Na continuação de texto anterior, acrescento que a declaração da ineficácia da Área de projecto teria sido um excelente pretexto para se debaterem abertamente na sociedade portuguesa as razões susceptíveis de justificar essa mesma declaração. Isto porque os pressupostos (muito discutíveis) que permitiram a introdução desta área no currículo do Ensino Básico e do Ensino Secundário, e que, afinal, contribuíram para a sua retirada, continuam vigentes.
Aponto, de seguida, algumas das perguntas que esses pressuposto suscitam e que, mais tarde ou mais cedo, terão de ter respostas inequívocas, o que, aliás, não seria muito difícil se se recorresse ao conhecimento pedagógico disponível:
- a abordagem multi e interdisciplinaridade (que requer a articulação de saberes de diversas áreas disciplinares e não disciplinares) tem vantagens em relação à abordagem disciplinar?
- na selecção do que se elege para (ensinar e) aprender, deve decorrer, em primeira instância, das necessidades e interesses dos alunos?
- para aprenderem, os alunos devem ser confrontados com problemas ou temas de preferência complexos?
- os problemas ou temas (complexos e derivados das necessidades e os interesses dos alunos) devem ser reais, e emergentes do contexto ambiental, social ou outros?
- as propostas de aprendizagem devem ser (sempre) negociadas com os alunos?
- será atribuição dos alunos a (colaboração na) concepção de instrumentos adequados para a avaliação individual e de grupo ao longo do processo, mas também do produto final?
- devem os alunos (participar na) elaboração de regras de convivência e na tomada de decisões acerca dos aspectos relacionados com a vida na turma?
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8 comentários:
Excelentes questões. A escola não é uma Assembleia da República do tempo do PREC. A escola é um local de trabalho, onde se transmite o conhecimento e a cultura conquistas pelas gerações anteriores. Os professores não são ideólogos de esquerda ou de direita e os alunos não são adultos em miniatura e cobaias de experimentalismos doutrinários.
Concordo totalmente! A escola é um local de trabalho.
Quanto à segunda questão digo: em matéria de área de projecto é uma pena não fazer depender a sua existência da manifestação do interesse dos alunos, caso em que, estou convicto, acabava depressa... Acrescento, no entanto, que isto não invalidada o pressuposto e a pertinência da pergunta.
Aliás, todas as perguntas estão excelentemente colocadas. E a resposta para algumas delas, como a última, está na ponta da língua de alguns especialistas. Quem duvidar que pergunte ao Dr Daniel Sampaio. E os resultados são os que (des)conhecemos...
Já agora mais um pequeno apontamento: vejo que não sou o único a falar de "questões" e "perguntas". É que em matéria de exames estas palavras estão a ficar arcaicas. Agora os alunos respondem a "itens". Não é muito mais giro?...
A Área de Projecto continua a ser disciplina não curricular em muitas escolas, como por exemplo na minha, no 3º ciclo. Ou seja, para além de todos os absurdos e mais alguns, mais um para a lista: as leis não são aplicadas em todo o país.
O quê? "fazer depender a sua existência da manifestação do interesse dos alunos"? Escola opcional? Então não iam escolher Física nem Matemática! Nem inglês, nem nada.
Que comentários mais inapropriados e desenraizados sobre o nosso sistema educativo! Ninguém percebe afinal o que é e para que serve ou poderia servir o trabalho de projecto mas falam muito sobre isso. Leiam um pouco antes de escrever.
Não, não penso, nunca pensei, e julgo não vir a pensar que o que se ensina se deva fazer depender da manifestação do interesse dos alunos. Mas abria uma excepção para a extra-ordinária (escrevi assim de propósito) área de projecto. Porquê? Porque estou no ensino há décadas e desde longas actas, por exemplo com cinquenta e cinco páginas, correspondentes a conselhos pedagógicos desdobrados em várias sessões de várias horas, para analisar recursos de tão afamada área não disciplinar, até idas a tribunal (como testemunha...) por causa de bagunças ocorridas com a área de projecto, consequência da obrigatoriedade de respeitar as escolhas dos alunos, até professores que nas aulas só contemplavam aspectos formais dos projectos a realizar, que os alunos insistiam em executar em casa, onde o professor se dirigiu com o intuito de ver os alunos a fazer tais trabalhos, sem que lhe abrissem a porta, tendo porém esses trabalhos aparecidos muito bonitos e acabadinhos na altura própria..., fui vendo (testemunhando) de tudo um pouco.
De tal sorte que muitos, mesmo intra-muros das escolas, lhe chamam "área dejecto".
Esses, como eu, devem ser uns grandes desenraizados. E, seguramente, lemos pouco, sobretudo literatura que não (nos) interessa. E, tal como a realidade que vivemos e nos envolve, estamos provavelmente errados. Porque a realidade é assim, por vezes está errada, e não se comporta de acordo com os ditames de alguns - os que sabem como deveria ser a realidade - mas que não demonstram como se faz, fazendo. Nem sequer dão a cara pelo que afirmam.
Pronto, por uma vez sem exemplo condescendi, que vozes anónimas não merecem a minha consideração.
"Esses, como eu, devem ser uns grandes desenraizados. E, seguramente, lemos pouco, sobretudo literatura que não (nos) interessa. E, tal como a realidade que vivemos e nos envolve, estamos provavelmente errados. Porque a realidade é assim, por vezes está errada, e não se comporta de acordo com os ditames de alguns"
Excelente, simplesmente excelente, caro José Batista da Ascenção. Os defensores do status quo, que vivem na nuvem de Oort, estão sempre a caluniar quem com eles não concorda. Apelidam-nos de ignorantes, salazarentos, anti-democráticos, etc., etc., porque, supostamente, não leram os versículos e os mandamentos da sua Bíblia Sagrada. O problema é que esquecem que todos os professores foram OBRIGADOS a ler e a estudar em comunhão a Bíblia Sagrada do eduquês e de muitos de seus derivados durante, pelo menos, DOIS ANOS lectivos. E o principal problema deles é o facto de a realidade teimar em ser diferente daquilo que apregoam...
No comentário que fiz anteriormente,onde se lê "tendo porém esses trabalhos aparecidos", aparecidos está erradamente no plural...
A Fartinho da Silva: é bom saber que que não estamos sozinhos, e que há (muito) quem queira manter os pés assentes na Terra e que não se demite de afirmar o que honestamente não pode deixar de ser afirmado. Obrigado.
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