terça-feira, 19 de junho de 2007
Pelo S. João, sardinhas no pão
Pedimos à nutricionista Ana Carvalhas um post convidado sobre gastronomia portuguesa. Mandou-nos o artigo que acaba de publicar no "Diário de Coimbra", que não podia vir mais a calhar uma vez que o S. João está à porta.
Sobre o tão apreciado petisco português circulam os mais variados provérbios. Por exemplo, para agradar às mulheres baixas, “A mulher quer-se pequenina como a sardinha” e, em especial para as mulheres altas “De sardinha e de mulher, da maior que houver”.
A sardinha, pequena ou grande, foi o principal alimento das classes populares em Portugal durante muitos séculos, principalmente por ser um peixe barato (um cento de sardinhas custava menos do que uma só pescada ou sável). No livro “Portugal à Mesa:1800-1850” (Hugin, 2000) Isabel Drumond Braga escreve: “…Tenha-se em atenção que a sardinha era normalmente de boa qualidade, do agrado dos estrangeiros e de grande consumo popular. Algumas mulheres vendiam sardinhas assadas sobre placas de ferro e fritas em azeite, acompanhadas de pão, nas ruas de Lisboa.” Esta tradição chegou aos nossos dias, estando bem patente nas festas dos santos populares. Quem não aprecia o cheiro, bem português, da sardinha assada nas ruas? E quem não aprecia uma sardinha, acabadinha de assar na brasa, em cima de um pedaço de broa?
Do ponto de vista nutricional, as sardinhas são muito ricas: fornecem maioritariamente proteínas de alto valor biológico (cerca de 25 por cento) e lípidos constituídos, em maior percentagem, por ácidos gordos polinsaturados do tipo ómega três. Possuem quantidades apreciáveis de vitamina A, niacina, vitaminas B6 e B12 e outros constituintes minerais como cálcio, ferro, fósforo magnésio, iodo, e sódio. Embora a sardinha seja classificada como peixe gordo, a sua gordura é bastante saudável. É recomendado o seu consumo frequente na prevenção de doenças cardiovasculares e, mais recentemente, na prevenção de doenças psíquicas e neurológicas (o peixe e os óleos de peixe são, talvez, os “alimentos para o cérebro” que mais têm sido estudados, devido à presença neles de ácidos gordos ómega três, principais constituintes da membrana celular das células nervosas).
O excelente valor nutritivo das sardinhas justifica o seu consumo ao longo de todo o ano. No entanto, a sua composição (portanto, a quantidade de gordura) varia conforme a época em que elas são capturadas. É no Verão que as sardinhas apresentam o maior tamanho assim como o teor de gordura que as tornam tão saborosas. Diz o povo que “pelo S. João pinga no pão”. Se ao pão juntarmos uma sardinha, festejaremos a chegada do Verão da melhor maneira...
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4 comentários:
Um surfista que, pela primeira vez, caia neste blog e decida fazer zapping pelos posts da folha de abertura terá à sua disposição uma ementa diversificada.
Desde o copinho de leite do professor Desidério, passando pela bela da sardinha assada para entrada.
Do gaspacho de tomate até ao pato assado em vácuo, está cá tudo.
Para terminar, um geladinho azotado.
Quem queira continuar em funções ainda poderá tomar um cházinho de flores a acompanhar deliciosos nenúfares.
Parece atraente mas, pergunto-me, não será indigesto para quem não costume vir aos treinos?
Nada como experimentar!
Artur Figueiredo
Caro Artur Figueiredo
Isso só mostra que somos um blog com um menu muito variado, onde cada um pode provar do que mais goste. Estou de acordo: "nada como experimentar!".
Carlos Fiolhais
Ora aqui está um prato que para além de ser um petisco não necessita de grande ciência para a sua confecção, contudo, tal como o leite, as sardinhas não crescem nos supermercados e será sempre precisa alguma, senão muita, ciência para as capturar.
Estes simpáticos animais fazem anualmente uma extraordinária e enigmática migração ao longo da costa sul-africana. O cardume atinge tal dimensão que é considerado, pelos investigadores, o maior organismo vivo do planeta e parece que nem toda a ciência e filosofia juntas chegam para desvendar o objectivo de tal migração.
Para um prato comum e tão popular, as sardinhas têm muito que se lhes diga!
guida martins
A crítica ao S. João de Braga e algumas ideias para o melhorar. Vejam e comentem.
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