terça-feira, 19 de janeiro de 2010
LIVROS DE ESPANHA
De uma viagem recente a Espanha trouxe, entre outros, três livros que me despertaram a atenção:
- Jean Dumont, "Juicio a la Inquisición Española", Madrid: Encuentro, 2009 (tradução espanhola da segunda edição francesa, actualizada e comentada: "Procès contradictoire de l´Inquisition espagnole", com a primeira edição saída em 2000).
O autor, historiador e jurista, hispanista, propõe-se uma tarefa historiográfica original: desmontar o que há de mito na Inquisição. Habituados como estamos a considerar a conceber esta instituição como símbolo do obscurantismo e da crueldade, podemos esquecer que mesmo os suspeitos dos maiores crimes têm o direito a ser defendidos. Por estranho que pareça, o autor pretende "dar uma oportunidade de defesa à acusada".
- José António Marina e María Teresa Rodríguez de Castro, "La Conspiración de las lectoras", Barcelona: Anagrama, 2009.
O conhecido filósofo espanhol, que tem alguns livros em português (por exemplo, "Teoria da inteligência criadora"), apresenta-nos, em conjunto com uma jurista, uma história de um clube de mulheres, o "Lyceum Clube Feminino", que existiu em Madrid entre 1926 e 1936 e que "conspirava para adiantar o relógio de Espanha". Conforme vem na contracapa, essas notáveis mulheres "pensaram que as fracturas provocadas pelas ideologias políticas e religiosas podiam superar-se mediante a instrução. A história do seu fracasso é comovedora e instrutiva".
- Michel Onfray, "Las sabidurias de la antigüedad. Contrahistoria de la filosofia, I". Barcelona: Anagrama, 2007. (Tradução do original francês de 2006 "Les sagesses antiques").
Onfray, o filósofo também traduzido entre nós ("Tratado de Ateologia"), é autor de um "projecto hedonista ético". Este é o primeiro volume de uma história alternativa da filosofia, que em vez de valorizar Platão, S. Paulo, S. Agostinho, ressuscita "agnósticos, libertinos, dionísiocos e heréticos, espíritos livres e outros iluminados". Sim, Lucrécio, o autor do "Rerum Natura" está neste livro abundantemente tratado.
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7 comentários:
gosto imenso do marina
CRIMES DE OPINIÃO
Vem do fundo dos tempos um clamor,
de todos os quadrantes do universo,
contra o poder despótico, perverso,
que encheu a humanidade de pavor:
gritos de sofrimento nas fogueiras
ateadas pela Santa Inquisição,
gente de bem metida na prisão,
execuções sem culpas verdadeiras.
Quando passeio os olhos da memória
pelas vilezas de que fala a história,
um sentimento de asco me domina.
Perante os crimes que o poder inventa,
não há sabão, lexívia ou água benta
que lave a mão que as mentes assassina!
JOÃO DE CASTRO NUNES
CINISMO OU IRONIA?
Sem pôr em causa a sua "santidade",
nunca existiu maior contradição
que a praticada pela Inquisição
durante toda a sua actividade.
Sem admitir qualquer diversidade
em matéria de fé, de opinião,
à sombra do espírito cristão
encheu de sofrimento a humanidade.
Lembremo-nos que foi por cometer
um desses "crimes", sem se desdizer,
que Jesus Cristo foi crucificado.
Perante o tribunal dos Fariseus,
por deles divergir, foi acusado
de horrendo crime de bradar aos céus!
JOÃO DE CASTRO NUNES
FAZER O MAL... POR BEM
Por excesso de zelo ou calculismo
- quem poderá fazer a distinção -
encheu-se o céu de santos por acção
de um falso e diabólico humanismo.
Nas chamas que ateou a Inquisição
a fim de combater o judaísmo
e limpar de erros o catolicismo
houve quem alcançasse a remissão.
Fosse cinismo ou pura crueldade
ou simplesmente assomos de vaidade,
o mal em si não conheceu fronteiras.
No juízo de Deus, provavelmente,
quantos hereges mortos nas fogueiras
ganho terão de santos a patente!
JOÃO DE CASTRO NUNES
CINZAS DO MAL
A muito custo, ao fim de imensa dor,
livrámo-nos da Santa Inquisição
e mais recentemente do terror
dos campos ditos de concentração.
Tirando algumas poucas excepções,
livrou-se o ser humano da tortura
e das maciças exterminações
de povos por motivos de cultura.
Presentemente reina a liberdade
em quase todo o mundo por virtude
de um geral mudança de atitude.
O que intimida ainda a humanidade
são nos confusos tempos actuais
as pequeninas "soluções finais"!
JOÃO DE CAS TRO NUNES
IMPOSIÇÃO
Paira nos céus de Portugal ainda,
frente a Castela, dentro de fronteiras,
o grito lancinante das fogueiras
de quantos estiveram na berlinda!
Não foram só judeus nem cristãos-novos,
relapsos, renitentes, contumazes,
que nas chamas ardentes e vorazes
foram queimados nos diversos povos.
Também os cristãos-velho por suspeita
de heréticos, colhidos de surpresa,
tiveram sorte igual à dita seita.
Imposta por Espanha a Portugal
a introdução da inquisição-geral,
como sofreu a alma portuguesa!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Altero o 8º verso para:
"foram queimados como em outros povos."
Obrigado. JCN
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