sexta-feira, 8 de junho de 2007

Ciência e arte - II

A recuperação do conhecimento perdido acelerou em finais do século XII, para o que foi determinante a reconquista da Península Ibérica, facilitada pela fragmentação do califado de Córdoba. A Reconquista possibilitou aos incultos europeus o contacto com uma Córdoba cosmopolita, elegante e educada, onde vivia uma comunidade judaica muito importante na qual se destaca um dos seus mais prestigiados filósofos, Maimonides, e com uma Toledo académica, cidades que expuseram o mundo cristão não só à filosofia aristotélica sem censuras como também à matemática dita árabe*.

A exposição à matemática foi importante porque o crescimento económico de cidades como Florença, Veneza e Pisa, implicava a existência de conhecimento - que permitisse cálculos de empréstimos e juros, preços de revenda, investimentos, custos dos seguros das viagens, etc.- impossível de satisfazer com as muito pobres aritmética e a geometria escolásticas, a primeira com grandes dificuldades decorrentes do sistema de numeração romano.

As necessidades económicas ditaram a criação de uma nova instituição educativa: a Botteghe ou Scuole d'abaco (Escola de Ábaco), cujo primeiro Maestri d'abaco (mestre de ábaco, ou cálculo) foi, muito provavelmente, o famoso Fibonacci da série que tem o seu nome, Leonardo de Pisa (ca. 1175-1250). As escolas de Ábaco ensinavam essencialmente a matemática árabe e eram dirigidas a um público diverso entre os quais se destacavam pintores, escultores e arquitectos.

E foi a arte grande impulsionadora da transição cultural renascentista, arte que foi indissociável dos avanços no pensamento científico e na prática tecnológica. De facto, os pintores e escultores renascentistas investigaram novas soluções para problemas visuais, nomeadamente tentavam recuperar a perdida técnica representativa da perspectiva.

Muitos artistas foram simultaneamente matemáticos, por exemplo, aquele que alguns autores consideram um dos maiores matemáticos do séc. XV, Piero della Francesca, é mais conhecido como um dos pintores marcantes desta época- de que existe em Portugal, no Museu Nacional de Arte Antiga, o quadro «Santo Agostinho». Piero della Francesca (1416-1492) escreveu um Trattado d'Abaco, um livro sobre perspectiva, De Prospectiva Pingendi e um livro sobre poliedros regulares, De Corporibus Regularibus.

Na realidade, uma das características da Renascença é a multidisciplinaridade e a fusão da arte com a ciência. Os desenvolvimentos do desenho, da perspectiva e do estudo das proporções, são marcados pelos trabalhos únicos de Leonardo da Vinci (1452-1519), Albrecht Dürer (1471-1528) e do flamengo Andreas Vesalius (1514-1564), verdadeiros «homens da Renascença».

Albrecht Dürer foi a figura central da renascença alemã e um dos grandes teóricos renascentistas da pintura - de que o Museu Nacional de Arte Antiga possui igualmente uma obra, São Jerónimo. Dürer considerava que «a nova arte deverá basear-se na ciência - em particular na matemática, como a mais exacta, lógica e impressionantemente construtiva das ciências» e «que a Geometria é o verdadeiro fundamento de toda a pintura». Tendo resolvido «ensinar os seus rudimentos e princípios a todos os iniciados na arte» escreveu Geometria e Perspectiva (1525), Tratado sobre as Fortificações (1527), e os Quatro livros das Proporções do Corpo Humano (De Symmetria Partium in Rectis Formis Humanorum Corporum), publicado por Pirckheimer seis meses após sua morte.

Uma das obras de referência de Dürer é o desenho do rinoceronte enviado a D. Manuel I por Afonso de Albuquerque, que por sua vez o recebera como presente do soberano de Cambaia (no norte da Índia), o Sultão Mazafar II. Dürer, que nunca viu o rinoceronte ao vivo, baseou-se em informações de outrem, o que justifica a presença de algumas imprecisões no seu desenho - exageradas ainda mais na xilogravura, que continuou a ser utilizada como modelo para diversas ilustrações de livros de história natural até ao século XIX.

