Espreitei pela janela que a internet faculta à Casa Fernado Pessoa. Nessa casa há um Banco de Poesia. Desse fededigno e já extenso Banco recolhi o seguinte poema de Álvaro de Campos:
A música, sim, a música…
A música, sim, a música…
Piano banal do outro andar…
A música em todo o caso, a música...
Aquilo que vem buscar o choro imanente
De toda criatura humana,
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor…
A música… Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal
Mas é música…
Ah, quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas!
A música…
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música…
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.
Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!
Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!... A música…!
Fernando Pessoa, 19 de Julho de 1934 .
In Poesia, Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002.
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1 comentário:
Música dessa, não!
que me estraga a audição
e muito menos poesia
que me provoca azia!
Dos diveros andares
do meu prédio,
dos vizinhos de cima, baixo e lados,
chega-me a voz roufenha,
sem perceber de onde é que venha,
dos poetas falhados,
embora consagrados,
como Sofia e Sena,
que me enchem de tédio,
sem que exista remédio
para de vez os pôr fora de cena!
Música dessa, não!
que me derranca o coração!
JCN
JCN
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