Meu capítulo do livro « Em Português: Falar, viver e pensar no século XXI
Coordenação: Fernando Ilharco | Marília dos Santos Lopes | Fernando Chau | Filipe Coelho»
que saiu na Universidade Católica:
1- Introdução
O português é a língua não só dos escritores Luís de Camões e Fernando
Pessoa, mas também dos cientistas Garcia de Orta e António Egas Moniz, em
Portugal. É a língua não só dos escritores Machado de Assis e João Guimarães
Rosa, mas também dos cientistas Oswaldo Cruz e César Lattes, no Brasil. É uma língua
literária, mas também uma língua de ciência e inovação. E, longe de se encontrar
apenas em Portugal – sua origem histórica – e no Brasil – o país com maior o
número de falantes – , está espalhada por uma vasta geografia, que inclui Cabo
Verde, Guiné – Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor, para
não falar de outros sítios com presença histórica Macau (China), Goa (Índia),
Batalicoa (Sri Lanka), Malaca (Malásia) e Flores (Indonésia). A língua portuguesa
é global por estar presente em quatro continentes (Europa, África, América e
Ásia), quer por pessoas que vivem nos países onde nasceram quer por comunidades
(portuguesas, brasileiras, cabo-verdianas, etc.) emigradas, espalhadas pelo
mundo. Contando com cerca de 258 milhões de falantes (232 milhões como língua
materna e 25 milhões como segunda língua), o português é a sexta língua materna no mundo e a oitava língua
no que respeita ao número total de falantes [1-2]. Graças principalmente ao
Brasil, mas também a Angola e Moçambique, é a língua mais falada no hemisfério
Sul.
Neste artigo começaremos por apresentar o papel de Portugal e da língua
portuguesa na emergência da ciência moderna e por salientar um conjunto de
obras em português que foram pioneiras na cultura lusa, ao incorporarem
conhecimentos de vários ramos da ciência pela primeira vez na língua de Orta e
Camões. Depois apresentaremos, de forma sumária, os sistemas científico-tecnológicos
nos países de língua oficial portuguesa e o lugar da língua nesses sistemas, enfrentando
a clara preponderância do inglês como língua de ciência e tecnologia na
contemporaneidade. Por último, partindo da história inicial das universidades
no espaço lusófono, descreveremos o sistema de ensino superior nesses países, onde,
apesar do uso do inglês nalgumas disciplinas, os conhecimentos são transmitidos
principalmente em português. Concluiremos com algumas considerações sobre a
evolução futura da língua no quadro dos sistemas de ciência, tecnologia e
ensino superior da esfera da lusofonia.
2- O nascimento da ciência moderna
No que respeita à relação da língua com a ciência, dá-se o caso curioso de
um dos primeiros textos científicos em português – o Colóquio dos Simples e
Drogas e Cousas Medicinais da Índia [3], um tratado de botânica que
apresenta espécies botânicas da Índia e discute as suas propriedades
medicinais, escrito pelo médico Garcia de Orta e publicado em Goa em 1563, incluir
uma introdução poética de Luís de Camões, que foi o primeiro poema publicado
pelo grande vate, quando ainda faltavam nove anos para Os Lusíadas virem
a lume. Eis um excerto dessa peça, intitulada «Ao Conde do Redondo, vizo-rei da
Índia», com grafia ligeiramente actualizada conforme o estilo adoptado nas Obras
Pioneiras da Cultura Portuguesa [1]
[4] (o facto de as alterações serem poucas e pequenas revela a resistência da
língua portuguesa à usura do tempo):
Favorecei a
antiga
Ciência que
já Aquiles estimou;
Olhai que
vos obriga,
Verdes que
em vosso tempo se mostrou
O fruto
daquela Orta onde florecem
Plantas
novas, que os doutos não conhecem.
Olhai que em
vossos anos
Produze uma
Orta insigne varias ervas
Nos campos
lusitanos,
As quais,
aquelas doutas protervas
Medeia e
Circe nunca conheceram,
Posto que
as leis da Mágica excederam.
Camões, que se
encontrava em Goa na altura da publicação da obra, elogia o seu amigo Orta,
afirmando que nem os doutores nem as criaturas com poderes mágicos da
Antiguidade Clássica conheciam os poderes das plantas que os portugueses
estavam a descobrir naquela parte do mundo. O tratado, escrito em forma de diálogo, alcançou grande repercussão na
Europa, graças ao médico e botânico flamengo Charles de l’Écluse, ou Carolus
Clusius, que, tendo visto uma cópia em Lisboa, logo tratou de a traduzir para latim,
a língua franca da ciência na época [2].
Os Colóquios foram também rapidamente
traduzidos para castelhano, para francês, para italiano e, mais tarde, para inglês.
O interesse pela obra continua, como mostra o surgimento de traduções recentes
em castelhano e em francês [3].
Nesta obra saída no Ultramar, ciência e literatura estavam irmanadas pela
língua portuguesa, que então ia ficando madura. Nos séculos XV e XVI deu-se,
com os Descobrimentos Marítimos de que os portugueses foram os primeiros
protagonistas, a globalização da língua portuguesa, que antes estava confinada
ao extremo ocidental da Europa, onde tinha emergido nos séculos XII e XIII com
raízes no latim vulgar e intimamente ligada ao galego [5-6]. Foi um extraordinário
tempo de descoberta de novos mares e novas terras, de novas plantas e de novos animais
e de novos povos e culturas. Foi também um tempo em que a língua incorporou
novos termos para designar realidades até então desconhecidas dos ocidentais. E
foi ainda um tempo em que a língua contactou línguas indígenas,
enriquecendo-se todas elas nesse contacto. Hoje em dia falam-se várias línguas
crioulas baseadas no português em África, na Ásia e na América Central: a
mistura de línguas originou línguas novas.
A língua portuguesa «descobriu» e «foi descoberta». Não é suficientemente
conhecido, merecendo sê-lo mais, que a palavra «descoberta», embora de origem
latina (como a maioria dos vocábulos da língua portuguesa), surgiu nas línguas ocidentais
pela primeira vez na língua de Camões e Orta. De facto, o historiador inglês
David Wootton no seu livro A Invenção da Ciência [7] afirma que a
palavra «descoberta» ou «descobrimento» (que significa literalmente destapar,
revelar) começou a ser usada na língua lusa em 1484, o que contrasta com a aparição da palavra noutras
geografias europeias: o termo inglês discovery só surgiu em 1554.
Entre uma data e outra, ela foi usada em italiano por Américo Vespúcio, que
aprendeu a navegar com os portugueses, que numa carta a Piero Soderini em 1504 emprega
o termo descoperio ao falar do novo mundo, «ao qual os nossos
antepassados não faziam uma única menção.» O nome «América» seria dado ao
continente que Cristóvão Colombo descobriu em 1492. O termo «descobrimento» apareceu em 1551 no título de um livro, a História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses [8], de Fernão Lopes de Castanheda, que foi logo traduzido nas principais línguas
europeias[4].
Em francês a palavra correspondente só apareceria em título de livro em 1553, em
inglês em 1563 e em alemão em 1613.
Um marco importante da expansão marítima portuguesa foi a descoberta do
Brasil em 1500 a meio da viagem à Índia da armada de Pedro Álvares Cabral, após
um grande desvio da rota programada. O território tinha habitantes há muitos
anos, tal como as ilhas da América Central onde Colombo tinha chegado.