Mas sem dúvida que Leonardo da Vinci, com uma obra que reflecte a harmonização entre a arte e a ciência, é a figura marcante desta época. Poucos serão os nossos leitores que não conhecem a importância da obra de da Vinci, mas quiçá alguns não saibam que esta foi influenciada, entre outros, pelo pai da óptica moderna Alī al-Hasan ibn al-Haṣan ibn al-Haytham, conhecido no Ocidente como Alhazen. O Kitab al-Manazir traduzido em 1270 para latim como «Opticae thesaurus Alhazeni», influenciou ainda cientistas como Roger Bacon, Witelo - cujo trabalho mais importante é o livro Perspectiva - e Johann Kepler.

Foi igualmente Leonardo da Vinci quem iniciou os primeiros estudos anatómicos. Contudo, a descrição exaustiva da anatomia humana foi levada a cabo por Andreas Vesalius cujos desenhos são perfeitos do ponto de vista técnico. Vesalius, o «pai da anatomia moderna», foi autor de várias obras de que se destaca uma espécie de atlas do corpo humano ricamente ilustrado, dividido em sete partes, De Humani Corporis Fabrica, libri septem, concluída em 1543 após inúmeras dissecações de cadáveres humanos. O trabalho de Vesalius sobre a circulação do sangue (assim como o do médico que descobriu a circulação pulmonar do sangue, Miguel Servet, condenado por heresia pela Inquisição e queimado em 1553) inspiraria William Harvey, que o Carlos já referiu.

A trabalho de Vesalius e a forma como foi obtido - a dissecação era uma prática condenada pela Igreja- provocou uma acesa polémica, não apenas médica como teológica, e Vesalius foi acusado de heresia, o que talvez explique porque razão trocou o ensino de medicina em Pádua pelo lugar pouco excitante de médico do sacro imperador romano Carlos V. De acordo com várias fontes, uns anos depois da abdicação de Carlos V, a Inquisição teria condenado Vesalius à morte, sentença a que escapou por intervenção de Filipe II, filho de Carlos V, que teria conseguido que a sua pena fosse comutada por uma peregrinação a Jerusalém. Qualquer que fosse a razão da peregrinação, é certo que na viagem de regresso de Jerusalém, Vesalius adoeceu e morreu.

Com a invenção da impressão por Gutenberg, a ciência e a arte começaram a ser acessíveis a um número crescente de pessoas. Do século XVI ao XIX, os homens da Renascença como Leonardo, Dürer ou Vesalius inspiraram muitos outros, a arte e a ciência permaneceram intimamente ligadas e a multidisciplinaridade expandiu-se. O início do século XX e a explosão do conhecimento ditou o fim do «homem da Renascença», o indíviduo que detinha conhecimento universal.

*Nos primórdios da civilização árabe (identificada com islâmica) a esmagadora maioria dos matemáticos e sábios «árabes» praticavam outras religiões e escreviam numa língua diferente do árabe. Só em 762 o árabe passou a ser a língua oficial de todo o império islâmico pela mão do califa abássida al-Mansur (754-775), que transferiu a capital para a recém-criada Bagdad. Tanto al-Mansur como os califas subsquentes, especialmente o califa Harun ar-Rasid (786-809), promoveram o desenvolvimento das ciências da natureza. No califado deste último Bagdad comecou a ser transformada no epicentro da difusão de conhecimento com a criação de uma importante biblioteca, contendo diversos manuscritos provenientes, entre outros, do império Bizantino. Nessa altura numerosos sábios e tradutores, professando religiões sortidas, e vindos de diversas regiões não apenas do império árabe, reuniam-se em Bagdad, que substituiu Alexandria como centro de saber. Assim, aquilo a que chamamos matemática árabe não o é de facto mas sim matemática escrita em árabe. Os algarismos ditos árabes correspondem à numeração indiana cuja primeira referência (excluindo o zero) fora da Índia, cerca de 662, se deve a Severus Seboht, originário de Nisibis, Mesopotâmia.

