Com a devida vénia, transcrevemos a crónica de Viriato Soromenho Marques no DN de hoje:
Numa altura em que o País luta pela sua sobrevivência como entidade política, e os cidadãos, aturdidos, procuram sobreviver a um quotidiano de incerteza e instabilidade, seria de esperar que o Governo, independentemente da sua coloração partidária, abrigasse no seu seio um resquício instintivo da defesa do interesse nacional. O que se sabe sobre o modo como a política de ciência está a ser conduzida mostra, contudo, que essa esperança é vã e infundada. O ministério tutelado por Nuno Crato, através da FCT, ultrapassou todos os limites do razoável na avaliação dos 322 centros de investigação nacionais. Em nome da "imparcialidade", confiou a avaliação, exclusivamente, a peritos estrangeiros. A presença de avaliadores internacionais é prática universal, correta e corrente, mas alguém pode imaginar que, por exemplo, um Centro de Literatura Alemã, da Universidade Livre de Berlim, aceitasse ser avaliado por três peritos estrangeiros que nem sequer soubessem dizer "bom dia" em alemão, que desconhecessem o contexto cultural e institucional do país, tratando a cultura alemã com desprezo paternalista? Pois, foi essa a regra provinciana praticada pela FCT. Sabemos, também, que a FCT colocou no contrato com os avaliadores a exigência de que, na primeira fase do processo, metade dos centros fosse excluída, o que equivale a uma condenação à morte ou à indigência. Trata-se de uma decisão política deste governo. Não se prende com a troika nem com a austeridade. Tem implicações catastróficas para uma das poucas políticas públicas conseguidas pela III República. É um elitismo que mascara a profunda e dolosa ignorância de quem neste momento utiliza a "solução final" como modelo para o futuro da ciência em Portugal. É um caminho sem reforma possível. Tem de ser travado.
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