Stephen Ball é um professor e investigador do Instituto de Educação da Universidade de Londres com enorme prestígio na comunidade científica. O seu nome é sinónimo de honestidade, competência e clarividência. Sem cedermos ao "argumento de autoridade", devemos prestar atenção ao que escreve e ao que escreveu. Num relatório destinado à Education International, com data de 2008, explica, em colaboração com Deborah Youdell, que o co-assina, a passagem de mãos da educação escolar pública do sector público para o sector privado. Passagem que, para ser mais eficaz, é camuflada, mistificada.
Deixo ao leitor um breve resumo das primeiras páginas que apresentam o trabalho em causa, na esperança de que abra esta ligação e se detenha no conteúdo, sobretudo se for director escolar, professor, formador de professores.
Por todo o mundo, estão a ser introduzidas formas de privatização dos sistemas de ensino públicos. A tendência, crescente entre os governos, pode ter um impacto significativo para os alunos, a equidade, as condições de ensino. A gestão das escolas, sendo justificada pela necessidade de “acompanhar os tempos”, reflecte uma
orientação baseada no mercado, competitivo e consumista. Tal tendência é, contudo, oculta.
É camuflada pela linguagem da “reforma educativa”, apresentada como “modernização”.
Assim, o objectivo do estudo é trazer essa tendência para a luz do dia. Precisamos de maior transparência, precisamos de entender melhor o que está a acontecer, para podermos participar num debate público aberto
sobre o futuro da educação nas nossas sociedades.
Debate que não deve ser sobre a necessidade de reformas, mas sim sobre o tipo de reformas a fazer e a influência das agências internacionais nelas, as quais valendo-se de técnicas e valores do sector privado, introduzem-nos na educação pública, tornando-a num negócio.
1 comentário:
Os malefícios que acarreta a privatização da escola são de há muito conhecidos. Oliveira Salazar, por uma questão de transparência, justiça e equidade, obrigava os meninos dos colégios a realizarem as provas de exames finais em escolas públicas. É certo que nesses tempos entendia-se que as escolas, nomeadamente as industriais e comerciais e os liceus, eram lugares onde os professores ensinavam e os alunos aprendiam, longe de serem armazéns onde se guardam, durante muitas horas por dia, pessoas destinadas a ocuparem postos de trabalho bem remunerados, seja na agricultura, no comércio ou nas fábricas portuguesas . As agências internacionais, que estão por detrás das grandes reformas de “modernização” (quer dizer, destruição) da escola pública, instrumentalizam alguns cientistas da educação que continuamente lançam sobre as escolas, e jardins de infância, desarrazoados documentos orientadores das práticas educativas com que vão conseguindo fazer passar a mensagem de que a escola onde todos os alunos têm notas elevadas, como se verifica nos colégios privados, ricos e corruptos, é a escola do futuro.
Na área da política educativa, Portugal tem autonomia para seguir outro caminho que não o da OCDE?
Não, para mandar é preciso ter dinheiro ou armas nucleares. Nós não temos uma coisa, nem outra. Assim, resta-nos obedecer e estudar filosofia ubuntu.
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