domingo, 24 de janeiro de 2010

DEUS E O TERRAMOTO


James Wood escreve sobre Deus e o terramoto no "New York Times" de hoje:

Começa assim:

"In the 18th century, the genre of “earthquake sermon” was good business. Two small shocks in London, in 1750, sent the preachers to their pulpits and pamphlets. The bishop of London blamed Londoners’ lewd behavior; the bishop of Oxford argued that God had woven into his grand design certain incidents to alarm us and shake us out of our sin. In Bloomsbury, the Rev. Dr. William Stukeley preached that earthquakes are favored by God as the ultimate sign of his wrathful intervention.

Five years later, when Lisbon was all but demolished by an enormous earthquake, the unholy refrain was heard again — one preacher even argued that the people of Lisbon had been relatively fortunate, for God had spared more people than he had killed. It was the Lisbon earthquake that prompted Voltaire to attack Leibniz’s metaphysical optimism, in which all is for the best in the best of all possible worlds. Theodicy, which is the justification of God’s good government of the world in the face of evil and pain, was suddenly harder to practice. But the preachers kept at it. “There is no divine visitation which is likely to have so general an influence upon sinners as an earthquake,” wrote the founder of Methodism, John Wesley, in 1777."


Ver o resto aqui.

8 comentários:

Carlos Silva disse...

Nunca é demais repetir que o Voltaire não percebeu nada do Leibniz. Este ser o "melhor dos mundo possíveis" não significa que este seja um mundo perfeito, isto é, um mundo onde não ocorram desgraças. Se assim fosse, então este não seria o "melhor dos possíveis", mas o necessário.

Manuel de Castro Nunes disse...

Está bem, rendo-me, vamos procurar a raiz transcendental de um terramoto, o melhor possível, o melhor ou o pior necessário, uma gota de água comparado com a azia do Bispo de Placência, a ira do Bom Deus, o diabo sem máscara, graças ao Senhor (Lord) que nos poupou a nós... quando o mundo acabar até é possível que eu permaneça, se me recolher no recato da Casa Branca.
A falta que cada vez mais faz aos homens a filosofia... mas quando enfrentamos de súbito o caos, honra aos que arregaçam as mangas e estão presentes. E não desafiemos a cólera da nossa consciência com piedade de nós.
E, se sobrevivermos, não entoemos louvores ao Senhor (Lord), nem interroguemos «l'hasard».
Mas, perdoem-me, já estava exaltado... A intenção era render-me e cantar um Te Deum com os sobreviventes. Não há nada a fazer contra o júbilo dos que sobrevivem.

Ricardo disse...

Caro Carlos Silva:

Vai-me perdoar, mas discordo completamente da afirmação "o Voltaire não percebeu nada do Leibniz". O que Leibniz afirmou foi que, de todos os Mundos possíveis, Deus havia escolhido o melhor. Isto para conciliar duas ideias: a benevolência e a omnipotência de Deus. Assim, o papel de Deus fora gerar todas as combinações de causas e efeitos, todos os estados possíveis do sistema dinâmico do Mundo, e escolhido aquele que gerava menor mal. O corolário disto não é que o Mundo que temos seja sem desgraça, é que todas as desgraças acontecem por algum bem maior que, no fim de tudo e feitas as contas, compensará o mal que os Mundos alternativos fariam.

O que Voltaire quis colocar a nú foi que é absurdo achar-se que este é o melhor dos Mundos possíveis dada a quantidade de sofrimento inútil e desgraças sem sentido. Voltaire entendeu perfeitamente. E aquilo que Leibniz afirma, e que Voltaire ironiza, é aquela forma de pseudo-optimismo que não passa de estupidez. É o ficarmos contentes perante a desolação dos outros só porque poderíamos estar todos muito pior. E nem poderíamos estar pior na realidade - apenas num outro qualquer Mundo concebível que uma dividade abstracta concebeu e recusou. Este ser o melhor dos Mundos não se pode avaliar com hipóteses abstractas sobre outros rumos e outras combinações de factores que não sejam reais e verosímeis.

O que Leibniz faz é um resgatar de preceitos teológicos injustificados. O que Voltaire faz é mostrar o sem-sentido usando da ironia. Mas porque no "Cândido" Voltaire caricatura a posição de Leibniz exagerando-lhe os traços, como qualquer obra humorística pede, não significa de todo que ele não entendeu. Muito menos que ele não entendeu nada.

Manuel de Castro Nunes disse...

Bem expresso, Caro Ricardo. Já não me rendo. Obrigado.

Carlos Silva disse...

Caro Ricardo:

O melhor dos mundo possíveis em Leibniz é aquele em que, de entre a totalidade de mundos possíveis, produz o maior números de eventos compossíveis requerendo com o mínimo de acção. O Deus de Leibniz é um Deus racional, e a sua infinita bondade foi a de nos dar precisamente essa faculdade: a da razão. E, é por essa mesma razão, que o melhor dos mundos possíveis é aquele que é "mais" racional, é o de maior harmonia.

Não, efectivamente, o Voltaire não percebeu o Leibniz. Aliás, essa é uma história tão velha como bem conhecida.

Ricardo disse...

Eu sei tudo isso - aliás, nada do que o Carlos diz contradiz o que eu disse. E ainda assim isso não implica que o Pangloss seja uma má interpretação do Leibniz. Aliás, a personagem do doutor Pangloss seria sempre, no mínimo, a demonstração de como é vazia uma certa filosofia que acha plausível dizer coisas como o Carlos refere, e que caracterizam muito bem Leibniz. É a vacuidade metafísica a querer pronunciar-se sobre o Mundo real. Voltaire não ter entendido? Caro Carlos, não me leve a mal, mas ele entendeu bem demais. Há histórias que se popularizam por serem referidas frequentemente, como essa do Voltaire não ter entendido. Mas porque uma história é "velha e bem conhecida" não significa que seja verdade.

Carlos Silva disse...

Caro Ricardo:

"Mas porque uma história é "velha e bem conhecida" não significa que seja verdade"

É certo. Tal como é certo que aquilo que nos divide é uma certa interpretação do que o Voltaire terá percebido do Leibniz. Seja como for, e até pelas razões que já avançou, que "Voltaire to attack Leibniz’s metaphysical optimism" é uma afirmação disparatada. Tal como tem sido muitas vezes disparatada a forma como têm sido neste blog tratada a relação entre Deus e a Ciência. Disparate esse que se queria neste post repetir, ainda por cima, às custas de Leibniz, onde - como já se disse - Deus se concebe como garante da racionalidade do Mundo, como garante da própria Ciência. O optimismo metafísico de Leibniz é, precisamente, de que a Ciência é possível.

Carlos Santos disse...

Caro Ricardo:

Só mais uma nota: "É a vacuidade metafísica a querer pronunciar-se sobre o Mundo real."

Como bem deve saber, da possibilidade de se falar de um Mundo real, ou da possibilidade que sobre este seja possível haver algum enunciado, tratam a metafísica. Ela está lá sempre, mesmo quando julgamos que ela só nos leva a ilusões transcendentais.

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