A atribuição aos portugueses da paternidade da palavra «descoberta» é
apenas um dos aspectos da inovação portuguesa no que respeita à mundovisão dos
europeus. A Revolução Científica, que teve a sua génese na Europa nos séculos
XVI e XVII, foi o período em que nasceu e se desenvolveu o método científico
que conduziu à ciência e à civilização hodiernas. Mas, talvez pela preponderância
da historiografia anglo-saxónica (a qual, pelo menos em parte, se deve ao
domínio mundial da língua inglesa), não é muito conhecido globalmente que os
Descobrimentos Portugueses foram o indispensável prelúdio da Revolução Científica.
Com efeito, aquela revolução baseia-se na observação, na experimentação e na
racionalidade, mas o primado da observação já era muito nítido nas viagens marítimas
portuguesas (vejam-se, por exemplo, os versos de Camões n’Os Lusíadas [9]
«vi claramente visto, o lume vivo» [5]),
assim como a valorização da experiência (veja-se a frase do navegador Duarte
Pacheco Pereira no Esmeraldo de Situ Orbis [10] «a experiência, que é a
madre das cousas» [6])
e ainda o raciocínio matemático (usado
na determinação das alturas dos astros, uma técnica que exigia tabelas numéricas).
O conhecimento dos mares, permitido por inovações como a caravela e o astrolábio
náutico, contribuiu decisivamente para que o espírito cientifico se fosse instaurando
primeiro na Europa e depois no mundo. A cartografia do mar aberto, realizada
sucessivamente no Atlântico, no Índico e no Pacífico, inscreveu novas terras e
mares no conhecimento da Humanidade. O planisfério de Cantino, uma cópia de um
mapa que estava na Casa da Índia em Lisboa, mostra o mundo tal como era
conhecido em 1502: partes da América, como Brasil, já apareciam representadas, embora
a América nessa altura ainda não tivesse esse nome.
É significativo que o inglês Francis Bacon, primeiro filósofo da ciência
moderna (contemporâneo de Galileu Galilei e de Johannes Kepler), tenha colocado
no frontispício de um seu livro que visava a reforma do conhecimento
aristotélico uma imagem de barcos a passar as portas de Hércules, que marcavam a
entrada do Mediterrâneo [7] [11].
As descobertas da ciência eram afinal descobertas de «mundos novos» tal como as
descobertas marítimas, embora tivessem carácter imaterial. Os Descobrimentos, primeiro
portugueses e depois espanhóis e de outros povos europeus, foram uma metáfora apropriada
para o enorme alargamento dos conhecimentos que foi sendo alcançado pelo uso do método científico. Não à qual chamou «Nova Atlântida», uma civilização que pode ser considerada uma pré-configuração
da civilização contemporânea, largamente dominada pela ciência e pelo seu
«braço» para resolver muitos problemas da vida humana que é a tecnologia. O seu
livro Nova Atlântida saiu em Londres em 1626
[12]. Trata-se de uma utopia, na esteira da Utopia [13], de Thomas More,
saída em Lovaina em 1516, na qual entra o marinheiro português Rafael Hitlodeu.
Talvez o maior cientista português de todos os tempos tenha sido Pedro
Nunes, um matemático do século XVI( contemporâneo de Nicolau Copérnico, cuja
tese heliocêntrica, publicada em 1543, ele conhecia, embora não a tenha subscrito,
dada a cosmovisão reinante em toda a Cristandade) [14]. Apesar de nunca ter
navegado, Pedro Nunes, um cristão-novo cujas origens judaicas permaneceram ignotas
em vida, foi «cosmógrafo-mor» do rei D. João III e, nessa qualidade, examinador
de pilotos. Mas foi, acima de tudo, professor de Matemática na Universidade de
Coimbra, que tinha sido fundada em Lisboa em 1290, mas que em 1537 foi transferida
para Coimbra (Nunes mudou-se de Lisboa para Coimbra nessa altura).
Nunes escreveu principalmente em latim, a fim de ser lido internacionalmente,
mas também o fez em português e em castelhano. A sua obra era conhecida do
astrónomo dinamarquês Tycho Brahe, que foi mestre do astrónomo alemão Johannes Kepler.
Algumas gravuras de um livro de Brahe[8] representam
quadrantes com o nónio de Nunes, um instrumento descrito pela primeira vez pelo
sábio português em De
Crepusculis (1542) [15] e que serve para medir alturas de astros com
maior precisão. Um livro famoso de Kepler, Tabelas Rodolfinas
(1623) [16], ostenta o nónio de Nunes logo no frontispício.
O livro de Pedro Nunes Tratado da Sphera (1537)
[17], saído em Lisboa, que é uma tradução comentada do Tratado da Esfera do
monge do século XIII Johannes de Sacro Bosco, contém duas obras originais sobre
navegação, em português. Aí se distinguem pela primeira vez linhas de rumo de
círculos máximos, e se estudam as consequências, para a cartografia, da
representação dessas linhas por linhas rectas. Tal descrição poderá ter
influenciado o globo de 1541 da autoria do cartógrafo flamengo Geraldus
Mercator, onde aparecem traçadas linhas de rumo, mais tarde designadas por
loxodrómicas. Este tema seria depois tratado com maior profundidade, no livro Opera, [18] escrito por Nunes em latim (Basileia,
1566) e mais tarde republicado, com correcções. Um outro livro de
Nunes, o Libro de
Algebra (Antuérpia, 1567) [19], foi publicado em castelhano: o autor
afirma no prefácio que o escreveu primeiro em português, tendo-o depois
traduzido (ele sabia castelhano pois tinha estudado na Universidade de
Salamanca). Nunes está hoje imortalizado por ter o seu nome associado a uma
cratera na Lua, tal como os navegadores portugueses Vasco da Gama, o
descobridor da Índia por mar, e Fernão de Magalhães, o mentor da primeira
viagem de circum-navegação.
Nunes foi várias vezes citado por aquele que foi o maior astrónomo entre
Copérnico e Galileu, Cristophorus Clavius, jesuíta alemão que, após ter sido
estudante de Coimbra durante cinco anos, dirigiu o Colégio Romano, participou
na comissão papal para a reforma do calendário de 1582 e confirmou as primeiras
observações astronómicas de Galileu, apesar de não ter perfilhado o
heliocentrismo. Em Portugal, o novo calendário gregoriano foi descrito em
português pelo professor que sucedeu a Nunes em Coimbra, André
de Avelar: Chronographia
ou reportorio dos tempos: o mais copioso que te agora sayo a luz: conforme a
nova reformação do Santo Padre Gregorio XIII [20]. Apesar de Avelar ter procurado evitar conflitos com a
Igreja, não conseguiu evitar o seu julgamento pela Inquisição, instituição então
omnipresente no país, por suspeitas de judaísmo, e a inclusão do seu livro no Index Prohibitorum.
Outro grande cientista do tempo de Pedro Nunes foi D.
João de Castro, vice-rei da India. Foi um fidalgo que beneficiou de lições
de Nunes na Corte em Lisboa e que viajou duas vezes à Índia efectuando observações
geofísicas (meteorológicas, oceanográficas, magnéticas, geográficas, etc.), pelo
que pode ser considerado o primeiro geofísico global. Escreveu várias obras em português
[21]: alguns dos seus escritos
são uma apologia do método científico quando este ainda estava longe de estar
estabelecido.
3- Obras pioneiras da cultura portuguesa
Os escritos em português de Garcia de Orta (um só um livro) e de Pedro Nunes (uma
parte pequena da sua produção) foram pioneiros da ciência não só portuguesa
como mundial. As Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa [3], em 30
volumes, que já foram referidas, incluíram o Colóquio dos Simples,
como o primeiro tratado de botânica, e dois textos de Pedro Nunes, como escritos
pioneiros de marinharia. Mas há várias outras obras escritas de raiz em
português que foram seleccionadas para essa colecção e apresentadas em versões legíveis
para os leitores de hoje, com uma introdução que enquadra os assuntos e algumas
notas que facilitam a sua compreensão.
