sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Escravos da Superstição: os Inimigos da razão


O prefácio da novissima The New Encyclopedia of Unbelief em que o Carlos colaborou ficou a cargo de um dos mais proeminentes ateístas da actualidade, Richard Dawkins, que tem feito correr rios de tinta com o seu último livro, «A ilusão de Deus».

Este livro esteve na base de um documentário do Channel 4, «The root of all evil?» (A raiz de todos os males?), escrito e apresentado por Richard Dawkins e exibido pela primeira vez em Janeiro de 2006. O documentário foi apresentado em dois episódios de 45 minutos, «The god delusion» (A ilusão de Deus) e «The virus of faith» (O vírus da fé). No final do documentário e quasi como resumo do mesmo, Richard Dawkins cita Steven Weinberg, Nobel da Física em 1979:

«A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem religião teremos boas pessoas fazendo coisas boas e más pessoas fazendo coisas más. Mas é preciso a religião para que pessoas boas façam coisas más. (Religion is an insult to human dignity. With or without it you would have good people doing good things and evil people doing evil things. But for good people to do evil things, that takes religion)».

A apreciação do último livro de Dawkins por James Watson, laureado em conjunto com Francis Crick e Maurice Walkins com o Nobel da Medicina pela descoberta da estrutura do ADN, diz tudo sobre o documentário, cujo mote segue o do livro: «A irracionalidade religiosa tem muitas vezes colocado sérios obstáculos para o melhoramento da humanidade. Para que nos possamos efectivamente opôr a ela, o mundo necessita igualmente de racionalistas ardentes que não tenham medo de enfrentar e desafiar crenças aceites há muito tempo. Richard Dawkins destaca-se assim através da inteligência incisiva de 'The God Delusion?'»

O título dado ao documentário não era o preferido por Dawkins, mas foi mantido pela emissora para criar controvérsia. Também para manter acesa a chama da controvérsia, a nova série de Dawkins para o Channel 4, que começa a ser exibida segunda-feira, intitula-se «Escravos da superstição: os Inimigos da Razão» e trata das patetadas New Age que infestam o Reino Unido e não só. Nomeadamente, como nos é dito na sinopse do documentário:

«Há duas formas de olhar o mundo - através da fé e superstição ou através do rigor da lógica, observação e evidência, por outras palavras, através da razão. A razão e o respeito pelas evidências são preciosas, a fonte do progresso humano e a nossa salvaguarda contra fundamentalistas e aquleles que lucram pela detrupação da verdade.

No entanto, hoje, a sociedade parece em fuga da razão. Sistemas de crenças aparentemente inócuos mas completamente irracionais, da astrologia ao misticismo New Age, da clarividência às medicinas alternativas, estão em franca expansão.

Richard Dawkins confronta o que vê como uma epidemia de pensamento irracional e supersticioso».

Pelo que consegui ler sobre a série, que espero esteja disponível rapidamente no Youtube, esta é simplesmente imperdível. Dawkins «consulta» vários vendedores de banha da cobra, com especial incidência naqueles que mais o irritam: os que conspurcam a ciência misturando termos científicos no mumbo-jumbo que vendem aos mais crédulos, seja o inenarrável Deepak Chopra e as suas curas «quânticas», a mulher de Glastonbury que afirmou ter alterado o ADN de Dawkins para a sua estrutura atlante original por inserção «dos triângulos desaparecidos» ou os homeopatas.

Como química sou especialmente sensível à irritação de Dawkins em relação à irracionalidade que dá pelo nome de homeopatia, que vende água ao preço de medicamentos, irritação que no caso britânico é agravada pelo facto de os «tratamentos» homeopáticos serem subvencionados pelo sistema de saúde - que com o seu directório para as medicinas alternativas e complementares promove outras banhas da cobra -, nomeadamente o NHS contribuiu com 10 milhões de libras para a recente remodelação do «hospital» Royal London Homeopathic.

Mesmo antes de ir para o ar, os «Inimigos da razão» já mereceu os expectáveis e sempre presentes ataques pessoais a Dawkins e ao seu «cientifismo». O mais bizarro desses ataques foi desferido por uma colunista do Daily Mail, Melanie Phillips, num artigo intitulado «Arrogância, dogma e porquê a ciência - não a fé - é a nova inimiga da razão».

As visões da autora sobre ciência são ainda mais bizarras e incluem a defesa apaixonada do ensino do criacionismo nas aulas de ciências. Num artigo de opinião de 2002, publicado igualmente no Daily Mail, Melanie Philips denuncia como «intolerância em relação à religião» e «cientifismo» a pretensão «secular», que pensaria pacífica, de se considerar que nas aulas de ciências se devem abordar apenas questões de ciência. Certamente que os curricula do agrado da autora serão na linha dos seguidos por uma escola baptista de San Antonio, Texas, onde os alunos aprendem que foi Deus o inventor da consistência dos princípios matemáticos e estudam a história dos Estados Unidos «com um filtro bíblico».

Neste artigo, Melanie Philips escreve que esta «doutrina extremamente dúbia» de pensar que em ciência só se devem levantar questões passíveis de resposta pela ciência é considerada por muitos cientistas (os neo-criacionistas do Discovery Institute) como anti-ciência. Percebemos o que quer dizer no artigo completamente estapafúrdio a «bater» no grande inimigo da razão no (ir)raciocínio da autora: a ciência que, com as suas explicações assentes em factos não na fé, levou ao colapso da crença na literalidade da «Bíblia que fornece uma imagem de um Criador racional e de um Universo ordenado» e como consequência proporcionou a crença nas banhas da cobra New Age.

De facto, Philips termina o artigo explicando que «os argumentos científicos acerca da ausência de evidência» das pretensões criacionistas assentam «na base totalmente perversa de que os argumentos [criacionistas] não estão de acordo com as regras da ciência que exigem que uma teoria seja suportada por evidências.

Como resultado desta arrogância, o Ocidente - o cadinho da razão - está a regredir para uma era pré-moderna de obscurantismo, de dogmas e de caça secular às bruxas».

Assim, na opinião da iluminada autora, esta mania insuportável e irracional da ciência de insistir em que qualquer teoria deve ser suportada em factos é, sem se perceber como, a verdadeira culpada pelo florescimento das irracionalidades New Age - assentes não em factos mas na fé em charlatanices sortidas! Recomendo sobre o tema os posts do Desidério sobre fé e razão.

54 comentários:

Joana disse...

Estou em pulgas para ver o novo documentário de Dawkins que promete ser tão bom como a raiz de todo o mal :))

Sempre tive impressão que os baptistas eram os evangélicos mais... neuron challenged. O blog da senhora baptista que fez uma visita ao DRN e que diz que o satanismo é a mesma coisa que o ateísmo só ajudou. Não percebo como os polícias da palavra deixam online aquele vómito racista, sexista e incitador ao ódio!

Mas os curriculos da escola baptista são mais que acéfalos são completamente anedóticos!

Joana disse...

Já ouvi várias vezes a acusação desta jornalista da boca de muitos católicos: que a culpa destes misticismos é dos ateus que não deixam que catolicismo seja ensinado nas escolas e depois as pessoas acreditam em qualquer coisa.

Estas pessoas parecem esquecer-se que «bruxos», astrólogos, quiromante, endireitas e que tais eram muito comuns no antigmente, quando Portugal era um país oficialmente católico.

Para mim não há nenhuma diferença entre ir a um homeopata buscar uma águinha para uma dor no braço ou ir a Fátima a pé ou queimar uma vela em forma de braço. Nem sei qual fica mais barata!

