sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sobre o ensino da Matemática


Jaime Carvalho Silva (na foto), professor do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, acaba de assumir as funções de Secretário-Geral da ICMI - Comissão Internacional para a Instrução da Matemática, a maior associação mundial dedicada ao ensino dessa disciplina. O De Rerum Natura fez-lhe três perguntas, às quais ele respondeu prontamente:

DRN- Há povos com mais aptidão para aprender matemática do que outros?

JCS- A História da Matemática prova que não, a realidade actual prova que não. Portugal já foi um grande centro científico e matemático no tempo dos Descobrimentos, já teve um dos melhores matemáticos da sua época (Pedro Nunes) que escreveu um dos melhores livros de Álgebra para o ensino. No tempo dos descobrimentos Portugal conseguiu formar pilotos, cartógrafos, etc. de forma eficaz de modo a fazer as inéditas (e frutuosas) viagens de forma minimamente sustentada (os nossos navegantes "não iam a acertar", diz Pedro Nunes, "mas partiam os seus mareantes mui ensinados e providos de instrumentos e regras de Astrologia e Geometria"). Em todos os países encontramos escolas que são bem cotadas, alunos brilhantes (que, por exemplo, ganham Olimpíadas científicas) mas também encontramos casos desesperados, escolas que não funcionam, são fechadas, são totalmente modificadas. Não há desculpa genética, social ou cultural para impedir progressos no ensino ou aprendizagem da Matemática.

DRN- São semelhantes os problemas do ensino da Matemática em Portugal e noutros países?

JCS- Muitos problemas são semelhantes. Há uma grande semelhança com os países latinos, por exemplo, mas há problemas que são mais ou menos universais: o problema da formação inicial e contínua de professores, o recrutamento de professores, a falta de professores qualificados (sempre houve em Portugal e a situação vai-se agravar nos próximos anos por deficiente planeamento), a integração das tecnologias na escola, o ensino da Geometria no equilíbrio entre a dedução e a experiência, o aparecimento em força no ensino de áreas antes praticamente ausentes como as Probabilidades e a Estatística, a avaliação dos conhecimentos e capacidades em Matemática, a dualidade teoria/aplicações na sala de aula, etc.

DRN- Qual é o maior problema em Portugal? Se só pudesse fazer uma coisa para melhorar o nosso ensino o que faria?

JCS- O maior problema é não encararmos a nossa realidade de forma integrada e sem esquecer nenhum elemento relevante do sistema educativo, desde o ensino pré-escolar à formação inicial e contínua de professores. Se só pudesse fazer uma coisa não fazia nada; uma medida que não seja acompanhada de outras que a complementem e viabilizem não pode ser eficaz e, pelo contrário, vai causar perturbações no sistema educativo que ainda o colocam num patamar pior do que estava anteriormente. O sistema não melhora com medidas singulares supostamente milagrosas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quem marca pontos são os defensores do eduquês.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...