Eis a lista das obras de ciência incluídas nas cerca de 90 Obras
Pioneiras [9]:
- 1 Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Guiné, manuscrito de 1453 publicado em 1841, nos primeiros livros de viagens e descobrimentos.
- 2 Álvaro Velho, Diário, manuscrito de 1497 publicado em 1938, nos primeiros livros de viagens e descobrimentos.
- 3 Pero Vaz de Caminha, Carta de Achamento do Brasil, manuscrito de 1506, publicado em 1817, nos primeiros livros de viagens e descobrimentos.
- 4 João de Lisboa (atribuído), Livro de Marinharia, manuscrito de 1514 publicado em 1982, nos primeiros livros de marinharia.
- 5 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, manuscrito de 1506 publicado em 1892, o primeiro livro de geografia.
- 6 Pedro Nunes, Tratado da Esfera, Lisboa: Germão Galharde, 1537. Inclui os textos Tratado sobre certas dúvidas de navegação e Tratado em defensao da carta de marear com o regimento da altura, nos primeiros livros de marinharia.
- 7 Fernando de Oliveira, Arte da Guerra do Mar, Coimbra: João Aluerez, 1555, primeira obra de guerra marítima.
- 8- -Garcia de Orta, Colóquio dos Simples…, 2 vols., Goa: João de Emden, 1563, primeiro livro de botânica.
- 9 Duarte Leão, Descrição do Reino de Portugal, Lisboa: Jorge Rodriguez, 1610, primeira geografia de Portugal.
- 10 D. Caetano de Santo António, Farmacopeia
Lusitana, Coimbra: Joam Antunes, 1704, primeiro livro de farmácia (farmacopeia).
- 11 Manuel Azevedo Fortes, Engenheiro Português, Lisboa: Manoel Fernandes da Costa, 1728-1729, primeiro livro de engenharia.
- 12 Fr. Diogo de
Sant’Iago, Postila Religiosa e Arte de
Enfermeiros, Lisboa: Miguel
Manescal da Costa, 1741, primeiro escrito de enfermagem.
- 13 Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar, Valensa (Nápoles):
Antonio Balle, 1746, primeiro tratado de pedagogia (incluindo a pedagogia das
ciências).
- 14 Manuel Constâncio, Postila de Anatomia, manuscrito, 1775, primeiro escrito de
anatomia.
- 15 Teodoro de Almeida, Recreação Filosófica, Lisboa: Régia Oficina
Tipográfica, 1.º vol., 1751 (de um total de 10 vols.), 5.ª edição em 1786, primeiro
tratado de física.
- 16 Vicente Coelho de Seabra Telles, Elementos de Química, 2 vols., Coimbra:
Real Oficina da Universidade, 1788 - 1790, primeiro tratado de química.
- 17 José Bonifácio de Andrada e Silva, Memória sobre a necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal, Lisboa: Tipografia da Academia Real das Ciências, 1815, primeiro tratado de ecologia.
- 18 Francisco A. Pereira da Costa, Da existência do Homem em Épocas Remotas
no Vale do Tejo, Lisboa: Imprensa Nacional, 1865, nos primeiros
escritos de arqueologia
- 19 José Leite de Vasconcelos, Portugal Pré-Histórico,
Lisboa: David Corazzi, 1885, nos primeiros escritos de arqueologia.
Note-se que os cinco primeiros são manuscritos (só há mais um, a Postilla
de Anatomia, nesta lista), sendo as obras de Pedro Nunes as primeiras a surgirem impressas. Das 13 obras impressas, oito foram publicadas
em Lisboa, três em Coimbra e duas fora de Portugal (Goa e Nápoles). Duas delas
(de Seabra Telles e Andrada e Silva) são de autores nascidos no Brasil.
Não foi possível incluir nas Obras Pioneiras o primeiro tratado de
matemática em português: o Tratado da Pratica D’Arysmetica
[22], da autoria de Gaspar Nicolas (Lisboa: Germão
Galharde, 1519)[10],
considerada a primeira obra da «arte de contar», isto é, de aritmética. Essa
obra, cujo propósito original era a instrução de D. Rodrigo, Conde de Tentúgal,
teve pelo menos onze edições ao longo de três séculos, entre 1519 e 1716.
De seguida, apresentamos uma súmula de cada um desses autores e títulos:
1-A Crónica de Guiné, do cronista
Gomes Eanes de Zurara (1410 - 1474), é o primeiro texto sobre os Descobrimentos
Portugueses. Foi escrita no tempo de Infante D. Henrique, o impulsionador dessa
epopeia, cujo papel é valorizado, relatando o que se passou entre 1422 e 1448, portanto
em vida do autor. Zurara salienta o carácter inovador dos Descobrimentos, o que
ressalta do uso repetido da palavra «nunca» e das referências a novidades,
algumas delas exótica para os europeus.
2- O Diário, provavelmente de Álvaro Velho, um dos marinheiros
de Vasco da Gama, é um relato da viagem da descobrimento do caminho marítimo
para a Índia. Lendo esse escrito, terminado quando a armada no regresso já
estava na costa da Guiné, assistimos ao contacto entre europeus e indianos.
3- A Carta de Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha (1450 -
1500), escrivão de Pedro Álvares Cabral, regista o primeiro desembarque
oficial dos navegadores portugueses em terras da América do Sul, oferecendo-nos
um retrato do encontro entre eles e os indígenas. O autor ficou admirado com a
inocência dos índios, apercebendo-se que os europeus tinham chegado a um mundo
onde as regras do mundo cristão não tinham validade.
4- O Livro de Marinharia de João de Lisboa deve o seu nome ao facto
de o piloto João de Lisboa (c.1470-1525) aparecer no texto. Mas deduz-se que certas
partes são posteriores à morte desse piloto. Nesse tempo, o ensino da arte de
navegar seguia o modelo medieval dos ofícios: o mestre transmitia os seus
conhecimentos práticos ao aprendiz. Os registos de pilotos usados na navegação,
que iam sendo copiados e acrescentados, ficaram conhecidos por «Livros de
Marinharia». O conjunto de informações desse escrito fornece uma visão muito
útil sobre as circunstâncias das viagens e sobre o que os navegadores descobriam.
5- O Esmeraldo de Situ
Orbis, de Duarte Pacheco Pereira (1460-1533)
é a primeira descrição pormenorizada da
costa ocidental africana, incluindo o relato dos contactos com as populações
africanas. Descreve as zonas de comércio ao longo da costa, no século XV, e o
modo como os navegadores portugueses viam o mundo que acabavam de descobrir. É
neste texto que Pacheco Pereira afirma que «a experiência é a madre de todas
cousas». Apesar do primado da experiência, permanecem no autor algumas crenças
fantásticas.
6- Os Tratado sobre certas dúvidas de navegação e Tratado em defensa da
carta de marear com o regimento da altura, do matemático Pedro Nunes
(1502-1678), são dois breves textos, já atrás comentados, apensos à tradução para
português daquele sábio do Tratado da Esfera de Sacrobosco.
7- A Arte da Guerra do Mar, de Fernando de Oliveira (1507-1581), um
autor absolutamente pioneiro em vários aspectos (publicou as primeiras História
de Portugal e a Gramática da Linguagem Portuguesa), que foi um professor
e piloto muito viajado. A Arte da Guerra do Mar, baseado na sua
experiência marítima, é pioneiro no género não só em Portugal como na
Europa.
