segunda-feira, 11 de junho de 2007
A ciência em Portugal é um "fait divers"
O "Jornal de Leiria" publicou uma polémica entrevista com Armando Vieira, físico e professor do Instituto Politécnico do Porto, que tomamos a liberdade de transcrever aqui na sua quase totalidade:
Armando Vieira, investigador e docente do ensino superior: “O País é feito de poderes cinzentos e obscuros”
Crítico em relação ao sistema de ensino português, assegura que os alunos não estão preparadas para adoptar Bolonha. Defende a integração da Matemática noutras disciplinas e a extinção da Ordem dos Engenheiros. Diz que Portugal não tem vocação científica e a energia nuclear é inevitável. Admite mudar a bandeira e o hino e acusa Fátima de ser uma “invenção”.
O Conselho de Ministros veio clarificar a natureza e objectivos de universidades e politécnicos. Revê-se nesta lei?
Os politécnicos devem ser diferenciados das universidades. As universidades têm uma formação mais científica, os politécnicos devem ter uma componente mais directa para o mercado.
Só as universidades devem conferir os graus de mestre e doutor e fazer investigação?
Uma universidade que não tenha investigação não é uma universidade. Os politécnicos têm uma componente de investigação ainda muito limitada. Conferir esses graus não se faz de um dia para o outro. O processo tem que ser amadurecido. Os politécnicos devem tentar perder este complexo de serem universidades de segunda para serem escolas politécnicas de primeira. Neste momento, faz-se pouca investigação. No País, mesmo contabilizando as boas universidades, em termos médios europeus, ficamos para aí a um terço do valor médio de publicações por investigador. E nos politécnicos ainda é mais fraca. Sem investigação forte, não vejo como é que se pode ter a ambição de conferir graus de doutor e mestre.
Apesar disso, tem consciência que existem muitos docentes, nomeadamente no Instituto Politécnico de Leiria, que orientam doutoramentos em universidades porque já têm esse grau...
O título não diz nada. Não é o título de doutor ou de mestre que dá prestígio a uma universidade. O prestígio conquista-se, no caso dos politécnicos, criando uma formação adequada ao tecido empresarial e realizando um trabalho de investigação com qualidade.
O que pensa sobre a decisão do ministério de impor que 50 por cento mais um dos docentes do ensino superior têm que ter o grau de doutor?
Há uma correlação entre a qualificação académica e a qualidade do trabalho de investigação das instituições. É e claro que é importante que os docentes tenham doutoramento, porque só este confere alguma garantia de que a pessoa é capaz de algum trabalho sério e independente de investigação. Mas não é só por ter o grau de doutor que se faz um bom trabalho. Em Portugal, temos cinco anos de licenciatura, dois de mestrado e três de doutoramento, na Dinamarca fazem isso em três anos. E não é preciso ter o grau de mestre nem de doutor. Os alunos são integrados em pequenos grupos de trabalho e têm total autonomia. O professor é um tutor.
É um princípio adoptado por Bolonha...
A ideia é essa. É dar independência aos alunos. Mas Bolonha falha redondamente. A nossa matriz cultural não está preparada para esse modelo. Quando digo aos alunos que não têm que decorar o que digo, mas ir para casa estudar e tentar resolver os problemas, não funciona. O modelo continua a ser o decoranço. As aulas, cada vez mais, não são modelos de aprendizagem, mas de orientação. Só que os nossos alunos não são autónomos e não são capazes de estudar sozinhos. É impossível aplicar de Bolonha nestas condições.
Isso é mais marcante nos alunos que transitaram do regime anterior ou nos que estão no 1º ano?
Nos dois casos. É uma questão cultural. É o eterno problema da Educação. Está tudo errado desde o início. A começar pela escola primária. Em vez de tornarem os alunos autónomos, criam dependência dos professores, não os deixam trabalhar sozinhos e não os deixam evoluir.
Bolonha é um modelo falhado ou é uma questão de tempo?
