quinta-feira, 7 de junho de 2007

RAIOS-BOLA



Há poucos dias, jantei com o químico pernambucano António Carlos Pavão, que é o autor da recente experiência sobre "raios-bola" ("ball lightning")relatada em Fevereiro passado na "Physical Review Letters". Aprendi com ele como é simples fazer esse tipo de raios, que já andaram à volta do Professor Tournesol. Com a devida vénia, e na grafia original, transcrevo do boletim electrónico brasileiro "Ciência Hoje" (que não tem a ver com o boletim português com o mesmo nome) a notícia da vistosa descoberta. Quem lá clicar (aqui) tem a vantagem de ver o vídeo.


Raios-bola feitos em laboratório
Químicos brasileiros reproduzem fenômeno da natureza raro e misterioso



Você já viu alguma bola luminosa durante a queda de um raio? Esse fenômeno muito raro e misterioso, chamado de ‘raios-bola’ ou ‘relâmpagos globulares’, intriga os cientistas há mais de 250 anos e nem Benjamin Franklin (1706-1790), cientista norte-americano conhecido internacionalmente por suas descobertas sobre a eletricidade, foi capaz de explicá-lo. Porém, ele agora está mais perto de ser desvendado, graças a uma experiência simples e – literalmente – brilhante, realizada por um grupo de químicos brasileiros da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): eles conseguiram reproduzir em laboratório esse evento atmosférico.

Existem muitas teorias que tentam explicar a ocorrência dos misteriosos relâmpagos globulares – até os ufólogos têm a sua. Mas o doutorando Gerson Paiva, orientado pelo químico Antonio Carlos Pavão, do Departamento de Química Fundamental da UFPE, apostou na hipótese dos químicos neozelandeses John Abrahamson e James Dinniss, da Universidade de Canterbury, em Christchurch (Nova Zelândia). Segundo ela, o fenômeno se forma pela reação química do silício com o oxigênio do ar. “Quando o raio atinge a superfície da terra, ocorre a produção de silício pela redução da sílica (composto formado por silício e oxigênio), que é o principal componente da crosta terrestre. Depois, o silício evapora e entra em combustão com o oxigênio do ar, formando as bolas luminosas”, explica Pavão.

Os próprios criadores da teoria tentaram realizar o experimento, mas ele não funcionou. Pavão afirma que isso aconteceu provavelmente porque eles usaram sílica e não conseguiram produzir silício com as descargas elétricas. “Nós fizemos diferente: submetemos diretamente pastilhas de silício puro à descarga elétrica de 23 volts e 140 ampéres.”

E deu certo. Na oficina de manutenção da universidade, com apenas uma máquina de solda, pastilhas de silício – conseguidas com colegas da física – e muita criatividade, a equipe reproduziu e filmou as bolinhas luminosas, que saltitavam por até oito segundos pelo chão. O trabalho será publicado na revista norte-americana Physical Review Letters.

Agora os pesquisadores saíram da oficina e passaram a reproduzir o fenômeno em laboratório. Pavão ressalta que os resultados ainda são apenas qualitativos. “Falta medirmos o espectro luminoso dessas bolas para descobrir sua temperatura e composição química exatas. Também pretendemos fazer simulações computacionais para desvendar o mecanismo das reações químicas”, conta. “Porém, já foi dado um passo importante para avançar na compreensão desse fenômeno.”

2 comentários:

Anónimo disse...

Interessante. Curiosamente conheço um homem, emigrado há muito para os EUA, que foi atingido por um raio-bola aqui na Maia (São Miguel). Ele estava num bar, e entrou pela porta uma "bola de fogo" (expressão de quem assistiu à cena), deu umas voltas, passou-lhe junto à mão direita e partiu a garrafa de cerveja que ele segurava. Ficou com uma cicatriz em forma de Y devida ao estilhaçar da garrafa. Também ouvi contar, em criança, o caso de outra "bola de fogo" que entrou numa cozinha (penso que a dona da casa estava a cozer pão), e consta que , depois de cirandar por ali, desapareceu no talhão da água.

Almir G. Pereira disse...

Tive, há cerca de 50 anos (hoje tenho 58), uma experiência com raios-bola. Estava sentado na mesa da sala de jantar, próximo à janela, olhando para fora com o lápis na boca, pois estava fazendo dever de casa. De repente vi uma bola, do tamanho da de futebol, muitíssimo brilhante, vindo em direção à janela onde estava. Fiquei a observá-la até que a mesma, ao esbarrar na cerca ao lado da janela, explodiu violentamente. Com o susto, enfiei o lápis no "céu da boca" (palato) perfurando-o profundamente. Até hoje, passados 50 anos, tenho esta cicratriz.

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