8- O Colóquio dos Simples é obra de Garcia da Orta (1501-1568), médico português, formado em Espanha, que exerceu
medicina em Castelo de Vide, Lisboa (onde foi médico do rei e professor na
Universidade, e, finalmente, no Hospital de Goa). A farmácia seiscentista assentava nas plantas medicinais. Orta
conhecia não só o que os autores clássicos (em particular, o grego Dioscórides) tinham
escrito sobre plantas, como também os saberes orientais, com os quais se
familiarizou in loco. Os Colóquios, cujo intróito de Camões já
foi referido, resultam de um cruzamento de culturas.
9- A Descrição do Reino de Portugal, do cronista régio Duarte Nunes
Leão (c. 1530 - 1608), é a primeira geografia de Portugal. Publicada pelo seu sobrinho Gil Nunes do
Leão. corresponde na sua forma geral, ao que o tio deixou, quando a acabou de escrever,
em 1599, pesem embora as referências a datas posteriores, obviamente
acrescentadas. Existe outra edição desta Descrição do Reino de Portugal, para
além da original: a de 1785, impressa na oficina de Simão Thaddeo Ferreira, em
Lisboa. O texto tem um rico conteúdo não só da geografia como da história das ideias.
10- A Farmacopeia Lusitana, de D. Caetano de
Santo António (c. 1660 - 1739), boticário no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que
se mudou para o Mosteiro de S. Vicente de Fora, Lisboa, pertencente à
mesma Ordem. Esta primeira farmacopeia em português teve outras edições: em 1711,
1725 e 1754. A obra, que descreve os métodos para preparar os medicamentos,
inventaria um conjunto de drogas e inclui um formulário, tendo inegável
utilidade para boticários e médicos. Baseada no sistema galénico, D. Caetano
reuniu informações de dezenas de autores.
11- O Engenheiro
Português, de Manuel Azevedo Fortes (1660-1749), Cavaleiro da Ordem
de Cristo e Engenheiro-mor do reino. Está dividida em
dois tratados: o primeiro, contendo gravuras desdobráveis, trata a matemática, abrangendo a geometria prática no
papel no terreno, em particular o modo do usar os instrumentos e desenhar
plantas militares; o segundo, um tratado de
engenharia, compreende a fortificação regular e irregular, o ataque e defensa
das praças e, em apêndice, o uso das armas de guerra. É uma obra de referência
da engenharia militar portuguesa, que serviu durante
muito tempo na instrução em escolas militares.
12- A Postila Religiosa e Arte de
Enfermeiros, do frade Diogo
de Sant’Iago, mestre de noviços no Convento-Hospital de S. João de Deus, na
Praça de Elvas, foi um livro essencial ao desempenho da Ordem Hospitaleira nas suas
actividades nos Reais Hospitais Militares aquém e além-mar. Entre 1645 e 1834, essa
Ordem foi a responsável pela gestão destes edifícios militares, cujo conjunto
constituiu a primeira rede de saúde militar do reino. Os conteúdos estão
divididos em quatro áreas: apoio religioso, a técnica, a epistemologia e administração
dos hospitais.
13- O Verdadeiro Método de Estudar, de Luís António Verney (1713-1792),
um autor iluminista que teve formação nos Oratorianos e viveu exilado em Itália
(um «estrangeirado», portanto). Pela sua natureza renovadora e pelo impacto que
veio a ter nas elites intelectuais no século XVIII, a obra foi um marco da
história da cultura portuguesa. Publicada no original anonimamente, promoveu a
divulgação das novas formas de pensamento e acção do Século das Luzes. No
conjunto de 16 cartas encontram-se várias matérias (gramática; latinidade;
línguas; retórica e eloquência; poética; filosofia e lógica; metafísica;
física; ética; medicina; jurisprudência; teologia; direito canónico), abordadas de modo a dar conta da evolução histórica e dos métodos de ensino de cada uma. O
tom é de crítica acesa do pensamento e método escolásticos, pelo que não admira
que tenha despertado viva polémica nas décadas de 1740 e 1750 (ficou conhecida como
discussão entre «antigos» e «modernos»).
14- A Postila de Anatomia, do
médico Manuel Constâncio (1726-1817), professor de anatomia no Hospital Real de Todos os Santos em Lisboa, uma
escola de conhecimentos práticos que incluíam a dissecação de cadáveres humanos.
Trata-se de uma sebenta que os seus discípulos escreveram a partir do que ouviam
nas aulas. Desta obra, nunca antes impressa, existem dois manuscritos
preparados por estudantes: um de 1775, de Emanuel José Guedes, e outro
de 1780, de António
do Espírito Santo.
15- Recreação Filosófica ou Diálogo
sobre a Filosofia Natural, do padre oratoriano Teodoro de Almeida
(1722-1804), uma das figuras maiores do Iluminismo português, pelo seu
contributo para a renovação da ciência e da cultura científica. A sua visão
reformista, bem patente nesta obra de dez tomos, com o primeiro publicado
em 1751, animou o ensino moderno das ciências na Casa das Necessidades, em
Lisboa. O labor pedagógico e científico de Almeida e seus confrades, entre 1745
e 1760, antecipou a renovação do ensino verificada em Coimbra com a Reforma
Pombalina da Universidade de Coimbra em 1772. Escrita em forma de diálogo, a Recreação
pode ser vista não só como um tratado de ciência, mas também como um livro de
divulgação científica. Perseguido pelo Marquês de Pombal, Almeida foi obrigado
ao exílio em Espanha e França entre 1768 e 1778. Regressado, foi sócio fundador
da Real Academia das Ciências de Lisboa, em 1779, que tentou imitar
instituições análogas já existentes em capitais europeias, tendo proferido a
oração de abertura.
16- Os Elementos de Química, do químico Vicente Coelho de Seabra
Telles (1764-1804), natural de Congonhas do Campo (Minas Gerais, Brasil), que
frequentou a Universidade de Coimbra, obtendo o grau de bacharel, em 1787. Foi
logo contratado pela Faculdade de Filosofia, como Demonstrador de Química.
Ainda era estudante quando começou a escrever o primeiro volume desse compêndio
de química, dedicado à «Sociedade Literária do Rio de Janeiro, uma Corporação
de Patriotas Iluminados», tendo terminado a obra em 1790, com o segundo volume.
O tratado aborda as matérias ensinadas nesta disciplina na Europa, no quadro da
química que estava a ser criada por Antoine Lavoisier.
17- Memória
sobre a Necessidade e Utilidade do Plantio de Novos Bosques em Portugal, do luso-brasileiro (nascido em Santos, Brasil), José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), naturalista e estadista,
poeta e soldado, cientista e humanista, diplomata e pensador, que ficou
conhecido como «Patriarca da Independência» do Brasil. Encarnou o perfil de um
homem das Luzes, no seu trabalho científico-tecnológico e politico. Nesta obra,
alerta para a necessidade de uma política de fomento de florestas na metrópole
lusitana, de forma a evitar a desertificação. Ao fazê-lo, através da sua
compreensão das interacções entre as leis físicas e o agir do homem sobre a «economia
geral da Natureza», antecipou o conceito de «ecologia», uma designação do naturalista
alemão Ernest Haeckel no século XIX.
18- Da Existência do Homem em épocas Remotas no Vale do Tejo, do
geólogo Francisco A. Pereira da Costa (1809-1889). Foi Carlos Ribeiro, diretor da Comissão Geológica
de Portugal, quem descobriu os primeiros concheiros mesolíticos nos vales das
ribeiras de Magos e de Muge, afluentes do Tejo. Em 1864 procedeu a escavações
no concheiro do Cabeço da Arruda, as primeiras realizadas em Portugal de uma estação
pré-histórica. Os resultados foram estudados e publicados por Pereira da Costa,
logo no ano seguinte, na primeira monografia sobre uma estação pré-histórica nacional.
