sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

ALUNOS, COMPUTADORES E COPIANÇO


Outro "post" convidado do nosso colaborador habitual Rui Baptista, especialista em assuntos de educação:

“Não sou pessimista. Detectar o mal onde ele existe é, em minha opinião, uma forma de optimismo” – Roberto Rossellini.

Um artigo da escritora Alice Vieira - “Copiar não vale” (“Jornal de Notícias”, 3/Fevereiro/2008) – justifica o facto de voltar ao papel dos computadores na educação dos jovens escolares, abordado por mim neste blogue, em 15 de Setembro do ano passado, através do "post" com o título “A entrega de computadores na escola”.

Despertou o seu conteúdo mais de três dezenas de polémicos comentários pela minha chamada de atenção para uma gigantesca campanha política de “marketing” por parte da ministra da Educação que anunciou, “urbi et orbi”, o interesse desta discutível medida, aquando da abertura do ano lectivo na Escola Secundária Francisco da Holanda, em Guimarães.

Detenhamo-nos, agora, na leitura de substanciais excertos do texto do jornal, em que a sua subscritora começa por dizer que “antigamente, muito antigamente, copiar era coisa muito feia”. E prossegue:

Hoje em dia são os professores que ensinam os alunos a copiar, que os incentivam a copiar. Hoje em dia a cópia está institucionalizada. Está a fazer-se uma revolução silenciosa. Hoje em dia os alunos nem entendem que possa ser doutra maneira. Chamem-lhe o que quiserem ‘descarregar’, ‘fazer download’, o que quiserem: nunca deixará de ser uma cópia. Eu chego a uma escola e ouço ‘Os alunos fizeram muitos trabalhos a seu respeito’. E encontro 50, 100, 200 trabalhos rigorosamente iguais, iguais, por sua vez, aos que já tinha encontrado na escola anterior, e na outra, e na outra, com os mesmos erros (nem a Wikipedia nem o Google são infalíveis), com as mesmas desactualizações, com palavras difíceis de que nenhum deles sabe sequer o significado, etc. Os meninos são ensinados a mexer num computador, a carregar nos botõezinhos necessários para que o texto apareça – mas depois ninguém lhes ensina que isso não basta, e que trabalhar e pesquisar não é isso. Isso é, pura e simplesmente, copiar. E como se dizia no meu tempo, copiar não vale, etc. etc."

Desta forma, Alice Vieira alerta-nos para o perigo de tornar os jovens escolares presa fácil da tentação de copiar. Como escreveu Óscar Wilde, “consigo resistir a tudo menos à tentação”.

Longe de mim atrever-me a dizer, ou apenas a deixar subentendido, que o plágio é atributo negativo apenas da era dos computadores. Noutros contextos, seria a exigência utópica de uma sociedade perfeita onde se não aproveitassem todas as oportunidades para infringir as regras ditadas pela aceitação ética e tácita do que é correcto ou não. Os testes com cruzinhas de escolha múltipla facilitam, também eles, o copianço, tornando-o mais difícil nas respostas de desenvolvimento e mais difícil, ainda, quando é permitida a consulta de manuais por as respostas às questões equacionadas exigirem a pesquisa rápida de várias temáticas dispersas em páginas de difícil acesso para quem não estiver bem senhor da matéria.

O nosso compatriota Ricardo Reis, professor da universidade americana de Princeton, num artigo publicado no “Diário Económico” (3/Abril/2007), com o sugestivo título “Copianço”, descreve, bem a propósito, o que se passa na sua universidade: “Em Princeton, o professor é obrigado a deixar os alunos sozinhos na sala durante o exame. Vigiá-los seria uma falta de confiança, até porque todos assinam no topo da folha de resposta uma jura de que se vão comportar de uma forma honrada. Mas se alguém é apanhado a copiar (ou porque foi denunciado por um colega ou porque as respostas o tornam óbvio) então a punição é muito severa: pelo menos suspensão por um ano e talvez expulsão”.