Que os crentes fiquem irritados por estarem a perder freguesia para superstições concorrentes é uma coisa; agora esta que a culpa de haver gente a acreditar nos mais completos disparates seja dos que denunciam alto e em bom som todasas superstições só mesmo de um crente!

Anónimo disse...

H. L. Mencken: “Para mim, um homem rezando e outro com um pé de coelho para lhe dar sorte são igualmente incompreensíveis.”

Anónimo disse...

Tenho de ver o documentário. Agradeço imenso os textos de tanta qualidade que aqui nos oferecem!
Tenho também um pedido, caso seja possível, podiam, nos próximos tempos comentar o livro daquele senhor japonês, Masaru Emoto, que escreveu sobre as mensagens escondidas na água? Diz ele que os cristais formados em água gelada revelam alterações quando lhes são dirigidos pensamentos específicos e concentrados...eu não acredito nisto e tentei convencer uma amiga que não devia acreditar no autor, que isto não é descoberta e nem merece qualquer crédito à luz da Ciência. Sendo este blog criado por pessoas muito conceituadas no campo das ciências eu gostaria que me dessem os verdadeiros esclarecimentos sobre esta matéria. Maria

Gabriel Peregrino disse...

Desculpem a expressão, mas a verdade é que este Dawkins é um palhaço que se acha dono da verdade (é nada mais nada menos que um Torquemada da "razão"). Antes de mais, a religião é o que fizermos dela. Reparem que não é por existirem hooligans que o futebol se torna mau. Ou por Stalin ter sido uma besta que se deve proibir o comunismo, por exemplo. Porquê encarar a religião de forma diferente? Gente boa e má há em todo o lado. Em segundo lugar, cada um deve poder acreditar no que bem entender. Mesmo que Deus não existe, quem é este Dawkins e outros que tais para me dizer que eu não devo acreditar em Deus? Ele que vá dar banho ao cão e que não se meta onde não é chamado.

Gabriel Peregrino disse...

P.S.: E qual é o mal de as pessoas acreditarem em misticismos new age e coisas do género? Eu não acredito em nada disso, mas não me mete espécie o facto de outros acreditarem. As pessoas são livres!! Mind your own business! Preocupem-se com o que está mal nas vossas vidinhas e deixem as dos outros em paz. De missionários e zelotas está o mundo cheio!

Joana disse...

Pois eu também acho que o Filipe Alves tem imensa razão. Estes zelotas prepotentes que insistem na verdade dos factos são uns palhaços com a mania que são donos da verdade.

Na verdade também acho uns completos palhaços todos os que se reclamam donos e senhores da verdade absoluta.

Que mal é que há em as pessoas pagarem 150 euros por umas garrafitas de água? Afinal o dinheiro é deles, se quiserem gastá-lo em banhas da cobra é o direito deles!

Também acho que a religião é o que os créus fizerem dela. Como o Dawkins também acho que não vem mal ao mundo da religião desde que praticada em privado por adultos consensuais.

O problema são os Stalines e as religiões estão a abarrotar deles. Aqueles que querem impingir criacionismos, racismos, sexismos e demais patetadas e se queixam que estão a ser perseguidos quando não os deixam.

Joana disse...

PS: Adorei, adorei, adorei o "Torquemada da razão" :)))))

Esta coisa de se achar que se deve "torturar" as pessoas e pô-las a usar os miolos é de uma violência inaudita. Onde é que já se viu uma coisa destas? Obrigar as pessoas a pensar dizendo que as tretas já mastigadinhas e digeridas que estão habituadas a engolir não passam de tretas?

Shame on you!

Anónimo disse...

Eu gostava de ter tantas certezas como alguns dos que aqui comentam. Mas não tenho...
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Será que a religião transforma mesmo pessoas potencialmente boas em gente má? Será mau acreditar que deve respeitar-se os Dez Mandamentos? (Que não são mais do que o direito natural que os Hebreus legaram ao mundo como imposição divina, para terem "força de lei".) Qual deles, exceptuando os primeiros três, é descartável? E se eu, além de sempre ter respeitado pai e mãe, de não matar nem roubar, etc., ainda pensar que vale a pena cumprir umas quantas devoções? Farei algum mal ao mundo quando rezo? Serei mau cidadão por causa disso?
Afinal quem é que tem a mania de ser dono da verdade? O pobre ignorante que acredita em Deus ou Dawkins que O nega sem qualquer prova de que tem razão?
Eu acredito com dúvidas, à maneira de Bernanos. Por isso não percebo como pode alguém ter a certeza absoluta de que a crença em Deus é um absurdo.

Palmira F. da Silva disse...

Cara Maria:

Vou tentar comentar o barrete do tal senhor japonês ainda hoje. Como é óbvio é um barrete do mais primário, não é possível alterar o hábito ou a estrutura dos cristais de água com o pensamento, embora existam vários factores, sobrearrefecimento, velocidade de arrefecimento, se os cristais são formados de vapor ou de água líquida, etc.. que determinam a morfologia dos cristais.

Rui leprechaun disse...

A razão é um instrumento absolutamente incompleto e limitadíssimo na busca do conhecimento. De facto, a razão apenas nos consegue dar evidência indirecta da realidade e nada mais!

O contrário da razão pode ser a irracionalidade, mas há também uma supra-racionalidade, ou seja, um instrumento para o conhecimento directo e imediato daquilo que É!

Quantos às medicinas alternativas ou complementares, elas já existem há milhares de anos, afinal. Ou, no mínimo, o princípio em que todas assentam é milenar: it is mind that heals, and the body reacts to what we think and believe! Somos nós que nos curamos, a "natura medicatrix" é inata ao Ser Humano!!!

Trata-se de terapias empíricas, já que anteriores à actual farmacologia, mas cuja eficácia tem sido repetidamente comprovada pela moderna investigação científica, mormente no campo importantíssimo da fitoterapia. Por outro lado, sistemas baseados numa concepção holística e espiritual do Ser Humano, como a medicina chinesa e a ayurvédica, não são ainda passíveis de serem plenamente compreendidos pela visão simplesmente mecânica e parcelar que a medicina convencional tem acerca do funcionamento do corpo humano. Será necessário aprofundarmos muitíssimo mais o nosso conhecimento acerca dos fenómenos da mente e da consciência para compreendermos de que modo a cura física é influenciada por aquilo que pensamos e somos, e não simplesmente pela acção de substâncias ditas quimioterapêuticas, que são talvez o menos importante na cura integral... body, mind and soul!

Logo, há que distinguir esse "pensamento irracional e supersticioso" daquilo que é o "sentimento holístico de SI", algo que continua a estar para além da mera verbalização... you feel but you can not translate it into mere clumsy words! :)

Da homeopatia já muito se disse, mas a comprovação, e justamente no Reino Unido, da controversa experiência de Benveniste acerca da "memória da água", reforça sem dúvida essa possibilidade da acção curativa das substâncias diluídas, mesmo nas mais elevadas diluições.
Os interessados podem consultar o artigo da Wikipedia, com a sua vasta série de referências, no final: Jacques Benveniste.


PS: Ah! Fico à espera do "barrete" do Masaru Emoto e ainda mais desse como é óbvio. Oh really?! So who puts limits to reality, I mean, where is irracionality?!?!?!

Anónimo disse...

