Por Cátia Delgado
O Fórum Ministerial de Alto Nível da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) foi co-presidido pelo Ministro da Educação de Portugal. Não, não é propriamente motivo de orgulho nacional...
Decorreu, nos dias 7 e 8 de dezembro, em Paris, a Reunião dos Ministros da Educação da OCDE, sob o mote “Reconstruir uma sociedade inclusiva e equitativa através da educação”.
Co-presidida por Portugal, Noruega e Coreia do Sul, a delegação nacional contou com o Ministro da Educação e com o Secretário de Estado da Digitalização e Modernização Administrativa.
De entre o manancial de recursos produzidos neste âmbito, como é apanágio da OCDE, cuja estratégia de afirmação passa pela divulgação e autopromoção, destaco a Declaração para a Construção de Sociedades Equitativas através da Educação, endossada por 41 países, entre os quais se conta Portugal.
Nessa declaração todos os 41 países reconhecem, explicitamente, a legitimidade do referido organismo para ditar o rumo das políticas educativas nacionais.
A título de exemplo, cito (p. 4):
- CONGRATULAMO-NOS com o papel da OCDE ao apoiar os países membros e parceiros nos seus esforços para alcançar uma aprendizagem ao longo da vida de alta qualidade para todos, o que contribui para o desenvolvimento pessoal, crescimento económico justo e sustentável, coesão social e bem-estar.
- RECONHECEMOS que as referências e análises educacionais da OCDE tornaram-se referências globais para a educação e ajudam a responder aos desafios de um mundo em mudança e à necessidade de desenvolver novas competências relevantes.
- APELAMOS à OCDE que (...):
• Crie e realize uma visão mais arrojada sobre como aproveitar espaços, tempo, tecnologia e recursos humanos para proporcionar
mais eficazes e inclusivas,
com base em provas sólidas.
• Identifique e explore tendências emergentes que possam moldar o futuro da educação e fornecer uma plataforma de aprendizagem e colaboração entre pares, a fim de aprenderem uns com os outros e entre si, e com outros setores.
Ou seja, à semelhança de mais 40 países entregamos a educação escolar pública a um organismo com fins económicos, de mercado.
7 comentários:
Em 1494, Portugal assinou, com Espanha, o Tratado de Tordesilhas. A épica façanha da divisão do mundo, deixando de fora a Europa, entre os dois estados ibéricos, é um exemplo de um acordo internacional em que a voz d`El Rei de Portugal, D. João II, se fez ouvir bem alto.
No século XX, já com o Tratado de Tordesilhas fora de vigor, é a Europa Ocidental que vem buscar a Portugal um Cherne - nada mais, nada menos do que um Cherne! -, que, após um breve e brilhante período à frente do Governo da República Portuguesa, se via, assim, alçado, em termos meramente formais, a Presidente da Comissão Europeia.
Servem estes dois episódios históricos, um exaltante do orgulho português e o outro motivo de vergonha nacional, para nos fazer refletir sobre a copresidência de Portugal da Reunião dos Ministros da Educação da OCDE, subordinada ao tema “Reconstruir uma sociedade inclusiva e equitativa através da educação”, que decorreu nos dias 7 e 8 de dezembro.
Será que países altamente desenvolvidos, nos campos económico, educacional e científico, como é a Noruega, veem com bons olhos as propostas revolucionárias de aniquilação do ensino escolar, ou seja, daquele que vai além do senso comum, como está a ocorrer em países que ocupam, economicamente, a cauda da Europa, como é o caso de Portugal ?!
A eficiência dos espantalhos, mesmo quando se quer apenas defender as culturas hortícolas, é altamente discutível!
Creio não errar ser o Nuno Bragança que a designava como a OCU, e explicava, para evitar maledicências, tratar-se da Organização do Capital Unido. Boas Festas!
Não sabemos bem, pelo menos eu não sei, que motivações concretas levam os países que a aderir, com entusiasmo (pelo menos aparentemente), às "políticas" para a "educação" de organizações como a OCDE. Serão, por certo, diversas. Uma delas, indicada por diversos autores (e que pode ser considerada negativa, não positiva, portanto) é o “Medo de ficar de fora” (Fear Of Missing Out - FOMO). Esse medo sobrepor-se-á à consciência (se é que ela existe) de que estamos a subordinar a educação (a formação das novas gerações) à economia (sem reocupações de justiça social)?
Cumprimentos, MHDamião
Sempre foi assim, quem não dispõe de propriedade intelectual faz uso daquilo que tem: o consentimento. Não fazendo a mais pequena ideia daquilo que deve ser feito para uma Educação de qualidade, o ministro da educação entrega-se a quem o pode ajudar na manutenção do cargo. Entendo-o porque é a sua única opção. O problema é que as decisões que daí advêm inviabilizam os projetos de vida da maioria dos alunos. É o futuro do país que fica em causa.
Errata: onde se lê "Espanha", deve ler-se "Castela".
O ministro Costa a pavimentar um futuro que já gostaria que fosse presente; ordinário
Errata: onde se lê "século XX", deve ler-se "século XXI".
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