sexta-feira, 22 de junho de 2007
O Eduquês em discurso directíssimo
É bom saber que a alergia ao eduquês não é um delírio que passa pela cabeça de meia dúzia de auto-intitulados illuminati. Em vez de teorizar, recomendo o mais vivamente possível a leitura deste post e, sobretudo, da discussão subsequente entre os blogger anónimo (o primeiro a comentar, e que parece saído dos guiões do Ministério da Educação!) e ON. Por favor leiam tudo!
Por outro lado, é fascinante ver o que acontece aos eduqueses quando se raspa o finíssimo verniz dos clichés estafados perante uma plateia em êxtase afirmativo. Eu já assisti a esta transformação de Dr Jekill em Mr Hyde em primeira mão e ao vivo. É assustador!
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14 comentários:
Talvez seja porque meu português é brasileiro, ou talvez porque eu passei bastante tempo na faculdade de Engenharia mas, eu não consegui entender lhufas do que foi dito pelo anônimo. Mas isso me faz lembrar uma divergência entre Chomsky e, se eu não me engano, Foucault e pós-estruturalistas...
http://en.wikipedia.org/wiki/Noam_Chomsky#Opinion_on_cultural_criticism_of_science
Eu também «adorei» o «interdito linguistico em abismo»!... :-P
Alef
Bolas, nem é preciso raspar o verniz. Basta soprar que o verniz desaparece e o monstro salta cá para fora.
:-)
Nao consigo ler os posts desse "anónimo" sem os considerar uma brincadeira. Uma espécie de anti-Ali G que, ao invés de elevar a sátira distorcendo a linguagem a um nível muito básico, o faz pela via exactamente inversa. Foi apenas pelo tipo de linguagem que levaram o tipo a sério?
Percebe-se pelo post do Buesco que pelo menos ele fala com base nalguma experiência a que assistiu ao vivo. Talvez vos pareça natural tal coisa, e portanto passível de crítica. A mim, que nunca assisti a (apercebi de) tal espectáculo, todos os posts me fizeram rir, ainda que nem sempre percebesse a piada, mas consciente de que talvez fosse por isso que me ria.
Enfim, nao quero ser mal interpretado, mas sabemos o que significa quando deixamos de conseguir distinguir uma brincadeira do problema..
E já agora perdao pela falta de acentuaçao. Ainda nao me entendo com teclados espanhois.
É realmente muito divertido, e aterrador, ler um texto desta natureza.
Fiquei satisfeito ao constatar que o Desidério lê os comentários que são colocados neste blogue. É que em 12 deste mês, num comentário a uma sua entrada sobre o eduqês, eu escrevi:
"Tenho alguma dificuldade em compreender a sua posição quando afirma que "Tanto eu como o Nuno Crato reconhecemos que muitas coisas estão correctas, mas são banalidades sem densidade teórica." Se estão correctas mas não têm densidade teórica, então não passam de trivialidades ou encontram-se mal sustentadas no plano conceptual. Neste caso pergunto-me, e não me encontro a ser irónico, sublinho, quem são esses colegas seus, académicos reputados da área das Ciências da Educação, que afirma serem a excepção que confirma a regra da mediocridade das referidas Ciências. Defendem ideias correctas mas com densidade teórica?"
Infelizmente não obtive resposta como também não me respondeu quando demonstrei interesse em ler o seu artigo "O Formalista" na revista Crítica na Rede, reservada apenas a assinantes. Talvez agora possa ter a oportunidade de ler e de comentar o comentário/pedido.
Se o anónimo peca por excesso, o ON peca por defeito. Um é um círculo, o outro é um quadrado. Logo, rapidamente se caiu no insulto.
O que o anónimo escreveu não é, para mim, nada obscuro, ópaco ou esotérico. Basta saber ler com atenção, mesmo que se esteja em desacordo. É essa,aliás, uma das regras da comunicação: tentar perceber, mesmo que se esteja em desacordo. Uma outra será tentar fazer chegar o contéudo, adaptando a forma.O ON percebeu pouco do que lia. O anónimo arrogou-se à sua forma discursiva. O resultado só poderia ser este.
