sábado, 6 de setembro de 2008

JOSÉ MORAIS E O CONSTRUTIVISMO


Muito em breve, com um colóquio internacional em Bruxelas, vai haver uma homenagem ao psicólogo português José Morais, que por razões políticas deixou Portugal em 1968, se tornou professor de Psicologia Cognitiva na Universidade Livre de Bruxelas (e director do Laboratório de Psicologia Experimental da mesma Universidade) e que agora se vai reformar. Especialista na psicologia da leitura, ele é autor de vários livros, nomeadamente o aclamado "A Arte de Ler", mas também alguns títulos de ficção:

- L’Art de Lire, Odile Jacob, 1994 (traduções brasileira, portuguesa e espanhola, respectivamente em 1995, 1996 e 1998)
- Gigi e Mister J, Livros & Leituras, 2000.
- A Beleza e a Felicidade
, Campo das Letras, 2003.
- Em co-autoria com Régine Kolinsky:
A Última Metamorfose de Zeus, Gradiva, 2005.

O programa do colóquio pode ser visto aqui.

É pena que a sua experiência e sabedoria não tenha sido aproveitada pelo governo brasileiro. Eis o que diz sobre o construtivismo, uma doutrina datada que ainda domina o pensamento educativo oficial no Brasil... e em Portugal, numa entrevista publicada aqui.

"(...) No Brasil há uma espécie de imperialismo de uma corrente que se chama construtivista e que tem pouco conhecimento científico. Na verdade, se funda em teorias que foram importantes numa época, mas que atualmente perderam a importância porque o trabalho experimental mostrou que na realidade não tem essa importância que se julgava. Eu acredito nos fatos, nos dados experimentais quando são bem construídos, e portanto, bem analisados. Eu desconfio das afirmações baseadas em impressões e intuição. Todas as nossas intuições devem passar por um exame experimental. A partir de uma hipótese, criamos uma situação que vai nos permitir dizer se a hipótese é boa ou não. A psicolingüística, atualmente se desenvolveu muito, justamente porque ela seguiu esse método científico. E os resultados disponíveis permitem fazer pensar que essa corrente do construtivismo que é baseada nas idéias do Piaget – que foi um grande psicólogo do desenvolvimento, mas trabalhou em uma outra época e as coisas não param, atualmente não tem base científica - aquilo que dizemos hoje, provavelmente, será dito diferente ou até melhor no futuro, ou quem sabe até desdito."

5 comentários:

Davi Rômulo disse...

Concordo plenamente com o Prof. José Morais. O Brasil ainda é piagetiano. A estrutura educacional brasileira sofre as conseqüências, a formação científica e humanista dá mostras desse grave equívoco.

Unknown disse...

Meu Estimado David,

Vexa é brasileiro? Apodar um povo com mais de oitenta por cento de analfabetos de "piagetiano", é algo que não passaria pela cabacinha do pobre "Piaget". Desde quando um macaco, Piaget, ou outra "chumidade" da treta escreve uma treta qualquer e isso passa a caracterizar um povo? Para mim, a melhor "pecicologia" ainda continua a ser a caseira e a das porteiras. Sabem tudo, sabem a vidinha de todos os vizinhos, e nunca se enganam. O resto são os burros armados em intelectuais, e a viverem à conta dos papalvos, né?

Abração

Gil Teixeira

Anónimo disse...

Já há muito que deixei de ter esperança que o Professor Carlos Fiolhais respondesse a algumas das questões que aqui lhe vou deixando. Aparentemente ele não está interessado em discutir com outros as suas opiniões, o que não deixa de ser de ser curioso em alguém que tanto pugna pelo espírito científico.
Relativamente ao construtivismo receio que o Professor Carlos Fiolhais não saiba muito bem o que ele seja, quer na sua vertente teórica e respectiva investigação associada, quer nas aplicações educacionais que dele se podem retirar. Em A Coisa mais Preciosa que Temos (2004, Gradiva), ele escreve o seguinte num capítulo intitulado Os Erros do “eduquês”: “O construtivismo, por sua vez, é uma doutrina psicológica e sociológica cuja fama já conheceu melhores dias. Defende que só as ideias construídas pelo próprio têm consistência suficiente para permanecer. Há um certo fundo de verdade nessa afirmação, mas é completamente delirante esperar que o menino Joãozinho, que está no 9º ano do ensino básico, corra um dia da banheira a gritar “eureka”, tal qual Arquimedes, ou que construa por ele a tabela periódica tal qual Mendeleev. A um nível universitário, podem bem esperar os construtivistas que um estudante reinvente sozinho a teoria da relatividade geral. (p. 51)
Mas o que é que isto tem a ver com as aplicações educacionais do construtivismo? Alguém me conseguirá explicar isto? O mesmo Prof. Fiolhais entra numa flagrante contradição quando no mesmo livro (pp. 84-87) defende métodos de ensino da ciência que genuinamente se podem considerar construtivistas. Para falar em Arquimedes, sugere que se ponha à prova a concepção generalizada de que os corpos mais pesados se afundam e os mais leves flutuam. Como? Muito simplesmente colocando num recipiente com água batatas e maçãs com o mesmo peso e constatando que as maças flutuam e as batatas se afundam. Antes da experiência pede-se aos alunos uma antecipação do resultado, confrontando-se essa expectativa com os resultados observados. Não é necessário muito para perceber rapidamente que estas metodologias são muito mais exigentes para os professores e para os alunos. Mas acima de tudo o que não são de todo é deixar os alunos à sua sorte numa espécie de explorações sem sentido. ISTO NÃO É CONSTRUTIVISMO! Quem assim o afirma pura e simplesmente não sabe do que fala.
Quanto à parte mais teórica da teoria de Piaget sugeria a leitura de um artigo publicado por dois autores portugueses numa prestigiada revista de psicologia americana intitulado In Defense of Piaget's Theory: A Reply to 10 Common Criticisms (http://www.ches.ua.edu/departments/hd/faculty/scofield/hd501/materials/articles/lourenco,%20machado%20(1996)%20-%20defending%20piaget.pdf). O livro do Prof. Orlando Lourenço, Psicologia do Desenvolvimento Cognitivo, (http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=5208) constitui igualmente uma referência importante para perceber que Jean Piaget não é propriamente uma peça de museu.

Davi Rômulo disse...

Caro Gil Teixeira,
Muito obrigado pelo seu comentário. Certamente minha frase está mal escrita. Reformulo-a: alguns centros educacionais brasileiros continuam a se apropriarem de algumas idéias de Piaget.
Ademais, entenda-se “piagetiano” como grupos de interpretes que tentam aplicar planos educacionais em circunstâncias várias, o próprio fracasso ou sucesso de tais planos demonstra-nos se são plausíveis ou não para uma determinada ‘situação’.
Saudações

Marta Bellini disse...

Aqui no Brasil não há piagetismo. Seria ótimo se houvesse. Os velhos professores de Piaget estão na berlinda. Não há nova geração de estudiosos de Piaget. Embora os Parâmetros Curriculares de 1996 preconizassem Piaget como fundamento de uma teoria da inteligência, não é isso que acontece. Aqui no Brasil há um conflito entre Vygotsky e Piaget protagonizado por marxistas da esquerda funcionária (do Estado) que enxergam em Vygotsky a teoria que completa Marx. No mais temos um behaviorismo ingênuo. Uma escola que ensina baseada na velha fórmula da repetição, memorização e cada um para si.

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