domingo, 3 de fevereiro de 2008

O Dia do Regicídio



Começou ontem a exibição da série de seis episódios «O Dia do Regicídio», uma obra de ficção assente em factos reais que tem tem como objectivo situar os acontecimentos de há 100 anos.

Os restantes episódios podem ser visualizados na RTP1 no seguinte horário:
Episódios 3 e 4 - Domingo, 3 Fevereiro - 22:00h
Episódios 5 e 6 - Segunda, 4 Fevereiro - 21:30h

Para quem perdeu os primeiros episódios, para além de ficar atento à data da repetição da série na RTP2, fica a sinopse:

«Durante uma refeição em Vila Viçosa caem dois dentes ao Rei D.Carlos (Pedro Wallenstein). Depois de voltar para Lisboa para proceder a exames médicos, o seu médico e amigo Tomás de Mello Breyner ( José Raposo) informa a Rainha D. Amélia (Suzana Borges) que o Rei sofre de diabetes.

Nas ruas, a animosidade contra D. Carlos cresce. Aquilino Ribeiro (Pedro Carmo) chega a Lisboa e é apresentado a Buíça (Ricardo Aibéu) e a Alfredo Costa (Manuel Wiborg). Buíça fica desconfiado, mas após um incidente com a polícia em que Aquilino é sovado por se recusar a acusar os companheiros, Buíça leva-o para sua própria casa, para que recupere. Buíça, embrenhado nos seus compromissos revolucionários, não quer ter outro filho, mas a sua mulher acaba por engravidar e adoece.

D. Carlos dissolve o parlamento e a bem do rotativismo nomeia Hintze Ribeiro (José Eduardo) como chefe de governo, irritando João Franco (Adriano Luz).
Aquilino Ribeiro é iniciado na Carbonária e apresentado ao seu grãomestre, Luz de Almeida (João Grosso).»

Ficha Técnica:
Autoria: Filipe Homem Fonseca e Mário Botequilha
Produção: David e Golias
Realização: Fernando Vendrell

Sobre o tema no De Rerum Natura:
Em defesa da memória
Em defesa da memória - II
Em defesa da memória - III

46 comentários:

Vitor Guerreiro disse...

Não é curioso que na república portuguesa os regicidas sejam alvo de um desprezo ainda maior que o votado ao sérvio que baleou o arquiduque na parada de Sarajevo em 1914?

Ao passo que para tudo o mais, a iconologia e a cantaria laudatória seguem a justa ordem em que se filiam os seus progenitores, não havendo pejo em celebrar toda a sorte de homicidas de antanho como sendo "grandes líderes", já o asco dirigido contra os homicídas régios é extremamente curioso.

Não acham que, em prol da coerência, a Praça do Comércio se devia intitular "Praça Manuel Buíça e Alfredo Costa?

Em vez disso, os republicanos erguem estátuas aos monarcas, ao passo que os regicidas jazem em vala comum. Vá-se lá perceber. O único modo de tornar esta atitude um pouco credível seria a de condenar a revolução política violenta. Mas mesmo assim seria vácuo, pois não reservamos este desprezo por uma série de outros ícones, que deixam muito mais violenta memória.

Enfm...

Unknown disse...

Vitor:

"A 4 de Fevereiro de 1914, a Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento entregou ao Município de Lisboa, um pedido “para lhe ser cedido o espaço com 1,30 de comprimento e 2,20 de altura no cruzamento da Rua 9 com a Rua 26 do Cemitério Oriental (actual Cemitério do Alto de S. João), para ali ser edificado um monumento aos seus associados, Manuel dos Reis Buíça e Alfredo Luís Costa”, requerimento esse que foi, quase de imediato (5 de Fevereiro), deferido.

Construído o mausoléu – obra da autoria do escultor Júlio Vaz – as ossadas de Manuel Buíça e Alfredo Costa foram transladadas dos covões (números 6.044 e 6.045) onde os cadáveres tinham sido depositados em 1908 para a Rua 9 (nº 4.251). "

texto da placa:

“Alfredo Luis da Costa e Manuel dos Reis Buiça, Libertadores da Pátria Portuguesa;1 de Fevereiro de 1908; Associação do Registo Civil”

Em 1938, contudo, a Associação do registo Civil e do Livre Pensamento foi administrativamente encerrada e extinta pelas autoridades que, então, amordaçavam o país.

Em 1940, o Diário Municipal (nº 1395, de 8 de Fevereiro) publicou uma decisão camarária visando transferir o jazigo de Buiça e Costa para outro local. Os fundamentos invocados para justificar a transferência do mausoléu constam do ofício nº 151 da 2ª Repartição de Higiene Urbana (publicado no Diário Municipal nº 1398, de 12 de Fevereiro de 1940) onde se alega estar aquele a “prejudicar grandemente o trânsito”…

Em consequência dessa decisão, foram as ossadas transferidas para a Rua 52, J.P. 4251 e os elementos que constituíam o mausoléu (conforme ofício nº 238 da Administração do 1º cemitério, datado de 26 de Abril de 1940) terão sido colocados no depósito de materiais do cemitério.

Presentemente, para assinalar o centésimo aniversário da data da sua morte, um grupo de cidadãos republicanos está a requerer à C.M. de Lisboa a reposição do monumento cuja construção tinha sido promovida, em 1914, pela Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento no cemitério do Alto de S.João.

Pode assinar aqui:

Unknown disse...

Faltou isto:

"Instaurada a Ditadura do Estado Novo, apesar da forte repressão do regime sobre as movimentações populares de inspiração republicana, anualmente, a 1 de Fevereiro, continuaram a realizar-se grandes romagens populares ao mausoléu de Manuel Buíça e Alfredo Costa."

Nem sempre Buiça e Costa foram votados ao desprezo; houve foi muita propaganda salazarenta para isso...

Armando Quintas disse...

Em boa hora aparece esta série de ficção sobre a nossa história, apesar de ser anti mornarquico por considerar que ao estarmos em republica não tenha que haver desigualdades entre cidadãos, aprovo esta aposta da rpt, é fundamental preservar-se a memória da nossa história e os meios audio-visuais podem ajudar a isso.
Por ultimo devo dizer que independentemente dos juizos de valor que se fazem sobre o rei, ele foi vitima da situação do país, de uma profunda crise economica e social agravada pelo autoritarismo de joão franco.

Deixo o apelo para que se continuem a realizar series do género em especial sobre o regime salazarista e sobre a guerra colonial para desmistificar muita tese parcial do que foram esses tempos..

Anónimo disse...

Tanta defesa pelos regicídas ... que tal se um dia destes matarem alguém da vossa família vão também dar os nomes dos regicídas a uma rua ?

Nenhum ideal político e nenhuma religião tem o direito de tirar a vida a quem quer que seja.

