terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Investigação em Medicina Translacional

Nova crónica do bioquímico António Piedade, publicada antes em "O Despertar" (legenda do cartoon: "Sim, nós fabricamos medicamentos exclusivos, orientados individualmente, mas não para a indigestão.":

Após um ano de translação à volta do Sol, o nosso planeta Terra está de novo na mesma posição relativa ao astro-rei e, por estes dias, mais precisamente a 3 de Janeiro, o mais próximo dele (o periélio terrestre).

Também por estes dias, faz agora um ano terrestre, emergiu do prelo uma nova publicação científica, periódica, dedicada à divulgação do desenvolvimento em Investigação Translacional. A revista tem por nome “American Journal of Translational Research” e o seu primeiro número saiu em Janeiro de 2009 (aqui).

Se saliento este acontecimento editorial no ano que agora findou, é porque esta nova metodologia de investigação clínica, designada por “translacional”, vem dar corpo a uma nova visão para as ciências médicas e da vida no século XXI: a de que a investigação bioquímica sobre a natureza molecular das doenças e sobre as estratégias terapêuticas que resultam desse conhecimento deve “saltar” da bancada do laboratório para o indivíduo doente e vice-versa. Por outras palavras, pretende-se com esta disciplina emergente, optimizar a comunicação entre a ciência básica, fundamental, e a clínica médica, necessária.

De facto, estamos a assistir á “molecularização” das doenças. Um bom exemplo e bem actual desta actividade, é o da produção da vacina contra o vírus H1N1: a rapidez com que foi desenvolvida causou estranheza até aos mais avisados, exactamente porque, na generalidade, não estamos familiarizados com os actuais métodos de desenvolvimento e produção de medicamento, que se “vulgarizaram” nos laboratórios nas últimas e recentes translações terrestres. Saltando por cima da impossibilidade de se efectuarem, em tão pouco tempo, estudos epidemiológicos (que normalmente demoram anos) sobre a nova gripe, a vacina surge, aparentemente, quase que a pedido de quem dela necessita (não me estou a referir ao acesso à vacina, bem entendido).

O entendimento bioquímico da expressão da biodiversidade da vida, na unicidade que cada um de nós é, está a lavrar o terreno das ciências da vida para o desenvolvimento de terapias dedicadas à arquitectura anatómica e fisiológica específica a cada indivíduo. Esta seta (que é também a do tempo) do desenvolvimento está a propulsionar as ciências da vida para uma translação, em intervalos de tempo cada vez menores, de conhecimentos em aplicações úteis para as dores que nos afligem.

Reflexo desta agitação foi também o lançamento, em Outubro último, de uma outra revista científica, de periodicidade semanal, sobre Medicina Translacional, publicada pelo grupo editorial da afamada revista Science, com o título Science Translational Medicine. A propósito deste acontecimento, pode ser visto e ouvido o seguinte vídeo promocional no YouTube: aqui.

Quero referir que estas não são as únicas publicações que hoje existem sobre investigação e medicina translacional (ver aqui).

Voltarei a este assunto, não só pela importância desta nova disciplina para a saúde pública, mas principalmente pela ruptura paradigmática e metodológica que ela significa para a milenária Medicina.

1 comentário:

joão boaventura disse...

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