O filho de ar-Rasid, o califa al-Mamum, fundou uma espécie de academia, Bayt al-Hikma, a Casa da Sabedoria, em cujas funções se incluia a tradução de textos diversos, especialmente gregos e indianos, e que dispunha de um muito bem equipado observatório astronómico. A Casa da Sabedoria produziu obras originais fundamentais como o primeiro tratado de álgebra (de al-jabr, que significa restauração), Hisab al-jabr w'al-muqabala, da autoria de um dos primeiros matemáticos da Casa da Sabedoria, Abu Abdullah Mohammed ben Musa al-Khwarizmi de que existem várias traduções em latim datadas do século XII. Aliás, o termo algoritmo deriva de uma corruptela do nome do matemático, inscrita numa obra do século XIII, sem título, que se encontra na biblioteca da Universidade de Cambridge, que se inicia com as palavras Dixit Algorismi.

21 comentários:

Ciência Ao Natural disse...

Cara Palmira,

ainda não li; apenas passei os olhos pelo seu post mas surgiu este pedido: se antes eu não o fizer, discuta algo de um mestre cientista (como gosto de este termo!) mas igualmente artista, pelo enorme conhecimento geométrico - D'Arcy Thompson.

Luís Azevedo Rodrigues

Ciência Ao Natural disse...

Uma dúvida: o desenho/ilustração de rinoceronte aqui presente é da autoria de Konrad Gesner ou de Albrecht Dürer?

Luís Azevedo Rodrigues

Paulo Gama Mota disse...

A ilustração apresentada é da autoria de Durer. A de Gesner é muito diferente.

Durer baseou-se numa descrição que lhe chegou quando o rinoceronte chegou a Lisboa em 1515. Li algures que ele se correspondia com um tipógrafo de origem alemã que veio para Portugal no início da imprensa (seriam familiares). Tenho ideia que era Nicolau da Saxónia. Terá sido através dele que Durer teve acesso a uma descrição, ou esboço em que se inspirou para esta fantástica obra símbolo do renascimento.

Unknown disse...

No fim da idade média a Europa já era a zona mais desenvolvida do globo. Ultrapassando já o seu querido império Árabe. Claro que mesmo sobre o jugo da poderosa Igreja a idade média conseguiu ter matemáticos importantes como Fibonacci. Claro que o crescimento dessas cidades Italianas que estão em Itália perto de Roma, muito perto do papa teve uma influência decisiva do Califado de Córdoba. Bem dito califado que espalhou cultura por onde passou, basta ver o nosso país.
Aliás as pessoas da idade média eram tão burras como se vê em Reims Colónia ou Estrasburgo que construiam catedrais em vez de ciclotrões.

Uma acusação clara à Palmira, não lhe interessa a verdade histórica. A palmira manipula a história de acordo com as suas próprias vontades. Primeiro tira as suas conclusões e depois é que investiga.

A Idade Média foi uma idade de obscurantismo? A idade média alta (1000-1500) certamente que não, foi nesta altura que a Europa se uniu politicamente conseguiu fazer frente aos Árabes, reconquistar territórios perdidos. A estabilidade política teve obviamente influências na cultura e na ciência.

Na realidade tudo o que diz é falso, os Árabes eram mais problema do que solução. Cercavam a Europa, pilhavam constantemente as cidades costeiras (por exemplo Roma em 850), controlavam todo o comércio. Eram digamos o Império Romano da altura. Era bom para quem vivia nele mas péssimo para quem vivia fora dele.

Mais, a unidade política nessa altura era uma anedota, vivíamos no fim da idade média num mundo de pobreza, miséria e decadência.

Mas a Europa tinha algo que se revelou fundamental a unidade religiosa. Na realidade na idade média baixa (450-1000) o poder central da igreja era fraco.

A sua teoria desenvolve-se numa série de mitos de culpabilização do ocidente que tem objectivos meramente políticos. É fácil manipular a história basta aludir aos acontecimentos que nos interessa e esquecer os outros. Tal como é fácil manipular os escritos históricos de um autor fazer citações fora do contexto.

Unknown disse...