Vivemos num Estado de Direito e como tal todos os crimes são puníveis, expliquem-me porque razão os culpados do crime do regicídio nunca foram julgados e o processo desapareceu ?

Não me venham com mais histórias aliás essa mentes deturpadas só podem ser do partido Bloco de Esquerda. Se legitima o Regicídio então estão a legitimar que um dia destes um grupo terrorista mate um presidente da republica, aliás já mataram um ... Sidónio Pais

Triste é haver gente que se aproveita dos nomes dos regicídas para tirarem dividendos políticos, deixem as famílias em paz que não tiveram culpa de ter assassinos.

Eu estive no Terreiro do Paço a prestar homenagem A D.Carlos e filho com largas centenas de pessoas, e vi os anormais do Bloco de Esquerda que foram desmascarados pela RTP e felizmente passou no telejornal para toda a gente ver a palhaçada que é esse partido, bem podiam chamar-se "Aborto de Esquerda" até estavam mascarados :)

É incrível o vazio intelectual e cultural que existe, as pessoas não estão minimamente informadas que foi uma minoria 7,7% dos deputados do partido republicano que fizeram o 5 de Outubro com ajuda de galegos e financiamento de republicanos espanhois. É estúpido termos uma bandeira com as cores da carbonária em que o verde simboliza Portugal e o vermelho Espanha simbolizando a união Ibéria.

O Povo nunca pediu a republica, o povo nunca votou a republica será isto uma democracia plena ?

Estamos fartos da menina de peito ao léu importada da França e de seu nome Res Publica.

Vitor Guerreiro disse...

Caro Rui,

Por mim estou-me nas tintas para que se dê nomes de rua a personalidades. Não tenho o mínimo interesse nas dignidades de estado e outras parolices que nada adiantam à felicidade das pessoas.

O meu comentário parte da prática que existe, apontando meramente a incoerência de se celebrarem personalidades históricas muito mais violentas que dois regicidas cujo acto contribuiu factualmente para o derrube da monarquia. Falo dos factos, que o regicídio contribui para a queda da monarquia é verdadeiro mesmo para quem é monárquico. Afinal de contas, se eu disser que a doença das batatas é má para as batatas, não estou a ser anti-batateiro.

Creio que os regicidas não foram julgados por que foram executados no local, mas isto pode ser só a minha memória, afinal não estava vivo no ano do regicídio.

A ideia é que há uma contradição no modo de proceder destas atribuições de nomes a ruas, monumentos e outras dignidades. Ninguém gostaria que lhe matassem alguém próximo, ninguém gosta de ser morto. A questão é mais simples: o estado mata. Todos os estados matam. Ou somos puritanos anárquicos em geral e condenamos tudo e mais alguma coisa que cheire a instituição, ou temos de ler as coisas com um mínimo de contexto. A minha perplexidade é que se celebre as conquistas sangrentas do D. Afonso das Vacas, que envolviam banhos de sangue, por contraste à repugnância desmesurada para com um homicidio régio que nem é o pior mal que vem ao mundo. Filosoficamente, gostaria que não fosse preciso matar ninguém, mas o mundo onde vivemos não é apenas feito de convicções éticas.

Se vamos por essa ordem de argumentação, o "povo" (seja lá o qeu isso for) nunca escolheu regime algum, dado que mesmo na representatividade democrática só posso votar em alternativas interiores a um sistema que em si mesmo não tenho poder de modificar. Alternar entre um uso histórico e um uso absoluto, sublimado, do conceito de liberdade e escolha dá origem a mal-entendidos e a falácias.

Fico impressionado de resto com o desprezo pela "coisa pública" (cuja redução do latim veio a propósito de batatas) e pelo pudor em mamas republicanas. É mesmo disso que precisamos. Talvez outro Sidónio Pais para mandar os filhos dos outros morrer em La Lys para receber dividendos (políticos e outros) em Versalhes.

Vitor Guerreiro

Vitor Guerreiro

Vitor Guerreiro disse...

PS: não sou do Bloco de Esquerda.

(esta saíu bem, repararam?... PS?)

Tampouco de qualquer partido. Gosto do meu pensamento por inteiro e fiel a si próprio. Quem procura a verdade objectiva não precisa de comprometer o pensamento e quem o compromete não está interessado na verdade objectiva.

Anónimo disse...

Caro Vitor

Não confunda alhos com bugalhos, à 100 anos tínhamos uma Monarquia Constitucional : Parlamento, Governo, Constituição.
Sabia que os reis de D.Pedro IV a D.Manuel II eram votados ? sabia disso ?

Essa de D.Afonso das Vacas da minha família não é, eu gostava de ser Rei dos Frangos ou Conde das Alheiras mas essa ... please cheira mal

Quanto a eleições na republica, Vasco Polido Valente demonstrou num artigo como a republica é uma autêntica falácia que não veio resolver o problema de ninguém :

"A República notoriamente não instituiu o sufrágio universal. A lei eleitoral de 1911 deixava votar os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou que fossem chefes de família há mais de um ano. Infelizmente, na «eleição» de 1911 não se votou, por pressão do Partido Republicano, em quase metade dos círculos. Pior ainda, nos círculos em que se votou, bandos de terroristas «fiscalizaram» o acto. Na eleição seguinte, em 1913, o Partido Democrático restringiu o voto a maiores de 21 anos, do sexo masculino [ai que diriam, hoje, os fundamentalistas da igualdade de género!] e letrados: um corpo eleitoral mais pequeno que o da Monarquia.” Tudo visto e ponderado, nos primeiros tempos, a República não passou de “uma ditadura do Partido Democrático”, superiormente orquestrado pela sinistra batuta do Dr. Afonso Costa"

Procura a verdade então por favor procure porque hoje a informação está muito mais democratizada.
Quanto a Sidónio Pais, Portugal foi para a 1ª Guerra para ganhar o prestígio e os aliados que tinha perdido com a implantação da res publica.

Uma ultima reflexão hoje julga-se que os regicídas foram mortos por carbonários, na altura era um dos métodos da carbonária eliminar os seu membros para não deixar rasto ... mas deixou um rasto de sangue durante os meses seguintes ...

Leia o livro "Dossier Regicídio" do prof. Mendo Castro, talvez fique com uma visão mas esclarecida.

Obrigado Pela atenção

Rui Monteiro

Unknown disse...

Rui Monteiro:

Quando diz Estamos fartos da menina de peito ao léu importada da França e de seu nome Res Publica. está a falar por si e pela meia dúzia que vota no PPM em todas as eleições.

Se o "povo" de que tanto fala quisesse dar um sinal de que estva farto da República esperar-se-ia uma votação expressiva no PPM, não as míseras décimas de % que tem.

Depois, sempre que há revoluções, especialmente revoluções que acabam com ditaduras repressivas que mantêm o povo analfabeto, inculto e miserável para melhor o controlar há sempre um período conturbado.