Também acho que não faz mal nenhum respeitar os Dez Mandamentos, o problema é que para os crentes também não faz mal nenhum não os respeitar: basta arrependerem-se, confessarem-se, rezarem uns pais nossos e umas avé marias e já está! Melhor ainda, podem ser uns criminosos a vida inteira, fazerem questão de pecar pelo menos uma vez ao dia e (golpe de génio) arrependerem-se nos últimos momentos de vida que obtêm o perdão de igual forma. Se não fosse para nos tornar melhores cidadãos diria que parece mesmo um jogo com as regras viciadas.

guida martins

Ed Darrell disse...

Thank you for the note about the post at my weblog, Millard Fillmore's bathtub, about the Castle Hills First Baptist School in San Antonio, Texas.

Please, tell me you don't have creationists trying to ruin your science education!

I'll leave this in English -- my Portuguese is non-existant, and I do not trust the translation programs to get it right.

Anónimo disse...

Guida, só pode dizer isso quem não faz deia de o que é a confissão. A confissão obriga a um propósito verdadeiro de emenda, caso contrário é nula. Ou pensa que eu ando a fazer o meu pecado diário à espera de uma bênção salvadora? Ou imagina que a Igreja ensina que basta confessar no fim da vida uma vida inteira de pecados, e aí vai Céu? Nada disso. Mas esse é o refrão habitual de quem não sabe nada a respeito dos sacramentos. A sua afirmação, pois, é um atentado à inteligência dos católicos.
Espero que nunca faça nada de que tenha de arrepender-se, porque sei que a bondade não é exclusiva dos cristãos.
Saudações amigas.
Daniel

Joana disse...

A não perder o comentário de Charlie Brooker no Guardian à série de Dawkins:

Welcome to a dangerous new era - the Unlightenment - in which centuries of rational thought are overturned by idiots. Superstitious idiots. They're everywhere - reading horoscopes, buying homeopathic remedies, consulting psychics, babbling about "chakras" and "healing energies", praying to imaginary gods, and rejecting science in favour of soft-headed bunkum. But instead of slapping these people round the face till they behave like adults, we encourage them. We've got to respect their beliefs, apparently.

Well I don't. "Spirituality" is what cretins have in place of imagination. If you've ever described yourself as "quite spiritual", do civilisation a favour and punch yourself in the throat until you're incapable of speaking aloud ever again. Why should your outmoded codswallop be treated with anything other than the contemptuous mockery it deserves?

Joana disse...

Esta é a parte que me enche as medidas. Absolutamente verdadeira e certeira... e parece escrita a pensar em gnomos e que tais:

Maybe you've put your faith in spiritual claptrap because our random, narrative-free universe terrifies you. But that's no solution. If you want comforting, suck your thumb. Buy a pillow. Don't make up a load of floaty blah about energy or destiny. This is the real world, stupid. We should be solving problems, not sticking our fingers in our ears and singing about fairies.

Anónimo disse...

Caro Daniel de Sá:

Um atentado à inteligência dos católicos?
Se o conhecimento que é exigido a um ateu só para expressar uma opinião em relação à religião, fosse exigido aos crentes relativamente aos sacramentos das religiões a que aderem (católicos ou quaisquer outros) parece-me que os templos e outros locais de culto não tinham o movimento que têm.

Se não faço ideia do que é a confissão devia queixar-me a quem me ensinou. Provavelmente os problemas existentes no sistema de ensino também se revelam verdadeiros para o ensino do catecismo, embora no meu caso seja mais complicado já que a minha catequista era também a minha professora primária, a única que tive. Daquelas professoras extraordinárias que nos marcam a vida, das que ensinam tudo o que sabem e aprendem o que não sabem para o poderem ensinar, das que dão aulas extra, em casa, de preparação para o antigo ciclo preparatório, que levam os alunos para a escola ao Sábado para ensinar artes plásticas... Se tivesse que elaborar um top dos três melhores professores que tive, ela estava lá, por tudo o que me ensinou sobretudo o gosto por aprender. Se na escola não tive nenhum problema de aprendizagem, o mesmo não posso dizer da catequese, onde a mesma professora não me tirava as dúvidas que me iam surgindo à medida que aprendia o catecismo, nomeadamente a contradição que já na altura me parecia existir entre o que as pessoas diziam que devia ser feito e o que na realidade faziam. Mesmo assim, fiz a primeira comunhão, devo ter tido pecados suficientes (mesmo sendo criança) porque me lembro que era obrigatória a sua confissão.

Ainda bem que a Igreja é agora muito mais exigente com a sabedoria e fé dos crentes, se o fosse na altura eu talvez nunca tivesse passado neste teste.

Também pode ser que eu não tenha tido sorte com a paróquia (embora me parecesse normal) a que pertencia e que nas outras as pessoas ao confessarem os pecados tenham verdadeiros propósitos de emenda. Mas não é isso que parece, pois não? Se assim fosse, haviam de se notar diferenças significativas (menos crimes, melhor educação, mais solidariedade ...) entre as comunidades mais religiosas e as que o não são e não creio que existam.

guida martins

Anónimo disse...

Amiga Guida (digo assim, porque "cara" não me soa bem referido a uma senhora)
Estou plenamente de acordo com tudo o que disse, excepto na conclusão (embora em dúvida) de que a religião não ajuda a melhorar a sociedade.
Mas, quanto às exigências da confissão, são de sempre, embora nem todos as tenham compreendido, mesmo entre os padres católicos.
No entanto, por exemplo Bartolomé de las Casas, no século XVI, não absolvia os senhores donos de escravos. E creio que o nosso António Vieira tão-pouco. (Num meu romance, eu atribuí-lhe esta virtude, e penso que não faltei à verdade histórica).
Aceita um abraço?
Daniel

Anónimo disse...

Caro Daniel de Sá, um abraço não(pode não parecer bem a uma senhora :)), mas aceito com certeza continuar a discordar, amigavelmente, de si, nestas discussões sobre crenças.

guida martins

Palmira F. da Silva disse...

Caro Daniel de Sá:

Como é óbvio o facto de existir correlação entre algo não significa que exista uma relação causal e devo esclarecer que acredito que a religião não aquece nem arrefece para a construção de um sistema de valores ou moralidade. Existem outros factores que os determinam e ser ou não ser religioso não é um parâmetro a equacionar nesta questão.

Isto é, acho que a contribuição da religião para a melhoria da sociedade é nula na maioria dos aspectos sendo francamente negativa noutros (que têm a ver com a mania das religiões organizadas de que são donas da verdade absoluta e assim acharem que se deve transcrever para o direito os seus preconceitos e dogmas, por exemplo, em relação à sexualidade). Já não falando no criacionismo...

Mas não deixa de ser curioso que vários estudos realizados indiquem que quanto maior a religiosidade de um país, região dentro num país ou comunidade, maior a taxa de criminalidade. Por exemplo, este estudo e lembro-me de há uns tempos ter lido um a nível global com as mesmas conclusões.

Também é curioso analisar algumas estatísticas disponíveis na NationMaster referentes, por exemplo, à República Checa (uma das democracias mais ateias do mundo, onde apenas 19% da população acredita em Deus) e compará-las com as da vizinha Polónia, onde 95% da população se declara católica.

E que a Polónia, de todos os países estudados, é o mais corrupto, com uma das maiores taxas de criminalidade, nomeadamente bate todos os recordes em termos de roubo!

Crime/1000 hab. Polónia Rep. Checa
Assassínio 0,05 0,01
Roubo 1,38 0,39

Palmira F. da Silva disse...

Ah, esqueci-me de referir esta:

Uma das sondagens produzidas pelo evangélico Barna Group, que publica anualmente o relatório «State of the Church» em que analisa o estado da nação em relação ao cristianismo, foi retirada da página do grupo por pressão das organizações cristãs que não queriam pública essa informação.

