Como sociólogo, Jean Baudrillard procurou compreender algumas dimensões e expressões da sociedade ocidental contemporânea, sobretudo da segunda metade do século XX. Uma dessas dimensões foi a lógica de produção-consumo.
Chegados a um desenvolvimento tecnológico nunca antes conseguido, desde que tenhamos dinheiro, é-nos possível adquirir todos os bens materiais e serviços que possam ser fabricados e disponibilizados, onde quer que seja. Dispensamos a regulação estatal democrática que vela, ou deveria velar, pelo bem comum. O nosso foco é a satisfação individual e individualista, o nosso lema é produzir mais para poder consumir mais.
Os outros não nos interessam propriamente como pessoas, pois não é na relação eu-outros que assenta o nosso estatuto social, ele assenta na aquisição de produtos. É evidente que os outros fazem o mesmo para connosco. E assim nos tornámos escravos, sem consciência de o sermos, numa sociedade que parece rebrilhar, é certo que mais para uns do que para outros.
Baudrillard, na sua qualidade de filósofo, conferiu a devida profundidade a esta constatação, que redunda no "eu", no "outro" e na "relação" consumidos ou seja, aniquilados, alienados.
Foi dele que me lembrei ao ler o texto que Mário Frota, Director de Estudos do Consumo de Coimbra, me enviou sobre um de entre os muitos fenómenos que encontram o seu sentido no que acima mencionei. O fenómeno é designado por reduflação, "processo mediante o qual os produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto o preço se mantém inalterado ou sofre um qualquer eventual acréscimo".
Vale muito a pena ler o artigo: mais do que um texto informativo é uma peça que convida a uma reflexão ontológica (aqui, págs. 135 e ss.).
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