sábado, 15 de outubro de 2022

OBVIAMENTE, DESPEDIU-SE!

Uma professora foi espancada por familiar de aluno, ou por um grupo que se lhe terá juntado para tanto (ver, por exemplo, aqui e aqui). A agressão foi grave, implicou internamento hospitalar. No dia anterior ela teria tentado separar miúdos que brigavam no recreio, fazendo o que está certo: um adulto deve cuidar da segurança das crianças. Parece que um dos miúdos se queixou em casa...

Já conhecemos o guião desta história, igual ou semelhante ao de outras histórias lamentáveis que a precederam.

O Presidente da Câmara destacou bombeiros para vigiar a escola (para sempre?) e o Ministro da Educação manifestou na Assembleia da República “apoio” e “solidariedade” para com a vítima, teve também o cuidado de enviar uma nota às redacções (as "redacções" tornaram-se os megafones da voz de quem pode mandar "notas") onde declara a sua filosofia pacifista: "todos os actos de violência são injustificáveis e inaceitáveis”.  E, tanto quanto sei, por aqui ficou a mais alta intervenção institucional.

A professora tem quarenta anos e era empregada de uma empresa contratada pela Câmara para assegurar as AEC (Actividades de Complemento Curricular). Este estatuto laboral, aliado à idade, constitui por si, uma violência à dignidade humana.

Digo "era" porque a professora, obviamente, despediu-se!

10 comentários:

Alberto disse...

Há uns anos, ainda eu nunca tinha ouvido falar em filosofia ubuntu, mas acho que já era mestre em ensino, embora apenas de uma disciplina clássica, de ciência pura e dura, também "separei", no início da aula, dois adolescentes do "profissional secundário" que tinham começado a brigar no recreio. Um formando (aluno) brasileiro ficou espantado com a minha ação apaziguadora e disse-me que, se fosse no Brasil, o mais provável era que eu também fosse agredido e tudo terminasse com "todo o mundo" à pancada.
Se a barbaridade das agressões, sofridas por uma professora, pouco mais suscitam, por parte do ministro da educação, do que uma declaração frouxa e inconsequente de dizer que "todos os actos de violência são injustificáveis e inaceitáveis”, os professores só podem sentir-se achincalhados.
Um professor humilhado e ofendido não faz sentido, quer dizer deixa de ser professor.

Helena Damião disse...

Evidentemente, caro Alberto, um professor, se o é verdadeiramente, humilhado e ofendido, deixa de ser professor. Há muitas maneiras de humilhar e ofender um professor (ou um outro profissional). Esta maneira é particularmente violenta, pela condição de contratação, pelo acto em si, pela abordagem da tutela. E diria: para a professora em causa e para todos os professores que (ainda) se importam com a educação. Cumprimentos, MHDamião

Anónimo disse...

Para a atitude frouxa e "encolhida" do titular da pasta da Educação, no caso em questão, existe , nos dicionários, uma palavra: COBARDIA. É esta cobardia, aliada a delirantes filosofias da educação, que levaram o ensino e as escolas ao lamentável estado em que se encontram. É essa cobardia que tem impedido de se restituir decisivamente, aos professores, aquilo de que tanto necessitam: autoridade e prestígio. É muito simples, só falta coragem. E, sem coragem, ninguém deve aspirar ao generalato...
Eugénio Lisboa

Helena Damião disse...

A coragem, Professor Eugénio Lisboa, é uma virtude (palavra proscrita no vocabulário "desempoeirado" da "política" educativa) que não pode deixar de estar associada à responsabilidade de educar. Não é qualquer um que educa. Educa quem tem coragem. Acontece que a coragem advém, em grande medida, da consciência de se ser autor (de ter construído "obra", para conduzir outrem a ser autor...) e, por isso, ter autoridade. É impossível educar sem autoridade (institucional e profissional). A autoridade da escola e do professor estão diluídas, logo educar no sistema de ensino público tornou-se (quase) uma impossibilidade.
Cumprimentos, MHDamião

Ildefonso Dias disse...

Não se deve confundir cobardia com generosidade. António Costa é um homem generoso, disso nos assegurou aqui neste blog o professor Galopim de Carvalho, porque o conhece pessoalmente.
É disso que se trata, generosidade, senão entendam-se com o professor Galopim.

Helena Damião disse...

Prezado Leitor, por certo não reparou: no meu texto não há qualquer referência ao Primeiro Ministro do nosso país. MHDamião

Ildefonso Dias disse...

Reparei sim.
Toda a gente ouviu o primeiro ministro, António Costa, dizer que é ele quem escolhe os seus ministros.
É natural que ele os escolha à sua imagem.
Não tem por isso razão nenhuma.
Mais se não fez referência devia tê-lo feito.

Também o professor Galopim de Carvalho deveria desculpar-se não pelo que António Costa fez, faz, ou irá fazer, mas pelo alcance seu engano a respeito da pessoa.

Rui Ferreira disse...

Soubesse a sociedade do que vai, verdadeiramente, na escola... Da pequena (que mina o ato pedagógico) à grande (como esta, muitas vezes ignorada) indisciplina.

Alberto disse...

No âmbito da educação e dos professores, a generosidade de António Costa é tão grande como a do seu avarento ministro da educação que não contabiliza como tempo de trabalho, nem paga, os cinco minutos de intervalo de que os professores necessitam para mudar de sala de aula ou ir à casa de banho!
O ministério da educação tem vindo a subtrair autonomia científica e pedagógica a cada um dos professores, obrigando-o a fazer o papel de um pantomineiro que avalia e classifica positivamente cada um dos seus mais de cem alunos, com base em grelhas excel, onde se introduzem fórmulas matemáticas calibradas com longuíssimas listas de critérios de avaliação e classificação, que abarcam toda a criatividade e todo um rol de competências emotivas e psico-motoras evidenciadas pelos alunos, que devem ser todas registadas por escrito. e por extenso, por forma a que o peso dado aos saberes próprios de cada disciplina seja desprezável.
Para os professores que não se apropriam facilmente destas inovações absurdas, o ministério da educação recomenda formação em filosofia ubuntu.

Ildefonso Dias disse...

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