quarta-feira, 12 de maio de 2010

O débil coração de Portugal

Texto de João Boavida antes publicado no diário As Beiras, que, curiosamente, incide no mesmo assunto que um outro dispinibilizado no De Rerum Natura.

Almeida Henriques, o presidente cessante da Conselho Empresarial do Centro (CEC) lamentava há dias, que na importantíssima questão dos vinhos se tivesse perdido a oportunidade de criar uma só região no Centro de Portugal. Posteriormente, falou dos que preferem mandar no seu quintal, mesmo que pouco ou nada produza, a integrarem-se numa unidade de grande potencial produtivo. A imagem adapta-se bem a muitos dos nossos políticos - locais e nacionais: não passam de agricultores à antiga querendo parecer políticos à moderna. Morrem à míngua, mas naquilo que é seu.

Os vinhos Dão, Bairrada, Beira Interior, Barosa-Távora, Lafões, cada um por si, pouco são, mas enquanto vinhos do Centro de Portugal poderiam ombrear com a região demarcada do Douro, apesar do nome e da extensão, e com o Alentejo que é, hoje, para o lisboeta, o supra-sumo. Poderiam competir, a nível nacional, mas, sobretudo, criar real força exportadora para potenciar muito mais. Isto, é claro, exige dimensão, qualidade, imagem, marca e promoção; condições que, em separado, nenhum tem, mas que, em conjunto, talvez possam ter.

Repetiu-se o erro da Região de Turismo do Centro: cada um acocorado em cima do seu penedo, querendo ser melhor que o vizinho, e a chamar pelos turistas com jogos de fumo, à moda dos apaches. Apesar do que disse Bernardo Trindade, secretário de Estado do Turismo, ao diário As Beiras, o erro venceu. Em pose de Estado, com bandeiras e tudo, veio falar de uma série de melhorias, progressos e outras boas ideias e intenções. Mas se, como se diz, queremos, no Centro, um turismo a ombrear com o Algarve e Lisboa, assim não conseguiremos. Em termos de estratégia cometeu-se um erro enorme para as potencialidades turísticas do Centro de Portugal.

Uma região de Turismo com a Serra de Estrela, Fátima e Coimbra fora do conjunto, por diferentes razões e sem estratégia global, é um fiasco político completo. E uma inevitável pulverização de meios. O poder central não foi capaz de evitar o erro dos que querem um penedo para si a todo o custo, e tomou decisões políticas disparatadas e ofensivas que provocaram a ”fuga” de Coimbra e da Figueira da Foz. Entretanto, o Centro de Portugal fica mais fraco, para grandeza do Norte que, descendo, sonha chegar ao Mondego. E para alegria do Sul que deseja subir até ao Mondego. É uma barbaridade histórica e cultural, uma fragilização para todos, mas talvez seja o desejo do Poder Central. E nós vamos ajudando.
João Boavida

1 comentário:

Augusto Küttner de Magalhaes disse...

Muito interessante este texto!!!!, de facto vamos apercebendo-nos dia após dia que sendo, nós, um País tão pequeno, temos Associações e Representações de tudo e mais alguma coisa e de facto a vontade de União para serem menos mas mais fortes, ou verdadeiramente fortes, é nenhuma.

E todos querem ser Presidentes, todos querem aparecer, todos querem ter visibilidade, talvez seja muito pouco...
Mas....que fazer, ou como fazer , diferente e melhor?????
a.Küttner de Magalhães

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