O nosso habitual destaque à coluna "Estranho Quotidiano" de J.L. Pio de Abreu no "Destak":
Aristóteles chamava topoi ou "lugares comuns" a algumas verdades aceites que orientam os nossos argumentos e as escolhas do dia a dia. Apesar de tudo, tais verdades podiam ser discutidas. Um exemplo, é a ideia de que se deve preferir um bem mais duradouro àquele que é menos duradouro. È fácil reconhecer que essa opinião orientou, desde sempre, as nossas escolhas.
Chegou, porém, o momento de pôr em causa este lugar comum. Se eu escolher um bem que perdure, vou-me ver a braços com problemas de compatibilidade e actualização. Num computador com mais de dois anos não posso já instalar os programas actuais e talvez não tenha possibilidade de utilizar alguns periféricos. Um automóvel com mais de cinco anos não pode beneficiar dos sistemas de segurança a que nos vamos habituando. Até as velhas televisões vão ficar obsoletas com o advento do digital. Melhor teria sido preferir coisas menos duradouras às que o eram mais.
De facto, os bens que hoje se adquirem já duram cada vez menos. Fica mais caro (e às vezes é impossível) consertar um electrodoméstico do que comprar um novo. É a época do efémero. Até os topoi, que sobreviveram desde Aristóteles, perdem hoje a sua validade. E, para alem dos topoi, as ideias e ideais que ontem faziam sentido deixaram de o fazer. Tal como os electrodomésticos, as ideias são agora efémeras, sem passado nem futuro. Deixaremos então de as ter? De modo algum! As ideias do presente são diariamente fornecidas pelos meios informativos que nos cercam. Assim, até nos poupam o esforço de pensar.
J. L. Pio de Abreu
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
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3 comentários:
Há quem defenda (ÁLVARO D'ORS) que um governo é tanto melhor quanto mais tempo dura, indo ao ponto de compará-lo com um par de sapatos.
E doutor "honoris causa" pela Faculdade de Direito conimbricense. Ele lá sabia. Por mim... "não vou por aí". Com efeito,
Se a duração é critério
de qualidade, teremos
de aceitar o despautério
do governo que nós temos.
Por idêntica razão,
que é talvez a voz do povo,
não há que ter aversão
ao chamado Estado Novo!
Nem tudo o que permanece
o nosso apoio merece,
pois o mal é tão pior
quanto mais longo ele for.
Sobre isto creio que não
pode haver contestação.
JCN
à espera do mais moderno
ninguém compraria nada
a vida virava inferno
eternamente adiada
economia estagnada
como é o caso hodierno
bancarrota anunciada
antes do próximo Inverno
as minhas duas quadras seriam politicamente difíceis de engolir.
Só a primeira,sem a segunda, seria um razoável apelo ao consumo. Um sorriso na boca da situação
:
à espera do mais moderno
ninguém compraria nada
a vida virava inferno
eternamente adiada
abraço a vocs
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