Pelo que me contam os meus pais, os tempos que se seguiram à revolução dos cravos também não foram muito recomendáveis.

A I República não teve tempo para se provar, infelizmente! Portugal não estaria neste buraco se a beatada não tivesse conseguido que se voltasse ao regime favorito da Igreja: uma ditadura católica.

Unknown disse...

Em relação aos votos, quem o lê podia ficar com a ideia que o trono era decidido por sufrágio universal :))))

HÁ 100 anos não tinhamos uma monarquia constitucional; tinhamos uma ditadura abjecta e sanguinária. Havia eleições mas o rei tinha direito a dissolver as cortes a seu bel prazer.

Depois, é do mais demagógico falar no direito ao voto das mulheres: as mulheres, com uma excepção na I República, só começaram a votar em pleno século XX.

A excepção foi a primeira mulher a votar na Europa, a portuguesa Carolina Beatriz Ângelo que votou nas eleições para a Assembleia Constituinte de 28 de Maio de 1911.

Até nisso a I república começou bem, não a deixaram continuar, para mal de todos nós...

Francisca disse...

Eu gosto mesmo é da Defesa das causas monarquicas, são simples, triviais e acima de tudo cândidas.
Gosto de pensar que se todos alinhassem nessas teorias tudo estaria ainda hoje calmo e tranquilo. Tenho ideia de que em Portugal um politico ser assassinado é um caso tão raro que é de levar ao desespero qualquer teoria sociológica que fale de mudança social. Até admira a monarquia ter durado tão pouco tempo (mil e tal anos) e a ditadura republicana idem. Mais do mesmo.

Fernando

Armando Quintas disse...

"Não confunda alhos com bugalhos, à 100 anos tínhamos uma Monarquia Constitucional : Parlamento, Governo, Constituição.
Sabia que os reis de D.Pedro IV a D.Manuel II eram votados ? sabia disso"

Caro Rui monteiro, o que é que lhe escapou? Desde o nosso primeiro rei que a realeza era hereditária e não votada e assim continua em todas as casas reais desse mundo fora que ainda subsistem.

Quanto à falácia da républica, ela não pode ser posta nesses termos pois as coisas eram assumidas inclusivé esse factor do sufrágio, é verdade que ele não era universal na acepção actual da contemporaneadade, mas a base dos votantes aumentou muito com a republica e até houve os casos de votação por parte de mulheres, obviamente que havia caciquismo nas eleições e tambem já o houvera na monarquia.
Quando diz que a républica não passou de uma ditadura do partido democrático, deveria ser melhor a expressão hegemonia do partido democrático de afonso costa, já que esse partido ficou com quase toda a maquina quer logistica quer humana do velho Partido republicado.

"Procura a verdade então por favor procure porque hoje a informação está muito mais democratizada.
Quanto a Sidónio Pais, Portugal foi para a 1ª Guerra para ganhar o prestígio e os aliados que tinha perdido com a implantação da res publica."

Ainda bem que a informação está democratizada, mas convem informar-se bem, não se esqueça que a participação de portugal na I guerra mundial foi com o objectivo de proteger as colonias em africa nomeadamente do apetite imperialista alemão.

Quando aos assassinos, eles foram executados no local, se pertenciam ou não à carbonária isso é irrelevante pois não é a carbonária a desempenhar o papel decisivo no rumo da republica.
O rei morreu por culpa da situação do país.

Anónimo disse...

LOL

Cara Rita

Falou bem "ditadura católica" ... e REPUBLICANA ! Salazar, Marcelo Caetano, Américo Tomaz, etc eram republicanos !

Mas quem falou em PPM ? quem disse que representa os monarquicos ? Como diz Miguel Sousa Tavares ( monárquico ) os monárquicos são o maior partido clandestino de Portugal, 12000 associados nas reais associações.
Segundo uma sondagem do CESOP 2002 20% da população à partida é a favor de um Rei e 30% estão indecisos. Sabes não somos meia dúzia de queques de barba que gosta de fados e touradas.

É incrível como nos 98 anos de republica :

- 16 anos de instabilidade política com a economia a ficar pior ao ponto de as coisas custarem 21x mais, assassinato de um presidente Sidónio Pais

-48 anos de uma ditadura republicana personificada por Salazar

- Uma descolonização vergonhosa que quem não ajudou em anda a vida dos povos nativos de áfrica com guerras civis e milhões de mortos.

- 33 anos de rotativismo político que é curioso que parece que estamos a voltar a ele

O Ideal Monárquico é transversal ao ponto de haver em todos os quadrantes políticos. Exemplos : Durão Barroso, Jaime Gama, Paulo Portas, Marques de Fronteira ( militante do PS ) e até eu sou militante do PS. Por isso não confunda, até Manuel Alegre é a favor de um referendo e fez uma proposta para acondicionar a família real no protocolo de estado
(talvez lhe pese o facto de ser sobrinho do Conde de Águeda e ser de uma família Aristocrata ).

Meus caros querem um mausoléu aos regicidas ? Então é legítimo que os outros também façam o Museu Salazar em Santa Comba Dão, senão onde está a coerência e moral ?

Sejamos honestos intelectualmente, não é uma coisa de sangue azul até porque todos o temos vermelho. O povo amava esmagadoramente o seu rei, foi amordaçado por uma ditadura de uma minoria que hoje seria o mesmo que o PCP ter conseguido que o PREC vinga-se.
Felizmente houve o 25 de Novembro para estamos aqui a debater isto.

CA disse...

O regicídio deu o tom para a 1a república: resolvem-se os problemas matando pessoas.

Não só não se resolveu nada como se abriu o caminho para Salazar.

Se o Buíça foi o idealista que esta série pinta e soubesso qual o resultado destas mortes, provavelmente nunca se disporia a abrir o caminho para Salazar.

Vitor Guerreiro disse...

Todos os estados matam. Não há fundação de nacionalidade que não implique sedição. Até o acontecimento que simboliza a não-violência ao mais alto grau - o papel do Mahatma Ghandi na sublevação indiana - foi um gesto que despoletou um dos processos mais violentos na história do colonialismo europeu. Nas democracias parlamentares também se mata.

Disparar generalidades à toa, associações fáceis de palavras, para promover a virtude intrínseca de um mito fantasista ("se tívessemos ESTE líder iluminado, logo TUDO, tudinho, se resolveria") não nos leva a nada de mais sensato que a porcaria e a miséria intelectual em que esta cultura da balda que é a maldita portugalidade ainda chafurda hoje.