É uma questão de tempo. Em Portugal, vai levar algum tempo até as coisas funcionarem de uma forma razoável. Na minha escola, tem sido um desastre. Mudou-se a forma, mas não se mudou o conceito. O modelo continua a ser feudal. As universidades estão concentradas nos professores, e não nos alunos. Na Dinamarca, o centro é o aluno. E o professor ajuda-o a resolver os problemas. Dá muito mais trabalho ao professor, porque vai ter de acompanhar vários projectos. E perde muito poder, porque vai transferi-lo para o aluno. Enquanto não percebermos essa essência, podemos usar a cosmética que quisermos, mas as coisas não vão funcionar ou vão funcionar muito aquém da perfeição.
Tendo em conta esses obstáculos culturais, quanto tempo é que vamos andar a marcar passo?
Sempre. Não é aplicando Bolonha que as coisas vão mudar radicalmente. Portugal tem que acordar para a Europa. Tem que existir uma mudança cultural muito profunda, desde a escola primária até à universidade. Enquanto nas escolas primárias espanholas as perguntas convidam à reflexão e à criatividade, nas escolas portuguesas convidam à memorização e ao esteriótipo. A partir daí, todo o resto falha. Mas o mais difícil é a universidade. As universidades são das instituições mais conservadoras e mais anti-mudança. Paradoxalmente.
Um dos problemas com alguns alunos de Engenharia relaciona-se com a falta de reconhecimento dos seus cursos pela Ordem. Qual a melhor solução para resolver este problema?
Acabar com a Ordem. A Ordem dos Engenheiros é uma estrutura anacrónica. Não é preciso para nada. Engenharia Física e Tecnológica é o curso de elite do Instituto Superior Técnico e não é reconhecido pela Ordem. Isto chateia-me? Não.
Mas limita as saídas profissionais dos alunos...
É verdade. Na Engenharia Física não limita muito, mas em Engenharia Civil é claro que limita. É o reflexo da realidade. O País é feito de poderes cinzentos e obscuros, que estão por todo o lado. Em vez de serem alavancas de desenvolvimento, são travões ao progresso. A Ordem dos Engenheiros é uma estrutura corporativista. Claro que tem que haver algum controle. Mas, tendo em conta que estamos na Europa, por que é que tem que ser uma ordem portuguesa a reconhecer quem é capaz de fazer os trabalhos bem feitos?
Os alunos do ensino superior habitualmente têm maus resultados a Matemática. Como é que se combate este problema?
O problema da Matemática é recorrente. É apresentada de uma forma descontextualizada e crua. Os alunos têm que perceber que aquilo que estão a aprender é útil para alguma coisa. Enquanto não perceberem isso, não vão aprender. Passa, mais uma vez, por uma questão cultural. Não estamos muito predispostos para aprender Matemática. Não temos grandes nomes na Matemática.
Qual é o papel do professor na resolução deste problema?
O professor perpetua um modelo caduco. A Matemática tem que ser integrada noutra disciplina. O ideal seria não haver Matemática. Dessa forma, ninguém sabia que estava a aprender Matemática. Isto implica reformular completamente o modelo. Se calhar, é mais complicado para os professores. Daí funcionarem como força de bloqueio. Só com a força de uma medida legislativa é que se pode alterar isso.
Num ranking mundial sobre o desempenho científico de cerca de três mil instituições do ensino superior, Portugal aparece em 36º lugar entre 148 países, não havendo nenhuma nas 700 primeiras classificadas. Como comenta estes resultados?
Os resultados não me surpreendem. A ciência em Portugal é um fait divers. Não é nem nunca foi encarada como a alavanca do progresso do País. Ainda hoje se discute a utilidade da Ciência. Só se pode fazer Ciência se estivermos dispostos a emigrar. Conheço investigadores com trabalho notável, feito em Portugal, mas são excepções. Os nossos melhores crânios, trabalham lá fora.
O Orçamento de Estado para 2007 prevê um aumento do investimento, na ordem dos 60 por cento, em investigação. É o reconhecimento da importância da investigação para o desenvolvimento do País ou consequência do actual ministro ser cientista?
Mariano Gago tem tentado alterar este status quos. Só que isso não se resolve apenas injectando dinheiro. Onde está a internacionalização das nossas universidades? Quando é que se acaba com o 'incesto intelectual” das nossas universidades, onde os alunos do 'doutor x' são os primeiros a entrar nos lugares disponíveis? Este ministro está cheio de vontade. E o próximo? O desenvolvimento da Ciência é um processo que leva décadas e exige um trabalho sistemático e consistente. Em Portugal, o que se vê são arrancões.