No caso português, ocorre-me a história picaresca daquele aluno cábula até mais não que se dirige ao professor, que lhe atribuiu zero num determinado teste, para lhe pedir satisfações de não ter tido a mesma classificação atribuída ao melhor aluno da turma que tinha as repostas iguais às suas. Ao que o dito professor respondeu que o zero se devia a um evidente copianço seu que se detectava à légua. De imediato, o cábula contra-argumenta que a acusação pela sua gravidade carecia de uma prova cabal que a justificasse. É muito simples, responde-lhe o docente: “À pergunta número tal, o seu colega respondeu ‘não sei’. E o senhor, ‘eu também não’!”

Bem se pode dizer que o copianço é uma forma de corrupção estudantil bem enraizada na tradição nacional e que se pode tornar em semente germinativa de casos bem mais graves na idade adulta. Durante este ano, decorrem as comemorações do 400.º aniversário do nascimento do Padre António Vieira. Em seus “Sermões”, este gigante da literatura portuguesa e acérrimo defensor dos bons costumes não podia deixar de criticar um fenómeno social intemporal: “Chegou a corrupção dos costumes a tal estado que os poderosos têm ódio a quem repreende suas injustiças”. Séculos passaram de então para cá, mas os maus costumes mantêm-se. E assumiram forma bem mais subtil, até!

16 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

As crónicas de Alice Vieira (esta, «Copiar não vale», e muitas outras) podem ser lidas e comentadas no seu blogue - [aqui]

Daniel Marinha disse...

Acho que a Alice partiu de umas premissas erradas e por isso, não pôde chegar a melhores conclusões.

“copiar era coisa muito feia. Era-se penalizado por isso. Podia-se reprovar num exame por isso. “Ser apanhado a copiar” era expressão temida por causa das consequências que trazia consigo.”

Não há qualquer diferença entre o que descreve aqui e a realidade actual. Qualquer aluno que seja apanhado a copiar poderá não só ser reprovado no exame (que é o mínimo que pode e deve acontecer), como em última instância, chegar mesmo a ser expulso da instituição. O problema é que é feita uma comparação entre esta forma de copiar, e o plágio de fontes. Coisas que não têm nada a ver, portanto.

Gostaria antes de mais, de deixar claro que um computador com acesso à internet facilita tanto o copianço quanto uma biblioteca repleta de livros. Ou só porque se demoraria mais tempo no último caso, seria portanto uma atitude mais nobre?

Concordo bem com o que diz dos testes de cruzinhas, coisa que sempre abominei mas por motivos um pouco diferentes. É que a interpretação correcta da pergunta ,e logo das respostas, ficava limitada à que correspondesse exactamente à do professor. E isto é asfixiante.

Continuava...
“Os meninos são ensinados a mexer num computador, a carregar nos botõezinhos necessários para que o texto apareça – mas depois ninguém lhes ensina que isso não basta, e que trabalhar e pesquisar não é isso. Isso é, pura e simplesmente, copiar.”

Não, não é. É mesmo pesquisar. Copiar seria imprimir o texto que resultou dessa pesquisa, assinar por baixo e entregá-lo como sendo original.
A questão certa seria se eles não deveriam já falhar quando ainda apresentam trabalhos a esse nível. Mas como se ignora o nível a que se encontram os alunos mencionados, mais não se poderá concluir. Seja como for, parece incomodada com o facto. Não julgo que devesse estar.

Apesar das aparentes desvantagens na facilidade do acesso à informação e da sua transferência, tendo para outra conclusão da aqui apresentada. Da mesma forma que memorizar poemas como lenga-lengas não implica que quem a memorizou o compreenda melhor que alguém que nunca o fez. Aliás, recitar poesia de memória ou apresentar informação directamente "descarregada" da internet poderão sofrer eventualmente dos mesmos problemas e incorreções. É tão mais seguro ler o original enquanto se recita - para evitar enganos e possivelmente induzir outros "recitadores de memória" em erro - como o é verificar a informação recolhida na internet num livro (e também não poderá ser um qualquer) antes de a apresentar num trabalho. O problema não está na consulta da fonte, mas falta de espírito crítico, por outras palavras, no excesso de boa-fé.