Basta visitar a página da wikipedia para verificar que as suas noções são erradas.

http://en.wikipedia.org/wiki/Roman_Catholic_Church

«Historians of science, including non-Catholics such as J.L. Heilbron,[91] Alistair Cameron Crombie, David C Lindberg,[92] Edward Grant, Thomas Goldstein,[93] and Ted Davis, have argued that the Church had a significant, positive influence on the development of civilization. They hold that, not only did monks save and cultivate the remnants of ancient civilization during the barbarian invasions, but that the Church promoted learning and science through its sponsorship of many universities which, under its leadership, grew rapidly in Europe in the 11th and 12th centuries.»

Ciência Ao Natural disse...

Caro Paulo Gama da Mota,

As diferenças que refere entre os rinocerontes de Durer e Gesner, para o meu olho de simples utilizador de morfometria, são inexistentes.

Por favor consulte a pág. 943 de Historiae animalium lib. I. de - eu consultei a página da national Library of Medicine, americana, em http://www.nlm.nih.gov/exhibition/historicalanatomies/Images/1200_pixels/rhino_18.jpg

O que pretendia com a minha questão era tão somente saber porque as duas ilustrações são praticamente idênticas e "história" que poderiam estar por detrás desse aparente plágio/influência.

Cumprimentos

Luís Azevedo Rodrigues

Unknown disse...

Outro ponto, a Palmira não refere um assunto central a iconoplastia. Como é que é possível falar na idade média, na arte e na civilização Árabe sem falar em iconoplastia?

Anónimo disse...

no fim da baixa idade média (1000-1500) a europa começou a libertar-se do jugo obscurantista da igreja. até lá coisas com as cruzadas só aconteceram por causa daqueles malvados dos árabes, já se sabe.

como reacção às bárbaries cristãs o fundamentalismo árabe começou a mostrar a cara e no renascimento já estava completamente instalado.

mas concordo que a wikipedia é o tira-teimas detudo. se vem na wikipedia só pode ser verdade. acho estranho que um fundamentalista como o claudio pascoal que quer defender o indefensável não cite antes a conservapedia.

Ah! Espera, mesmo aqueles imbecis criacionistas reconhecem algum mérito aos árabes...damn

Anónimo disse...

a igreja a promover a ciência só pode ser para rir.

giordano bruno, este médico que descobriu a circulação pulmonar do sangue, miguel servet e muitos mais bem sentiram essa promoção enquanto ardiam nas fogueiras da inquisição

Unknown disse...

João Paulo

Não é o meu objectivo principal fazer uma apologia da Igreja. Afirmo no entanto que o sentido que a Palmira afirma nestes dois posts é erróneo e falso. A Palmira acusa a Igreja de combater a arte e a ciência. Afirma que os avanços da Europa são devidos à civilização Árabe.

Eu digo, isto é absurdo falso, rasura da história para favorecer conveniências políticas privadas.

Os Árabes são culpados, são? Eram um grande império e asfixiava a Europa em termos políticos e económicos.

Unknown disse...

A baixa idade média foi causada sobretudo por questões políticas, a queda do Império Romano do Ocidente, as invasões bárbaras e as invasões Árabes. Ou seja a igreja não teve culpa alguma. Aliás na baixa idade média a própria igreja encontrava-se pouco organizada.

Cerca do ano 800 a Europa atingiu um mínimo de população cerca de 20 a 30 milhões. no alta idade média a população da Europa já tinha atingido cerca de 100 milhões. Isto significa que parte da idade média foi um tempo de crescimento a todos os níveis. É claro que a Palmira usa o poder da igreja para fazer o mal porque para fazer o bem não parece. Mas a tese está errada a Igreja era muito mais organizada e poderosa na idade média alta do que na idade média baixa. E foi em Itália terra onde esta tinha a sua maior influência que surgiu o renascimento.

Unknown disse...

«acho estranho que um fundamentalista como o claudio pascoal que quer defender o indefensável não cite antes a conservapedia.

Ah! Espera, mesmo aqueles imbecis criacionistas reconhecem algum mérito aos árabes...damn »

Eu acho que está a tomar algo que lhe faz mal ao cérebro. Está a chamar fundamentalista a alguém que não conhece bem as ideias nem as opiniões. E claro quando cito algo que não lhe convém toca a descredibilizar a fonte.