O seu impacto nacional e internacional, pois foi escrita em português e francês,
justificou o prosseguimento das escavações, as quais seriam visitadas por
participantes do Congresso Internacional de Antropologia e de Arqueologia
Pré-Históricas, reunido em Lisboa em 1880.
19- Portugal Pré-Histórico, do arqueólogo e etnólogo José Leite de Vasconcelos (1858
- 1941), que resume, com o intuito de divulgação, o que então se sabia sobre a
ocupação pré-histórica do território português. Redigido quando o autor era
finalista de Medicina no Porto, já nela surgem várias questões, às quais tentou
responder no decurso da sua vida, sobre as origens do povo português. O
pensamento científico do autor estava marcado pelo positivismo da época.
4 - Ciência e Tecnologia no espaço de língua portuguesa
A I&D em Portugal
A ciência e a tecnologia conheceram em Portugal, com a acção decidida do
físico José Mariano Gago (o primeiro titular, em 1995, da Ministério da Ciência
e Tecnologia, hoje denominado Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior), um notável crescimento nos últimos 30 anos [23]. O investimento em
investigação e desenvolvimento (I&D) era, em 1995, de 0,5% (0,4% público e
0,1% privado), em 2009 atingiu 1,6% (0,8% público e 0,8% privado) e, após uma
queda acentuada com a intervenção da troika em 2011, chegou-se ao valor
mais recente, de 2020, que é 1,6% (0,7% no público e 0,9% privado), que está muito distante da média
europeia, que é 2,2% (0,7% no público e 1,5% no privado)[11] [24].
As actividades de I&D em Portugal são sobretudo conduzidas no quadro de
uma rede de unidades de I&D, constituída por 40 Laboratórios Associados e
por dezenas de outros centros de investigação, activos nos vários ramos da
ciência e das tecnologias, apoiadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia,
a agência financiadora nacional, na tutela do Ministério da Ciência, Tecnologia
e Ensino Superior. A maior parte da I&D em Portugal está ligada ao ensino
superior público, nomeadamente nas universidades. Mariano Gago fomentou no
final do século XCX a criação de centros
de I&D, os maiores dos quais foram chamados Laboratórios Associados (já
havia Laboratórios do Estado, como o Laboratório Nacional de Engenharia Civil –
LNEC e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – INSA). Assumindo a
figura jurídica de associações privadas sem fins lucrativos, alguns dos mais
produtivos situam-se na área das biociências: o Instituto de Investigação e
Inovação em Saúde (I3S), da Universidade do Porto; o Instituto de Tecnologia
Química e Biológica (ITQB), em Oeiras; o Instituto de Medicina Molecular (IMM),
da Universidade de Lisboa; o Centro de Inovação em Medicina e Biotecnologia da
Universidade de Coimbra. Nas ciências sociais destacam-se o Instituto de
Ciências Sociais – ICS, em Lisboa e o
Centro de Estudos Sociais – CES, em Coimbra. Entre os centros de investigação
apoiados pelo Estado, está também o Laboratório Internacional Ibérico de
Nanotecnologia, uma colaboração entre Portugal e Espanha. Entre as maiores
instituições privadas estão o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e a
Fundação Champalimaud, as duas na área das biociências e medicina. Essas
fundações atribuem anualmente prémios internacionais de valor elevado em temas de
ciência.
Portugal celebrou acordos com várias organizações científicas europeias.
Estas incluem a Agência Espacial Europeia (ESA), o Centro Europeu de Investigação
Nuclear (CERN), o Reactor Experimental
Termonuclear Internacional (ITER), e o Observatório Europeu do Sul (ESO). O
país entrou também em acordos de cooperação com o Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT), em Boston, Estados Unidos, e outras instituições
norte-americanas, a fim de desenvolver a eficácia do ensino superior e da
investigação.
Um output do investimento em I&D foi a formação avançada. As
universidades conseguiram um forte e rápido crescimento do número de
doutorados. Em 1995, formaram 567 novos doutores por ano; em 2009, 1625; e, em
2015, 2969. Hoje são bem mais do que 3000 por ano, continuando a aumentar o
número de doutores e, portanto, a percentagem de doutores na população activa em
Portugal [25]. A maioria deles são mulheres.
Um outro output do investimento em I&D são as publicações
científicas em revistas internacionais.
O incremento do número de artigos publicados em cada ano tem sido
impressionante: em 1995, houve 2402 artigos; em 2009, 13 897; e, em 2020, 28 298
[26]. A área com subida mais nítida tem
sido a das ciências da saúde. Estes valores, depois de divididos pelo número de
habitantes, podem e devem ser comparados com os internacionais. Portugal está num
lugar razoável no panorama europeu, embora longe das posições cimeiras,
designadamente se olharmos para a qualidade das publicações, medida pelo número
de citações [27]. A empresa Clarivate fornece um ranking anual dos
cientistas mais citados: dos mais de 6000 nomes de 2020 do top 1% nas
respectivas áreas só 10 são portugueses, menos do que seria de esperar
atendendo à dimensão do país (sobressaem nesses 10 as áreas das ciências
agrícolas, da química e da engenharia) [28]. Dos cientistas portugueses no
estrangeiro, o mais citado e conhecido é o neurologista António
Damásio, na Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles, nos Estados
Unidos, autor de livros de grande circulação como O Erro de Descartes [29].
Entre os indicadores de output da I&D está o registo de patentes.
Nos pedidos de patentes europeias, Portugal está bastante longe dos países mais
inovadores: em 2013 as empresas nacionais pediram 1,1 patentes por cem mil
habitantes, ao passo que a Irlanda pediu 7,1 e os Países Baixos 15,3 [30].
Apesar de haver algumas empresas que têm a I&D no seu cerne, como na área da saúde a Bial ou a Hovione ou na área da informática a Critical Software, e do esforço de algumas start-ups que empregam doutores, a inovação empresarial é insuficiente em Portugal. O sistema de I&D cresceu muito nas últimos décadas, produzindo recursos humanos qualificados (que têm tido dificuldade em encontrar emprego estável) e conhecimento expresso em artigos científicos, mas a transferência de ciência para a economia continua a ser bastante débil. A I&D no Brasil
Dando um salto para o outro lado do Atlântico, as actividades de I&D no Brasil também conheceu nas últimas décadas um grande crescimento, sendo produzidas em grande parte nas universidades públicas e numa grande rede de institutos de pesquisa, alguns federais, outros estaduais e outros ainda locais. De facto, o investimento em I&D é muito maior no Brasil do que em Portugal em valores absolutos. O Brasil é mesmo o 11.º país do mundo com maior investimento em I&D em valores absolutos, com 38 mil milhões de dólares (números de 2017), que corresponde a 1,3% do seu PIB [32]. No entanto, o correspondente valor per capita é modesto: 181 dólares (números de 2017). Em comparação, Portugal está em 38.º lugar com 3,6 milhões de dólares, correspondente também a 1,3% do PIB (números de 2014), o que dá 348 dólares per capita, quase o dobro do valor do Brasil. Não aparece nenhum outro país de língua oficial portuguesa na lista dos 90 maiores investidores em I&D.
Um dos grandes centros do Brasil é o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que é responsável por vários laboratórios no estado de São Paulo (este estado concentra 70% do investimento em I&D) [33]. No sector universitário destaca-se a Universidade de São Paulo (USP), forte em várias áreas, seguida pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) [34]. De entre as instituições privadas, destaca-se a Fundação Fiocruz, activa na área da saúde com indicadores de excelência [35].