O raciocínio causal do último comentário permite estabelecer relações causais entre tudo e mais alguma coisa. Qualquer acontecimento histórico x que anteceda um acontecimento histórico y pode ser interpretado como "abrindo caminho". "Abir caminho" é o tipo de expressão que os académicos portugueses adoram, é como dizer "Indivíduo x e os seus aliados", é um chapéu de chuva que nos permite ter razão acerca de tudo e, portanto, nunca errar. Como é possível errar se tudo o que dizemos é tão geral, tão geral, tão geral... que não diz coisa alguma?

... Até o texto que consagra o princípio de não matar como um absoluto - o Velho Testamento - contém quase continguamente a essa passagem a sanção da pena de morte aplicada a várias circunstancias. Aliás, a proibição de matar no texto hebreu não se destinava à aplicação universal: era permitido matar cananeus, moabitas, medianitas, etc. A proibição de matar no velho testamento dirigia-se a um problema político interno à comunidade judaica: unificar as tribos. Tal como os primeiros islamitas procuram unificar as suas tribos dispersas, tal como os primeiros cristãos procuraram unificar o credo por necessidade política.

Não podemos ver as coisas de um modo romântico quando falamos nos ideais e preconceitos que nos agradam, procurando uma feroz literalidade histórica para tudo o resto. Aí é que está a incoerência, não no direito a cada um defender o mausoléu que mais gosta. Pessoalmente, acho que há coisas mais interessantes a fazer que mausoléus. O que me intrigou foi a incoerência interna à própria lógica de atribuição de dignidades de estado. Todos os heróis de todas as causas mataram por uma causa ou outra. Nada há de admirável em que um regime nacionalista fabrique ícones populares para manter coesa a imaginação das massas em torno de uma fantasia reitora que anule as divergências. O que acho curioso é a lógica com que se rejeitam alguns ícones e adoptam outros. De resto estou-me nas tintas para ícones de uma ou outra lavra. O facto de alguns republicanos abominarem a posteriori o regicídio é que parece tão curioso como se os aristocratas que se quiseram livrar da tutela de leão e castela desatassem a abominar os seus líderes militares por causa da violência da reconquista, erguendo estátuas a Afonso VI de Leão e Castela e aos mártires dos "outros". A questão de interesse nos Afonsos das Vacas é que as mesmas pessoas que se horrorizam com alguns regicídios aceitam sem problemas comemorar outras personagens que à luz das nossas intuições morais não passam de facínoras genocidas. Mas é esta a curiosa psicologia da tanga: quando as causas históricas de algo não estão em proximidade, tudo é mais facilmente convertido em mito radiante.

Anónimo disse...

Volto a dizer

"Nenhum ideal político ou religião tem o direito de tirar a vida a quem quer que seja !"

Não desculpe criminosos ...

Vitor Guerreiro disse...

Pois o que os ideais políticos e as religiões mais fazem é tirar vidas ou incitar a que se tire vidas. A sua posição compromete-o com a condenação de toda e qualquer instituição humana que já tenha existido, na medida em que rigorosamente nenhuma está isenta em absoluto de violência.

A questão não é desculpar criminosos, tal como não é usar a condenação de alguns para promover a fantasiosa virtude de outros. Se interpretarmos de modo absoluto o princípio de que não se pode matar, temos de condenar incondicionalmente qualquer regime político, inclusive a monarquia. Repetir mecanicamente que x não tem o direito de y não nos esclarece coisa alguma. Em abstracto, qualquer ditador é um defensor dos direitos humanos. O problema é o concreto.

Anónimo disse...

Desculpe mas para mim a Liberdade, Democracia não podem ser ditas em vão. Se a vida humana para si não tem significado ... e é a si que digo e não em abstracto ... tenho pena.

"A nossa Liberdade acaba quando põe em causa a Liberdade dos outros ..."

O problema da civilização é o fanatismo de crenças e ideologias, sou contra.

Vitor Guerreiro disse...

E qual é o argumento que mostra que para mim a vida não tem significado?

O que significa dizer que "liberdade e democracia não se podem dizer em vão", são como o nome de Deus? Caramba, se alguma coisa se depreende do que disse acima é que defendo a democracia.

Não afirmei nada donde se depreenda que a vida humana não tem significado. Do meu argumento apenas se salienta que a interpretação absoluta de qualquer código moral nos obrigaria a condenar todas as instituições. Claro que se pode continuar a defender a leitura absoluta do princípio que diz que matar é mau. Não se pode é defendê-lo ao mesmo tempo que nos comprometemos com qualquer versão de um regime histórico ou existente.

O problema não é abstracto nem concreto, é a ânsia de se defender o que se pensa estar a defender, sem sequer vislumbrar a estrutura dos próprios raciocínios que se usa.

Por exemplo: posso defender que toda a vida é sagrada. Mas a partir do momento em que me alimento de seres vivos, ou que digo que indivíduo x merece a pena de morte ou que intervenção militar y é justificada, estou a entrar em contradição.

O seu argumento parece ser o seguinte: ou TODA a vida é para mim sagrada em ABSOLUTO, ou a vida para mim deixa de ter qualquer valor. Logo para ser coerente nem sequer posso comer alfaces.

A questão que debatemos é muito simples, é uma questão de lógica. É independente daquilo que eu penso sobre republicanos, regicidas e monarcas: a repulsa que alguns republicanos sentem pelos regicidas é bizarra na medida em que aceitam venerar outros personagens muito mais duvidosos como seres humanos. Claro que isto só é bizarro precisamente porque eles aceitam venerar tais personagens. Se um republicano condenar incondicionalmente o derrube violento de regimes e recusar, consequentemente, comemorar todo e qualquer personagem ou instituição ligada a actos violentos, será mais coerente, mas não muito: Até os movimentos de não-violência despoletaram acontecimentos violentos. Um tal político, para ser de uma coerencia à prova de bala, teria de se retirar para um santuário no deserto.

Os meus argumentos não transpiram qualquer tipo de fanatismo a não ser aquele que o entendimento simplista das coisas quer à viva força ver, para então disparar as suas generalidades, lugares-comuns e associações fáceis de palavras que de tão gerais, acabam por não dizer coisa alguma (como o princípio absoluto de que a vida é sagrada). Claro que "parece bem" dizer cheio de convicção que TODA a vida é sagrada, e "parece bem" ficar vermelho quando alguém argumento em contrário. A coisa mais fácil é, pela mais flagrante indisciplina argumentativa, pretender que uma pessoa despreza a vida pelo facto de apontar incoerências ao argumento de que toda a vida é sagrada.