A sondagem tão execrada indica que a taxa de divórcio nos Estados Unidos apresenta os valores mais elevados entre cristãos conservadores e os valores (muito) mais baixos em... ateus e agnósticos! Assim como a taxa de aborto apresenta o seu máximo entre... católicos!

Este artigo da Times, «Societies worse off 'when they have God on their side'» também é curioso...

Anónimo disse...

Amigas Guida Martins e Palmira Silva
A um jornalista canadiano que me perguntou certa vez como é que Salazar, sendo cristão, foi o que foi, eu respondi-lhe que Salazar não era cristão. Ele ficou muito admirado, mas eu expliquei-lhe que, para mim, ser cristão implica sobretudo respeitar os outros. Com isto quero dizer que essas estatísticas, de que não duvido, não provam (cá está o efeito de causalidade mal avaliado) da religião. Também o Brasil é um dos países com maior número de católicos, e a gente sabe o que por lá vai de crimes e corrupção. De certeza que nenhum deles praticado em nome do cristianismo, e provavelmente pelo menos a maior parte por pessoas que não frequentam regularmente e igreja. Eu, que ainda acredito em ideologias (por isso continuo militante do PS, na suposição de que aquele “S” quer dizer socialismo), entendo que o cristianismo, ou seja, os ensinamentos de Cristo, valem a pena. Sei que a realidade é muitas vezes contrária ao que teoricamente deveria ser o comportamento de um povo religioso (que deixa de o ser quando se põe à margem das normas da sua fé), e sirva de exemplo a reacção de Mahatma Gandhi quando verificou que, na Inglaterra, pouco estava de acordo com a pureza da religião dominante.
O próprio Islamismo não ensina aquelas barbaridades que tanto se praticam hoje. Conheço bem o Islamismo, tanto mais que, além de outras leituras, na disciplina de História da Igreja que estudei também se aprendiam as principais religiões do Mundo, e empenhei-me especialmente nesta, chegando a ler a maior parte do Alcorão.
Portanto, tudo depende do ângulo da análise. Poderemos continuar a falar sobre isto, e, se vocês tiverem paciência, hei-de dar a minha opinião acerca das questões da sexualidade. Fui o primeiro, há muitos anos, a escrever sobre isto num jornal açoriano. Mas posso adiantar desde já que a actual moral católica não tem suporte bíblico nem teológico.
Por agora chamam-me para o almoço, pelo que fico por aqui. Com um abraço virtual, que não há-de incomodar a Guida, com certeza.
Daniel

Anónimo disse...

Guida e Palmira, aqui vai o prometido acerca da Igreja e a sexualidade. Primeiro direi as razões da Igreja, depois explicarei por que não me parece bem a doutrina moral a tal respeito.
A Igreja tende à perfeição. Por isso os próprios actos físicos devem ser perfeitos. No caso do acto sexual, portanto, este deverá ser praticado de acordo com o que se entende um acto sexual completo e “normal”. Talvez herança da moral judaica bíblica, que só admitia o acto sexual praticado em posição frontal, o que se compreende pela preocupação de garantir a fecundidade, tão apreciada naqueles tempos.
No entanto, não me parece muito defensável a ideia de proibir, com fundamento bíblico ou outro, os actos sexuais incompletos. Resumo. Na moral católica, para que exista pecado dito mortal são necessárias três condições: matéria grave, consciência plena e intenção de ofender a Deus. Ora, uma vez que a Igreja admite o controlo da natalidade pelos métodos ditos naturais, qualquer outro, desde que não seja uma falta de respeito pela mulher (ou pelo homem), deveria ser admitido. E isto porque a matéria é a mesma, a consciência de que não se está a gerar um filho permanece igual, e a intenção não é a de ofender a Deus.
O único suporte eventualmente bíblico para esta doutrina é o caso de Onan. Este foi obrigado a casar com Tamar, que havia enviuvado de um seu irmão. A lei impunha estes casamentos para garantir a descendência ao defunto. Mas Onan não estava disposto a que filhos seus fossem considerados do irmão, e por isso nunca praticou o acto sexual completo, derramando o sémen no chão. Segundo a Bíblia, Deus castigou-o por causa desse pecado, matando-o. Para além do cuidado que tem de haver na interpretação deste tipo de linguagem vetero-testamentária, deve notar-se que o considerado castigo de Deus foi por Onan não ter cumprido a lei (dita do levirato), e não pelo desperdício em si do sémen.
Portanto, minhas caras amigas (cá saiu “caras, fica), quando quiserem criticar a Igreja pela doutrina da sexualidade, já terão alguns pontos em que apoiar-se, se por acaso não o sabiam. E não esqueçam que esta norma moral só se aplica aos casais católicos unidos pelo matrimónio, e não pretende ser uma lei universal. Não esqueçam tão-pouco que, por exemplo, essa Igreja que muitos dizem prejudicial, é responsável pela assistência a cerca de um quarto dos infectados com SIDA na Ásia, um continente onde o catolicismo tem uma percentagem residual de crentes.
Um abraço.
Daniel

Rui leprechaun disse...

Há duas formas de olhar o mundo - através da fé e superstição ou através do rigor da lógica, observação e evidência, por outras palavras, através da razão.

Super redutora esta dicotomia primitiva! Ou seja, e onde ficar o sentir, que é MUITO anterior a qualquer pensamento lógico e racional?!

Ou ainda, como olham o mundo aqueles que não o podem fazer através da "razão", por exemplo, as crianças ou os "loucos"?

A fé e a superstição de que aí se fala são também mecanismos mentais, possivelmente falhos de razão lógica mas pertencendo, no fundo, a essa categoria. Ou seja, é uma razão amputada, por assim dizer.

A 3ª via, fora dos circuitos racionais, porque os transcende, é a do puro sentir e intuir, sendo esta a forma suprema de "olhar o mundo", numa espontânea comunhão com o universo interior que apenas reflecte o exterior... ou vice-versa, melhor dizendo!

É esse, repito, o sentido da tão incompreendida e deturpada afirmação atribuída a Sócrates, o tal que nada sabia... excepto alguma coisa sobre o Amor!... que NADA mais tem realmente importância!!!

By the way... what is the rationalization for Love... who can say?!

Homem, conhece-te a ti próprio e conhecerás o universo e os deuses!

E este auto-conhecimento engloba também a razão, claro, mas ultrapassa-a ao incluir o muitíssimo mais importante sentir, através do qual sabemos imediatamente... what we feel is REAL !!!

A mera razão é sempre um instrumento limitado e indirecto para o conhecimento da realidade. A razão não conhece, mas apenas interroga e descreve, numa perene aproximação ao conhecimento que jamais atinge na sua plenitude. Deveras, é uma aproximação incapaz de chegar ao âmago do Ser.

Still we can feel... na Consciência de SI... agora aqui!!! :)

Joana disse...

Muito me surpreende o gnomo ter reconhecido que a fé e a superstição são «razão amputada» e a forma como os loucos olham o mundo :))))

Mas convinha-lhe ler Damásio e o erro de Descartes, para se deixar de tretas e perceber que o "Sinto logo existo" de Damásio racionaliza as emoções :))

Porque será que não comentou o barrete óbvio do aldrabão Emoto? :)))))))

Joana disse...

Daniel de Sá:

Não sei em que mundo o Daniel de Sá vive para dizer que "E não esqueçam que esta norma moral só se aplica aos casais católicos unidos pelo matrimónio, e não pretende ser uma lei universal".

Em tudo quanto é canto a Igreja pretende que as suas normas (i)morais sejam leis universais, passando-as para a letra da lei.