No Brasil existem 138 500 investigadores (números de 2010, o que corresponde
a 1,34 por mil activos), um número bastante superior ao de todo o conjunto do
mundo lusófono: em Portugal, são 38 155
(em 2014, correspondente a 7,3 por mil activos, bastante maior do que o
Brasil), Angola 1150 (em 2011, 0,14 por mil activos) e Moçambique 912 (em
2010, 0,08 por mil activos) [1]. Tal como em Portugal, o número de doutorados no
Brasil tem crescido bastante ao longo das últimas décadas: em 2020 formaram-se cerca
de 24 000 novos doutorados em todas as áreas, a maior parte dos quais mulheres, tal como em Portugal [36].
De acordo com a base de dados Scopus, da Elsevier, em 2016 existiam 599 710
artigos de autores com endereço no Brasil, muitos mais do que os 163 964 artigos com endereço em Portugal [1]. Dos países se expressão portuguesa
seguem-se, a grande distância, Moçambique (2238) e Angola (658). Essa base de
dados alberga 331 revistas indexadas do Brasil e 35 de Portugal, o que são
números modestos comparados com o total.
Ainda segundo essa base de dados, o Brasil possuía, em 2020, 89 241 artigos, o
que corresponde a 51% da América Latina e a 2,8% da produção mundial. Devido a
uma subida muito consistente nos últimos anos, o Brasil ocupa hoje o 14.º lugar
do total da produção científica mundial, medida pelo Scopus [13],
num ranking encabeçado pela China, pelos Estados Unidos e pelo Reino
Unido [36], com 1 145 853 artigos, o que está grosso modo de acordo com
o ranking de investimento em I&D. Em contraste, Portugal está na
30.ª posição, com 373 374 artigos. A mesma base de dados, permite comparar o número de citações dos
artigos produzidos: o Brasil está abaixo (12,8 citações por documento) de
Portugal (17,9 citações por documento) em geral
e em praticamente todas as áreas [37].
O Brasil dispõe de tecnologias avançadas com grande impacto no público:
possui o maior programa de exploração espacial da América Latina, com recursos avultados
para veículos de lançamento (foguetes suborbitais) e satélites [38]. A Agência
Espacial Brasileira (AEB) assinou um acordo com a sua congénere norte-americana
(a NASA) em 1997, com o objectivo de fornecer componentes para a Estação
Espacial Internacional - ISS, o que permitiu ao Brasil treinar seu primeiro
astronauta, o coronel Marcos Pontes, que voou em 2006 na Soyuz. Portugal
possui desde há pouco tempo uma agência espacial (a Portugal Space) que
colabora com a ESA, mas não existe ainda nenhum astronauta português (há planos
para desenvolver nos Açores uma base de lançamentos de mini-satélites).
O Brasil tem um programa nuclear para uso civil, ao contrário de Portugal,
que desmantelou em 2019 o reactor experimental de Sacavém. O urânio enriquecido
na Fábrica de Combustível Nuclear, de Resende, no estado do Rio de Janeiro, é
usado na central de Angra dos Reis, no mesmo estado. No domínio da fusão
nuclear, o Brasil tem três tokamaks, ligados a universidades. Em
contraste, Portugal só tem um tokamak, o ISTTOM, no Instituto Superior
Técnico (IST) da Universidade de Lisboa. O Brasil é um dos três países da
América Latina que dispõe de um sincrotrão, um acelerador de electrões para
pesquisa em física, química, ciências dos materiais e biologia, o que mais uma
vez contrasta com Portugal, que não tem nenhum.
No ranking anual dos cientistas mais citados da Clarivate (lista de
2021), o Brasil tem 10 cientistas nos mais
de 6000 nomes do top 1% dos mais citados nas respectivas áreas, um
número igual ao de Portugal (destacam-se nessa lista de nomes brasileiros as
ciências agrícolas e as ciências sociais) [28]. É menos do que seria de esperar
dado o tamanho do país.
No que respeita a ranking de patentes, a posição do Brasil é modesta
no panorama mundial (7271 pedidos de patentes em 2020), tal como a portuguesa
(1874 pedidos), se levarmos em conta o tamanho das respectivas populações ou a
riqueza do país [39]. Os dois países têm ainda muito a progredir nesse domínio.
O Brasil também tem tido um grande número de inventores (note-se
que a palavra «tecnologia» surgiu na língua portuguesa com José Bonifácio de
Andrada e Silva). Destacam-se dois pioneiros mundiais da aviação: Bartolomeu de
Gusmão e Santos Dumont) Em 1709, o padre Bartolomeu de Gusmão criou em Lisboa a
Passarola, a primeira aeronave a efectuar um voo, embora dentro de
portas, na corte do rei D. João V [40]. Outro padre brasileiro, Roberto Landell
de Moura, foi pioneiro mundial na transmissão da voz, quando, em 1893 (antes do
físico italiano Guglielmo Marconi), transmitiu sua própria voz ao longo de 8 km, em São Paulo, usando equipamentos de rádio próprios e patenteados
no Brasil. O aviador Santos Dumont construiu e voou nos primeiros balões
dirigíveis com motor a gasolina, e, em 1906, realizou os primeiros voos de um
aparelho mais pesado que o ar. Na área médica, alguns cientistas brasileiros
foram responsáveis por notáveis descobertas. Carlos Chagas foi o descobridor da
doença de Chagas. Oswaldo Cruz iniciou importantes estudos sobre doenças
tropicais, tendo fundado o Instituto Fiocruz. O médico Henrique da Rocha Lima
descobriu a bactéria causadora do tifo e o seu colega Maurício Rocha e Silva
descobriu a bradicinina, uma hormona usada contra a hipertensão.
O português e a I&D
Apresentados sumariamente os sistemas de I&D no mundo lusófono
(situados essencialmente em Portugal e Brasil), interessa indicar o papel da
língua na actividade aí desenvolvida. Sendo claro que o português é a principal
língua de trabalho, só sendo substituída pelo inglês nos microambientes mais
internacionalizados, não é menos certo que a língua dominante de comunicação no
mundo da ciência é o inglês. O português continua, porém, a desempenhar um
papel insubstituível na esfera das ciências sociais e humanas, naturalmente mais
virada para fenómenos e problemas nacionais e regionais. Em Portugal e no
Brasil, essa área é, de resto, maioritária nos doutoramentos concedidos hoje em
dia. Apesar do domínio do inglês nas publicações científicas, saem numerosos
livros e artigos de ciência em português, tendo a língua portuguesa capacidade
de incorporar nova nomenclatura científica. Na divulgação pedagógica e
científica predomina o português.
O moderno acesso aberto aos artigos científicos tem sido uma das maneiras de assegurar a democratização da ciência. Nesse sector tem sido dada atenção à salvaguarda e à difusão da língua portuguesa, destacando-se algumas iniciativas brasileiras. O SciELO – Brasil Scientific Electronic Library Online é um repositório científico brasileiro que inclui revistas científicas em acesso aberto do mundo latino-americano: integra 280 revistas científicas do Brasil, mas apenas 6 de Portugal de um total de 1015 (números de 2014). O numero de artigos científicos no SciELO era 235 519 do Brasil e 9560 de Portugal [1]. O repositório da produção científica brasileira é o OAsisB - Portal Brasileiro de Acesso Aberto à Informação Científica, que regista 158.416 itens (2016), enquanto em Portugal é o RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal, que contém 315 136 documentos (em 2016) e em Cabo Verde o Portal do Conhecimento de Cabo Verde, com 2866 documentos.
