sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A UM AMIGO QUE PARTE

À memória de Henrique Macedo, excepcional camarada da minha adolescência e, depois, médico brilhante, que acaba de nos deixar.

Como alunos do liceu, descobríamos
a amizade e as grandes leituras:
com o espírito de Wilde, ríamos,
e planeávamos gestas futuras.

O Henrique era muito inteligente
e, magnânimo, não tinha ambições.
Consumia cultura, diligente,
mas ligava muito pouco às lições.

Líamos Huxley e tudo o que vinha
à mão de semear, Martin du Gard,
com tudo aquilo que Paris continha!

A nossa amizade era sem par,
não havendo lugar para a inveja.
E vai durar, onde quer que ele esteja!

Eugénio Lisboa 

Henrique Macedo, que desleixara os estudos liceais, fez, depois, um brilhante curso de medicina, sempre com as classificações mais elevadas, tendo-se tornado um médico excepcional. Isso não o impediu de adquirir uma fenomenal cultura musical, literária e filosófica. Tudo isto servido por um quase criminoso autoapagamento e uma generosidade sem par. Poder agarrar e não agarrar, dizia Montherlant, é gesto de homem, por excelência. Henrique Macedo poderia ter ascendido aos mais altos títulos e prémios e prebendas de toda a espécie. Mas o coração e o feitio não o levavam por aí. Há recusas e silêncios que deixam grande marca no coração de quem os visitou.

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