Também é impressionante a quantidade de lugares comuns que o senhor atira que servem de arma quando não se tem nada a dizer nem a contrapor. Ora vejamos:

1) chama-me primeiro de fundamentalista
2) conservapedia
3) cruzadas
4) inquisição
5) criacionismo (aquela teoria típica dos envangelistas mas que serve de arremesso para qualquer um que não concorda comigo)

O tema da luta contra o criacionismo é um tema muito interessante. Não do ponto de vista científico mas sim do ponto de vista social. Apesar do criacionismo ser um grupo pequeno de pensadores convém dar-lhe uma importância desproporcionada. O objectivo claro é o de criar medo e confundir as pessoas. Deste modo tenta-se associar à religião uma atitude permanentemente anti-científica.

Anónimo disse...

não percebo, este claudio pascoal está a dizer que não houve cruzadas nem inquisição e que os criacionistas são um grupo inocente de "pensadores"?

esta malta passa-se! é que nem vale a pena tentar discutir o que quer que seja com gente assim! fanáticos nem na rede, livra!

Unknown disse...

joão paulo

livra que você não aprende mesmo!

«não percebo, este claudio pascoal está a dizer que não houve cruzadas nem inquisição e que os criacionistas são um grupo inocente de "pensadores"?»

Eu por acaso disse isto !, é claro que o João Paulo gostaria que eu tivesse dito isto mas não disse. PONTO FINAL

Independentemente do que eu diga a artilharia que o João manda é sempre a mesma, independentemente de que se esteja a discutir o assunto ou não.

João Paulo já agora porque refere o criacionismo, estamo a discutir a idade média porque tem que referir o criacionismo. O João está a desviar a conversa e não está a discutir o tema.

Mais nem sequer os próprios ateus concordam com as teorias que a Palmira tenta passar:

http://atheism.about.com/b/a/030420.htm

Já agora sabiam que os numerais tiveram origem na Índia.

Anónimo disse...

Quem ri da conribuição da Igreja para a Ciência não sabe História ou não fala a sério.
Quem, com tanto empenho de menosprezar a Igreja, só consegue evocar as Cruzadas e a Inquisição não sabe muito mais do que isso, porque, se soubesse, decerto o usava. Convém procurar mais alguma lenha para a fogueira conta ela. Pode ser que, de passagem, descubram alguma floresta boa que os surpreenderá.
Convém pôr o Estado pelo menos ao mesmo nível das culpas da Igreja, quando se fala de Inquisição.
Quanto aos Árabes, julgue-os quem quiser. Conquistaram Jerusalém, que era Cidade Santa para os Judeus havia dois mil anos e para os Cristãos já lá ia um milénio, chacinando muitos dos habitantes. E passaram a patrulhar os caminhos da peregrinação, assaltando e matando os peregrinos.

Unknown disse...

Qual é que o problema da beatada?
Querem negar a influência árabe na matemática, na química e já agora na medicina?

O claudio pascoal deve ter alucinações visuais, lê coisas que não estão no texto e não vê outras;

Não leu «aquilo a que chamamos matemática árabe não o é de facto mas sim matemática escrita em árabe. Os algarismos ditos árabes correspondem à numeração indiana»

Diz que a Palmira acusa a Igreja de combater a ciência e a arte o que não vi em lado nenhum. Deve ter falhado a última parte do outro post:

«No Ocidente, a desagregação do sistema de ensino da antiguidade clássica que acompanhou a queda do Império Romano só começou a alterar-se no Natal de 800», «Foram criadas escolas em mosteiros, conventos e abadias».

Parece que ninguém contesta a importância que a Igreja teve no renascimento carolíngio, só se contesta o poder absoluto da ICAR que acompanhou essa importância.

Como a própria Enciclopédia Católica Popular reconhecia (a entrada sobre cristandade foi modificada), a Idade Média foi um período de total domínio da Igreja Católica que imprimiu «à Europa a visão teocêntrica do mundo, o ideal do império sujeito ao Papado (Cris-tandade) e a organização da vida do povo em torno dos princípios doutrinais e morais do Cristianismo».

E foi esta visão teocêntrica do mundo que foi contestada no renascimento e os que rejeitavam esta visão teocêntrica foram sujeitos a represálias brutais por parte das autoridades eclesiásticas. Ao longo deste tempo, e apesar das perseguições, estabelece-se uma comunidade intelectual marginal que viria a ser a pedra central de todo o edifício da modernidade.