Basta pensar no aborto, no divórcio, nos contraceptivos (que a Igreja tenta proibir como "cultura de morte"), etc., etc., etc.

Isto para não falar na homossexualidade, por exemplo a ICAR inglesa anda às acessas com o governo por causa de uma lei que proibe a discriminação de homossexuais e a Igreja acha que é uma inadmíssivel interferência na liberdade religiosa. Não discriminar quem não segue as patetadas neolíticas da Igreja pelos vistos é uma parte fiundamental do catolicismo...

Bem mais do cristianismo em geral, uma mega-igreja americana recusou fazer o memorial de um veterano de guerra porque ele era gay.

Joana disse...

E o primeiro comentário do Daniel de Sá é um exemplo acabado da falácia do bom escocês. Mas pouca influência tem no mundo que o Daniel ache que «a actual moral católica não tem suporte bíblico nem teológico».

Na realidade a actual moral católica é do mais imoral, criminoso, hipócrita e anti-ético possível. E pode haver mil Daniéis a dizer isso, e há, que não conta um chavo. Porque quem dita a moral da ICAR é o Papa e o Papa está-se bem nas tintas para Daniéis, que têm mais é que comer e calar e deixarem-se de "cristianismo faça você mesmo" que ele passa a vida a condenar.

Sobre a SIDA, África e a Igreja Católica, veja uma reportagem da BBC, Sex and the Holy City para deixar de dizer disparates.

Veja aí o genocídio que a Igreja leva a cabo em África, com o dinheiro dos outros e que o Daniel louva como "assistência". Só se for assistência à morte.

Veja o que é de facto uma «cultura de morte» acompanhando o repórter Steve Bradshaw num périplo pelo mundo e veja a forma criminosa como a Igreja de Roma impõe os seus anacrónicos ditames (as)sexuais a todos, católicos e não católicos, usurpando o papel estatal na assistência médica e hospitalar em países sub-desenvolvidos.

Perceba porque razão um deputado do Quénia disse que a Igreja católica era "o maior obstáculo na luta contra o HIV/SIDA"

Ouça o Cardeal Maurice Otunga, o responsável máximo da ICAR local, que conduziu várias manifestações de fé e devoção cristãs, com o ponto alto na queima de preservativos e folhetos educativos sobre a SIDA.

O (ir)responsável da ICAR, tal como Raphael Ndingi Mwana'a Nzeki, o arcebispo de Nairobi, diz que é o uso de preservativos que dissemina a SIDA. Aliás a culpa da Sida são mesmo os preservativos e diz que «os preservativos podem mesmo ser uma das principais razões para a disseminação do HIV/SIDA»,o mesmo que conferência dos bispos da África do Sul tinha afirmado uns anos antes.

Veja como a ICAR atrapalha as ONG's laicas (quer o dinehiro só para ela) e ouça o director de um centro de combate à SIDA em Lwak, perto do Lago Vitória afirmar que não pode distribuir preservativos devido à oposição da Igreja. Gordon Wambi informa no programa que «Alguns padres têm dito que os preservativos estão contaminados com o vírus HIV»

Joana disse...

Ainda sobre aquele autista "E não esqueçam que esta norma moral só se aplica aos casais católicos unidos pelo matrimónio, e não pretende ser uma lei universal".

O daniel de Sá não se importa de explicar porque razão então a Igreja Católica boicota todas as propostas de introdução de políticas de planeamento familiar nas Filipinas? Propondo mesmo uma lei que proiba a venda de contraceptivos "artificiais" neste país?

Ou porque na Argentina o bispo António Baseotto disse que pelas políticas de planeamento familiar, distribução de imorais preservativos, o ministro daSaúd merecia «ser atirado ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço», uma prática corrente na ditadura militar?

O mesmo no Chile, em que a ICAR, que ainde carpe a morte do "católico exemplar" - JP II -Pinochet, está numa campanha contra a presidente.

O programa que a elegeu, com grande oposição da ICAR que se empenhou primeiro na campanha do Opus Dei Joaquin Lavin Infante,depois de Pinera, tem «pontos totalmente inaceitáveis para a consciência cristã» como oferecer «estabilidade legal» às uniões de facto, quer prevenir a infecção com o HIV promovendo o uso do preservativo, pretende que o Chile assine um anti-católico protocolo de 1979 da ONU que defende os direitos das mulheres - para a ICAR não tem direitos, umas abomináveis «exigências 'para ela mesma'» como diz a Ratazana

Há quilos de exemplos que mostram que o que o Daniel de Sá diz não é verdade. A ICAR quer impor a todos as suas imoralidades.

O «Família e Procriação Humana» de 2006, uma revisão das posições oficiais da Igreja nas áreas da família e reprodução que condena as uniões homossexuais, aborto, inseminação artificial, divórcio, uniões de facto e contracepção «artificial» chama «eclipse de Deus» ao facto das imoralidades católicas não serem traduzidas na letra da lei europeia.

Como «Nenhuma circunstância, finalidade ou lei poderá jamais tornar lícito um acto ilícito porque contrário à lei de Deus» a beatada ulula contra as leis actuais dos países europeus, menos na Polónia e Malta.

Rui leprechaun disse...

Ena! Está contente a Joaninha... ai que linda Carochinha! ;)

Claro que a mera fé ou a superstição são mecanismos (ir)racionais, óbvio, o que só prova como a razão pode ser falha e é muito limitada!

OK, é talvez algo redutor considerar a fé religiosa simplesmente um produto da razão, ainda que seja demasiadas vezes justificada por esta. Mas da forma como aqui se trata sempre muito pela rama tudo o que diz respeito à religião... para já serve! :)

Mas há aí uma pequena confusão em relação aos loucos e às crianças. O que eu pretendi dizer é que, nesses casos, o mecanismo mais básico do sentir prevalece sobre a mais complexa lógica racional, como é óbvio. Ou ainda e sempre, a razão NÃO é o mecanismo primário pelo qual nos apercebemos do mundo ou da sua realidade!

First we FEEL then we think about it!

Logo, é claro que as emoções são racionalizadas... but ALL of them?!

E sim, li Damásio já que a minha área de interesse também se situa nesse campo. Aliás, não me refiro eu a essa fundamental "Consciência de Si", na qual o sentir é sempre muitíssimo mais primordial do que o racionalizar?

Mas há aqui uma grave dificuldade que resulta do modo como a enorme limitação que o nosso extremamente diminuto conhecimento acerca dos fenómenos interiores se reflecte no paupérrimo vocabulário com que designamos aquilo que se passa no mundo da consciência. É que os graus do "sentir" são imensos, desde a mera sensação veiculada pelos sentidos físicos até essa verdadeira consciência da Unidade ou a transpessoalidade.

Damásio segue uma via que não é obviamente a única. Há diversos caminhos, talvez mesmo aparentemente divergentes, mas que por certo nos conduzirão à desejada meta do autoconhecimento do Homo sapiens como espécie única e irrepetível!

Nos primórdios da civilização, seguiu-se a via interior, naturalmente, na introspecção que levou ao conhecimento do Eu. Agora estamos a chegar lá pelo exterior, pesando, medindo, analisando, esmiuçando tudo na tal ponta do bisturi e do microscópio electrónico and so on!

Por fim, se concluirá aquilo que todos os sábios proclamam de há milénios:

O que está em baixo é igual ao que está em cima e o que está dentro é igual ao que está fora.

