto consumado a incineração essa discussão, e a mudança que é urgente encetar, nunca se fará.
Adelaide Chichorro Ferreira

11 de Novembro de 2007 15:29

Unknown disse...

Adelaide:

Vá ler o outro post da palmira e deixe de dizer disparates!

É incrível como se vê tanta gente por aqui a dizer os maiores disparates sobre assuntos em que é completamente ignorante!

Ele é professores de Direito a dizer disparates sobre todas as ciências e agora professoras de Alemão que acreditam em águas mágicas e outros disparates New Age!

Manuel Rocha disse...

Recomendo vivamente ao Pedro que ouça o improviso do Zapatero na cimeira Ibero Americana, em reacção a uma intervenção do H Chaves.
Quando v crescer talvez perceba que ter a razão não basta, e que a forma como a exprimimos conta bastante. Talvez nesse dia deixe de ofender gratuitamente Senhoras e perceba também que sabedoria e conhecimento não são a mesma coisa, além de que conhecimento não é só informação.

Anónimo disse...

A EPA (Agência de Protecção Ambiental dos EUA, www.epa.gov) lista num folheto de 2003 as seguintes vantagens e desvantages do recurso a sistemas de incineração, comparados com aterros ou com estabilização por compostagem:

Vantagens
- Redução de volume
- Produção de um material estável. As cinzas são estéreis e estáveis, eliminando eficazmente problemas de armazenamento e manipulação.
- Possibilidade de recuperação de energia
- Necessidades de terreno muito reduzidas

Desvantagens
- Elevado investimento inicial
- Na maior parte dos casos, os custos de operação anuais dependem dos custos de combustível
- Consumo de recursos não renováveis (petróleo e/ou gás natural)
- Possíveis problemas de operação. Os incineradores exigem normalmente paragens prolongadas para manutenção de rotina, o que requer duplicação de equipamento, ou armazenamento. Além disso, é necessário dispôr de instrumentação tecnologicamente avançada para cumprir com requisitos ambientais relativos a controlo da poluição do ar.
- Potencial para oposição da população


A EPA afirma ainda que as instalações de incineração modernas não representam geralmente um risco de saúde significativo para a comunidade se estiverem equipadas com equipamento para controlo processual e para controlo de emissões devidamente mantido, e se este mesmo equipamento fôr operado por empregados devidamente treinados.

Parece-me que não é de facto possível, nestes assuntos, assumir posições extremas de forma impulsiva, mesmo que eventualmente suportadas pela química ou por outra ciência, porque pode haver sempre algo que falhe no melhor dos planeamentos ou na investigação mais aprofundada.

Helder Durão

Anónimo disse...

A EPA, sempre a EPA. E repare que na frase que cita aparece o adjectivo �significativo�. Que quer isso dizer, a EPA explica?
Adelaide Chichorro Ferreira

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...