Acho bom que possam procurar e encontrar facilmente a informação que procuram, e chego a essa conclusão por comparação com uma altura anterior (como a sua) onde alunos de aldeias ou escolas menos favorecidas, não seriam sequer solicitados a fazê-lo, por lhes ser impossível obter tal informação. Acontece ainda, mas evidentemente em menor número. Ainda que uma grande percentagem de alunos não entendam, nem tentem, nem cheguem sequer a ler o que "copiaram", pelo menos sabem onde encontrar essa informação da próxima vez que precisarem verdadeiramente dela. Acredito também que mais tarde, quando lhes pedirem um trabalho a sério de pesquisa e apresentação, têm boas probabilidades de se darem bem. Terão pelo menos melhores probabilidades se serem bem sucedidos agora, que na altura em que se decoravam poemas por necessidade ou imposição.
Decorar por gosto, que seria de facto o aspecto mais importante é, apesar de tudo, mais fácil agora. Acredite.

Armando Quintas disse...

O copianço só se torna grave quando se tenta fazer passar por ideia sua a ideia de outrem tal como foi dito no comentário anterior.
Os computadores e a internet em nada são os maus da fita pois são preciosos auxiliares de ensino, agora o que se faz com eles é diferente.
No mundo de hoje atráves de programas ou mesmo site de partilhas, os vulgo shared qualquer coisa, é possivel descarregar milhares de obras completas em pdf mesmo em português.
Independentemente das opiniões divergentes sobre os direitos de autor, o que esta questão levanta é que com 1 computador mesmo da escola com ligação à internet e gravação num suporte digital simples e barato como 1 cd virgem, um aluno carenciado pode ter acesso e instruir-se na mais profunda literatura, seja ela antiga ou contemporarea, de ficção ou não ou mesmo livros técnicos.
Quem souber usar essa ferramenta que se chama internet consegue adquirir um conhecimento que deixaria doido qualquer homem que vivera no século XIX ou XX que teria que consultar imensos livros e bibliotecas, agora tudo à distância de um clic.
O copianço pode ser instrutivo, se se fizer uma ficha de leitura de certa forma copia-se, não o texto parcial ou integral mas as ideias nele contidas e isso leva à instrução pois o aluno percebeu do que o texto tratava.
Claro que cabe aos professores 1 quota parte de responsabilidades em aceitar certos de determinados trabalhos que eles pela simples vista de olhos sabem que foi tirado da internet e o professor deve em todo o caso formular questões e testar o aluno para saber se o trabalho é legitimo ou copiado ou plágio mesmo.

Alice Vieira disse...

Só tenho um comentário a fazer.

Diz Daniel Marinha:

"Copiar seria imprimir o texto que resulta dessa pesquisa, assinar por baixo e entregá-lo como sendo original".

É exactamente isso que eles fazem.

Unknown disse...

“Chamem-lhe o que quiserem ‘descarregar’, ‘fazer download’, o que quiserem: nunca deixará de ser uma cópia. Eu chego a uma escola e ouço ‘Os alunos fizeram muitos trabalhos a seu respeito’. E encontro 50, 100, 200 trabalhos rigorosamente iguais, iguais, por sua vez, aos que já tinha encontrado na escola anterior, e na outra, e na outra, com os mesmos erros (nem a Wikipedia nem o Google são infalíveis), com as mesmas desactualizações, com palavras difíceis de que nenhum deles sabe sequer o significado, etc."

