sexta-feira, 28 de agosto de 2009
O DEDO DE GALILEU
Minha crónica publicada no "Sol" de hoje (na imagem, o dedo de Galileu):
A 25 de Agosto de 1609, Galileo Galilei fazia uma demonstração do seu primeiro telescópio perante senadores venezianos, apontando com um dedo o sítio para onde deviam olhar. Quem quiser hoje, passados 400 anos, ver um dos dedos de Galileu terá de se deslocar a Florença à extraordinária exposição, com o título “Galileu: Imagens do Universo desde a Antiguidade ao Telescópio”, que está em exibição, em últimos dias, no Palazzo Strozzi. O sítio não tem que enganar pois uma moderna escultura abstracta à porta do Palácio evoca o dedo a apontar para o céu. Depois de percorrer várias salas dedicadas à história das observações celestes é na penúltima, sobre Galileu e o telescópio, que o visitante encontra o dedo, dentro de uma redoma.
Tal como uma relíquia de um santo, o dedo foi retirado do cadáver do sábio italiano, acabando por entrar nas colecções do Instituto e Museu de História da Ciência de Florença, hoje em profunda remodelação para abrir em grande ainda este ano.
Quem estiver em Florença – e o visitante tem toda a vantagem, tal como no filme de James Ivory, em reservar um “quarto com vista sobre a cidade” – não pode deixar de visitar o túmulo de Galileu, na Basilica di Santa Croce, que aliás aparece no filme. Perto dos túmulos de Dante, Maquiavel e Rossini, encontra-se o de Galileu. Uma equipa de cientistas ingleses e italianos já pediu autorização à Igreja para abrir o túmulo e estudar os restos mortais de Galileu.
Pode parecer estranho que um cientista condenado em 1630 pela Igreja Católica, e que morreu a cumprir pena de prisão domiciliária, esteja sepultado num templo. Mas essa estranheza diminuirá decerto se se pensar que o Papa João Paulo II, em 1992, depois de uma demorada revisão do processo, admitiu que a condenação foi um erro. A Igreja organizou até em Florença, em Maio passado, um congresso sobre o caso Galileu e inaugurará em Roma, em Outubro próximo, uma exposição sobre Galileu e a ciência astronómica. Quem julga que a justiça portuguesa é demasiado lenta devia olhar para a justiça do Vaticano...
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