A falta de investimento não é, então, a principal causa do nosso atraso ao nível científico?
O nosso problema é cultural. Temos bons cientistas, mas não somos um País de vocação científica. Não temos uma relação saudável com a Ciência. Se fosse político, não investia tanto em investigação científica. Que dividendos tira daí o País? Publicam--se artigos e estudos que são importantes. Mas onde estão as patentes? Quando se quer criar uma empresa e tornar úteis os resultados da investigação, faltam apoios.
A instalação de uma central nuclear poderia ajudar a resolver os problemas energéticos do País?
O nuclear é uma palavra maldita. Tem a ver com núcleos, que são as estruturas da matéria com mais energia armazenada. A gasolina vai acabar num futuro muito próximo. O vento não será suficiente, podendo garantir no máximo 15 por cento da energia necessária. E a energia solar não é economicamente viável. O nuclear é uma opção que não pode sair de cima da mesa. É a energia mais segura. A energia produzida a partir do carvão provoca muito mais mortes, porque os gases libertados provocam cancro. Mas as consequências não são tão mediáticas ou imediatas. As actuais centrais nucleares não têm nada a ver com as antigas. O risco de explosão é praticamente nulo. O grande problema são os resíduos. A Finlândia e a França estão a instalar uma central nuclear e a Alemanha está a repensar o seu plano. As centrais nucleares estão à nossa porta. Espanha tem duas junto à fronteira. Portugal ou instala ou compra energia nuclear.
Que lugar ocupa a fé na sua vida?
Viver é um acto de fé. Fui criado numa família cristã, obrigado a ir à missa aos domingos. Fiquei farto. Era uma perda de tempo, porque nos limitávamos a repetir fórmulas pré-papagueadas, que não enalteciam a fé. Aos 18 ou 19 anos tornei-me um ateu convicto. Até que conheci outras religiões e outras formas de pensar e comecei a ver a religião com outros olhos. Refiz um pouco a minha crença. Numa fase da minha vida entrei em depressão profunda, tentei várias ajudas, entre as quais uma terapia oriental. Neste momento, não sendo religioso, tenho fé. Acredito no sentido metafísico da vida.
Como vê o fenómeno de Fátima?
Fátima é uma invenção. É o pior lado da religião, a antítese da espiritualidade, desde os aspectos humano e religioso até as infra-estruturas, ao negócio e à ostentação em torno daquele espaço. É um local que não contribui nada para a dignidade e espiritualidade do ser humano. Não estou a pôr em causa a fé das pessoas que ali vão, mas o aproveitamento que é feito dessa fé, o usar a fé para submeter as pessoas e a inconsistência que há entre as atitudes e as palavras. É uma imagem de fé muito à portuguesa. Falta alma a Fátima.
Num artigo publicado no Jornal da Batalha, disse que Portugal precisa de uma “imagem sexy”. Como é que isso se pode conseguir?
Portugal não tem imagem lá fora. Devia-se pagar a bons publicitários e dar uma imagem ao País. A nossa bandeira é parola, folclórica. As nossas aldeias, tirando algumas excepções sobretudo no Alentejo, não têm graça. Para apostarmos no turismo, temos de dar uma imagem agradável ao País.
Isso passaria também por mudar a bandeira?
Por que não? É uma bandeira cheia de rendilhados, com cores garridas. O nosso hino também não tem nada a ver connosco. Marchar contra os canhões?! Isto é ridículo. Se tivéssemos uma imagem forte construída, admitia que não se mexesse em determinados símbolos. Mas nossa imagem é zero.
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26 comentários:
Muito bem.
Armando Vieira, se é que me ouve
dirijo-me a si como à Providência.
Não nos livrou do 10 de Junho com parada, livre-nos agora dos Santos Populares. Ou, como diria o saudoso Barão de Munchausen vem depressa, mas demora o que for preciso !