Com o bold da minha responsabilidade, acabo de transcrever parte da transcrição que fiz do texto da escritora Alice Vieira. Julgo que nem por sombras passou pela cabeça da sua autora pôr em causa os benefícios que os computadores podem trazer se utilizados de forma PEDAGÓGICA. E honesta. O relato que nele faz foi por si experenciado com centenas de textos a respeito da sua obra, “facc-similes” grosseiros porque grosseiros são os erros que contêm. Pior do que isso reside na ignorância desses professores aceitarem essas cópias como se tratassem de trabalhos originais em que cada aluno pusesse neles uma parte de si e da sua forma de interpretar os textos que leu na Net.” Fazer download”, e assinar por baixo como sendo obra original é, sem rodeios, pura vigarice e um atentado à cultura dos professores que sancionam este “statu quo”.

Talvez este facto explique a facilidade da obtenção de certos doutoramentos que assumem a forma do jogo do gato e do rato em que o doutorando foge à alçada do Código Penal e da vergonha pública em ser descoberto que castiga os seus autores. Não é caso de Eça, Camões, Gabriel d’Annunzio, entre outros, sobre quem recaiu o opróbrio de se terem inspirado noutros autores para escreverem as suas notabilíssimas obras. Eram eles homens de génio que produziram textos com características bem pessoais e, por isso, isentos da infâmia do crime de plágio. A inspiração em obras de outros autores – “nil novi sub sole” - não pode ser tida como plágio: “O homem de génio tem o direito de se apropriar das imagens e das ideias alheias e lhes dar colorido, harmonia, sedução, vida, que as farão imortais” (Afrânio Peixoto).

Como escrevi no meu texto, “o plágio não é atributo negativo apenas da era dos computadores”, ou seja aquilo que Adolfo Toffler tem como “ A Terceira Vaga”, título de um dos seus “best-seller's”, que se segue à revolução Industrial e esta, por sua vez, à Revolução Agrícola. A Revolução Industrial, tão criticada por certos autores (quase a me atreveria a dizer de esquerda) trouxe os seus malefícios e os seus benefícios. Sopesando uns e outros será um verdadeiro crime assumir o maniqueísmo em defesa exclusiva de uns ou de outros. Igualmente, a era da informática está recheada de promissoras novidades no âmbito da Cultura dos adultos e da formação dos jovens escolares. Seria lícito, por exemplo, eu ter transcrito o texto de Alice Vieira, sem aspas e sem indicar a sua autora? Pelo valor que lhe reconheço e à sua autora seria uma tentação aresentá-lo como obra minha. É apenas isto que está em discussão. Fugir daqui é fugir ao cerne da questão.

Aliás, Alice Vieira di-lo de uma forma lapidar no seu comentário, atrás publicado.

Rui Baptista disse...

Como é óbvio, o comentário acima é da minha autoria.
Rui Baptista

alvares disse...

Os alunos copiam e cábula porque raramente são punidos e quase são premiados.
O excesso de alunos numa turma e a excessiva carga horária dos professores quase que apagam o papel de "supervisor/tutor". Seja para controlar quem cabulou, seja para fomentar um espírito crítico nos seus alunos. A "avaliação pela quantidade" fomenta a cópia e reduz o espírito crítico. Nuno Crato, na revist Única de sabádo passado, escreve a propósito do primeiro artigo de Einstein: "o fisico centra-se no que tem de novo a dizer e não recorre ao 'argumento por citação.'".
A incapacidade de fomentar a criatividade nas escolas é referida na palestra de Sir Ken Robinson, em http://www.ted.com/index.php/talks/view/id/66

Termino com a seguinte questão: Qual foi o aluno nacional que copiou/cabulou e terminou os seus estudos, quais sejam, com uma média baixa?

Fátima André disse...

