quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A supremacia da tecnologia sobre a humanidade é evitável.

Tal como outros neurocientistas, com presença na comunicação social (por exemplo, Nicholas Carr e Michel Desmurget), Susan Greenfield tem explicado muito claramente que os "nativos digitais" (nascidos na era digital e que usam o digital de forma acrítica) não demonstram as mesmas capacidades cerebrais que os não "nativos digitais" porque o seu cérebro é diferente.

Diz (ver aqui) que não são tanto os aspectos lógicos da inteligência que se ressentem, mas o modo de perceber o mundo e de interagir nele, pois:

1 - as redes sociais alteram a identidade e as relações interpessoais; 
2 - os videogames provocam dependência, modificam a atenção e a concentração, geram hiperatividade e stress;
3 - os programas de busca confundem informação com conhecimento.

Nota que os videogames aumentam áreas do cérebro que liberam dopamina, um neurotransmissor (substância química produzida pelos neurónios) responsável pela sensação de prazer e de motivação tendo um efeito viciante.

Há que consciencializar a nossa condição humana e como a conseguimos alcançar, de outro modo acabaremos vítimas da tecnologia. Ela é inevitável, mas a sua supremacia sobre a humanidade é evitável. 

Vale a pena ler o livro acima identificado pela compreensão que nos faculta disto mesmo.

3 comentários:

Miguel disse...

Ora, ora... aqui há semanas comentei sobre isto mesmo e caiu o Carmo e a Trindade em cima, mas reitero o que já se sabe e disse na altura: e como é que cérebros destes aprendem? Cérebros viciados em hiper-estímulos (em dopamina, no fundo), e com baixa capaciade de concentração? Tenho as mais sérias dúvidas que estarem sentados horas a fio numa sala de aula, a ouvir aulas com muito conteúdo expositivo vá resultar... Por isso é que digo que todo o ensino precisa de ser repensado em função de cérebros destes, sob pena da maioria dos alunos não conseguir aprender seja o que for, por muito que os professores se esforcem por ensinar, mas só teremos melhor noção disto daqui a vários anos, e perante vários estudos em vários paradigmas.

Alberto disse...

Já na antiga Roma, era fácil satisfazer o povo dando-lhe pão e muito circo.
As ciências que nos trouxeram até aos computadores ainda não morreram, porém algumas são de difícil aprendizagem. Qual a solução?
Para garantir o sucesso escolar fácil, deixar de lecionar os conteúdos difíceis, nivelando por baixo, como já estamos a fazer nas escolas secundárias, ou manter a porta de entrada aberta a todos os que nela queiram entrar livremente, para que, com inteligência, trabalho e estudo, possam chegar ao verdadeiro sucesso?
Resumindo, o futuro da escola secundária só é viável se aumentarmos a qualidade do ensino/ aprendizagem ministrado. Se a escola secundária só serve para tomar conta de meninos indisciplinados, está condenada!

Helena Damião disse...

Prezados Leitores
As questões que levantam são cruciais e, por isso, temos de as enfrentar, mas com ponderação e conhecimento seguro. Já percebemos o que as novas tecnologias, usadas do modo como têm sido usadas, causam problemas que podemos considerar sérios, sobretudo nas crianças e nos jovens (mas também nos adultos). Os seus cérebros são, de facto, diferentes dos cérebros das crianças e dos jovens que não eram (e alguns ainda não são) expostos a esse uso.
Estando longe de ser especialista no assunto, o que me dizem os especialistas a quem peço informação é que, para ensinarmos conhecimentos escolares (que são sempre difíceis) de modo que os alunos os aprendam e, na aprendizagem, desenvolvam capacidades humanas (cognitivas, afectivas e motoras), precisamos de "reformatar" os cérebros. Todo o ensino visa, de resto, alterar os cérebros dos alunos (em função, claro está, de boas intenções).
Mas como colocar estes cérebros "superficiais", "dependentes", etc. na rota da aprendizagem de que a escola não pode abdicar? Progressivamente, dizem-me, e com trabalho pedagógico racionalmente delineado, com foco na atenção e na concentração, na desconexão dos aparelhos, na relação interpessoal... E para isso, ao início, é preciso tempo, muito tempo, bem como saber profissional concertado.
Isto, que será o recomendável. uma vez confrontado com o real (o sistema, a escola, a sociedade) torna-se numa miragem, tantos são os obstáculos e cada um mais difícil de transpor que o outro. Por isso, sim, se queremos que as futuras gerações sejam tão ou mais capazes do que nós (nisso deve ser concentrado o nosso esforço), precisamos de repensar a educação escolar (a questão não está na mudança, mas no sentido a imprimir à mudança). Sugiro que, para tanto, exploremos as escolas (e o trabalho que nelas se faz) que os grandes ideólogos e empreendedores das tecnologias reservam para as suas próprias criança e jovens.
Cumprimentos, MHDamião

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...