5- O ensino superior no espaço de língua portuguesa
O ensino superior em Portugal
A universidade, ligada na sua génese
à Igreja, é uma das maiores criações da Idade Média. A mais antiga universidade
do mundo ocidental foi a de Bolonha, a Alma
Mater Studiorum, fundada em 1088. No século XIII, ocorreu uma explosão das
universidades, com o surgimento de uma dúzia, entre as quais as de Oxford,
Cambridge, Salamanca e Lisboa, fundada em 1
de Março de 1290 e de que a Universidade de
Coimbra é hoje herdeira [41]. Foi nessa data que o rei D. Dinis assinou
o documento Scientiae thesaurus mirabilis
que instituiu a universidade portuguesa, reconhecida pouco depois pelo papa
Nicolau IV, que hoje é Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Os primeiros
estatutos do chamado Studium Generali
foram redigidos em 1309. A Universidade medieval portuguesa foi relativamente pequena:
foi mudada para Coimbra
logo em 1308. Em
1338 foi transferida de novo para Lisboa, onde permaneceu 16 anos, regressando
a seguir a Coimbra. Após nova mudança para Lisboa, em 1377, fixou-se
definitivamente a Coimbra em 1537, por ordem de D. João III, fugindo ao bulício
da capital. Desempenhou um papel do maior relevo no
ensino e na ciência portuguesa, ao longo dos séculos. A única faculdade científica era de início a de Medicina, mas a Reforma
Pombalina em 1772 instituiu as Faculdades de Matemática e de Filosofia Natural.
Em 2021, o número de alunos matriculados no ensino superior era de 411.995,
um valor que se apresenta mais ou menos estabilizado desde 2002 após um
acentuado crescimento [43]. A grande maioria desses alunos (355 139) está
no ensino público. Juntando público e privado, existem 261.299 alunos em
universidades e 150 696 nos politécnicos.
As universidades portuguesas estão longe do topo do ranking de
Xangai das universidades, o melhor no seu género: na lista de 2021, só há três
universidades portuguesas nas 500 melhores do mundo, situando-se em lugares
modestos: a Universidade de Lisboa está nos lugares 201-300, ao passo que as
Universidades do Porto e do Minho estão nos lugares 301-400 e 401-500,
respectivamente [44]. No top 1000 só há mais três universidades
nacionais: Coimbra, Nova de Lisboa e Aveiro.
A Universidade de Coimbra foi até 1911, com excepção do período entre 1559
e 1759, quando existiu uma outra universidade em Évora (jesuíta, não tão
abrangente como a de Coimbra), a única não só no Portugal europeu, mas também
no vasto império português, em contraste com o que se passou no Império
espanhol. Algumas da universidades mais antigas do continente americano datam
do século XVI: as mais antigas são as universidades de São Domingos (1538), São Marcos, (Peru, 1551), México (1553).
O ensino superior no Brasil
O maior dos países de língua oficial portuguesa é o Brasil. Durante muitos
anos os naturais do Brasil e dos outros territórios do antigo império português
frequentaram a Universidade de Coimbra, por esta ser única até 1911 (com a
excepção já referida de Évora). Em 17 de Dezembro de 1792, foi instalada no Rio de Janeiro, então capital do Estado do
Brasil, a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, criada à
semelhança da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, fundada pouco
antes em Lisboa. É considerada uma precursora do ensino superior militar e de
engenharia, tanto no Brasil como no continente americano [45]. No Brasil, a
primeira faculdade foi a de Medicina da Bahia estabelecida no Hospital Militar
Real, sito no antigo Colégio de Jesuítas, em 1808, pelo Príncipe Regente D.
João, mais tarde D. João VI, que chegou com a corte ao Brasil nesse ano. Em
1809 foi criada uma escola médica no Rio de Janeiro. Entre 1808 e 1810, o governo
português fundou duas novas escolas militares: a Real Academia Naval e a Real
Academia Militar. Em 1827, com o Brasil já independente, foram fundadas as
primeiras faculdades de Direito do país, nomeadamente a Faculdade de Direito do
Recife e a Faculdade de São Paulo, que se tornaram pólos intelectuais do
Império.
As primeiras universidades só surgiram no Brasil no início do século XX. Quando
foi criada a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, já havia 20 universidades
na América Latina… Em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo (USP), que
se tornou o maior centro de investigação nacional. Está nos lugares 101-150 do ranking
de Xangai, sendo a melhor universidade do espaço lusófono [44]. Outras
universidades de assinalar, porque estão nesse ranking são a Federal de
Rio Grande do Sul, a Estadual Paulista (UNESP), a de Campinas (Unicamp), todas
elas nos lugares 301-400, e a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nos lugares 401-500. Até ao lugar 1000 aparecem mais 15 universidades brasileiras. Há,
portanto 6 universidades portuguesas e 20 brasileiras nas mil melhores
universidades do mundo. Não é muito,
atendendo ao número de falantes de português.
Há actualmente 8,6 milhões de estudantes no ensino superior no Brasil [46].
O ensino superior brasileiro, articulado num sistema bem maior e mais complexo do que o português, compreende
universidades, centros universitários, faculdades, institutos e escolas
superiores [47]. Das 2608 instituições de educação superior no Brasil, 108 são universidades
publicas (das quais 62 federais) e 90 privadas, 11 são centros universitários
públicos e 283 privados, e 143 são faculdades
públicas e 1933 privadas, existindo ainda outras 40 escolas públicas. Incluindo
todas as tipologias, uma percentagem de 88% são privadas e 22% são públicas.
O ensino superior nos outros países de língua portuguesa
Nos outros países de língua portuguesa, o número e desenvolvimento das universidades
reflecte o grau de desenvolvimento desses países, que nalguns casos é ainda bastante
limitado. Em Cabo Verde há uma universidade pública, a Universidade de Cabo Verde
(fundada em 2016), e várias escolas superiores privadas. Na Guiné-Bissau há a Universidade
Amílcar Cabral (fundada em 1999) e uma Escola Nacional de Saúde. Em São Tomé e Príncipe
há a Universidade de São Tomé (fundada em 2014) e um instituto
superior politécnico.
Tanto em Angola como em Moçambique o ensino superior tem crescido muito,
existindo um grande potencial de crescimento. Em Angola há 11 universidades públicas
[48]. A Universidade de Agostinho Neto, situada em Talatona (perto de Luanda), com
origem nos Estudos Gerais fundados em Luanda no período colonial de 1962, é a
mais antiga. As mais antigas depois da Universidade
Agostinho Neto são a Universidade José Eduardo dos Santos, no Huambo (2009), a
Universidade Katyavala Bwila, em Benguela (2009), a Universidade Kimpa Vita, no
Uíge (2009), a Universidade Lueji A'Nkonde, no Dundo (2009), a Universidade
Mandume ya Ndemufayo, no Lubango (2009), e a Universidade 11 de Novembro, em Cabinda (2009).
Existem também escolas politécnicas.
Em Moçambique existem 9 universidades públicas [49], das quais as mais
antigas são a Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, que é a antiga Universidade
de Lourenço Marques (1962), a Universidade de Maputo (1995), a Universidade
Lúrio, em Nampula (2006), a Universidade Save, em Chongoene (2007), e a Universidade
Zambeze, na Beira (2007).
Em Timor, que não é um país de língua oficial portuguesa, há a Universidade
Nacional de Timor Lorasae (2000).
Finalmente, em Macau, na República da China, território onde o
português é uma língua minoritária, existem 10 instituições de ensino superior,
sendo 4 públicas e 6 privadas: destacam-se as Universidade de Macau e a Universidade
Politécnica de Macau. A primeira está nos lugares 401-500 do ranking de
Xangai e a segunda nos lugares 601-700 [44].
