domingo, 10 de janeiro de 2010

Seriedade e divertimento

Tenho percebido que uma ideia errada, mas muito generalizada, acerca da pedagogia é a seguinte: a investigação que se faz nesta área pouco ou nada tem a ver com a investigação que se faz em áreas "mais duras", como a biologia ou a química.

Bom, partindo do princípio de que há pressupostos e modos de fazer ciência que estão presentes em todas as disciplinas que se apresentam como científicas e, nessa medida, as unem, (apesar desses pressupostos e modos terem evoluído e certamente continuarem a evoluir), percebe-se que a pedagogia não pode deixar de os reconhecer e aceitar. Isto independentemente da especificidade de trabalho de que cada disciplina necessita em função do seu objecto.

Por exemplo, a seriedade e o divertimento fazem parte de toda a actividade científica e, em consequência, da vida das pessoas que querem chegar à verdade objectiva, independentemente de se situarem nas ciências fisicas e naturais ou nas ciências sociais e humanas.

Para sublinhar esta ideia reproduzo um texto de R. J. Shavelson (na imagem), da Escola de Educação da Universidade de Stanford, Califórnia, em cuja vasta obra se evidencia uma análise epistemológica da pedagogia muito interessante

“De certo modo, podemos dizer que os investigadores funcionam como crianças, apesar de não o admitirem. As perguntam de investigação estão como os puzzles, ou ganhar jogos quando estão a planear uma investigação e a procurar respostas às suas perguntas? E a maior parte diverte-se tanto a investigar como as crianças a jogar.

Mas como a ética do trabalho nos diz que não devemos estar a divertir-nos, estamos a trabalhar e como alguns investigadores têm medo de ser vistos como crianças, os livros e os artigos de investigação tendem a ser muito formais. Não quero com isto dizer que as perguntas que os investigadores se colocam não valham mais do que jogos de palavras, ou que as respostas que um estudo empírico nos fornece não sejam mais do que ganhar ao Monopólio.

Problemas como o do impacto de determinadas práticas pedagógicas no insucesso escolar são questões muito sérias que necessitam da resposta mais correcta possível (...). Esta resposta exige cuidado, seriedade, precisão e empenhamento, mas não exclui o divertimento.”
Referência completa:
- Shavelson, R.J. (1988. 2.ª edição). Statistical reasoning for the behavioral sciences. Boston: Allyn & Bacon.

2 comentários:

Anónimo disse...

Investigar a brincar
nada impede que se faça:
a verdade esquadrinhar
pode fazer-se com graça!

JCN

Carlos Santos disse...

"há pressupostos e modos de fazer ciência que estão presentes em todas as disciplinas que se apresentam como científicas e, nessa medida, as unem"

Poderia explicar ou, pelo menos, mencionar que pressupostos e modos são esses? Pressupostos e modos que são do "fazer ciência".

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...