No big deal about what's REAL! :)


PS: Quanto ao Masaru Emoto não há muito a dizer... either it is or it is not... it's crystal clear in this magic plot!!! :D

But since you want me to play... I shall do it anyway! ;)

Antes ainda, a Unidade - que se sente! - para além da dualidade que só a razão consente!!!

Quando pela primeira vez
ouvi falar de uma história de amor,
comecei a procurar por ti
sem saber o quanto estava cego.

Definitivamente os amantes
não se encontram
em algum lugar.

Desde o início estiveram
um dentro do outro.


Jalālu'd-din Rūmī

Ou ainda, no êxtase de Gnomos deslumbrados... em sonhos de amor dourados! :)

Há um amor incomparável
Um sentimento interior inigualável
Uma alegria imensa inexprimível
Uma fonte de pureza inesgotável
dentro
Dentro
DENTRO!

Anónimo disse...

Joana
O seu tipo de linguagem parece pôr de parte qualquer espécie de diálogo. Já sei que os intransigentes somos nós, a beatada. Intransigentes e parvos, como se percebe pelo seu discurso. Eu tenho vários amigos que levaram essa parvoíce ao extremo. E, pior ainda, em nome de um marginal hebreu. Um, por exemplo, anda pela África do Sul, onde chegou a ser o único branco nas manifestações do ANC contra o apartheid. Claro que continua vivo, apesar de ter tido residência fixa, de ter sido acordado uma vez com uma lança no pescoço e de ter despertado outra com as golas do pijama cortadas por uma navalha de barba. (Este, por acaso, quando lhe aparece algum católico que evita ter filhos “artificialmente”, caso se trate de uma família que já tenha dois ou três ou que não tenha posses para criar mais algum, diz que está tudo bem.) Outro, na Etiópia, apanhou uma catanada na cabeça que ficou com os miolos à mostra, e por acaso continua vivo e permanece lá. Outro está no Darfur há uns bons pares de anos, num sítio aonde não chega nenhuma ONG. Outro ainda é bispo na República Centro-Africana, já teve rajadas de metralhadora a passarem-lhe junto aos pés, numa revolta de que o mundo civilizado só soube através do aviso via rádio que ele e os outros parvos como ele mandaram para uma das casas da congregação, em Issy-les-Moulineaux. Eu poderia desfilar uma série de outros exemplos, dizendo os nomes, mas sei que tais nomes não lhe interessam. A Joana só colecciona os que lhe parecem maus exemplos.
Mas sejamos honestos e minimamente inteligentes, Joana. Chamar imoralidades àquela série de juízos da ICAR faz-me duvidar da serenidade do seu raciocínio. Nem me dou ao trabalho de explicar por que não se trata de nada disso. E bem estúpido será quem acredita que uma parelha homossexual não usa o preservativo porque a ICAR o proíbe. E quem diz homossexual diz qualquer outro par envolvido numa relação fora do matrimónio. Repito que essa indicação é apenas para os católicos, porque a ICAR não tem nada que ver com quem não faça parte da beatada. Se bem que a situação das Filipinas é uma das que pessoalmente me preocupam, e já disse o que penso a esse respeito. No entanto, acredito que não levará muito tempo até que os parvos que mandam na ICAR mudem isso, que mais não seja os bispos, a quem o centralizador Ratzinger devolveu o direito de adaptarem a doutrina não dogmática segundo as necessidades do povo das suas dioceses. Além disso, há o problema da consciência. Muitos padres e alguns bispos portugueses, incluindo D. José Policarpo, têm falado nisso publicamente: em último caso, é sempre a consciência pessoal que decide. Mas a consciência pessoal não pode ir contra as leis de direito natural. O respeito pela vida é um deles. E a ICAR acredita, e eu também, que com o aborto se extermina uma vida.
A este propósito, vou fazer-lhe a pergunta inevitável. Antes, conto um episódio que se passou com um amigo meu. (Não vou entrar em pormenores do que penso acerca da bomba de Hiroshima.) Esse amigo não aceita, de maneira nenhuma, aquela barbaridade como maneira de evitar a morte de milhares de americanos. (Deve estar a par dos problemas criados por um ministro japonês que disse que a compreendia como única forma de evitar que a Rússia invadisse o Japão e reduzisse tudo a escombros. E talvez saiba que entre os mortos de Hiroshima cerca de vinte mil eram prisioneiros coreanos.) Eu perguntei a esse amigo se, caso ele soubesse que mandar lançar a bomba sobre Hiroshima era a única forma de salvar o filho, ele o faria. Teve de responder que sim. E a Joana, se o aborto tivesse efeitos retroactivos, e soubesse que seria uma das seleccionadas, estaria a favor?
Desculpe o azedume. Mas ele estava demasiado evidente nas suas palavras.
Daniel

Anónimo disse...

Prof. Palmira: Muito obrigada pelo excelente texto sobre o senhor M. Emoto que colocou ali em cima. Li com bastante interesse e atenção e acredito que com ele poderei ajudar a minha amiga a chegar à verdade e deixar de acreditar nestes vendedores de banha de cobra dos tempos modernos.
Felicidades sempre!
Maria

Joana disse...

Voltando ao «Polícia da Palavra», o Daniel de Sá conjuga a censura dos fundamentalistas cristãos de direita e a esquerda pós-moderna.

Já não é a primeira vez que ignora o que sabe ser verdade em tiradas balofas de indignação contra a minha «linguagem».

Agora "beatada" está no Index? Não yenho mais nenhuma palavra "ofensiva", só perguntas a que o Daniel não responde.

Em relação a esta:

"E a Joana, se o aborto tivesse efeitos retroactivos, e soubesse que seria uma das seleccionadas, estaria a favor?"

Ó fazfavor, Daniel "Desculpe o azedume. Mas ele estava demasiado evidente nas suas palavras." essa só merece como resposta:

"E o Daniel de Sá, se não fosse parvo, gostava de ser o quê?"

Anónimo disse...

Resposta à pergunta da Joana:
Obviamente gostava de ser inteligente. (Talvez por isso nunca me atrevi a chamá-la parva.)
Daniel

Joana disse...

Pela cristianovitimização, pela "qualidade" dos comentários, por esta resposta bem à padreca estou disposta a apostar que o Daniel ou é padre ou andou lá perto!

Só o seminário ensina a insultar desta maneira subtil ... a fugir às perguntas com mais perguntas (parvas) e depois armar-se em vítima porque lhe fazem notar que a pergunta é parva :)))) Esta é mesmo imagem de marca!

PS: Okay, okay, padreca está no Index, fazfavor poupe-me a outra tirada indignada em que descreve num lençol o seu glorioso passado anti-fascista, humanitário, literário e que tal. Já todos sabemos que o Daniel não é um zé-ninguém como o resto do pessoal.

Gabriel Peregrino disse...

Joana, ironias à parte, de facto «obrigar alguém a pensar» pode ser uma tortura. Especialmente se, como parece ser o caso, as quiserem obrigar a pensar de uma determinada forma, que «assenta na verdade dos factos». Tendo em conta que ninguém é dono da verdade, não posso deixar de sorrir perante semelhante falta de humildade. Sinceramente, não vejo grande diferença entre os ateus fanáticos de hoje em dia (como Dawkins e admiradores) e o referido Cardeal Torquemada de má memória. Em comum têm o facto de quererem controlar consciências. Ah, refira-se que sou papista, padreco, apostólico, romano, seminarista, com cheiro a sacristia e todas essas palavras que gosta de usar.

Anónimo disse...