Não se trata de justificar este ou aquele homicídio nem o homicídio em geral. Aqui a questão é saber se os argumentos que usamos para defender o que imaginamos defender são bons argumentos. Para mim a vida humana tem valor, mas o valor que a vida humana tem não pode vir de maus argumentos. Precisamente, aquilo que mais prezamos tem de ser defendido com bons argumentos. Os maus argumentos, mesmo que "pareçam bem" sao cognitivamente nocivos, levam-nos a crenças confusas e envisadas e nada de sóbrio e objectivo pode ser deduzido deles. No limite, são perniciosos eticamente. Repare-se nisto: uma das principais causas de dor, miséria moral e destruição é o fanatismo religioso e político. Este fanatismo baseia-se precisamente em quê? Frases feitas e maus argumentos que se aplicam indiscriminadamente a tudo e que em vez de proceder dialecticamente para conclusões solidamente defensáveis, faz o contrário - baseia-se em pruridos, em imediatismos, em slogans e no pior das nossas emoções misólogas.

Não redigi um único argumento para demonstrar a ausencia de valor da vida. Só é possível ler isso nos meus posts não os lendo para serem debatidos em paridade, mas lendo-os obliquamente, em busca de algo que se já supõe à partida lá estar, só porque não é a mera repetição de palavras mágicas que soam bem e que são do nosso agrado.

Vitor Guerreiro disse...

Para mais, é incoerente que para um regicida a vida humana não tenha valor. Se isso fosse assim, tanto fazia matar o rei como matar o sapateiro do rei. Para o regicida, o problema é outro - é porque a vida do rei tem um valor muito específico que o regicida pretende matá-lo. Claro que nem todos os regicidas partilham as mesmas razões.

Por outro lado, é prefeitamamente plausível pensar numa seita fundamentalista cujo princípio absoluto fosse a abstenção de matar vastas categorias de seres vivos, inclusive humanos, mas que, metafisicamente, não atribuísse grande valor à vida humana. Por exemplo, quase todas as correntes religiosas que adscrevem um valor sagrado, absoluto, à vida, promovem ao mesmo tempo a ideia de que a existência terrena tem pouco valor.

Se se parasse para pensar na coerência argumentativa, veríamos que a vida humana tem muito mais valor para um ateu que para um religioso, na medida que a para o ateu a única fonte possível de valor é imanente e não transcendente.

Não se pode confundir a abstenção de matar com a valorização da vida. Ambas são compatíveis com o contrário da outra. De outro modo não poderíamos compreender a acção do indivíduo que se sacrifica para salvar algo que preza, seja os seus familiares ou a sua comunidade, ou outa coisa qualquer que considere valioso.

Só um modo muito simplista de pensar reduz o respeito pela vida à abstenção de matar (mais uma vez: não, não estou a "defender" o homicídio). Por exemplo, o respeito pela vida envolve também permitir a existência da vida em condições dignas. No entanto, até os mais veementes defensores de princípios morais absolutos toleram formas de tratar seres vivos que envolvem grande sofrimento e desprezo pela sua vida. Quantos defensores do princípio da sacralidade absoluta da vida param dois minutos para pensar no sofrimento que foi infligido ao animal que lhe serve de refeição ou no sofrimento que a existência de certo tipo de mercadorias baratas implicam aos seus produtores?

Na verdade, a maioria das pessoas que defendem seja o que for de modo irrestrito e absoluto, deixam de se preocupar com esse princípio mal terminam as celebrações formais em que todos se sentem bem por se reconhecerem uns aos outros como sementes do mesmo saco. Se o nível da sua exigência para consigo próprios estivesse ao mesmo nível em que colocam a fasquia da crença, a coerência forçá-los-ia a mudanças muito radicais na própria vida pessoal. Claro que isso já não tem tanta piada como afirmar peremptoriamente que se defende a sacralidade disto e daquilo.

Armando Quintas disse...

Vamos lá ver 1 coisa, não foi a queda da monarquia que abriu caminho ao salazar, pois distam algumas décadas os acontecimentos, para nós é facil fazer previsões pois já sabemos o que aconteceu depois, a republica tinha ideologias, politicas e planos, ela caiu devido à crise social e economica vigente, muito resultante da I guerra mundial tambem, à contestação politica, não se esqueçam das incursões de paiva couceiro no norte do país, a este exemplo dos miguelistas, pretenção vinda do tempo da guerra civil só é extinto com o salazar, e esta figura só surge quando a ditatura militar o convida para ministro das financas, em que estará no cargo somente 15 dias no primeiro convite, só em 33 se pode dizer que salazar estava firme no poder, antes poderia ter sido posto a mexer como qualquer outro pelos militares, quando se fala de abrir caminho poderá dizer-se que houve a necessidade ou a ideologia de alguns como o caso do integralismo lusitano do qual sidonio partilhava de haver 1 poder forte, salazar foi mais uma figura que surgiu do nada e teve sorte e soube mexer-se para se estabelecer no poder.
A historia não é simples deduções e afirmações disto e de aquilo, é preciso de estudar todos os detalhes e enquadrar as situações.

Maria Carlos disse...

Será que estive a ler o guião para uma nova mini série? Infelizmente não. A luta divide e por isso o nosso país não avança. As pessoas em vez de contruirem algo passam o tempo a criticarem os outros.
O artigo n.º 288 b) da Constituição obriga que Portugal tenha um regime republicano não permitindo uma monarquia.
A Causa Real tem mais de 10000 associados, mas o número de monarquicos não filiados é muito superior. Eu e toda a minha família somos monarquicos desde há muitas gerações no entanto não estamos inscritos em menhuma das 21 Reais Associações Portuguesas.Como nós existem muitos outros portuguese que só votarão no regime quando houver condições para o instaurar.
Dou todo o meu apoio ao Senhor Rui Monteiro, mas espero que a partir deste momento se ponha fim a uma polémica que não leva a nada.
"Morreu o Rei, viva o Rei"

Vitor Guerreiro disse...

"A luta divide e por isso o nosso país não avança. As pessoas em vez de construirem algo passam o tempo a criticar os outros.
(...)
espero que a partir deste momento se ponha fim a uma polémica que não leva a nada."


A luta não divide. A luta ocorre porque existem divisões. A divisão não é má: sem divisão não há discussão não há dinâmica, as coisas estagnam. Não se "constrói" nada. Sem competição e diferenças não há movimento, evolução, cooperação. Onde todos concordam por sistema não há progresso, em vez de duas ou três cabeças a estimularem-se umas às outras, temos paralisia de ideias. Só uma cultura avessa à discussão de ideias, uma cultura tradicionalista, pesada, estagnada, pode sentir-se atraída por este tipo de refrões e palavras de ordem vagas e demagógicas.

Esta afirmação - não se discuta, anule-se as diferenças - tem todos os requisitos para uma afirmação populista fácil: suficientemente vaga para que qualquer um a preencha com os seus ódios ou as suas esperanças, conforme goste ou desgoste da bandeira que nessas palavras drapeja.

Como é possível construir seja o que for sem críticar honestamente, ouvir contra-argumentos, estar interessado no questionamento real das coisas?

Se alguma coisa essas frases transpiram é a ideia de que a democracia é má, por isso "temos de falar a uma só voz para ter voz no mundo" e outras ideias feitas que na verdade só dizem de modo sublimado que a democracia é algo a evitar se queremos "eficácia".