Acho que o entrevistado, à sua maneira, representa Portugal no seu pior, propondo umas quantas ideias "radicais" que são na sua maioria inexequíveis, e só podem contribuir para enfurecer uns e indignar outros, sendo eventualmente apoiadas por um punhado de lunáticos semelhantes a ele. Se defende que em Portugal não se faz praticamente nada de mérito científico, está em certa medida a classificar-se de mediocre científicamente, não será?
Eu caracterizo esta entrevista como mais um "arrancão" para a colecção. Os comentários sobre o hino são particularmente descabelados... Concordo, contudo, com a ideia de uma nova bandeira: a bandeira portuguesa tem uma combinação de cores de tão mau gosto que só se vê em países extra-europeus (tirando talvez o caso da Irlanda). Para mim a bandeira de D. Afonso Henriques, do Mestre de Avis, ou a última bandeira monárquica (azul e branca e sem a esfera armilar) fariam bastante melhor serviço.
Olha o Miguel Sousa Tavares das ciências!
Tenta ser revolucionário mas não passa de bombista.
Muito tuga, de facto.
Ao ler este post, quase me parecia estar a ler uma entrevista a mim próprio, tal a coincidência de pontos de vista.
Só não concordo absolutamente na questão da memorização. Paradoxalmente, penso que um pouco mais de memorização ao nível do ensino básico faria com que os alunos fossem mais criativos e tivessem mais capacidade de pensar. Tenho dois motivos para pensar assim:
-Motivo empírico - 20 anos de eduquês em que se proibiu as crianças de memorizar por ser um processo traumatizante e se procurar virar o ensino para a criatividade e a auto-expressão, conduziram-nos a uma geração de acéfalos que nem sabem nem sabem pensar.
-Motivo racional - As crianças sabem, por natureza, pensar. É inato à espécie humana. Se queremos que pensem sobre coisas importantes, elas têm de ter matéria prima sobre a qual pensar. Têm de ter informação. Por isso, numa primeira fase do ensino, têm de decorar conceitos básicos para que possam ter algo sobre que pensar e possam pôr em andamento a máquina logico-dedutiva. Se não lhes injectarmos informação no início, só vão ter cabeças vazias e não vão pensar sobre nada. Enchem-nas depois de lixo televisivo, jogos de playstation e músicas cretinas e tornam-se especialistas a pensar em coisas que não interessam para nada.
Fora essa questão da memorização, a entrevista é notável e os pensamentos do entrevistado são muito lúcidos.
Resumo assim esta entrevista:
Tiros para o ar, radicalismo balofo, pouca ou nenhuma consistência de ideias. Uma pobreza!
Tenho sido leitora assídua do vosso blog e quero deixar aqui os meus parabéns por este espaço fantástico de aprendizagem e reflexão. Às vezes concordo com os posts, outras vezes não, mas considero-os de muito boa qualidade.
Acho que esta entrevista não atinge os "mínimos olímpicos" do "De Rerum Natura".
a energia solar não é economicamente viável !??? Demonstra uma absoluta ignorância sobre as leis da economia e em particular sobre o Mercado. Não há nada pior do que Professores preconceituosos.
JVaz
«A nossa bandeira é parola, folclórica.»
Que atitude desprezível. Parece o típico provinciano que vai para a cidade e zomba dos conterrâneos.
Tendo a acreditar que a um físico o fascine o mundo e a diversidade que nele se observa. Fico triste quando deparo com este tipo de preconceitos num colega das ciências. Quando as crenças são inabaláveis, a natureza queda-se desassombrada.
Eis aqui o exemplo daquilo que se ouve em qualquer reunião social.
Dizem-se umas coisas bombásticas, com ar de grande certeza, citam-se exemplos estrangeiros que supostamente as confirmam...
Mau, muito mau
Afirmar que Fátima "É um local que não contribui nada para a dignidade e espiritualidade do ser humano" revelam um franco desconhecimento da realidade de milhares de pessoas.
O senhor deve ser daqueles que defendem o provérbio ao contrário: "contra argumentos não há factos" :)
Felizmente a realidade fala por si e é o próprio bom senso que vai de encontro à autenticidade do fenómeno de Fátima.
Contra o preconceito não há realidade que resista.
Francisco B.
