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Do livro "Emagrecer é...", de Ana Carvalhas, que acaba de sair na Gradiva, publicamos um pequeno excerto sobre medicamentos para emagrecer:
"Algumas pessoas que sofrem de excesso de peso chegam à minha consulta com a esperança de que lhes prescreva não só uma “dieta” mas também mais "qualquer coisa" que ajude a alcançar o pretendido objectivo de emagrecer. A ideia de perder peso de um modo fácil e rápido está geralmente associada ao recurso a medicamentos, embora as complicações resultantes da administração de vários medicamentos dietéticos, verificadas ao longo de décadas, coloque em dúvida a boa relação benefícios/riscos desta prática. Nos anos 30 do século passado, o fármaco da moda para emagrecer era o dinitrofenol, um produto que ajudava o corpo a queimar as gorduras. Infelizmente, também provocava cegueira e morte. Nas décadas de 50 e 60, quem queria emagrecer tomava anfetaminas para suprimir o apetite e acelerar o metabolismo, até se ter concluído que essas pessoas ficavam paranóicas e, quando paravam de as tomar, sentiam-se deprimidas e ficavam em risco de criar dependência do medicamento e de ter problemas cardíacos. Perante tal situação, e para minimizar estas reacções adversas, a Food and Drug Administration (FDA), organismo que detém a responsabilidade da supervisão da qualidade dos produtos de consumo nos Estados Unidos, exigiu que o período de ingestão destes medicamentos não fosse suferior a três meses.
Entre nós e, recentemente, fizeram furor dois médicos que faziam a prescrição de medicamentos manipulados. O tempo veio mostrar que, por um lado, a utilização de alguns dos ingredientes dos comprimidos (todos nos lembramos da polémica da utilização do pó de tiróide e de hipófise dos comprimidos do Doutor Tallon) prejudicou a saúde dos seus utilizadores e, por outro lado, os doentes, quando deixaram de tomar os medicamentos, não só recuperaram os quilos perdidos mas também ganharam mais alguns como bónus indesejado. As pessoas gastaram tempo, dinheiro e saúde totalmente em vão.
Por sua vez, a sibutramina, de nome comercial Reductil, ajudava a controlar o apetite por ser um inibidor de recaptação de serotonina e norepinefrina que actuava aumentando os níveis desses dois neurotransmissores. Foi suspensa a sua venda no início do ano de 2010 porque se provou que aumentava o risco de eventos cardiovasculares graves.
O único medicamento, actualmente no mercado, considerado suficientemente seguro (tanto quanto se pode dizer hoje) para ser utilizado num tratamento com o máximo de um ano é o orlistato, que funciona como inibidor da lipase, uma enzima produzida no pâncreas. Este medicamento, comercializado em Portugal com os nomes Xenical e Alli, impede que cerca de 30 por cento da gordura alimentar seja digerida e absorvida no intestino. Os efeitos indesejáveis são a produção de fezes oleosas, o descontrolo das dejecções e a má absorção de vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). Aconselha-se, por isso, quem esteja a tomar orlistato que compense essa falta com suplementos destas vitaminas. Deve ainda ter em atenção a falta de vitamina B12 e de ferro.
A prescrição de qualquer medicamento para emagrecer implica sempre a recomendação de uma dieta baixa em calorias e o aumento do exercício físico. O medicamento por si só, sem uma orientação alimentar adequada, não permite mais do que uma pequeníssima redução de peso. E o peso perdido será recuperado imediatamente logo que se termine a medicação.
Por seu lado, as infusões e outros produtos, à venda em farmácias e ervanárias, anunciados insistentemente como “devoradores de gordura” com “efeito super-adelgaçante”, principalmente nas vésperas da época balnear, não são mais do que pura charlatanice. Acha a leitora ou leitor que, se acaso houvesse um produto milagroso que devorasse gorduras, que os Estados Unidos e os outros países desenvolvidos continuavam a ter o problema da obesidade que hoje têm?
A lipoaspiração, um método também muito procurado por pessoas que pretendem perder peso de um modo fácil e rápido, não é propriamente um método de emagrecimento. Apesar dessa cirurgia ser a campeã das cirurgias plásticas, ela envolve grandes riscos para a saúde e de vida. A lipoaspiração servirá apenas e quando muito para remover gordura localizada que o exercício físico e as dietas não conseguiram eliminar. E o que dizer da tão apregoada “lipo não invasiva”, uma técnica que promete reduzir o número de células de gordura no organismo sem os inconvenientes da cirurgia? O processo utiliza ultra-sons que rompem as membranas dos adipócitos (células gordas) libertando a gordura no sistema linfático para ser posteriormente eliminada pela urina. Este método apesar de ser utilizado em mais de 50 países não foi ainda aprovado pela FDA, nos Estados Unidos. Tenho muitas dúvidas acerca da segurança da sua utilização. A ver vamos!
Emagrecer completamente sem esforço é uma utopia. A mudança de hábitos exige força de vontade e determinação. Este é o primeiro passo de um programa de perda de peso consistente e eficaz. O segundo passo será procurar uma ou um nutricionista, o profissional de saúde mais habilitado para acompanhar uma pessoa decidida a emagrecer, primeiro, durante todo o processo de emagrecimento e, depois, durante o processo de manutenção do peso, que é tão importante como o anterior. O terceiro passo será, obviamente, seguir aquilo que o nutricionista prescrever para o caso individual.
A conclusão é esta: não há, de facto, medicamentos ou quaisquer outros produtos que sejam milagrosos para o emagrecimento. Sabendo isto, pergunto: Valerá a pena tomar medicamentos para emagrecer?"
Ana Carvalhas