Tal como outros neurocientistas, com presença na comunicação social (por exemplo, Nicholas Carr e Michel Desmurget), Susan Greenfield tem explicado muito claramente que os "nativos digitais" (nascidos na era digital e que usam o digital de forma acrítica) não demonstram as mesmas capacidades cerebrais que os não "nativos digitais" porque o seu cérebro é diferente.
Diz (ver aqui) que não são tanto os aspectos lógicos da inteligência que se ressentem, mas o modo de perceber o mundo e de interagir nele, pois:
1 - as redes sociais alteram a identidade e as relações interpessoais;
2 - os videogames provocam dependência, modificam a atenção e a concentração, geram hiperatividade e stress;
3 - os programas de busca confundem informação com conhecimento.
Nota que os videogames aumentam áreas do cérebro que liberam dopamina, um neurotransmissor (substância química produzida pelos neurónios) responsável pela sensação de prazer e de motivação tendo um efeito viciante.
Há que consciencializar a nossa condição humana e como a conseguimos alcançar, de outro modo acabaremos vítimas da tecnologia. Ela é inevitável, mas a sua supremacia sobre a humanidade é evitável.
Vale a pena ler o livro acima identificado pela compreensão que nos faculta disto mesmo.
3 comentários:
Ora, ora... aqui há semanas comentei sobre isto mesmo e caiu o Carmo e a Trindade em cima, mas reitero o que já se sabe e disse na altura: e como é que cérebros destes aprendem? Cérebros viciados em hiper-estímulos (em dopamina, no fundo), e com baixa capaciade de concentração? Tenho as mais sérias dúvidas que estarem sentados horas a fio numa sala de aula, a ouvir aulas com muito conteúdo expositivo vá resultar... Por isso é que digo que todo o ensino precisa de ser repensado em função de cérebros destes, sob pena da maioria dos alunos não conseguir aprender seja o que for, por muito que os professores se esforcem por ensinar, mas só teremos melhor noção disto daqui a vários anos, e perante vários estudos em vários paradigmas.
Já na antiga Roma, era fácil satisfazer o povo dando-lhe pão e muito circo.
As ciências que nos trouxeram até aos computadores ainda não morreram, porém algumas são de difícil aprendizagem. Qual a solução?
Para garantir o sucesso escolar fácil, deixar de lecionar os conteúdos difíceis, nivelando por baixo, como já estamos a fazer nas escolas secundárias, ou manter a porta de entrada aberta a todos os que nela queiram entrar livremente, para que, com inteligência, trabalho e estudo, possam chegar ao verdadeiro sucesso?
Resumindo, o futuro da escola secundária só é viável se aumentarmos a qualidade do ensino/ aprendizagem ministrado. Se a escola secundária só serve para tomar conta de meninos indisciplinados, está condenada!
Prezados Leitores
As questões que levantam são cruciais e, por isso, temos de as enfrentar, mas com ponderação e conhecimento seguro. Já percebemos o que as novas tecnologias, usadas do modo como têm sido usadas, causam problemas que podemos considerar sérios, sobretudo nas crianças e nos jovens (mas também nos adultos). Os seus cérebros são, de facto, diferentes dos cérebros das crianças e dos jovens que não eram (e alguns ainda não são) expostos a esse uso.
Estando longe de ser especialista no assunto, o que me dizem os especialistas a quem peço informação é que, para ensinarmos conhecimentos escolares (que são sempre difíceis) de modo que os alunos os aprendam e, na aprendizagem, desenvolvam capacidades humanas (cognitivas, afectivas e motoras), precisamos de "reformatar" os cérebros. Todo o ensino visa, de resto, alterar os cérebros dos alunos (em função, claro está, de boas intenções).
Mas como colocar estes cérebros "superficiais", "dependentes", etc. na rota da aprendizagem de que a escola não pode abdicar? Progressivamente, dizem-me, e com trabalho pedagógico racionalmente delineado, com foco na atenção e na concentração, na desconexão dos aparelhos, na relação interpessoal... E para isso, ao início, é preciso tempo, muito tempo, bem como saber profissional concertado.
Isto, que será o recomendável. uma vez confrontado com o real (o sistema, a escola, a sociedade) torna-se numa miragem, tantos são os obstáculos e cada um mais difícil de transpor que o outro. Por isso, sim, se queremos que as futuras gerações sejam tão ou mais capazes do que nós (nisso deve ser concentrado o nosso esforço), precisamos de repensar a educação escolar (a questão não está na mudança, mas no sentido a imprimir à mudança). Sugiro que, para tanto, exploremos as escolas (e o trabalho que nelas se faz) que os grandes ideólogos e empreendedores das tecnologias reservam para as suas próprias criança e jovens.
Cumprimentos, MHDamião
Enviar um comentário