É também curiosa a tendência para pontuar estas declarações sempre com apelos ao fim da "polémica", que "não leva a lado algum", já que a discussão de ideias é uma coisa tão feia.

Se bem entendo, isto é um espaço de discussão, não de declaração de princípios e exortações. Ou há gosto por opor argumentos ou então não se escreve. Exprimir apenas a vontade de que os outros não se pronunciem é irrelevante para o que entendo ser o objectivo deste espaço.

Gosto de polémica, gosto de divisão, gosto de democracia. É por termos uma cultura estagnada que sentimos a crítica, a discussão séria de ideias, como coisas supérfluas ou nocivas.

Anónimo disse...

Como diz o historiador Rui Ramos na revista Atlântico, se não tivesse acontecido o Regicídio não haveria o que veio a seguir principalmente 48 anos de Ditadura do Estado Novo.
Essa é a verdade, podemos agradecer aos republicanos os 64 anos sem Liberdade e sem Democracia, tal nem se compara com o maior período de democracia que foi em Monarquia Liberal de 1826 a 1906 ( considerando de 1906 a 1908 a parlamento foi dissolvido mas os partidos não foram proibidos e nem havia censura ).

Estou para ver os 100 anos da republica, quem vão celebrar ? os sanguinários da carbonária ? Os republicanos do Estado Novo ? É por isso que a comissão de celebração ainda não foi constituída porque as pessoas não têm saudades do que se passou !

Humilde Canalizador disse...

É profundamente lamentável que haja quem se alegre com assassínios.
É confrangedora a mentalidade de alguns comentadores que se acham ainda no direito de recorrer ao assassínio para fazer valer as suas ideias políticas.

Ao ler-se tiradas como a que a seguir transcrevo, sente-se verdadeira pena de quem assim "pensa":

"Para mais, é incoerente que para um regicida a vida humana não tenha valor. Se isso fosse assim, tanto fazia matar o rei como matar o sapateiro do rei. Para o regicida, o problema é outro - é porque a vida do rei tem um valor muito específico que o regicida pretende matá-lo."

Vitor Guerreiro disse...

"É confrangedora a mentalidade de alguns comentadores que se acham ainda no direito de recorrer ao assassínio para fazer valer as suas ideias políticas."

Tristes são estas frases alarves, reveladoras de ignorância e da mais bruta incapacidade de ler o que se tem à frente dos ohos. Isto além da má vontade e da cegueira em caricaturar tudo o que não tem o mesmo odor de seita pelo qual se reconhecem as mentes obtusas.

Mas por acaso alguém "recorreu" ao assassínio? Quanto ao argumento da incoerência, o que há de errado nele? Em primeiro lugar não é uma "tirada", é um raciocínio perfeitamente lógico. Em segundo lugar, nada nele autoriza a concluir que o homicídio é moralmente bom.

Se há coisa que não me cansei de dizer é que nada há no assassínio que me alegre. Mas isto de falar para burros é assim. Os meus argumentos não se destinam a justificar coisa alguma. Os vossos sim. A diferença é que são afirmações vagas e declarações de princípios nevoentas para esconder aos burros de igual têmpera que por não saberem ler não sabem que a metafísica que subjaz a esse discurso vago e melífluo é uma porcaria fascista: a ideia da monarquia assenta no princípio (tal como as religiões em geral) que 1) há vias privilegiadas de acesso à verdade que nada têm a ver com causalidade natural e o escrutínio cientifico 2) há seres humanos diferentes dos outros que por obra e graça do santo canhenho têm acesso privilegiado a estas vias privilegiadas.

Isto é incompatível com qualquer ideia de democracia que se entenda.

Peço desculpa ao pessoal do De Rerum por recorrer a ataques ad hominem, mas a paciência para o asinino também tem limites.

Vitor Guerreiro

Vitor Guerreiro disse...

Clarificações:

A ideia de que é incoerente desprezar o regicida a partir da posição republicana, tal como seria incoerente para os fundadores da primeira dinastia desprezar os seus próprios líderes militares por matarem outros, aliada à percepção de que todos os estados matam - o que intensifica a contradição:

1) não contém qualquer argumento que justifique o homicídio, visto que não é isso que está em discussão. O que está em discussão é a assimetria da atitude política, a sua incoerência.

2) Não contém qualquer "ideia política" que eu pudesse querer "fazer valer" na medida em que a posição política do leitor é irrelevante para a solidez do argumento: até para um monárquico é óbvio que não faz sentido desprezar uma acção pelos mesmíssimos critérios com que se louvam outras.

2.1) A única ideia política que defendo nos meus comentários é exterior à própria argumentação e é uma defesa da ideia de democracia.

O problema é que o modo luso-prussiano de pensar impede as pessoas de ler os argumentos. Não fazem senão ir associando arbitrariamente palavras à medida que avançam. Isto, aliada à mais profunda indisposição para o questionamento racional - pois só se interessam em "impressionar" os outros com declarações exortativas, não estão preocupados com conceitos ou com argumentos - impõe-lhes uma imbatível surdez, a qual não é possível contornar e em função da qual não conseguem ver o outro senão como "o ideólogo" de tudo aquilo que abominam.

Dos meus argumentos não se segue qualquer apologia do homicídio. Isto é uma inversão perversa, já que quem me acusa é que pretende justificar as ideias políticas de que mais gosta com uma pretensa condenação da arbitrariedade, do homicídio e de "outras coisas feias" que não aconteceriam se tivéssemos este ou aquele líder iluminado. Quem esconde a sua própria incoerência atrás de condenações exortativas e esgares morais. De tal modo que até agora ninguém me opos um único contra-argumento. Limitam-se a disparar que "justifico" o homicídio, sem mostrar porquê.

Repare-se: se fossem inteligentes, criticariam a minha "tirada" sobre o valor da vida do rei para o regicida assim: o regicida atribui apenas um valor instrumental à vida das pessoas, inclusive à vida do rei. Mas as nossas intuições morais levam-nos a atribuir um tipo de valor diferente à vida.

Claro que isto não nos levaria a lado algum, pois o que está em questão não é saber se o homicídio é moralmente justificável e em que circunstâncias, nem sequer a de afirmar qual o melhor regime político (a única vez que o faço é a margem da argumentação, pois é um assunto lateral). O que está em discussão é a curiosa, a hilariante incoerência de alguns republicanos ao condenarem uns indivíduos e louvarem outros segundo os mesmíssimos critérios. Mas isto é tão simples, tão simples, tão simples, que é impossível a um burro lusitano com o pensamento germanizado de metáforas bacocas entender.