Em termos históricos e no caso europeu, a problemática da Razão e da Fé começa com as tentativas de agostinho em forçar o acordo entre o saber clássico e a verdade revelada. Assim, desde Agostinho de Hipona até ao séc. XV, a Razão estava confinada ao que a classe religiosa determinava.

Considerando-se que não podia haver contradições entre a revelação divina e o que a razão determina, sendo que essa revelação era sagrada e exprimia a Verdade, a Razão tinha claramente de se submeter à Fé nos pontos de atrito.

Logo à primeira oportunidade de dar liberdade ao pensamento, a religião instituída sofreu um enorme abalo.

Uma das mais importantes ferramentas criadas na tentativa de manutenção da antiga ordem foi o Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como a Inquisição. A perseguição daquilo que era considerado heresia, recorrendo a confissões sob tortura, julgamentos e execuções públicas, a par da prática da censura, foi a tentativa de conservar a influência da Igreja e o seu sistema de pensamento.

Unknown disse...

Mas mesmo depois da renascença manteve-se o que os historiadores chamam "contra-iluminismo", a defesa da cristandade contra as ideias cruciais sobre igualdade, secularização do estado e naturalismo que hoje caracterizam a Europa.

A reacção dos defensores da cristandade essencialmente limitou-se à reafirmação da tradição, obediência à autoridade (monárquica e religiosa) e à prevalência da fé face a qualquer método de investigação sobre a realidade. E ao ataque aos que inspiraram o conceito moderno de estado secular, Epicuro, os estóicos clássicos, Maquiavel, Espinoza, Bayle, Fontenelle, Diderot, D'Alembert, Helvétius, D'Holbach entre outros.

Apesar deste grupo contra-iluminista deter o monopólio do poder durante a maior parte dos séculos XVII e XVIII não teve, felizmente, qualquer sucesso.

Anónimo disse...

Os historiadores são uns exagerados. O Hitler, por exemplo, um homem culto, sensível à arte... doutro nível. Não gostava de judeus? O homem adorava judeus, tanto, que os coleccionava e como qualquer coleccionador guardava-os todos juntinhos naqueles campos. É verdade que mandou matar alguns mas foi para bem da humanidade, para investigação científica, como as baleias para os japoneses. Sabe-se lá o que saberíamos, hoje, sobre judeus se não tem sido impedido de prosseguir as investigações. Os japoneses prosseguem as suas e de baleias já devem saber coisas do arco da velha!

guida martins

Unknown disse...

Guida:

O Adolfo era mais que sensível à arte. Foi um pintor devotado nas horas vagas produzindo obras primas como "Mother Mary with the Holy Child Jesus Christ", Oil/canvas, 1913.

Unknown disse...

rita

«E foi esta visão teocêntrica do mundo que foi contestada no renascimento e os que rejeitavam esta visão teocêntrica foram sujeitos a represálias brutais por parte das autoridades eclesiásticas.»

o renascimento surgiu em Itália bem perto do papado e foi amplamente patrocinado pela igreja.

«a Razão tinha claramente de se submeter à Fé nos pontos de atrito.»

quem tirou esta conclusão, a Rita das palavras de Santo Agostinho (séc. V), do pouco que sei de teologia o que diz não faz sentido.

A Inquisição surgiu em Espanha a pedido dos reis católicos onde o renascimento teve pouca influência por isso o que afirma não tem muito sentido.

Mais como é que o contra-iluminismo surgiu antes do iluminismo.

«à prevalência da fé face a qualquer método de investigação sobre a realidade.» teologicamente isto é falso

Como é que é possível falar de tanta coisa num post, conseguiu abranger 12 séculos! esquecendo completamente as prespectivas económicas, sociais e políticas. Mas o maniqueísmo dá nisto!

Anónimo disse...

Lá está, Rita, o senhor tinha muito que fazer, daí não ter tempo para se dedicar à colecção de judeus como gostaria e eles, por vezes, aparecerem com aquele ar magrito. Ninguém o compreendia, é uma pena!

guida martins

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