Joana, a subtileza do seu comentário é admirável. Curvo-me perante esse seu saber mais acerca do que se ensina no seminário do que quem por lá andou. Eu posso disfarçar o insulto (que não o foi) com palavras "brancas", mas a Joana vem directa, ataca de frente e em pontas. Honra lhe seja feita por tal capacidade de ser bem-educada. Ou "mal", já não sei.
Passe bem.
Daniel

Joana disse...

Daniel de Sá:

Releia lá o seu lençol a mostrar que conhece muitos católicos importantes. Pare na frase:

No entanto, acredito que não levará muito tempo até que os parvos que mandam na ICAR

leia sua pergunta, aquela do efeito retroactivo do aborto (a pergunta típica dos misóginos católicos que acham que as mulheres se devem sacrificar por um óvulo fertilizado)

leia o que eu escrevi:

"Desculpe o azedume. Mas ele estava demasiado evidente nas suas palavras." essa só merece como resposta:

E o Daniel de Sá, se não fosse parvo, gostava de ser o quê?


Percebeu, ou quer que eu lhe faça um desenho?

Bolas, que não há mesmo saco para a cristianovitimização dos créus (ups, outra palavra do Index...)

Joana disse...

Ah! E escusa de responder com palavras "brancas". Já sei que o Daniel de Sá foi mesmo quase padre :)))))

O algodão não engana :))

Joana disse...

FIlipe Alves:

Não pode ser "papista, padreco, apostólico, romano, seminarista, com cheiro a sacristia" e dizer heresias como "Tendo em conta que ninguém é dono da verdade".

Se a ratazana o ouve a cometer pecados deste ainda é excomungado. Toda a gente devia saber que a ICAR é a dona e senhora da verdade absoluta intemporal universal e tal.

Agora a sério, uma coisa é a verdade interpretação dos factos e outra é a verdade dos factos.

Pode-se inventar muitas teorias para explicar porque é que o Sol nasce todos os dias, outra coisa é negar que o SOl nasce todos os dias.

Pelos vistos o Filipe acha que dizer que o Sol nasce todos os dias é querer "obrigar a pensar de uma determinada forma», é querer controlar consciências uma tortura equivalente às do Torquemada.

Anónimo disse...

Só depois de ter lido, e respondido, mais acima, é que deparei com estas mensagens da Joana. Sim, estive quase a ser padre, e só não o fui porque a minha saúde não aguentou o ritmo de vida que era necessário. Pois é, há quem tenha coisas destas... E um dos meus sonhos era - imagine! - ir prestar serviço entre leprosos.
Tenho sido razoavelmente feliz na vida. Não me queixo.
Um abraço.
Daniel

Gabriel Peregrino disse...

Cara Joana, antes de mais não lhe reconheço autoridade para dizer quem é ou não católico. Eu posso ser católico, sendo um mau católico. Provavelmente, é isso mesmo que sou. Se calhar porque a Salvação é também uma graça de Deus, i.e., só é salvo quem Deus quer. Provavelmente eu não serei salvo e estarei, como bem aponta, excomungado. Em todo o caso, isso é entre mim - um mau católico, que ousa ter dúvidas onde outros têm certezas - e Deus. Você não tem nada a ver com isso. Meta-se na sua vida. Se o seu conhecimento sobre a Igreja fosse algo mais do que uma caricatura, talvez conseguisse compreender que o cristianismo é uma ideal de perfeição - logo, inatingível - e que a Igreja é bem mais plural do que possa parecer. Talvez conseguisse, repito... Em segundo lugar, a Igreja não é dona da verdade. A Igreja considera-se a legítima portadora da mensagem de Cristo, que veio salvar toda a Humanidade. Cristo sim, é o dono da verdade - porque Ele é Deus, "o Caminho, a Verdade e a Vida" - e não a Igreja, que é composta de homens e, como tal, falível. Além disso, pode o mensageiro ser dono da mensagem?

Gabriel Peregrino disse...

Para terminar, a Joana diz que «uma coisa é a verdade interpretação dos factos e outra é a verdade dos factos». Não o nego. O que não lhe admito é que me tente forçar a acreditar naquilo que considera verdade. Se eu quiser acreditar que o Sol não nasce todos os dias, que direito tem você de me penalizar, censurar, insultar ou prejudicar por isso? Acima de tudo está a liberdade, na medida em que não predique a liberdade dos outros. Se eu quiser ser burro, supersticioso, ignorante, idiota ou obscurantista, sou livre de o ser. E, para ser sincero, prefiro ser todas estas coisas do que ser um zelota da razão, convencido de que vou iluminar as mentes dos outros. Metam-se na vossa vida e olhem para os vossos problemas. Se as pessoas forem felizes sendo alienadas por crenças new age ou por uma qualquer ideia que não está "suportada na verdade dos factos", são livres de o serem. O cardeal Torquemada, da má memória, também estava cheio de boas intenções. Sempre que queimava um marrano, fazia-o convencido de que estaria a salvar a sua alma. Donos da verdade, sempre os houve e haverá. Pensem nisto.

Anónimo disse...

Daniel de Sá escreve, escreve, para dizer uma coisa que poderia dizer em dez palavras: «A Igreja Católica só pretende intervir nos comportamentos dos católicos».
Isto, como toda a gente sabe e o Daniel também, é falso. A Igreja Católica (falo da instituição, evidentemente) procura em toda a parte, e por todos os meios, intervir nas leis que nos obrigam a todos. Nalguns tempos e lugares com mais êxito, noutros com menos, mas tenta sempre.
Para quê negar a evidência? Para quê deitar palavras e mais palavras para cima duma afirmação falsa? O que pretende conseguir com isso? Se a afirmação é falsa em dez palavras, continuará a ser falsa em mil páginas.

Anónimo disse...

Não sei se a religião torna más as pessoas boas. Mas que tem transformado em monstros muita gente que, entregue a si mesma, podia ser decente, lá isso tem. E continua a fazê-lo.

Anónimo disse...

Richard Dawkins vive um conflito entre ciência e religião. E é suficientemente eloquente nos seus argumentos, e persuasivo a ponto de convencer os outros dos seus pontos de vista. Assumo que muitos se sintam identificados com esses pontos de vista. Porém, existem - como todos sabemos - outros pontos de vista. Existem também pessoas como Alister McGrath (que escreveu um livro 'The Dawkins Delusion') que procuram chamar a atenção para a potencialidade do diálogo entre ciência e religião em ordem a uma visão mais integral do ser humano. O ponto essencial de Richard Dawkins baseia-se no facto de sermos 'racionais'. Proponho a ousadia de irmos mais além e substituir o 'sermos racionais' por 'sermos relacionais'. Do ponto de vista da relacionalidade é possível um diálogo autêntico entre ciência e religião (há quem o faça como John Polkinghorne, Robert John Russel, Nancey Murphy, Elizabeth Johnson, John Haught, Philip Hefner, Keith Ward, Jürgen Moltmann, Francis Collins, George Coyne, Wolfhart Pannenberg, Denis Edwards, Arthur Peacocke e tantos outros). Do ponto de vista da relacionalidade, existe para o crente e o não-crente, uma busca comum pela verdade, onde o crente aceita que o não-crente procure, genuinamente, respostas filosóficas para questões ontológicas. E o não-crente aceita que o crente encontre uma resposta religiosa, com base filosófica e experiencial, para as mesmas questões ontológicas.

Infelizmente, receio ter razão ao afirmar que o panorama da literatura publicada em Portugal sobre este assunto é muito unilateral, favorecendo a perspectiva do 'conflito' e tornando, assim, ausentes, muitos pontos de vista que favorecem o diálogo entre ciência e religião. Mas depois de ver alguns vídeos no YouTube com o Richard Dawkins, ter lido alguns dos posts acima, senti-me impelido a partilhar-vos esta perspectiva.