Têm um chip na cabeça que só lhes permite fazer duas coisas: ou encomiar a torto e a direito, desfazendo-se em louvores, ou atacar militantemente tudo o que se assemelhe a "inimigo". A partir daqui não interesse discutir, apenas tentar impressionar quem lê, arremessando imputações morais vagas ao interlocutor, na esperança de que assim se intensifique o preconceito contra aquilo de que não gostam. O interesse em conceitos e argumentos é nulo.

Vitor Guerreiro

Vitor Guerreiro disse...

Cometi um erro crasso no comentário anterior:

Ao sublinhar a incoerência de se louvarem umas acções e desprezarem outras pelos mesmíssimos critérios.

Não é a identidade de critérios que provoca a incoerência, visto que tem de ser o mesmo critério que nos serve para ajuízar acções diferentes.

A incoerência reside precisamente no contrário: em ter critérios diferentes para acções que se equivalem. Mais precisamente - se condenamos o homicídio em absoluto, temos de condenar todas as instâncias políticas que implicam o homicídio, ou seja, temos de condenar tanto o regicida como o fundador de dinastias.
Se decidimos julgar diferentemente uma acção que se equivale, só porque quem comete a acção nos é próximo politicamente, então não nos podemos comprometer com a condenação absoluta do homicídio.

Ao deixar-me tomar pela impaciência, cometi o mesmo erro que os meus interlocutores e eu próprio acabei por afirmar uma alarvidade.

Vitor Guerreiro

Anónimo disse...

Caro Vitor pode continuar a escrever um testamento para justificar o seus tiros nos pés. Os monárquicos democratas como eu somos acima de tudo humanistas.

Continue a justificar-se ... A História é o maior Juiz ! :)

Vitor Guerreiro disse...

Caro Rui,

Continue a disparar baboseiras vagas como "A História é o maior Juíz!" e outras palermices apocalípticas. A única coisa que tenho justificado são os meus argumentos, que ninguém comenta e que nada têm a ver com aquilo que de facto comentam.

Era mais interessante que me mostrasse onde e como é que dou tiros nos pés. Não se cansam de repetir que os dou, mas não passam daí. Se escrevo testamentos é porque não posso argumentar em apenas um parágrafo.
Mas você e os que parecem defender o seu modo de pensar nao se importam com argumentos. É continuar a repetir as mesmas palavras de ordem como se uma pessoa nunca tivesse respondido rigorosamente nada acerca do que pensa. Mas vou repetir o meu argumento, numa versão "For Dummies" (sem ofensa):

É incoerente usaro mesmo critério para louvar e abominar acções diferentes que se equivalem - SE defendemos incondicionalmente a imoralidade do homicício.
SE admitimos expcepções, ou seja, se achamos que o mesmo tipo de acções é justificável noutras circunstâncias, então não nos podemos comprometer com uma condenação incondicional do homicídio. A base empírica deste raciocínio é o facto de todos os estados matarem.

A democracia não é a solução de toda a miséria humana, mas é uma das melhores coisas que temos. Numa democracia você tem a liberdade de defender ideias monárquicas ao passo que numa monarquia, mesmo que seja monárquico, não o é livremente pois essa sua adesão é pressuposta pela própria cidadania: mesmo nas monarquias contemporaneas, onde a realeza tem um papel quase meramente ornamental (um dispendioso ornamento) as pessoas que são eleitas para Westminster ou para o parlamento escocês, por exemplo, têm de prestar lealdade à coroa.

Objectar-me-á que numa democracia parlamentar as pessoas também estão a priori vinculadas ao caracter laico e republicano do regime. Pois é. Mas temos de ter em mente uma coisa: vamos fazer um referendo de 8 em 8 anos para ver se apetece à população mudar para um regime monárquico, ou talvez para uma ditadura de cariz fascista ou estalinista, ou mesmo uma teocracia?

As democracias tal como existem já têm que chegue de todas essas coisas à mistura, porque as pessoas mesmo quando vivem formalmente em democracia não atinam com a ideia de democracia. Vêm a democracia apenas como uma arena onde disputam cada um as suas ideologias anti-democráticas e hostis à liberdade e expansão livre dos indivíduos.

Vitor Guerreiro

Vitor Guerreiro disse...

Os fascistas também são humanistas, porque partem precisamente de uma ideia prévia de "homem" à qual querem depois ajustar as pessoas, os indivíduos concretos.

É isso que une alguns hegelianos e heideggerianos: a ideia de que é preciso uma "alma do mundo" para corrigir a natureza humana (a que chamam "o ente") à luz de uma ideia de Natureza Humana (o tal Ser que se desvela... na imbecilidade ideológica).

A inteligência não habita nos "vivas" nem nos "hurras".

Anónimo disse...

LOL

Enterre-se à vontade :)

Anónimo disse...

E a inteligência também é hereditária LOL Não se compra em pacotes no Hiper-mercado :)Somos iguais no papel para alguns porque na prática isso não se verifica LOL

Agora chame-me racista ...

Vitor Guerreiro disse...

O facto de nas monarquias contemporâneas não se exercer controlo burocrático sobre as ideias que as pessoas defendem - quem dera as nossas universidades "republicanas" chegarem aos pés em democracia às "monárquicas" universidades inglesas - não abona em favor da monarquia, pois essa liberdade só existe precisamente porque a monarquia nesses países é um mero ornamento.

Ou defendemos uma monarquia à antiga moda absolutista, o que é uma coisa demasiado estúpida para se defender. Ou defendemos uma monarquia segundo o modelo ingles, caso em que apenas estamos a defender a existência de um ornamento dispendioso para os cidadãos sustentarem: já não basta os ornamentos que se passeiam pelos corredores das assembleias republicanas.

A metafísica que subjaz às ideias monárquicas é simplesmente estúpida à luz de qualquer noção moderna de democracia. Onde as monarquias coexistem com uma cultura democrática isso acontece apesar do lastro ornamental que é a monarquia e não devido a ele. Historicamente, os monarcas não consentiram na existência de parlamentos porque lhes apeteceu, os parlamentos surgiram porque uma parte da sociedade não queria pagar impostos ao rei e tinha força suficiente para lhe impor um parlamento.

Vitor

Vitor Guerreiro disse...

Pela sua linha de raciocínio, teria de se ver obrigado a curvar-se perante cada indivíduo que fizesse um teste de QI com maior pontuação que a sua, e mais: tinha de se vergar perante todos os filhos atrasados mentais que este indivíduo tivesse.

Mas você pára um segundo para se ouvir a si próprio?

A inteligência é irrelevante para determinar a relevância moral das pessoas. Tal como ter olhos azuis é irrelevante moralmente.

Pela sua linha de raciocínio, para justificar o nazismo bastava averiguar o QI do ditador, não se tratava de questionar a legitimidade moral do próprio sistema.

Vitor

Anónimo disse...

Fale à vontade em fascistas e eu falo em comunistas ... Ambos deviam estar nas Berlengas a fazer companhia às gaivotas.

