Artigo de Miguel Copetto no Diário Económico de ontem:
O
actual Governo tem sido verdadeiramente decepcionante na pasta da Educação. E
não é tanto, como eventualmente se poderia pensar, por Nuno Crato não ter
implodido, até agora, o Ministério da Educação, como sugerira antes de ser
ministro. Prende-se com questões sérias, substantivas e de ausência de projecto
de política educativa estruturante, articulada e harmoniosa de todo o percurso
escolar.
Se
no âmbito do ensino superior a “política” se tem traduzido numa amálgama de
ideias, sem profundidade, antigas e corporativas, já no que respeita ao ensino
profissional o recentemente aprovado regime jurídico espelha uma ideologia
confrangedora.
Dois exemplos:
Dois exemplos:
(1)
As novas atribuições das escolas profissionais são descritas como centros propiciadores
de uma formação geral, científica, tecnológica e prática, tendo em vista o
exercício profissional qualificado. Ou seja, a função destas escolas é,
somente, fornecer aos alunos um ensino escolar e profissional, prático em
contexto de trabalho, com o envolvimento das empresas nessa formação e no apoio
à transição para o mercado de trabalho. Porém, ainda que seja admissível o
exposto, a verdade é que, tratando-se do regime de um diploma estruturante, o
afunilamento da formação unicamente naquela perspectiva, e servindo apenas aqueles
objectivos, é verdadeiramente míope tendo em vista a formação integral dos jovens.
Note-se que ao longo do diploma não existe uma única palavra sobre formação
cívica ou cultural, como se apenas houvesse interesse em instruir robôs para
optimizar os recursos disponíveis. É certo que quando se tem uma visão em casta
da sociedade não se considera importante valorizar culturalmente o cidadão, uma
vez que é visto como uma unidade, uma ferramenta, um robô.
(2)
Enuncia-se como uma das competências do órgão de direcção pedagógica da escola
profissional “conceber e formular, sob orientação da entidade proprietária, o
projecto educativo da escola”. Mas, o projecto educativo não pertence à
entidade proprietária que, arriscando dinheiro seu, idealiza um projecto
alternativo ao modelo do Estado, com outra missão, valores e princípios? Só uma
visão estreita de funcionário sem mundo, que nunca arriscou o seu próprio
capital, pode conceber que o proprietário entre “apenas” com o capital e os seus
“funcionários” é que concebem e formulam o projecto.
As
escolas profissionais se não forem consideradas como espaços orientados para a
criação, transmissão e difusão da cultura, do conhecimento e do saber fazer de
natureza profissional dificilmente poderão ser pólos responsáveis por uma
formação pessoal integral que dignifique o ensino tecnológico, artístico e
profissional.
Miguel Copetto
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