Tudo o que aqui foi dito, quer no texto do Rui Baptista, quer no próprio texto da Alice Vieira e outros autores citados ao qual acrescento a referência a um texto muito explicito nesta matéria e que foi aqui publicado no De Rerum Natura da autoria de Elvira Calapez intitulado "Sobre o plágio" e que vale a pena (re)ler

http://dererummundi.blogspot.com/2007/09/sobre-o-plgio.html

Eu sinceramente como docente quase estou a abandonar por complecto essa metodologia de trabalho de apresentação de trabalhos escritos. É uma tragédia. Eu dava-me ao trabalho de ensinar com rigor as regras do trabalho científico, mas vá-se lá saber porquê os miúdos têm uma área curricular não disciplinar de Área de Projecto onde ninguém lhes ensina a fazer pesquisas, selecção e organização da informação... de que vale um professor do Conselho de Turma remar contra 10 ou 12 de se estão burrifando para este tipo de coisas...
E é a mais pura verdade o facto de eles entregarem trabalhos plagiados da internet. Aliás, eu deixei de receber trabalhos que não tivessem as Referências Bibliográficas. E por muito que me custasse dava-me ao trabalho de ir às fontes certificar-me... resultados, poucos!
Mudei de estratégia, papel o menos possível, dinamizo muitos projectos para a consolidação de conteúdos e ponho os alunos a apresentá-los à comunidade... acabaram-se os plágios.

Musicologo disse...

O problema não está nos alunos mas sim na forma como os professores pedem e avaliam os trabalhos.

Evitar os plágios? Simples: Aos mais pequenos exijam-se trabalhos manuscritos onde se possa ver que foi o aluno que os escreveu e teve efectivamente trabalho com eles. E façam-se perguntas concretas que obriguem a que as respostas não sejam meramente repositório de declarações feitas.

Aos maiores: exijam-se apresentações orais do que insistem ser o seu trabalho. Até podem ter plagiado (e hoje em dia será muito difícil descobrir), logo o que vamos avaliar não será o CONTEÚDO (porque pode ser plagiado). Avalie-se a forma (se tem a capa em condições, índice, justificações, bibliografia, enfim, todas as normas de um trabalho académico e científico em condições) e depois avalie-se a chamada oral, isto é, a capacidade de o aluno defender o que está escrito independentemente de ser dele ou não. Procedendo-se assim ficaremos com uma ideia muito mais clara e real do que realmente aquele aluno «vale».

Para cada esquema de trafulhice há sempre uma volta a dar para se descobrir a careca, o professor é que tem de ser maleável e criativo na sua avaliação. Experiência própria a falar.

CA disse...

Nas universidades o copianço de trabalhos é endémico. Há alunos que vão ainda mais longe no caminho da fraude.

As consequências para o aluno que é descoberto são sempre iguais: chumba, que é o que lhe aconteceria se não copiasse. Tudo a ganhar, nada a perder.

Diria que é mais fácil um político importante ser condenado em tribunal por corrupção do que um aluno ser suspenso ou expulso por fraude.

O professor que faz orais multiplica seguramente o seu trabalho. Se o aluno for aguerrido o professor pode ainda arranjar mais problemas. Tudo a perder, nada a ganhar.

Valoriza-se o canudo, não se valoriza o aprender.

Mas que exemplos vêm daqueles que lideram o país?

Rui Baptista disse...

Todos os comentários aqui deixados, valorizaram de sobremaneira o meu texto. O meu obrigado a todos os seus autores.

Depois do comentário por mim feito a comentários anteriores, outros surgiram em declarado repúdio ao copianço . Como escrevi no meu texto, "o copianço é uma forma de corrupção estudantil bem enraizada na tradição nacional". Ou seja, o copianço não é fruto apenas da era da informática.

Ainda mesmo antes da "Terceira Vaga", todos nós, enquanto estudantes, tivemos comhecimento de casos de copianço mais ou menos escandalosos, o que me levou a escrever mais à frente: "O copianço é um fenómeno social intemporal".

Como bem diz "alvares", "os alunos copiam porque raramente são punidos e quase sempre são premiados".

Da Colega Fátima André uma confirmação com génese no dia-a-dia docente: "É a mais pura verdade o facto de eles [os alunos]entregarem trabalhos plagiados da Intenet".

De "ca". "As consequências para o aluno que é descoberto são sempre iguais: chumba que é o que lhe aconteceria se não copiasse. Tudo a ganhar, nada a perder".

Corajosamente, "musicólogo" põe o dedo na ferida onde ela mais dói: "O problema não está nos alunos mas sim na forma como os professores pedem e avaliam os trabalhos".