Hoje chega-se à conclusão de que a humanidade não beneficiou em nada com ambas as ideologias, encheram-se as panças de meia dúzia e o preço foram milhões de mortos tanto por culpa de Hitler como por Estaline, Mau Tze Tung também é um talhante de primeira.

Por isso o Comunismo e a Estrema Direita estão pelas ruas da amargura, o Povo não é parvo.

Vitor Guerreiro disse...

A igualdade democrática não diz que você tem de ser igual aos outros em inteligência, tal como não impõe que tenha de ter olhos azuis para ser cidadão.

A igualdade democrática tem a ver com o facto de todas as pessoas serem moralmente relevantes e terem igual direito de se pronunciar sobre o seu destino, independentemente de quais são as suas propriedades.

A monarquia é que pretende estabelecer por decreto a inteligência de um indivíduo que em seu abono nada mais tem a não ser uma duvidosa genealogia.

Vocês nem se dão conta das imbecilidades fascistas que dizem. O que me surpreende é a possibilidade de acharem mesmo que essas parvoíces são compatíveis com qualquer ideia de democracia que se entenda. (democracia em sentido próprio, não no sentido prussiano que consegue converter toda a trampa em ouro dos tolos).

Anónimo disse...

Quando o Jornal mais vendido é A Bola, deixa muito a desejar a cultura das pessoas ... quanto mais a inteligência.

Aliás leia o livro "Dossier Regicídio", os republicanos de à 100 anos tinham as mesmas práticas racistas dos nazis, inclusive achavam que medindo o crânio de uma pessoa se chegava a alguma conclusão quanto à sua inteligência ... LOL

Cada tem o que herdou dos seus pais, eu estou contente com o meu QI :)Não se preocupe ...

Vitor Guerreiro disse...

O caro Rui disse:

"Fale à vontade em fascistas e eu falo em comunistas ... Ambos deviam estar nas Berlengas a fazer companhia às gaivotas."

Não preciso de ser eu a falar em fascismo. As suas palavras são denuncia bastante do que está por baixo do paleio "humanista". Vocês gostam de exortações abstractas porque cada vez que falam em concreto têm de revelar as insígnias.

Anónimo disse...

Meu caro volto a dizer os fascistas valem tanto como os comunistas, até em vidas tiradas à humanidade. Toda a gente se lembra dos campos de concentração Nazi mas ninguém se lembra dos milhões que Estaline matou anto Polacos como os que deportou para a Sibéria.
E os milhões que Mao Tzé Tung matou, enfim e esses é que são os exemplos de grande democratas.

Defender isso é como vender a banha da cobra ao Povo.

Vitor Guerreiro disse...

No entanto aqui está você, democrata, a defender que se prendam as pessoas em campos.

Mas alguma coisa do que diz tem a ver com o que tenho defendido? O meu argumento original é precisamente o de que linhas de raciocínio como a sua nos obrigariam a abominar toda e qualquer instiuição humana, inclusive as monarquias.

"Toda a gente se lembra dos campos de concentração Nazi mas ninguém se lembra dos milhões que Estaline matou"

Se eu agora fizesse consigo o mesmo que tem sido feito com os meus argumentos, diria que está a tentar justificar os campos nazis através da condenação dos campos estalinistas. Alguém aqui defendeu o estalinismo? Aparentemente para si só existem monárquicos e estalinistas. Fala mal dos fascistas mas adopta a sua linguagem. Na verdade os fascismos e os estalinismos são apenas monarquias sem rei.

Vitor Guerreiro disse...

Uma nota: a ideia da hereditariedade que defende, também defendida por um estalinista de outrora - transmissão de características adquiridas - é a Lamarckiana, que foi precisamente suplantada pela selecção natural darwinista... do mesmo modo que a monarquia foi suplantada pela democracia moderna.

Vitor

Vitor Guerreiro disse...

Se está contente com o seu QI isso só revela que se sente feliz com as suas limitações.

A inteligência tem base genética, mas não do modo simplista que pressupõe. De resto isto é irrelevante para a democracia. Não é a inteligência que legitima que uma pessoa a controle a vida de outras.

Todas as pessoas são moralmente relevantes independentemente da sua inteligência.

Anónimo disse...

Realmente ... sabe que mais tenho pena de si :) Aliás tenho pena de todos que vivem no mundo da Utopia. Soluções práticas nunca as têm ... de palavras está farto o Povo.

São capazes de matar vidas para subir ao poder a qualquer custo.

Vá perguntar aos pobres na rua se são iguais a si, pergunte se têm as mesmas oportunidades. Mas essa é uma característica dos comunistas e em geral da extrema-esquerda, preocupam-se demasiado com o proletariado ... mas não se preocupam com os casos mais extremos de pobreza e nem sequer dão soluções.
Por esta e por outras não me revejo minimamente no comunismo, e por isso é que não há casos de sucesso de países comunistas ao logo da história. Mas não se preocupe vou lhe dar uma mostra das minhas insígnias :)

Sou militante socialista e apoiante de Manuel Alegre, que além de ser poeta é uma pessoa coerente e de bom censo.
Católico e Monárquico ... e garanto-lhe que não sou o único :)

Vitor Guerreiro disse...

Deves ser autista meu amigo. Não há nada a aprender com esta conversa. Não sei com quem estás a debater, comigo seguramente não é, a julgar pelo que dizes. Fico na dúvida se paraste um segundo para ler.

A do outro ser poeta é para me impressionar? Não percebo a relevância. Mas escuta. Não precisas reafirmar mais uma vez o teu ódio a coisas que nunca aqui ninguém discutiu ou pôs em questão. Tenho coisas mais importantes para fazer pá.

Humilde Canalizador disse...

Espumando de ódio, o Vitor dispara raivosamente contra quem expõe o pretensiosismo dos seus "raciocínios".
É a mesma mentalidade carbonária, ateísta e republicana da viragem do século, quando os crentes em Deus eram perseguidos, abatidos em plena rua e os seus haveres queimados. Em nome da Razão, que só habita nas mentes iluminadas dos ateus...
Baba-se de gozo com o assassínio do Rei e do seu filho, tal como a outra jacobina injectada de ódio, a Rita, e quando se lhe chama a atenção para o facto, desdobra-se em palavreado ôco para esconder o sentimento que o habita: ódio, arrogância, intolerância.
Nos anos seguintes ao golpe de Estado que implantou a República contra a vontade dos portugueses, era famoso na baixa lisboeta um carroceiro que entrava nos cafés e nas tascas e gritava: "VIVA A REPÚBLICA!!!". Quem não gritasse com ele, levava com o chicote.
O Vítor não é diferente, por muita psudo-filosofia da tanga que apresente.
VIVA O REI!!! VENHA O REFERENDO!!!

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