O Francisco B. deve achar que é sinal de dignidade andar a rastejar, ou a procurar a dor ostensivamente, ainda por cima em público. Ou acreditar em mentiras que só ainda são contadas porque há quem ganhe muito dinheiro com isso...
Zalmoxis disse:
"É precisamente essa fé que tem de ser posta em causa. Esta pachorrice pseudo-tolerante, esta teima em ser "polido" para com as manifestações da estupidez humana (por bem intencionada ou ingénua que seja) peca no facto de, ao nos recusarmos a questionar ISSO, não resta nada para questionar. É como criticar os guardas dos campos de concentração mas não as "crenças" das pessoas que levaram essa malta ao poder."
Inacreditável, meu caro. Julgava-o incapaz de afirmações destas. E depois os crentes é que são intolerantes. Já aqui fui individualmente acusado de não ser democrata. (Quem me conhece, desde o mais humilde camponês da minha terra até ao Manuel Alegre ou o Medeiros Ferreira, por exemplo, dirá o contrário.) Agora, recebo, de quem não esperava, embora diluído na generalização, o anátema de que sou estúpido.
Seja respeitada a opinião. Mas merecerei o epíteto da intolerância se me negar a aceitar o da estupidez?
Não fiquei revoltado. Fiquei apenas triste, muito triste mesmo. Porque das duas uma: ou sou de facto estúpido, o que é lamentável; ou não o sou, e fui injustamente acusado, o que é uma falta de sentido da decência e do respeito pelo pensamento alheio. Porque, quando alguém é acusado de estupidez, o diálogo torna-se impossível, pois com os estúpidos não se pode dialogar.
Conheço o Armando Vieira, é um sujeito 5 estrelas e completamente à parte da imagem de terrorista ideológico que alguns comentários querem passar. Como entrevista que é, podem ter sido truncadas muitas das ideias mas, de facto, nada do que é dito está errado. Para o otários que vão a Fátima pode ser um bocado duro, mas não deixa de ser verdade.
Linda, LINDA esta entrevista!
O seu ataque não foi dirigido e, pessoalmente, compreendi-o desde logo.
Por uma questão de honestidade, informo que por vezes faço um esforço desumano para não me atirar também às patologias ante-diluvianas.
A net é assim. Aqui, cuidado com os arremessos... é como desafiar a escala de Richter.
Meu caro Zalmoxis
Se não consegue ver mais do que isso na prática do cristianismo, tem toda a razão. O problema é que há o outro lado, mais silencioso. Tenho amigos que estão na República Centro-Africana, no Darfur, nos guetos da África do Sul ou nas montanhas da Colômbia. E nem sequer têm tempo de pregar seja o que for. Gente de fazer, não de dizer. A minha revolta foi mais por pensar neles do que no quinhão que me coube nessa classificação de estupidez. É que ainda hoje tenho remorsos de algo que fiz aos vinte e dois anos, uns dias antes de entrar para o serviço militar. Uma velhinha tentou pregar-me a sua religião. Respondi delicadamente, mas foi-me fácil apresentar dois ou três argumentos para que ela não teve resposta. Aliás, a sua resposta foi chorar. Nunca me perdoei por aquelas lágrmas, embora não fosse intenção minha.
Outra vez, em Espanha, um antigo combatente franquista mostrou-me um dedo inutilizado por uma bala do campo contrário. E disse: "Foram eles que me fizeram isto." Eu perguntei-lhe: "Já pensou que vocês também lhes fizeram disso?" Parecia que nunca o pensara. Também fiquei com pena desse senhor, Don Antonio Mayoral.
Pois é, há sempre um outro lado. Ou da verdade ou da opinião. Não exijo que respeitem a minha, mas espero-o, sinceramente, de todas as pessoas cultas.
Caro Zalmoxis
Em primeiro lugar, informo-o que não trato por tu nenhuma figura pública e que portanto o meu comentário vale o que vale.
Como visita habitual do DRN, digo-lhe que o seu comentário não me ofendeu nem me enervou nada (talvez substituisse "lesmas deprimentes" por "lesmas deprimidas"). Quanto ao sentido da discussão, deixe lá, parece-me que já vinha algo pervertido.
guida martins
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