quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Manhosos, manhosos, manhosos, e mais manhosos
Este ano passam 40 anos sobre a morte de Almada Negreiros (ainda me lembro de o ver numa entrevista no programa "Zip-Zip" da RTP). Ora leia-se esta sua intervenção de 1933 e veja-se se o pintor, poeta e publicista perdeu a actualidade:
"Há, sim senhor!
Há um Portugal sério, um Portugal que trabalha, que estuda; curioso, atento e honrado! Há um Portugal verdadeiro que não perde o seu tempo com inimigos fantásticos e cujo único desejo é apenas e grandemente ser Ele próprio! Há um Portugal, o único que deve haver e que afinal é o único que não anda por causa dos vários Portugais inventados de todos os lados de Portugal! Há um Portugal profissionalista, civil e insubornável! Há, sim senhores! Mas entretanto...
Entretanto, a nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos, e de mais manhosos. E numa terra de manhosos não se pode chegar senão a falsos prestígios. É o que há mais agora por aí em Portugal: os falsos prestígios. E vai-se dizer de quem é a culpa de haver manhosos e falsos prestígios: a culpa é nossa, e só nossa!"
José de Almada Negreiros, In Diário de Lisboa de 3 de Novembro de 1933
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9 comentários:
O manhoso-mor... bem se governou com o Estado Novo! JCN
Chama de manhoso ao Almada? E, no entanto, a palavra "manhoso" assenta tão bem - principalmente nas costas - ao autor deste post.
Para Almada a palavra futurista sempre foi libertação.Leia-se Manifesto às Gerações Futuras e ouça-se a voz de Mário Viegas que sentimos uma chama vitalista. Ou então Álvaro de Campos. Talvez nos falte,actualmente, esse sentido vitalista
Cantigas de arroz pardo, como se diz entre os beirões! Com o mesmo sentido dizem os castelhanos: paparruchas! JCN
Parafraseando o Prof. Carvalho Homem, eu diria que a História continuamente se está a repetir, porque no fundo todos nós, Manhoso-mor à parte, somos uns manhosos macacos de repetição. JCN
Por confusão com relógios, saiu-me "macacos de repetição" em vez de "macacos de imitação". Confusão de narizes. Baralhando e tornando a dar, ficaria; "relógios de repetição". Não é disso que se trata? JCN
Almada Negreiros passou do poeta do futurismo, do manifesto para artista do regime, creio que por necessidades de sobrevivência, quando se tem que comer, meia dúzia de filhos, etc..
Agora a questão dos manhosos é que neste país a maior parte das pessoas querem viver à custa dos outros, normalmente do estado, de preferência sem trabalharem!
Chamem-lhes tolos! JCN
A razão do estômago não abona nada a favor do carácter de Almada Negreiros. Antes fosse outra, que certamente terá sido! JCN
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