Desafio-vos a conhecer o modo de interacção entre ciência e religião do 'diálogo'. Estou certo que se irão surpreender...

Anónimo disse...

Um segundo comentário, ainda relativamente ao vídeo "the root of all evil?", Richard Dawkins comete o erro bíblico mais comum de descontextualizar o texto do tempo histórico e da cultura onde esse foi escrito. Olhar para as pedras não nos mostra o caminho. Por outro lado, do ponto de vista da relacionalidade, o conteúdo do programa baseado no livro não promove a relacionalidade, mas aquela racionalidade que despreza a relacionalidade. Como discernir conteúdos do género e formular uma crítica construtiva em ordem ao diálogo?

Permitam-me sugerir o último livro publicado pelo eminente pedagogo Howard Gardner, psicólogo de Harvard que introduziu a teoria das múltiplas inteligências, e que em "Five minds for the future" nos propõe que mentes devemos desenvolver no futuro:

- mente disciplinada: ter um conhecimento profundo sobre qualquer matéria. O critério é estudar 2h por dia de matéria nova, durante 10 anos! Exemplo: o músico Arthur Rubinstein, "Se não treinar durante um dia, fico a sabê-lo. Se não treinar durante dois dias, a orquestra fica a sabê-lo. Se não treinar durante três dias, o mundo fica a sabê-lo."

- mente sintetizadora: desenvolver a capacidade de sistematizar conhecimentos e realidade diferentes. Exemplo: pessoas que procuram relacionar ciência com teologia.

- mente criativa: desenvolver racionícios, relações, coisas novas.

- mente respeitadora: capacidade de acolher as ideias do outro por muito diferentes que sejam das nossas.

- mente ética: a ética relaciona-se com os valores e como os pomos em prática. Neste caso, do ponto de vista da relacionalidade, uma mente ética é aquela que promove a relação na suas decisões e atitudes quotidianas.

Terá Richard Dawkins desenvolvidas equilibradamentes estas mentes? Se virem os filmes no YouTube; tiverem em conta estas 5 mentes; e são, usualmente, persuadidos pelos argumentos de Richard Dawkins... irão surpreender-se ...

Anónimo disse...

Há católicos que arriscam a vida em África, curando e ajudando os aflitos, sem dúvida. Porventura bem mais do que ateus! Mas não são, nem por sombras, a regra: a maior parte dos católicos não faz isso. Ostentam, quando muito, ora as suas imperfeições e pecados, ora a sua infelicidade e culpa, e isso paralisa, e nessa medida também destrói um pouco quem com eles convive. Estou certa de que muitos ateus também ajudariam os pobres e os desafortunados, caso fossem apoiados pela mesma infraestrutura que as igrejas organizadas proporcionam. Mas como pastorear «gatos» (para recorrer à metáfora de Dawkins) para alcançar tal objectivo? É, de facto, um problema organizativo relevante! Os gatos, ao contrário das ovelhas, são individualistas, e até mesmo um tanto snob ou pedantes. Mas o facto é que, em abstracto, tanto católicos (ou cristãos, em geral) como ateus e agnósticos são perfeitamente capazes de ser empáticos, compassivos e solidários, apenas com a diferença de que os primeiros conseguem mais comodamente integrar-se num esquema já montado com vista a isso do que os segundos. Uma ideia que, por sinal, também estava presente no tão contestado livro do Dawkins!
Quanto a certas perguntas que se fazem, como a que foi dirigida à Joana (sobre se gostaria de ser ela a escolhida, em caso de aborto), ela até se safou muito bem com a resposta que deu, mesmo recorrendo a imprecações que, se estivesse noutro país menos dado à democracia e ao bem-estar económico, dariam lugar a consequências materiais (não apenas verbais) por certo bem desagradáveis, para não dizer fatais. De facto, a perguntas daquelas o que se há-de responder?! Elas são de uma tal violência, denotam uma tal falta de solidariedade e de respeito pelo próximo (também temporalmente: isto é, pelo contemporâneo; neste caso, por uma contemporânea) que os sufixos intensificatórios (recursos que enriquecem a nossa língua, como em «beatada», etc.) imediatamente se posicionam, como é normal, para uma reacção rápida. É que quem vai à guerra dá e leva. Há muitas maneiras, também as que pretensamente se apresentam sob uma capa de cortesia, de fazer deflagrar uma guerra de palavras.
Adelaide Chichorro Ferreira

AkitaOnRails disse...

Recentemente publiquei um artigo semelhante a este no meu blog AkitaOnRails.com entitulado Inimigos da Razão. Assim como aqui, também recebi comentários acalorados.

Mas deixe-me expôr um padrão: nenhum dos críticos contra Dawkins expõe 'argumentos'. A impressão é que ignoram completamente o conteúdo do seu trabalho, o conteúdo do próprio artigo (tanto este, quanto o meu) e cegamente passam a chutar 'discursos' que nada tem a ver com o tema. Desconhecem totalmente a definição de palavras como "ciência", "superstição", "falácia" e outros e encaram a Ciência como 'outro ponto de vista' ou 'outra religião', demonstrando total desconhecimento de outro termo: 'método científico'.

Convido a todos: principalmente os que são-contra-Dawkins-sem-saber-do-que-se-trata, para reler ambos artigos.

Anónimo disse...

Queria só dizer que os fundamentalismos existem dos dois lados e são sempre do mesmo calibre.

O fundamentalismo é uma atitude de raiz emocional profunda que leva a uma crença irredutível numa determinada "verdade". O problema está na irredutibilidade da crença que leva ao desrespeito profundo por quem quer que seja que tenha uma perspectiva diferente.

A "verdade" em si, acaba por ser pouco relevante, chame-se ela religião, ciência ou qualquer outra coisa. O efeito prático é a criação de grupos fechados dispostos a guerrearem-se pela sua "verdade". Isto porque só os fanáticos se dedicam a guerrear outros fanáticos...

Se cada "fé" se dedicar apenas a ensinar a sua mensagem, numa perspectiva aberta, honesta e no respeito pela consciência de cada um, penso que íamos todos muito mais longe...

É claro que eu nada sei e estou a pedir demais. Eu sou apenas HUMANO e a ciência ainda não tem uma explicação completa do que isso é e a religião oferece demasiadas ambiguidades.

Joana disse...

Pedro Freire:

Isto porque só os fanáticos se dedicam a guerrear outros fanáticos

É, também acho que os Aliados eram uns fanáticos por terem combatido Hitler.

isto para não falar nos "fanáticos" que querem combater o terrorismo islâmico e assim!

Também tenho "irredutibilidade" na "crença" que 1+1=2 e tenho um desrespeito profundo por quem diz que 1+1 é diferente de 2.

Ateia paciência

Anónimo disse...

Joana:

Lamento, mas em binário, 1+1=10...

Citando Einstein "Science without religion is lame, religion without science is blind."

Por mera curiosidade (não-científica), gostava de saber como é que preenche tudo aquilo que a ciência não explica. Com o vazio do espaço?

Empíricas condolências.

Anónimo disse...

Aqui vai um artigo que pode ser interessante:

http://www.motherjones.com/news/feature/1997/11/slack.html

Cláudia S. Tomazi disse...

"Mas é preciso a religião para que pessoas boas façam coisas más."

Acaso o pensamento de algum religioso?! Ganhar o Nobel nem significaria ser exemplo a fazer confusões entre religioso e fundamentalista e nem justificaria pessoas e razões em más as boas.

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