Da Introdução do Doutor Martim de Albuquerque ao "Catálogo da Biblioteca de Oliveira Martins" recentemente publicado pela Guimarães:
"A Cultura Portuguesa e com ela a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra estão verdadeiramente de parabéns com a salvação - é este o termo próprio e adequado - da livraria de Oliveira Martins, representando a edição do referido catálogo o natural e necessário complemento da tarefa meritória em hora afortunada decidida. Pena é que, a exemplo das de Antero, Oliveira Martins ou Fialho, não se tenham conseguido conservar outras bibliotecas dos nossos grandes escritores. Lembremos as de Camilo e de Eça. Quanto ao tremendo misantropo de S. Miguel de Seide, aliás, há ainda uma reconstituição possível a fazer. Os dois catálogos de leilão dos seus livros conjugados com os restos bibliográficos existentes na casa de Seide e outros dados dispersos conhecidos viabilizam um trabalho de reconstituição que se nos afigura indispensável no quadro dos estudos camilianos e para o progresso destes. Oxalá alguém lance mãos à obra.
Nunca será de mais sublinhar o valor das bibliotecas dos nossos grandes escritores como ferramenta incontornável para o conhecimento da respectiva época, dos gostos e preferências destes, das influências sofridas. Em suma, para a compreensão em plenitude das obras que nos legaram. As quais integram, elas próprias, o nosso património intelectual e, por isso, a essência de nós mesmos, o que vale dizer a nossa humanidade".
Martim de Albuquerque
sábado, 22 de agosto de 2009
SOBRE A BIBLIOTECA DE OLIVEIRA MARTINS
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3 comentários:
LIBERDADE
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papeis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca
(Fernando Pessoa)
Este lindo poema de Fernando Pessoa (Caeiro, se não estou em erro) não invalida que, infelizmente, não tenhamos preservado as bibliotecas de Camilo e Eça.
É pouco provável que se fique insensível a este poema que remete para uma liberdade espontânea ligada ao ar livre e à infância. Mas as crianças crescem, também, e da "nossa humanidade" faz parte o "nosso património intelectual".
Ironicamente, temos acesso a uma lista da sua biblioteca, mas boa sorte a quem quiser ler os livros de Oliveira Martins, quase todos há muito esgotados! Eu só tenho tido sorte comprando-os usados. Que país de contradições.
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