O pensamento da ministra da Educação parece resultar do cruzamento de um axioma com um postulado.
A crítica aos defeitos dos programas de Português e Matemática é desconcertante, quer por aceitar como razoável esta ou aquela aberração, quer por condescender com a falta de articulação entre um ciclo e o seguinte.
O arquitecto Canto da Maia foi um dos maiores escultores portugueses do séc. XX. A certa altura da sua vida construiu uma casa para a qual, por ser para si mesmo, não fez projecto. Ia lá quase todos os dias, dava ordens de põe aqui e tira ali, verificava o rés-do-chão, subia pela escada dos pedreiros ao primeiro andar, vasculhava tudo, charlateava um pouco e ia-se embora. Quando a casa ficou pronta, satisfeito ocom o aspecto do rés-do-chão decidiu ver como estava o primeiro andar. Não conseguiu subir, porque se esquecera de mandar fazer a escada.
Tal como a casa de Canto da Maia, convém que entre ciclo e ciclo haja articulação. Fazer a escada depois da obra pronta é mais difícil e nem sempre resulta bem.
Caro Carlos P,
se percebe o que quer dizer "interdito linguistico em abismo", então explique-nos. Também nós gostaríamos de perceber.
Em primeiro lugar, eu não sou o "lino" da ligação que o Jorge indica e quando comecei a assinar com o nome pelo qual era tratado em criança não fazia a mínima ideia de que já havia blogueiros com idêntica assinatura.
Em segundo lugar, agradeço muito ao Jorge a informação sobre a posta, pois tinha acabado de ser abalroado, em curva com limite de 50 km/hora e dois traços contínuos, por motorista assassino fora de mão, que me levou o retrovisor esquerdo e se pirou sem me dar tempo (ou à minha mulher que ficou da cor de um cadáver caucasiano)de identificar a viatura. A leitura dos comentários do anónimo deu para desanuviar.
Em terceiro lugar, começo a entender a razão pela qual a minha filha ganhou enorme aversão à filosofia. Alguém que se afirma "filósofo" aconselhar, de uma assentada, a leitura de J. Derrida, J.-F. Lyotard, J. Baudrillard, J. Lacan, J. Kristeva, Paul Virilio, Gilles Deleuze, Félix Guatari, L. Irigary, é obra. Provavelmente, não deve fazer a menor ideia de quem foi Alan Sokal.
Essa discussão é um dos grandes momentos da blogoesfera. Deve ser bem guardada para memória futura.
Caro Lino :
Também fiquei surpreendido com a lista de autores recomendados por “Anónimo”.
No livro de Sokal e Bricmont, “Imposturas Intelectuais”, é feita uma análise dos textos de Lacan, Kristeva, Irigaray, Latour, Baudrillard, Deleuze, Guattari, Virílio e Bergson, praticamente a mesma colecção de nomes sugerida por "Anónimo". Porventura não foi por acaso. Ele certamente conhece Alan Sokal. A partida que Sokal pregou aos pós-modernistas, com o artigo que fez publicar na Social Text, constituiu um marco inesquecível.
Jorge Oliveira
Caro Jorge Oliveira:
Se tal "filósofo anónimo" ouviu falar do artigo do Sokal, ou não percebeu nada do que o Alan escreveu ou... Fico-me por aqui, que este é um espaço sério.
"o interdito linguístico em abismo" não é aquele "xoxo" fantástico que todos nós mais ou menos frequentemente acabamos por experienciar com a nossa namorada/o, conforme o género, em que quase nos sentimos precipitar traqueia abaixo e até nos falta o ar?
Artur Figueiredo
há quem pese que a linguística é o supra-sumo quando, afinal de contas fica a anos-luz da ciência
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