Assim, há uma concordância geral em reconhecer haver copianço pela má utilização dos computadores por parte dos alunos e displicência por parte dos professores que fecham os olhos, por ignorância ou conivência, a este verdadeiro flagelo.

Ora, para grandes males, grandes remédios. Não se cura uma gangrena com pachos de água quente.Sabem-no as universidades americanas de renome, como nos diz um dos seus professores, Ricardo Reis: [Para quem é apanhado a copiar] "suspensão por um ano e talvez expulsão". Só não se sabe neste país de brandos costumes. Ou finge-se não saber, assobiando-se para o lado!

alvares disse...

Rui, tão ou mais importante como o "castigo" está a prevensão....
Não basta colocar um clima de "terror" para o copianço/cábula, é também preciso criar métodos de ensino que não motivem a sua utilização... E para esta mudança seria preciso uma mudança mais radical daquela que propõe. Teriam as escolas e universidades portuguesas ficar mais próximas das suas cogéneres mais desenvolvidas. De que mudanças falo eu?

1- Um professor ter turmas mais pequenas para ter uma relação mais próxima com seus alunos e aproximar-se mais do papel de "tutor".
2- Acabar de vez com o mito de "média". Em Portugal a média serve para tudo e supostamente diz tudo. Quando assim o é, o "resultado final" e a "avaliação" acabam por ter um peso excessivo e "todos os meios justificam o fim".
3- Acabar com as "avaliações ao peso". Acabar com os preconceitos/limites dos números de páginas, dos números de referências, etc.... Só fomenta a introdução de "palha" e na maioria dos casos copiada!
4- Fomentar a criatividade e o espírito críto nos alunos. Um aluno que pensa e se interessa sobre um assunto não vai perder tempo a copiar/cabular...

Os pontos poderiam ser mais, mas estes já demonstram que não bastam castigos mais "pesados" mas que é preciso mudar a mentalidade no ensino e nos sistemas de avaliação em Portugal.
Aumentar o "castigo" sem pensar na prevenção é apenas aumentar a corrida "do rato e do gato".

Rui Baptista disse...

Caro "alvares": O agradecimento que fiz a comentários anteriores, torno-o extensivo a si.

Plenamente de acordo com as sua achegas. No entanto, receio não ter sido suficientemente explícito quando trago à colação o exemplo de Princeton no que se reporta à responsabilização de alunos, alunos adultos, que se comprometem sob juramento a não copiar e que,"ipso facto", "seria uma falta de confiança vigiá-los". Vigilância que só encontra justificação em universitários com falta de carácter ou em jovens sem princípios éticos devidamente cimentados.

Aceito que possa ser objectado:"Cada roca com seu fuso, cada terra com seu uso". Só é pena que os bons usos lá de fora se não façam costume nas universidades portuguesas. Nesta circunstância e em outras que aponta tanto a propósito. Enfim, idiossincrasias bem latinas e não menos nacionais!

alvares disse...

Caro rui, estou totalmente de acordo na sua "responsabilização do aluno adulto". Infelizmente, o caminho que se tem traçado até hoje nas universidades portuguesas tem sido o oposto. Aulas com presença obrigatória ou disciplinas obrigatórias nos últimos anos das licenciaturas e nos mestrados, são sintomas de um espírito demasiado liceal presente nas nossas universidades. Este espírito liceal retarda a tomada de decisões por iniciativa própria de jovens adultos, tornando-os tardiamente irresponváveis e infantis. Para além disso, transforma as aulas universitários em verdadeiros calvários tanto para docentes como para alunos.

Rui Baptista disse...

