segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Einstein e a bomba atómica


Declarações que fiz ao Diário de Notícias a propósito da carta que Einstein escreveu a Franklin Roosevelt e da qual foi publicado um breve excerto:

DN - A 2 de Agosto de 1939 Einstein e Szilárd escreveram uma carta ao então presidente norte-americano Franklin Roosevelt a exortá-lo a seguir com o Projecto Manhattan. Qual foi a importância deste acto?

CF - De certo modo, e embora a guerra ainda estivesse no início, foi o começo do fim da guerra. A carta alertava o presidente para a possibilidade que era conhecida desde a descoberta, então recente, da cisão do urânio, de uma pequena quantidade de matéria poder libertar uma quantidade enorme de energia. Szilárd preparou a carta e Einstein, na altura já uma sumidade mundial, assinou-a. A carta era motivada pelo receio de que a nova arma pudesse ser fabricada pelos nazis. A perseguição aos judeus terá movido o subscritor uma vez que Einstein defendia a causa sionista apesar de não ser um judeu praticante.

DN - Qual é a importância desta carta e do Projecto Manhattan para a história e também para a física?

CF - O Projecto Manhattan foi um dos maiores projectos da ciência e da tecnologia (mais tecnologia do que ciência, mas as duas não são facilmente separáveis), talvez só comparável ao Projecto Apollo da ida a Lua. Basta pensar no número de cérebros que estiveram concentrados em Los Alamos, sob a direcção científica de Robert Oppenheimer - outro judeu - e sob a direcção militar do general Groves (Einstein nunca fez parte da equipa). Num tempo muito curto resolveram-se enormes dificuldades científico-técnicas que permitiram preparar a primeira bomba de ensaio que explodiu no deserto do Novo México e as bombas que, logo a seguir, explodiram em Hiroshima e Nagasaki. Do ponto de vista militar, o projecto ultra-secreto foi um êxito: embora com os custos em vidas humanas conhecidos, colocou fim a uma guerra que parecia não ter fim e que ninguém sabia quantas vidas humanas mais exigiria. O que teria acontecido se? Não é fácil fazer história virtual... Do ponto de vista da física a hecatombe constituiu a perda da inocência - Oppenheimer declarou "Nós os físicos conhecemos o pecado". A física e os físicos não mais voltaram a ser vistos pelos governos e pela sociedade da mesma maneira.

DN - Porquê este empenho de Einstein em desenvolver o nuclear antes dos alemães?

CF - Einstein tinha todos os motivos para não gostar dos nazis. Tinha sido perseguido e obrigado a emigrar. Depois da guerra podia ter querido voltar, pelo menos em visita, a Alemanha, mas não o quis fazer. Quando saiu de Berlim disse à sua mulher: "Olha bem para a tua casa. Não mais a voltarás a ver!". A bomba foi, de facto, pensada contra os alemães, apesar de ter sido lançada contra os japoneses. Havia, de facto, o perigo de a bomba ser construída por "mãos erradas". Hoje sabemos que os nazis tiveram um programa nuclear - o físico Werner Heisenberg, que ficou na Alemanha, participou nele - mas sabemos também que esse programa foi incipiente. Na altura havia um enorme segredo e há até uma peça de teatro - Copenhaga, de Michael Frayn - sobre o assunto. Não deixou de ser irónico que o descobridor da cisão nuclear, o alemão Otto Hahn, no início da guerra, tenha ouvido falar da bomba nuclear quando estava prisioneiro, com outros cientistas, num campo inglês em 1945. As conversas entre eles foram gravadas secretamente para obter informações sobre o programa nuclear alemão, mas pouco se soube por aí... É importante notar que Einstein era um pacifista e chegou a arrepender-se do envio da carta. Ele ficou aliás completamente "a leste" do Projecto Manhattan. Mas, apesar disso, carregou um sentimento de culpa até ao fim da sua vida: "Fui eu que carreguei no botão".

1 comentário:

Anónimo disse...

Ameii Mii ajudoou Pakáás !
Bgdoo Gabrielah'

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...