Com
excepção de Macau, o português é a língua dominante em todas as instituições de
ensino superior do mundo lusófono. Existe uma associação de Universidades
lusófonas.
6- Considerações finais
O crescimento do português no mundo foi mais rápido que o do espanhol e
inglês se compararmos o números de falantes actuais com o de 1500: o
crescimento foi 1,09% ao ano [1]. Esse número vai continuar a crescer:
projecções para 2100 indicam que o maior grupo estará em África, principalmente
Angola e Moçambique, com 270 mil milhões de falantes nesse continente, uma vez
que as populações de Portugal e Brasil vão diminuir.
Ao longo do presente século, muito pode ser feito para valorizar o papel da
língua portuguesa do mundo. O português, nos sistemas de I&D e no ensino
superior, vai continuar a ser uma grande língua de criação e transmissão de
ciência, naturalmente mais nas ciências sociais e humanas, mas também nas
ciências exactas e naturais e nas engenharias. Para o ser mais será preciso
alargar o ciberespaço de língua portuguesa, com o crescimento dos repositórios
de trabalhos científicos recentes («ciência aberta») e dos repositórios de
documentos digitais de todo o tipo que asseguram a preservação do património
escrito de ciência e, mais em geral, de cultura. O português é actualmente a
quinta língua mais usada na Internet, apesar de ainda haver largo défice de
digitalização de documentos que estão no domínio público. Se compararmos os
acervos digitais com a totalidade dos acervos existentes em bibliotecas
nacionais, regionais e universitárias no espaço de língua portuguesa, concluirmos
que a visibilidade no ciberespaço dos seus espólios antigos é ainda bastante
limitada. Destacam-se nesta área os trabalhos da Biblioteca Nacional de
Portugal [50] e da Universidade de Coimbra [51]. O repositório de fundoi antigo a Universidade
de Coimbra – intitulado Alma Mater – inclui um numeroso conjunto de
obras científico-técnicas - o Rómulo Digital [52].
A língua portuguesa tem um futuro promissor, mas, para poder tê-lo de modo
mais eficiente, seria bom que os países lusófonos acordassem na ampliação dos
seus arquivos digitais, se possível de forma cruzada, facilitando a acesso à
informação urbi et orbi.
Finalmente, apesar de serem conhecidas as dificuldades de unificação
ortográfica da língua portuguesa, afigura-se útil a criação de um vocabulário
científico-técnico, com a possível validade nos vários países da lusofonia, que
deveria estar acessível na Internet.
Bibliografia
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[18] NUNES, Pedro, Obras,
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pratica de Arismetica, [quinta
impressam]. Lisboa : [António Ribeiro?] : a custa de Domingos Míz 1594. Edição
em fac-símile: Porto: Livraria
Civilização, 1963, com prefácio de ALBUQUERQUE, Luís de.
[23] FIOLHAIS, Ciência em Portugal, Lisboa: Fundação Francisco
Manuel dos Santos, 2011.
[27] FERRAND, Nuno (coord.), A Evolução da Ciência em Portugal
(1987-2016). Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2019.
[29] DAMÁSIO, António, O Erro de Descartes : emoção, razão e cérebro
humano. Ed. rev. e actualiz. [Lisboa] : Temas e Debates e Círculo de
Leitores, 2011.
[31] MONIZ, Egas, A Vida Sexual,
2 vols., Coimbra : França Amado, 1901-1902,
[32] https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_research_and_development_spending
[33] https://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_Nacional_de_Pesquisa_em_Energia_e_Materiais
[34] https://ruf.folha.uol.com.br/2019/ranking-de-universidades/pesquisa/
[36] https://www.scimagojr.com/countryrank.php
[38] https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_e_tecnologia_no_Brasil
[39] https://en.wikipedia.org/wiki/World_Intellectual_Property_Indicators
[40] FIOLHAIS, Carlos, Bartolomeu de Gusmão e o seu balão. In FIOLHAIS, Carlos [et al.] – Bartolomeu Lourenço de Gusmão : o padre inventor. Rio de Janeiro : Andre Jakobsson Estúdio, 2011. (Brasiliana da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra , 1) ISBN 9788588742482. p. 15-31. (Disponível em http://hdl.handle.net/10316/40984).
[41] https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_de_Coimbra
[42] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_universidades_de_Portugal
[44] https://www.shanghairanking.com/
[45 https://pt.wikipedia.org/wiki/Real_Academia_de_Artilharia,_Fortifica%C3%A7%C3%A3o_e_Desenho
[47] https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2020/Notas_Estatisticas_Censo_da_Educacao_Superior_2019.pdf
[48] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_institui%C3%A7%C3%B5es_de_ensino_superior_em_Angola
[49] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_institui%C3%A7%C3%B5es_de_ensino_superior_em_Mo%C3%A7ambique
[50] https://bndigital.bnportugal.gov.pt/
[1] As Obras Pioneiras da Cultura
Portuguesa, dirigidas por José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais, são um
conjunto de quase uma centena de textos em 30 volumes que o Círculo de
Leitores publicou entre 2017 e 2019 sob a égide da Universidade de Coimbra e da
Universidade Aberta, com prefácio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa.
[2] A sua tradução foi publicada em
1567 sob o título de Aromatum et Simplicium aliquot medicamentorum apud
Indios nascentium historia, da qual há uma reedição em fac-símile da Junta
de Investigações do Ultramar, em 1964.
[3] A primeira tradução em castelhano
foi Cristóbal Acosta: Tractado de las drogas y medicinas de las Indias
orientales (1578), da qual há uma reedição em fac-símile da Junta de
Investigações do Ultramar, em 1964. A primeira tradução, em italiano, saiu em 1576,
em francês em 1602 e em inglês em 1913. Edições recentes em castelhano e em
francês são de 2018 e de 2004, respectivamente.
[4] A obra saiu primeiro na casa de
João de Barreyra e João Aluares, em Coimbra, em 1551, tendo aparecido em
tradução francesa em Paris em 1553, em castelhano em Anvers (1554), em italiano
em Veneza (1557) e em inglês, em Londres
(1582).
[5] Luís de Camões, Os Lusíadas,
Canto V, estância 18.
[6] A frase aparece no Esmeraldo de Situ Orbis,
manuscrito do século XVI: «a experiência, que é madre das cousas, nos
desengana e de toda a dúvida nos tira». A expressão surge noutro passo: «sendo a experiência a madre das cousas, ela
ensinou-nos a verdade segura».
[7] O livro de Bacon é o Novum Organum,
cuja primeira parte é a Instauratio Magna. O livro nunca chegou a ser
completado.
[8] Astronomiae Instauratae Mechanica, apud Levinum Hulsium, 1598. A Biblioteca da Universidade de Coimbra possui uma cópia. https://digitalis-dsp.uc.pt/html/10316.2/35423/P24.html
[9] Optou-se por modernizar a grafia
dos títulos.
[10] Sabe-se pouco sobre o
autor: terá nascido em Guimarães, possivelmente de origem judaica, e terá
ajudado na preparação de tábuas náuticas.
[11] Aponta-se para a meta de 3% em
2030, objectivo da União Europeia para a média dos seus estados-membros. Mas
será uma meta difícil de cumprir, a continuar a lenta convergência que se tem
visto.
[12] Repartido com o médico suíço Walter
Rudolf Hess, que o mereceu por trabalhos de fisiologia do cérebro não
relacionados com os Moniz.
[13] Trata-se de uma
contagem fraccionada, que atribui quotas de artigos com vários autores de
diferentes países.
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