No nosso ensino superior enxameiam os trabalhos de grupo que um aluno mais esforçado faz e os outros assinam. Quanto às monografias (sem querer generalizar) são uma manta de retalhos de informação colhida na internet e que, dado a amplitude de material informativo que aí circula, torna muito difícil a detecção do que está transcrito sem referência às fontes consultadas ou entre simples aspas, até. Outras vezes, a bibliografia respeita obras nunca lidas ou até referência a livros que constam dos escassos livros folheados. Assim, deixou de haver investigação no verdadeiro sentido da palavra (chegou-se ao ponto de quando um menino do 1.º ciclo consulta um livro se dizer que está a investigar e não, como seria correcto, a consultar).

Porque não se preocupar a universidade com a formação de elites donde devem emergir os mais capazes, os mais trabalhadores, os mais inteligente para, pelo contrário, se dedicar à massificação de um ensino que deveria ser altamente exigente e especializado, ou que o devia ser, pelo menos?

Razão tinha Einstein quando disse ser o génio 99% da transpiração e 1% de inspiração. Infelizmente, a grande indefinição reinante no ensino superior tem permitido que a universidade se demita, em parte, da sua função na formação de "massa crítica". E que sempre que o queira fazer venha um coro de protestos dos alunos lamentando-se da exigência de trabalho que se lhes pede. Então quando se lhes fala em memorizar textos fogem da tarefa como o diabo da cruz com a falácia de a memória ser significado de estupidez... Os cérebros foram substituídos por carteiras bem recheadas: os simples mestrados (já para não falar nos doutoramentos) compõem-se de centenas de folhas (como se a quantidade fosse sinónimo de qualidade), se possível (ou tanto melhor) devidamente encadernadas.

Até os próprios alunos do ensino secundário passam a vida na repografia a fotocopiarem textos e textos de matéria que lhe enchem a mochila, com pouca ou nenhuma utilidade. Sim, a criatividade, o incentivo da descoberta, a imaginação, infelizmente o digo, pertencem ao domínio da utopia de uma Escola que não cumpre o seu dever principal: ENSINAR!

Claro que os casos de cientista nossos que vingam no estrangeiro são a excepção que confirmam a regra da mediocridade do nosso ensino superior que, na opinião de Maria Filomena Mónica, não vale um caracol. Pela sua vivência numa das melhores universidades inglesas onde se doutorou fala daquilo que viveu lá fora e da comparação que faz com aquilo que se vive cá dentro com a sua experiência de catedrática. Seja como for, é sempre conveniente discutir estes assuntos com teses e antíteses para que surja uma possível síntese por parte de quem tem nas mãos o poder de decisão e dele tem feito tão mau uso.

O meu contributo, infelizmente, nada mais representa que um levantar da poeira bafienta que há-de assentar para que se possa, deste modo, varrer do chão todos os entraves a um ensino mais fraterno, mais solidário, mais moderno. Mas em que os dois primeiros princípios se não identifiquem com facilitismo e o último com as modernices que por aí circulam impunemente e nos colocam no pódio não dos vencedores, mas dos vencidos. Aquilo que na gíria desportiva se chama "lanterna vermelha".

Marta Bellini disse...

Caro Rui,

Em primeiro lugar, obrigada pelo seu post em meu Blog.
Goostei de seu texto. Faço algumas considerações:
1) Os copistas sempre existiram. Antes, na Idade Média, por falta de livros...depois por tradição nas escolas de USAR o livro didático como se fosse o ÚNICo livro existente no mundo escolar.
2) O uso do livro didático remete-nos ao hábito medieval de um único livro para ensinar;
3) Copia-se livros didáticos no Brasil e, creio, em Portugal. Não temos aulas e sim, copianço, como vc diz.
4) O computador abre um outro mundo. Copia-se a internet para trabalhos, pois a metodologia de ensino da escola não muda. Por que os professores insistem em solicitar aos alunos trabalhos? Por que as salas de aula não mantém computadores para pesquisas teóricas?

Seymour Papert, em seu livro A máquina das crianças, conta uma piada. Professores e médicos fizeram uma viagem pelo mundo solar. Quando voltaram tinha-se passado um tempo de 100 anos. os médicosa desceram da nave e perderam o emprego. os professores desceram, pegaram o giz e continuaram a dar aulas ....

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